[Artigo] Programas Espaciais Sul-Americanos: Sem Cooperação, Sem Ganhos
Prezados leitores e leitoras do BS!
Caros entusiastas do espaço, tenho o prazer de compartilhar com vocês um interessante artigo escrito por um dos nossos leitores mais antigos, o Prof. João Dallamuta, artigo este publicado ontem (21/01) no renomado portal Space Daily.
Programas Espaciais Sul-Americanos: Sem Cooperação, Sem Ganhos
Imagem: Space Daily
Por Joao Dallamuta*
Cornélio Procópio, Brasil (SPX) 21 de janeiro de 2025
Grandes projetos de cooperação espacial são às vezes a ponta visível de um iceberg geopolítico. A ESA é a ponta do iceberg da integração política e econômica europeia. A associação da Rússia com a ISS em 1993 foi a ponta do iceberg da não proliferação de tecnologias nucleares e balísticas, dando à Rússia na década de 1990 (e a seus milhares de engenheiros espaciais e nucleares desempregados) um novo propósito: integrar-se a um ecossistema espacial global.
Atualmente, os acordos Artemis assinados entre os EUA e mais de 50 nações são uma ferramenta geopolítica que busca consolidar a posição dos EUA no espaço e moldar o futuro da exploração espacial em um ambiente de competição global com a China e a Rússia.
Se quisermos transferir o mesmo raciocínio para a América do Sul, a questão é: como as nações da região usam a cooperação espacial em seus icebergs geopolíticos? Para entender a questão, precisamos de uma rápida contextualização dos programas espaciais sul-americanos.
Dez países sul-americanos possuem algum tipo de satélite, desde CubeSats, como os do Equador, Uruguai, Colômbia e Paraguai, até satélites de imagem óptica ou satélites GEO, como os do Chile, Peru, Bolívia e Venezuela, adquiridos da Europa e da China. Além disso, Argentina e Brasil projetaram e montaram satélites localmente, tendo já construído 21 satélites locais.
O total dessas 10 nações é de cerca de 115 satélites nos últimos 32 anos e, surpreendentemente, nenhum desses mais de 100 satélites foi desenvolvido em parceria entre duas nações sul-americanas!
A Argentina cooperou com os EUA na década de 1990 para construir seus primeiros 4 satélites científicos, um bônus pela interrupção do desenvolvimento de tecnologias nucleares militares e mísseis balísticos. O Brasil tem cooperado com a China desde 1988 na construção do Satélite de Recursos Terrestres China-Brasil, com 6 satélites lançados entre 1999 e 2019 e mais 2 satélites planejados.
Ambas as nações propuseram a missão SABIA-Mar há 20 anos para estudar a biosfera oceânica. O projeto nunca recebeu financiamento para iniciar a construção.
A China se posicionou como um grande fornecedor de satélites GEO para a Venezuela e Bolívia e de satélites ópticos de alta resolução para a Venezuela. A indústria europeia fornece satélites ópticos para o Chile e Peru, além de satélites GEO e SAR para o Brasil. O Japão ajudou o Paraguai a construir seu primeiro CubeSat em 2021.
Retornando à questão central, por que não há cooperação espacial para missões binacionais na América do Sul? A economia e a fraca cultura astropolítica ajudam a entender melhor a questão.
Das 10 nações sul-americanas, 7 delas desenvolveram missões espaciais entre 2004 e 2020. Um período de relativa prosperidade na América do Sul durante o boom das commodities. Atualmente, todas as principais economias regionais estão enfrentando dificuldades, refletidas na baixa taxa de novas missões.
Não existem nações espaciais na América do Sul. A Argentina tem uma vantagem tecnológica sobre o Brasil na construção de satélites, e também possui empresas inovadoras como a Satellogic, que comercializa imagens de alta resolução. O portfólio da Argentina e do Brasil inclui satélites GEO, SAR e EO, o que os torna autossuficientes na produção de satélites para todas as suas necessidades, mas ambos os países não conseguem desenvolver e financiar políticas espaciais consistentes que os projetem como parceiros sólidos em nível internacional.
O Peru e a Colômbia estão atualmente desenvolvendo planos para construir satélites. A Bolívia, o Chile, o Peru e a Venezuela precisam substituir missões ao final de sua vida útil. Essas nações provavelmente escolherão parceiros tecnológicos e científicos com maior reputação e liderança na América do Norte, Europa e Ásia.
A Argentina e o Brasil não conseguem construir reputações regionais que permitam uma cooperação ganha-ganha na indústria espacial da América do Sul, e todos os países da região perdem.
* Joao Dallamuta é Professor de Educação Superior em Gestão e Inovação na UTFPR em Cornélio Procópio, Brasil.
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