[Revista Veja] O “astronauta” brasileiro que nunca saiu da Terra
Salve leitores e leitoras do BS!
Dando conitinuidade a sua série de reportagens intitulada "Série Brasil no Espaço", a "Revista Veja" publicou no dia 23 de janeiro a terceira matéria da série em seu site oficial sobre a história e atuação do engenheiro e astroempreendedor espacial brasileiro Lucas Fonseca (veja aqui). Desde de os sonhos da infância, passando pela sua atuação na Missão Rosetta da Agência Espacial Europeia e pelo projeto Garatéa L, a matéria traça um roadmap das aspirações e atuação em prol das atividades espaciais do brasileiro fora e dentro do Brasil.
Série Brasil no Espaço: o “astronauta” brasileiro que nunca saiu da Terra
Lucas Fonseca recusou uma oferta da Nasa para participar de uma missão inédita para a humanidade. Agora, ele sonha em construir ele sonha em construir uma economia espacial brasileira
Por Marília Monitchele
23 jan 2025, 09:00h
23 jan 2025, 09:00h
Na década de 1980, a cultura pop era marcada por uma enxurrada de filmes de ficção
científica que exploravam a interação humana com o espaço. Clássicos como De Volta
para o Futuro, E.T. – O Extraterrestre e até mesmo a franquia Guerra nas Estrelas faziam
crianças – e adultos – sonharem com a vida além da órbita terrestre. Entre as crianças
estava Lucas Fonseca, que, inspirado pelas aventuras da ficção, alimentava o sonho de se
tornar cientista da Nasa. “Minha geração cresceu impactada pelo entretenimento voltado
para o espaço. Conheci várias pessoas que sonhavam em ser astronautas e trabalhar na
Nasa. Acho que minha diferença foi ser muito ingênuo e achar que eu realmente podia”,
relembra Fonseca, rindo.
Após a infância embalada por filmes de exploração espacial, Lucas ingressou no curso de
engenharia mecatrônica na USP. “Nessa época, eu já enviava currículos e e-mails pedindo
um estágio na Nasa”, conta. “Acho que todo mundo me achava meio maluco”. Concluída
a graduação, ele deixou momentaneamente os sonhos de criança para trabalhar na
indústria farmacêutica. “Mas não era aquilo que eu queria”, recorda. Decidido a mudar de
rumo, largou tudo e foi para a França estudar engenharia espacial. A aposta deu certo e
tempos depois, chegou a tão sonhada proposta. Mas, uma surpresa: Lucas recusou. O
motivo? Junto com a oferta da agência espacial americana, veio uma outra oportunidade,
desta vez da ESA, a Agência Espacial Europeia. Para essa, ele disse sim.Na ESA, Lucas
integrou um projeto sem precedentes para a humanidade. Ele se tornou o único brasileiro
a participar da Missão Rosetta, a primeira do mundo a pousar uma sonda em um cometa.
Os dados coletados revelaram informações valiosas sobre a composição, estrutura e
origem dos cometas, trazendo pistas valiosas sobre a formação da nossa vizinhança
cósmica. “Não me arrependo nem por um segundo. A decisão era simples. Pensei: quero
ir para a Nasa ou quero fazer algo que ninguém nunca fez?”, reflete.
A participação na Missão Rosetta garantiu a Lucas uma vida estável na Alemanha, onde
chegou a se tornar funcionário público. Essa estabilidade, porém, durou apenas três anos.
Em 2013, ele tomou outra decisão ousada e decidiu abandonar tudo e voltar para o Brasil.
Aqui, assumiu o papel de astro-empreendedor, tornando-se uma figura central na defesa
da economia espacial brasileira. Em uma missão quase tão desafiadora quanto pousar
uma sonda em um cometa, Lucas buscou financiamento e parceiros para fundar a
Airvantis. Com a startup, nasceu um novo desafio: a Garatéa-L, primeira missão
projetada para colocar uma sonda brasileira na órbita da Lua.
O projeto, que envolve um nanossatélite do tamanho de uma caixa de sapatos, tem como
objetivo estudar a sobrevivência de bactérias e fungos extremófilos em condições
espaciais extremas. Orbitando a Lua, a sonda enfrentará períodos de alta e baixa
exposição à radiação espacial, especialmente a proveniente do Sol. O objetivo é entender
como esses organismos reagem, gerando conhecimentos que podem beneficiar os
humanos, como o desenvolvimento de medicamentos ou tratamentos para mitigar os
efeitos negativos da radiação.
Além de sua relevância científica, a Garatéa-L tem um impacto estratégico: promove e
consolida a participação do Brasil na exploração lunar. “Essa é uma decisão que molda
nosso futuro, porque coloca o país no mesmo patamar de outros que estão desenvolvendo
uma economia de exploração da Lua”, afirma Lucas. Hoje, o projeto integra o portfólio
de missões lunares do Brasil, ao lado de propostas do ITA e da Embrapa.
Embora seja uma missão sofisticada, os custos – cerca de 10 milhões de dólares – têm
sido um obstáculo. Desde que começou a ser planejada, em 2016, apenas 10% do valor
total foi arrecadado, grande parte vindo da iniciativa privada. O projeto segue na fila,
disputando editais de financiamento público. “Enquanto der, seguiremos tentando”,
garante Lucas. Para quem já disse não à Nasa e participou de uma missão inédita no
mundo, tudo parece possível.
Série Brasil no Espaço: essa reportagem é a terceira de uma sequência de quatro
matérias que buscam desmistificar a ideia de que o Brasil não faz ciência espacial. Hoje,
o investimento nessa área de pesquisa é pequeno e o impacto internacional ainda não é
tão amplo quanto o das grandes economias, mas consideramos importante mostrar que
existem bons profissionais no Brasil e que, mesmo sem grandes apostas, há potencial
para encontrar boas soluções e ganhar protagonismo nesse ambiente cada dia mais
competitivo.
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