Pesqs. do CCEIT Remontam a História do "Projeto Eclipse"
Olá leitor!
Trago agora para você um interessantíssimo artigo postado no site do “Centro de Cultura Espacial
e Informações Turísticas da Barreira do Inferno (CCEIT)”, mas conhecido como “Museu
do CLBI”, destacando a viagem que o
coordenador do projeto de resgate histórico do CLBI, Eng. Keble Rolim, e sua
equipe, fizeram de 8 a 13 de abril a
cidade de Rio Grande (RS) para coletar dados sobre o "Projeto Eclipse", que
ocorreu em 1966, na Praia do Cassino, naquela cidade. Para os mais incrédulos,
é isso mesmo, o Brasil teve naquela época outra base de lançamento de foguetes
localizada na Paia do Cassino. O Projeto que foi na época coordenado pela
NASA/EUA, em parceria com sete países, entre os quais o Brasil, contou com a
participação efetiva de uma equipe do então CLFBI (Centro de Lançamento de
Foguetes da Barreira do Inferno), chefiada pelo Cel. Ivan Janvrot. O artigo leitor
é grande, mas é de valor histórico e vale a pena conferir.
Duda Falcão
Pesquisadores do CCEIT Remontam
a História do Projeto
Eclipse
Coordenado pela NASA, o Projeto Eclipse, ocorrido em 1966,
contou com a participação da Barreira do Inferno,
na Praia do Cassino, em Rio Grande/RS.
“O dia virou noite. As pessoas achavam que o mundo ia
acabar”...
O relato descrito acima é de um dos cidadãos do município
de Rio Grande, considerada a cidade mais antiga do Rio Grande do Sul, que
presenciou o eclipse total do sol em 1966 e que resultou na maior operação
aeroespacial já registrada em solo brasileiro. Era o Projeto Eclipse
(clique aqui para saber mais) , realizado em cooperação entre a agência
espacial norte-americana, NASA, e a Comissão Nacional de Atividades Espaciais,
CNAE, entidade responsável pelas atividades do setor espacial no Brasil, à
época.
Até hoje, o engenheiro Afredo Perez lembra com detalhes o
que o eclipse provocou na cidade gaúcha no dia 12 de novembro de 1966. E foi
esse relato e a possibilidade de obter mais informações a respeito do Projeto
Eclipse, que levou a equipe de bolsistas e o coordenador do projeto para
implantação do Museu do CLBI à cidade de Rio Grande, no início de abril deste
ano, afinal, a operação contou com a participação da equipe do então Centro de
Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno – CLFBI, sob a coordenação do
Cel. Ivan Janvrot.
Foto: Cedida por Ivan Janvrot (arquivo pessoal)
Cel. Janvrot, sentado, à esquerda, no Centro de Controle em Cassino. |
Durante os dias 8 a 13 de abril, os pesquisadores
realizaram pesquisas, entrevistas e conheceram espaços museológicos da cidade
de Rio Grande, incluindo a “área do eclipse”, onde foi instalada a Base de
Lançamento de Foguetes de Cassino, na Praia de mesmo nome.
Visita à “Área do Eclipse”
No primeiro dia de estada da equipe em Rio Grande, foram
feitos os primeiros contatos para subsidiar os trabalhos na cidade. O
Subtenente Noecir Martins, da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada (Pelotas/RS),
responsável pelo Hotel de Trânsito do Exército em Cassino, onde a comitiva
ficou hospedada, forneceu mapas de Rio Grande e do Balneário, indicou pontos
históricos a serem visitados e colocou a equipe em contato com o senhor
Ubiratan Freitas, que, como Cabo do Exército em 1966, fez parte da segurança do
Projeto Eclipse.
À tarde, o STen Noecir acompanhou os pesquisadores até a
“área do Eclipse”, como ficou conhecido o local onde a NASA instalou a base de
lançamento de foguetes em 1966. Até hoje, apesar do matagal que toma conta do
lugar, ainda pode-se observar as bases de concreto construídas para os
lançadores, centro de comando, traillers de telemedidas, entre outros
equipamentos.
Foto cedida por Alfredo Perez (arquivo pessoal)
Campo de Lançamento de Cassino, em 1966. |
Foto: Hudson Ribeiro
Campo de Lançamento de Cassino, em abril de 2013. |
A visita à área possibilitou ao grupo uma visão real da
dimensão da infraestrutura disponibilizada para o Projeto Eclipse em Cassino.
Segundo matérias de jornais e relatos de pessoas que presenciaram o
acontecimento, as equipes da NASA instalaram-se em Rio Grande cerca de seis meses
antes do eclipse. Nesse período, a cidade gaúcha recebeu um contingente de mais
de 500 pesquisadores de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, com uma
equipe de civis e militares – engenheiros e técnicos – do CNAE e da Barreira do
Inferno. Bases de rastreamento de dados também foram instaladas em outras
localidades do sul do país, como a cidade de Bagé, local onde o fenômeno foi
visto com maior nitidez.
Foto Hudson Ribeiro
Área dos lançadores, em abril de 2013 |
Foto cedida por Ivan Janvrot (arquivo pessoal)
Cel. Janvrot na área dos lançadores, em 1966. |
Estima-se que cerca de 100 mil pessoas se deslocaram à
praia para observar o eclipse. É válido ressaltar que a Praia do Cassino é a
maior do mundo em extensão contínua. São 254 km de faixa de areia, ladeada pelo
mar e por dunas. No dia do eclipse, o prefeito decretou feriado municipal e foi
disponibilizado transporte público extra para facilitar o deslocamento de
outros municípios gaúchos para Rio Grande, bem como do centro de Rio Grande
para o Balneário do Cassino. A mobilização popular e de autoridades locais
confirma a importância que o Projeto Eclipse teve para a cidade.
Com o encerramento do projeto, a área do eclipse ficou
sob a tutela do Exército Brasileiro.
Foto: Hudson Ribeiro
Resquícios da estrutura para montagem dos lançadores, em abril de 2013. |
Foto: Hudson Ribeiro
Equipe no Campo de Lançamento, acompanhada do STen Noecir |
Personagens da História
Na estada em Rio Grande, a equipe do projeto do Museu do
CLBI contou com duas importantes colaborações, de fundamental importância para
o trabalho realizado na cidade gaúcha. Por intermédio de pessoas da cidade, os
pesquisadores tiveram contato com dois personagens que presenciaram o fenômeno
do eclipse total do sol em Rio Grande em 1966: Ubiratan Freitas, hoje fotógrafo
do 6° Grupo de Artilharia de Combate do Exército em Rio Grande; e, o eng.
Alfredo Perez.
Ubiratan era cabo do Exército na época do Projeto
Eclipse. Ele participou da equipe de segurança e teve a oportunidade de
acompanhar os cientistas da NASA e demais entidades participantes do Projeto,
bem como acompanhou a chegada do navio e aviões com os equipamentos utilizados.
"Fiquei por várias semanas na segurança em Cassino e quando terminou a
operação fiquei de serviço no porto, acompanhando o carregamento do navio que
levaria os equipamentos para os Estados Unidos", relatou Ubiratan.
Foto: Hudson Ribeiro
Ubiratan Freitas concedeu entrevista à equipe do projeto do CLBI |
Foto: Cedida
O fotógrafo Ubiratan Freitas com a equipe do projeto do CLBI. |
Em 1966, seu irmão, o jornalista Tibiriçá Freitas, cobriu
o evento para uma rádio local, inclusive, narrando o momento dos lançamentos
dos 14 foguetes que auxiliaram na pesquisa de dados sobre o fenômeno solar.
Ubiratan cedeu fotos e recortes de jornais do arquivo pessoal de seu irmão, que
hoje está sob sua guarda. A cessão, segundo ele afirmou emocionado, é uma forma
de homenagear o jornalista, falecido em 2010.
Alfredo Perez tinha 18 anos quando reuniu amigos e se
dirigiu ao Balneário do Cassino para acompanhar o eclipse solar e os
lançamentos dos foguetes da NASA. Aficionado pela área aeroespacial, relatou a
emoção de presenciar um evento de tamanha grandiosidade em sua cidade.
"Lembro que por volta das 10h40min o sol começou a ficar totalmente
encoberto. Um vento minuano foi chegando e o dia virou noite. Muita gente achou
que o mundo ia acabar", afirmou Alfredo.
Foto: Hudson Ribeiro
Eng. Alfredo Perez, durante entrevista à equipe do projeto do CLBI. |
Foto cedida por Alfredo Perez (arquivo pessoal)
Alfredo Perez, o 3º da direita para a esquerda, com amigos na praia do Cassino, no dia do eclipse, em 1966. |
Na época, ele adquiriu fotografias exclusivas do trabalho
dos pesquisadores do Projeto Eclipse. Assim como Ubiratan, o eng. Alfredo cedeu
todas as fotos do seu acervo pessoal sobre o projeto, além de matérias de
jornais e revistas.
Ambas as entrevistas foram registradas em vídeo e
comporão o acervo videográfico do projeto do Museu do CLBI.
Pesquisas
A equipe do projeto esteve na Biblioteca Rio-Grandense,
localizada no centro histórico da cidade, para levantar material
historiográfico sobre o Projeto Eclipse.
Fundada em 1846, a Biblioteca é a mais antiga do Rio
Grande do sul e conta com um acervo de 450 mil volumes, entre livros – muitos
deles são obras raras –, jornais, revistas, fotografias e outros documentos
diversos, além de peças de escultura.
A pesquisa centrou-se nos exemplares de jornais e
revistas do ano de 1966, essencialmente, entre os meses de agosto e dezembro,
constatando-se o quanto a imprensa gaúcha e nacional (como por exemplo, as
revistas “Manchete” e “O Cruzeiro”) deu importância ao acontecimento, o que
resultou na obtenção de mais de 100 páginas de revistas e jornais com matérias
sobre o eclipse e o projeto da NASA, material esse que foi cuidadosamente
identificado, selecionado e fotografado para compor o acervo historiográfico do
CLBI. No jornal “Rio Grande”, por exemplo, do final de setembro ao final de
novembro, diariamente eram publicadas notícias sobre o Projeto Eclipse, e, no
dia seguinte ao episódio, uma edição especial do jornal foi lançada nas bancas.
Visita aos Museus e Pontos Históricos de Rio Grande
Cidade mais antiga do Rio Grande do Sul, Rio Grande,
fundada em 19 de fevereiro de 1737, abriga diversas instituições museológicas e
preserva, em grande parte, prédios, igrejas, praças e monumentos que remetem à
riqueza da sua história.
O centro histórico de Rio Grande concentra a maioria dos
museus e prédios históricos com variados estilos arquitetônicos, entre os quais
o Paço Municipal, o Quartel-General, o prédio da antiga Alfândega, a catedral
de São Pedro e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
No centro histórico, a equipe visitou a Catedral de São
Pedro, datada de 1755 e tombada pelo Patrimônio Nacional; o calçadão da Luiz
Loréa, com a fonte e o mural de azulejos portugueses pintados à mão; e, os
monumentos em homenagem a Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, na
Praça Tamandaré, e ao Brigadeiro José da Silva Paes, fundador de Rio Grande, na
Praça Xavier Ferreira.
Foto: Hudson Ribeiro
Catedral de São Pedro, no centro histórico de Rio Grande. |
Ainda na cidade, os pesquisadores tiveram a oportunidade
de visitar o Museu Oceanográfico Professor Eliézer de Carvalho Rios,
considerado o mais importante atrativo turístico de Rio Grande. O museu possui
a mais completa coleção de moluscos da América Latina e sua exposição remonta à
origem dos oceanos.
Anexo ao museu encontra-se o Centro de Recuperação de
Animais Marinhos, coordenador pela Fundação Universidade Federal do Rio
Grande/FURGS, que abriga e trata animais encontrados na costa sul brasileira,
devolvendo-os, depois de recuperados, ao seu habitat natural.
Nesse mesmo complexo está o Museu Antártico, uma réplica
da estação da Marinha brasileira Comandante Ferraz, localizada na Antártida,
com exposição de painéis fotográficos, amostras de equipamentos, animais e
rochas.
No Balneário de Cassino, a equipe visitou os Molhes da
Barra, uma das maiores obras de engenharia oceânica do mundo, que adentram 4 km
no Oceano Atlântico, trajeto feito por vagonetas a vela.
Foto: Hudson Ribeiro
Trilho das vagonetas que percorrem os Molhes da Barra. |
Foto: Carmem Spínola
Vista da Praia do Cassino, a maior do mundo em extensão contínua. |
Contribuições
A viagem à cidade de Rio Grande foi importante para o
projeto e incorporou valioso material para o acervo da pesquisa. Some-se a
isso, a oportunidade de conhecer, conversar e registrar o depoimento de duas
pessoas que acompanharam o desenvolvimento do Projeto Eclipse e presenciaram a
realização do evento na praia do Cassino.
E, mais que as fotos, as matérias de jornais e revistas e
os documentos adquiridos, a troca de experiência e a aquisição de conhecimento
sobre o trabalho dos museus gaúchos foram, sem dúvida, relevantes para os
objetivos traçados na proposta inicial do projeto no CLBI.
Veja Mais Fotos:
Fotos cedida por Ubiratan Freitas,
do arquivo pessoal de
Tibiriçá Freitas
Avião e navio norte-americanos que transportaram pessoal e equipamentos para Cassino. |
Foto cedida por Ubiratan Freitas, do arquivo
pessoal de Tibiriçá Freitas.
Radar da NASA. |
Fotos cedidas por Alfredo Perez (arquivo pessoal)
Foguetes sendo preparados e lançados, em Cassino (1966). |
Fotos: Acervo da Biblioteca Rio-Grandense
Fotos da Matéria publicada na revista "O Cruzeiro", edição de 26/11/1966 |
Fonte: Site do Centro de Cultura Espacial e Informações
Turísticas da Barreira do Inferno (CCEIT)
Claro que cada um tem a sua visão dos fatos e pode "ler nas entrelinhas".
ResponderExcluirNão discuto a importância do evento, que na verdade, foi a operação mais completa e complexa do gênero realizada no Mundo até então. Como bem ilustra o livro “Os Primórdios da Atividade Espacial na Aeronáutica” do Cel. Ivan Janvrot, nas páginas 113 a 123, com fotos belíssimas.
No entanto, deve ser destacado, que aquela base teve, desde o início de sua preparação, o caráter temporário, assim como o eclipse para o qual todo o projeto se destinava. O legado no entanto, como pode ser observado nas fotos da situação atual, foi péssimo. Usaram o local como bem entenderam, construíram as estruturas de alvenaria necessárias sem nenhum estudo ambiental, muito em moda hoje em dia, e largaram o "lixo" pra nós e principalmente os habitantes do local.
No mínimo, o local poderia guardar um vinculo com a atividade de lançamento de foguetes, atendendo atividades amadoras locais e de outros pontos do Brasil, poderiam implementar um programa de recuperação ambiental que preservasse a infraestrutura que sobrou em prol de experimentos científicos, foguete modelismo, aeromodelismo, e outros, além de aparentemente ser um lugar de grande apelo turístico.
Tomara que alguma iniciativa privada enxergue essas possibilidades e tome uma atitude.
Abs.
Falo tudo
ExcluirInteressante. Não tinha conhecimento deste projeto levado a cabo em 1966...
ResponderExcluirE pensar que passei férias exatamente nesse local de Rio Grande, a alguns anos atrás, visitando seus múseus e alguns parentes, desconhecendo totalmente que tal coisa havia acontecido nessa cidade. A única coisa sensacionalista que ouvia, ligada a praia do Cassino, foram as peripécias do "maniaco da praia do cassino", que apesar de na época já estar aprisionado, ainda deixou seu assombro na mente dos turistas que passavam por lá. Nada como uma notícia dessas para ofuscar um evento tão nefasto.
ResponderExcluirInteressantíssimo!
Prezados: o Museu da Comunicacao "Rodolfo Martensen", da Universidade Federal do Rio Grande, possui a gravacao do lancamentos do foguetes norte-americanos de 1966. Se tivessem feito contato com o museu, quando estiveram aqui em 2013, teriamos disponibilizado a narracao feita pelos colegas Tibirica Freitas, Paulo Correa (ambos falecidos) e Sergio Satt, pela Radio Minuano, do Rio Grande. A fita magnetica com a gravacao dos sons e da narracao feita pelos jornalistas fornecem boa nocao do que foi aquele acontecimento. Tambem entrevistei os tres e gravei seus depoimentos em video, cuja fita esta no acervo da FurgTV. Levei-os ao local do lancamentos dos foguetes e, naquele cenario, conversamos sobre o acontecido. Abracos
ResponderExcluirRealmente é uma pena!
ResponderExcluirAinda Menino, no final dos 60 ou início dos 70 (desculpem mas não sei precisar ao certo), fui levado pela mão por uma Tia, moradora da cidade do Rio Grande, a uma visita ao sítio de lançamento.
Já naquela época abandonado.
Foi muito emocionante ver ás áreas concretadas. Ainda rolavam pelo chão, tocadas pelo vento, carteiras de cigarro americanas. Junto com a da Corrida Espacial, o projeto eclipse ajudou a firmar em mim, até hoje, a paixão pelas viagens espaciais!
Que tempos!
Esta pesquisa do texto acima resultou em um livro " O dia em o Sol se escondeu" que pode ser obtido no link
ResponderExcluirhttp://revolucaoebook.com.br/ebook/o-dia-em-que-o-sol-se-escondeu-isbn-9788582453155/
Que fala da história do fenômeno do Eclipse Solar, do dia 12 de novembro de 1966, no Bairro/Balneário de Cassino da cidade Rio Grande/RS
Estiva la no dia.
ResponderExcluirTinha 12 anos e faria 13 em dezembro.
Minha família acampou na Barra. Lembro que na época tinha enormes dunas de areias e no topo delas ainda havia vestígios de base dos canhões de costa. Assistimo tudo do topo das dunas. Lembro de quando começou a escurecer e o gado que havia no pasto atras das dunas começou a se recolher como se fosse a tardinha. Lembro que tínhamos um folder com a sequencia dos lançamentos e dos países que estavam lançando. É difícil de lembrar detalhes de 50 anos mas acho falava em foguetes dos USA e Japão. Não lembro falarem em Itália.
Desta época o que mais lamento foi a total destruição das dunas da Barra. Saudade das brincadeiras naquela montanha de areia. Bons tempos. Quem viveu lembra.