Novo Estudo Analisa o Futuro Climático da Amazônia
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota publicada hoje (30/10) no site do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), destacando que Novo
Estudo analisa o futuro climático da Amazônia.
Duda Falcão
Novo Estudo Analisa o Futuro
Climático da
Amazônia
Quinta-feira, 30 de Outubro de
2014
Pela primeira vez, um mesmo relatório reúne e analisa informações de
aproximadamente duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o
papel da floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na
exportação de serviços ambientais para áreas produtivas, vizinhas e distantes
da Amazônia.
Lançado nesta quinta-feira (30/10) na cidade de São Paulo, o relatório
intitulado “O Futuro Climático da Amazônia” conclui que a redução do
desmatamento não basta para garantir as funções climáticas do bioma.
“Além de manter a floresta amazônica a qualquer custo é preciso
confrontar o passivo do desmatamento acumulado e começar um amplo processo de
recuperação do que foi destruído, que somente no Brasil equivale a uma área de
184 milhões de campos de futebol”, defende o pesquisador Antonio Donato Nobre,
do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), responsável pelo relatório.
A análise revela o potencial climático da floresta pristina, chamada
pelos cientistas de “oceano verde”, e os impactos de sua destruição com o
desmatamento e o fogo. Aponta ainda as ações para conter os efeitos no clima
provocados pela ação humana sobre a maior floresta tropical do mundo.
“O trabalho inova ao revelar os segredos que fazem da Amazônia um
sistema único no planeta, com funções que começam a ser compreendidas pelos
cientistas. O primeiro deles é que a floresta mantém úmido o ar em movimento, o
que leva chuvas para as regiões interiores do continente, distantes milhares de
quilômetros do oceano”, informa Nobre.
A Amazônia, explica o pesquisador, tem outra peculiaridade. Ela ajuda a
formar chuvas em ar limpo. É que as árvores emitem aromas a partir das quais se
formam sementes de condensação do vapor d’água, cuja eficiência na nucleação de
nuvens resulta em chuvas fartas e benignas. Além de manter o ar úmido sobre si
mesma, a floresta amazônica exporta essa umidade por meio de rios aéreos de
vapor, os chamados “rios voadores”, que irrigam o Sudeste, Centro-oeste e Sul
do Brasil e áreas como o Pantanal e o Chaco, além da Bolívia, Paraguai e
Argentina. “Sem os serviços da floresta, essas produtivas regiões poderiam ter
um clima inóspito, tendendo a desértico”, diz o autor.
Segundo Nobre, essa competência de regular o clima se dá principalmente
pela capacidade inata das árvores de transferir grandes volumes de água do solo
para a atmosfera através da transpiração. São 20 bilhões de toneladas de água
transpiradas ao dia, o equivalente a 20 trilhões de litros. Para se ter uma
ideia, o volume despejado no oceano Atlântico pelo rio Amazonas é de pouco mais
de 17 bilhões de toneladas diariamente. “As árvores funcionam como gêisers de
madeira, jorrando esse volume absurdo de água vaporosa na atmosfera”.
Nobre explica que a ideia de avaliar diversos estudos e condensar suas
conclusões em um único relatório foi motivada por um pedido da Articulación Regional Amazónica (ARA),
uma iniciativa não governamental que reúne organizações dos países amazônicos
para discutir e combater o desmatamento.
Danos e Mitigação
Uma nova teoria física descrita no relatório sustenta que a
transpiração abundante das árvores, casada com uma condensação fortíssima na
formação das nuvens e chuvas – condensação essa maior que aquela nos oceanos
contíguos –, leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta,
que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas
em quaisquer circunstâncias.
Para Nobre, todos esses efeitos favorecedores, em conjunto, fazem da
floresta a melhor e mais valiosa parceira de todas as atividades humanas que
requerem chuva na medida certa, um clima ameno e proteção de eventos extremos.
“Mas o desmatamento pode colocar todos esses atributos da floresta em risco.
Reconhecidos modelos climáticos anteciparam variados efeitos danosos do
desmatamento sobre o clima, previsões que vêm sendo confirmadas por
observações. Entre elas estão a redução drástica da transpiração, a modificação
na dinâmica de nuvens e chuvas e o prolongamento da estação seca nas zonas
desmatadas. Outros efeitos não previstos, como o dano por fumaça e fuligem à
dinâmica de chuvas, mesmo sobre áreas de floresta pristina, também estão sendo
observados”, diz o autor do relatório.
Nobre ressalta que estudos sugerem que a floresta, na sua condição
original, resistiu por dezenas de milhões de anos e tem grande resistência a
cataclismos climáticos. “Mas quando é abatida ou debilitada por motosserras,
tratores e fogo sua imunidade é quebrada”. Em seus cálculos, Nobre afirma que a
ocupação da Amazônia já destruiu no mínimo 42 bilhões de arvores, ou seja, mais
de 2.000 arvores por minuto –ininterruptamente - nos últimos 40 anos. “O dano
de tal devastação já se faz sentir no clima próximo e distante da Amazônia, e
os prognósticos indicam agravamento do quadro se o desmatamento continuar e a floresta
não for restaurada”.
Entre as medidas mitigadoras, o relatório propõe “universalizar o
acesso às descobertas científicas que podem reduzir a pressão da principal
causa do desmatamento: a ignorância”.
Para José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e colaborador do INPE em projetos na
área de mudanças climáticas, a floresta Amazônica certamente tem um papel
importante na regulação no clima regional e global e também nos transportes de
umidade para grandes regiões da América do Sul. “Este relatório apresenta e
avalia muito bem as pressões sobre a região, e as possíveis consequências do
desmatamento nos sistema naturais e humanos. Apresenta também uma visão
clara sobre as vulnerabilidades do bioma Amazônia no presente e no futuro, e
discute as medidas que devem ser implementadas para estancar a degradação da
floresta”, diz Marengo.
Jean Ometto, coordenador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do
INPE, ressalta que a relação entre o homem e bens naturais deve resgatar
sinergias positivas, que pautaram diversos momentos, e civilizações, ao longo
da evolução da presença humana no planeta. “Os efeitos de ações unilaterais, de
interesses vis, ou efêmeros, são danosos e têm reflexos muito além das
fronteiras destas ações, como mostrado nesse relatório, que faz um alerta sério
sobre a importância de olhar, pensar e agir no planeta de forma integrada”,
fala Ometto.
Fonte: Site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
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