Sociedade Brasileira de Física (SBF) Comemora a Entrada do Brasil no CERN, e Aguarda a Assinatura Presidencial Para Selar Definitivamente o Acordo
Olá
leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo
uma nota postada ontem (15/02) no site da Sociedade Brasileira de Física (SBF) comemorando a entrada do Brasil na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), faltando
apenas à assinatura
do indivíduo que ocupa atualmente Presidência da República do país para
que o acordo seja efetivamente consolidado.
Brazilian
Space
Brazilian Space 15 anos
Espaço que inspira, informação que conecta! DESTAQUE EM FÍSICA
Entrada do Brasil no CERN Coroa Um Esforço de Gerações de Físicos de
Altas Energias
Falta apenas a assinatura da Presidência da
República para firmar o acordo, que é aprovado no centenário de nascimento do
físico brasileiro Cesar Lattes, um dos expoentes da física de altas energias
15 de Fevereiro
de 2024 - 9:21 am
Fonte:
Agência Câmara de Notícias - https://sbfisica.org.br
Crédito
CERN
Sistema de detecção de múons utilizando câmaras de placas resistivas (Resistive Plate Chambers - RPCs) no experimento CMS do LHC. |
Nascido em
11 de julho de 1924 em Curitiba, no Paraná, o físico Cesar Lattes se tornou
famoso pela confirmação da existência do méson pi, um feito importante para a
compreensão da constituição da matéria. Frequentemente lembrado hoje pela
plataforma Lattes, que reúne informações acadêmicas, o cientista brasileiro
trilhou uma grande carreira na investigação do mundo subatômico, realizando
pesquisas inclusive no acelerador de partículas Laboratório do Acelerador
Linear (LINAC), da Universidade de São Paulo (USP), que no ano passado
completou 50 anos de história.
Prestes a
completar o centenário de nascimento de Lattes, o Brasil finalmente aprovou a
sua participação na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), denominado
atualmente como o laboratório europeu de física de partículas. Este laboratório
administra o Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do
mundo, capaz de observar minúsculas partículas da matéria e investigar a sopa
cósmica que permitiu a criação do Universo.
“A
associação do Brasil ao CERN é um passo histórico para o setor de altas
energias, que começa com o físico José Leite Lopes, um dos fundadores do Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), e por César Lattes, que inspirou o
sonho de uma geração inteira de físicos de altas energias”, diz Sandro Fonseca
de Souza, professor associado no Instituto de Física Armando Dias Tavares
(IFADT) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador da
área de Física de Partículas e Campos da Sociedade Brasileira de Física (SBF).
Foto:
Sandro Fonseca – Divulgação
Aos 49
anos, Souza é um dos cientistas que fizeram história junto ao LHC, que tem
recebido a colaboração de brasileiros há mais de 30 anos e, desde 2008, por
meio da Rede Nacional de Física de Altas Energias (RENAFAE) em projetos
compartilhados no gigantesco acelerador e os experimentos associados e eles,
localizado na fronteira entre a França e a Suíça. Em 2006, Souza visitou o CERN
em um projeto financiado pelos europeus e, em 2007, iniciou uma colaboração com
o experimento CMS, que corroborou para a descoberta do Bóson de Higgs que
rendeu ao britânico Peter Higgs e o belga François Englert o Prêmio Nobel de
Física de 2013.
“Foi uma
experiência fantástica de vida, estando lá e participando, mesmo que de forma
indireta, dessa descoberta. Estar lá é uma questão de pertencimento, porque o
CERN tem um ambiente que permite que todos participem independentemente de
qualquer crença religiosa ou política. O CERN nasce após a Segunda Guerra
Mundial da vontade da Europa em resgatar sua ciência. E, para mim foi muito
especial, eu sou pessoa com deficiência física. Isso te dá uma
responsabilidade, mexe com você”, diz Souza, que é atualmente coordenador
adjunto, num grupo de trabalho com colaboradores de vários países, do sistema
de detecção de múons utilizando câmaras de placas resistivas (Resistive Plate
Chambers – RPCs) no experimento CMS. O sistema de câmaras de placas resistivas
é composto por mais de 1000 câmaras espalhadas em todo o sistema de múons do
experimento e um dos principais detectores responsáveis pela identificação dos
múons durante as colisões no detector, comenta Souza.
Outro ponto
que Souza destaca é que “o grupo da Física de Altas Energias do Experimento CMS
na UERJ em colaboração com o CBPF estão muito engajados e desdobramentos
futuros no projeto de melhoramento das RPCs para as próximas tomadas de dados
do LHC que vai permitir explorar novos tópicos de física experimental de
partículas já visto no experimento CMS, como por exemplos: decaimentos raros na
física dos sabores pesados, estudo da assimetria matéria-antimatéria,
física de mésons compostos por quarks c e b e busca de física nova. A
competência adquirida pelo grupo da UERJ está possibilitando a transferência de
conhecimento para a próxima geração de experimentos no CERN. Além disso, a
tecnologias das RPCs 1 podem ser aplicadas na área da medicina
diagnóstica de imagem, controle de fronteiras, arqueologia e exploração
espacial “.
A adesão do
País para o CERN é como participar de um grande condomínio. Até hoje, os
brasileiros participam dos experimentos, mas assinam a “locação do imóvel”, e
ficam sem o benefício da transferência de tecnologia para o Brasil. Agora, o
País será “locatário” de um pedaço do CERN. Para isso, terá que pagar uma taxa
anual de US$ 12 milhões ao CERN. Em resposta aos críticos, o governo brasileiro
argumenta que o dinheiro pode retornar ao Brasil, porque um membro efetivo pode
indicar empresas brasileiras para participar da construção de estruturas do
acelerador e também dos experimentos. Nas contas da ministra da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, 70% do valor investido poderão retornar
ao País.
E Souza
acrescenta que isso beneficiaria a nova geração de cientistas brasileiros e,
também, fortalecerá a indústria nacional, que poderá participar dos
experimentos e obter tecnologia. Lembrando de uma frase de Louis Pasteur sobre
a relação entre ciência básica ou pura e as aplicações da ciência, Souza diz
que a pesquisa básica é como a raiz de uma árvore, que leva troncos e folhas
para o alto, enquanto a aplicação prática da ciência são os frutos 2.
“Você tem
os frutos da ciência básica, o entendimento disso vai permitir criar uma
tecnologia que não está em prateleira de supermercado. Você impulsiona para
frente a tecnologia. Na busca da física fundamental pelas questões básicas do
Universo, você desenvolve tecnologias, que podem ser aplicadas em outros
lugares na sociedade”, explica ele, lembrando de criações incríveis que foram
gestadas no CERN, como o World Wide Web (WWW), inventada por Tim Berners-Lee,
um cientista britânico em 1989 3. “Desde o agronegócio até o
desenvolvimento da computação quântica, empresas brasileiras serão beneficiadas
pelas criações de novas tecnologias associadas que teremos acesso agora que
somos ‘sócios’ do CERN.”
(Colaborou Roger Marzochi)
1 A
“muoscope” with CMS technology – https://home.web.cern.ch/news/news/knowledge-sharing/muoscope-cms-technology
2 There does
not exist a category of science to which one can give the name applied science.
There are sciences and the applications of science, bound together as the fruit
of the tree which bears it.”- Louis Pasteur
3 The birth
of the Web – https://home.web.cern.ch/science/computing/birth-web
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