Interface Entre Cientistas e Governos é Prioridade...
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada hoje (20/08) no site da
“Agência FAPESP” destacando que segundo recomendação do diagnóstico produzido durante o workshop “Gestão dos Riscos dos Extremos
Climáticos e Desastres na América Central e na América do Sul”, interface entre
Cientistas e Governos é prioridade para Gestão de Desastres.
Duda Falcão
Especiais
Interface Entre Cientistas e Governos é
Prioridade para Gestão de Desastres
Por Fábio de Castro
20/08/2012
Depois de debater relatório
especial do IPCC sobre extremos
climáticos, pesquisadores fazem
diagnósticos e recomendações
sobre a gestão de
riscos
(Agência Brasil)
|
Agência FAPESP – A fim de aprimorar a gestão de riscos de
extremos climáticos e desastres, é preciso aprimorar o diálogo entre cientistas
e tomadores de decisão – especialmente com as autoridades locais – e obter
participação mais ativa dos governos na avaliação de vulnerabilidades e em iniciativas de adaptação.
Essas
recomendações fazem parte do diagnóstico produzido por cientistas e gestores
durante o workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na
América Central e na América do Sul – o que podemos aprender com o Relatório
Especial do IPCC sobre extremos?”, realizado na semana passada na capital
paulista.
O evento
discutiu as conclusões do Relatório Especial sobre Gestão dos Riscos de
Extremos Climáticos e Desastres (SREX, na sigla em inglês) – elaborado e
recentemente publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) – e as opções para gerenciamento dos impactos dos extremos climáticos,
especialmente nas Américas do Sul e Central.
O workshop
foi realizado pela FAPESP e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), em parceria com o IPCC, o Overseas Development Institute (ODI) e a
Climate and Development Knowledge (CKDN), ambos do Reino Unido, e apoio da
Agência de Clima e Poluição do Ministério de Relações Exteriores da Noruega.
Depois de
dois dias de debates, os participantes se dividiram em grupos de trabalho que
sintetizaram as conclusões das discussões. Segundo o pesquisador do Inpe José
Marengo – coordenador do evento e membro do comitê organizador do IPCC-SREX –,
um dos principais consensos entre os grupos foi a necessidade urgente de levar
informação climática aos tomadores de decisão e à população.
“Ficou claro
que a interface com os gestores e com as comunidades locais é um ponto crítico.
Há muito ruído nessa comunicação. Apareceram discussões, por exemplo, sobre
termos como ‘incerteza’, que é derivado da área de modelagem climática e cujo
conceito nós cientistas compreendemos, mas que não foi traduzido adequadamente
para o público”, disse Marengo à Agência FAPESP.
A
necessidade de participação mais ativa dos governos em tomadas de decisão
relacionadas a questões como vulnerabilidade e adaptação também foi destacada
por Marengo.
“O papel do
IPCC é produzir subsídios científicos, mas o Painel não pode interferir na
realidade nacional, isso cabe aos governos. Entretanto, os governos se mostram
pouco preparados e continuam sendo pegos de surpresa por eventos meteorológicos
que estão aumentando em frequência e intensidade, como mostram os relatórios, e
deverão aumentar ainda mais no futuro”, disse.
Segundo
Marengo, muitas vezes há recursos para mapeamento de risco e remoção de
população em áreas vulneráveis, mas eles acabam sendo transferidos para outras
áreas.
“Isso mostra
uma falha no nosso diálogo com os governos locais. Não é segredo que o clima
está mudando e todos os anos pessoas morrem por conta de desastres que poderiam
ser evitados se esses recursos fossem aplicados”, afirmou.
Marengo
destaca que a ciência climática é fundamentalmente interdisciplinar e a
elaboração do SREX mostrou que cientistas de áreas como física e meteorologia
conseguem trabalhar de forma muito satisfatória em colaboração com os
cientistas sociais.
“A
elaboração do SREX teve a participação de mais de 1.500 cientistas de todas as
áreas e mostrou que a interação com os cientistas sociais é viável e produtiva.
Uma das conclusões é que os cientistas sociais são os que melhor conseguem
transmitir a linguagem técnica e científica, de forma compreensível, para os
tomadores de decisão e para as comunidades. Temos que aproveitar melhor essa
competência”, disse.
Os grupos de
trabalho concluíram também que é preciso integrar ações de governos locais e
estados, melhorando a comunicação entre a comunidade científica e as
autoridades locais, dando mais acesso às informações sobre o clima. “As
comunidades locais muitas vezes necessitam de informações e não sabem onde
procurar”, disse Marengo.
Os
pesquisadores também detectaram a necessidade de aumentar o financiamento de
estudos sobre mudanças climáticas, com apoio de instituições governamentais e
não governamentais. Os grupos recomendaram ainda o fortalecimento das
instituições locais de gerenciamento de risco. “Não é preciso criar novas
instituições, mas fortalecer as que já existem”, afirmou.
Melhorar o
sistema educacional e a formação de profissionais dedicados às questões
relacionadas às mudanças climáticas foi outra recomendação. Outro aspecto
diagnosticado é que os sistemas nacionais capazes de lidar com os desafios dos
eventos extremos não estão integrados de forma adequada: há necessidade de se
estabelecer diretrizes em diferentes níveis de governo.
Os grupos
detectaram também que não há ações para estabelecer políticas, orçamentos e
planos de longo prazo. A recomendação é que os orçamentos para lidar com
desastres naturais deveriam ser desconectados de mandatos eleitorais curtos, a
fim de estabelecer políticas de Estado, de longo prazo.
Os governos
locais muitas vezes, de acordo com os especialistas, trabalham apenas com
situações de emergência e não com prevenção de riscos e vulnerabilidades. Há
falta de integração das instituições em diferentes níveis de governo. A falta
de planejamento urbano também foi apontada como um problema crítico para a
gestão de desastres.
Os
especialistas recomendaram, ainda, que os conselhos regionais voltados para
questões ambientais sejam integrados à defesa civil, ao sistema de saúde e à
academia.
Foi
detectada também a necessidade de fornecer às comunidades informação mais
integrada – e menos fragmentada – sobre os riscos e vulnerabilidades. Foi
sugerido também que os sistemas de defesa civil descartem o paradigma reativo
existente e atuem mais na prevenção de situações emergenciais.
Mais
informações sobre o workshop: www.fapesp.br/ipccsrex
Fonte: Site da Agência FAPESP
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