Física do FERMILAB Discutiu a Era do LHC na UNESP
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada dia (19/04) no site da “Universidade
Estadual Paulista (UNESP)” destacando que física argentina do FERMILAB, Marcela
Carena, discutiu no início de abril a “Era do LHC” na UNESP.
Duda Falcão
Física do FERMILAB Discute
a Era do LHC na UNESP
Marcela Carena ministra minicurso sobre maior
acelerador
de partículas do planeta
Marcos Jorge
19/04/2013
Divulgação
Nascida na Argentina, Marcela também discute a baixa presença feminina na elite da física teórica |
O ICTP-SAIFR recebeu no início de abril a física
Marcela Carena, que faz parte da equipe do FERMILAB (Fermi National Accelerator
Laboratory) desde 1997 e é professora da Universidade de Chicago. A cientista
Argentina esteve na UNESP para organizar a programação do School on Particle Physics in the LHC Era
(Física de Partículas na Era do LHC) e apresentar um curso sobre Supersimetria.
O evento, que apresentou os avanços e próximos passos da física de altas
energias, durou duas semanas e contou com a presença de mais de 60 alunos de
diversos países.
Nascida em Buenos Aires, Marcela se interessou pela
física teórica porque viu nela "o meio termo entre as perguntas
fundamentais da filosofia e a precisão das respostas da engenharia". Hoje,
a cientista pesquisa as fronteiras do Modelo Padrão, sendo responsável pelo
desenvolvimento de um modelo que tenta explicar a assimetria entre matéria e
antimatéria presente no universo.
Casada e mãe de dois filhos, Marcela discute os próximos
passos da física de partículas e o papel do LHC neste desafio, bem como a baixa
presença feminina na elite dos pesquisadores da física teórica.
UNESP: A escola se chama "A física de partículas
na Era do LHC". O termo Era se justifica? O LHC de fato marcou uma era na
história da física?
Marcela Carena:
Sim porque mudou a forma de como entendemos este mistério da origem da massa de
todas as partículas. Não poderíamos ter encontrado esta partícula, o Bóson de
Higgs, se não fosse o LHC. Descobri-la é muito importante porque prova que a
proposta matemática que explica a formação da massa das partículas fundamentais
está correta. Isso é uma revolução uma vez que a idéia havia sido formulada 50
anos atrás, mas não se sabia se ela estava correta.
UNESP: Ao mesmo tempo que é revolucionária, a
tecnologia é também muito custosa. A construção de LHC, por exemplo, custou
cerca de US$ 10 bilhões. A aplicação de tanto recurso tem trazido o retorno
esperado?
MC: A física
de altas energias se tornou muito custosa, mas ao mesmo tempo é extremamente
desafiadora. Para avançar no entendimento de algumas das nossas perguntas
fundamentais, precisamos desses 'telescópios gigantes' do mundo subatômico. Ele
representa um avanço tecnológico impressionante, mas às vezes nos perguntam se
isso tem alguma importância para a humanidade. É preciso pensar que como são
maquinas absolutamente únicas, a tecnologia se desenvolveu especialmente para
ao funcionamento delas. Existe o conhecimento cientifico básico, que para nos é
fundamental, mas o que foi deixado como produto deste avanço tecnológico é
precioso também. A Internet, por exemplo, foi criada inicialmente para a
comunicação entre os cientistas e hoje está ao alcance de todos.
UNESP: Em fevereiro deste ano, o LHC foi fechado
após a descoberta do Bóson de Higgs. A idéia é melhorar o equipamento
aumentando ainda mais a energia de suas colisões. Qual será o desafio do LHC a
partir de 2015, quando ele for reaberto?
MC: A
descoberta do Bóson de Higgs não é o fim de uma era, é o começo de uma era.
Isso porque o Modelo Padrão ainda não pode explicar todas as coisas. Ainda não
podemos explicar, por exemplo, a existência da matéria escura, mas existem
extensões deste modelo que tentam explicar sua a existência. A matéria escura é
o que faz com que o universo se mantenha junto e não se disperse. Nós
acreditamos que 87% da matéria do universo é matéria escura. A idéia é que o
LHC ajude a explicar esses modelos que vão além do Standart.
Outro desafio que temos é o fato de que existe mais
matéria que antimatéria no universo. Se matéria encontra antimatéria, elas se
aniquilam e produzem radiação. Mas não entendemos que em momento na historia do
universo se produziu a diferença entre esses dois elementos, que permitiu que a
matéria formasse o cosmo, o planeta Terra e todos nós. Queremos com o LHC
tentar responder como e quando aconteceu este desequilíbrio.
UNESP: A física teórica é um ambiente
predominantemente masculino. Você, como mulher, vê alguma mudança nesse quadro
nos últimos anos?
MC: Eu vejo
que em alguns lugares há muito esforço para mudar este quadro, em outros há
menos. Nos EUA há bastante esforço. Existe, por exemplo, vagas só para
mulheres. Isso é muito bom, mas é preciso ter cuidado. É positivo dar uma vaga
para uma pesquisadora porque ela é boa, mas não é positivo dar uma vaga porque
ela é mulher. O FERMILAB tem se esforçado em mudar este quadro. No Grupo
de Teoria do FERMILAB contratamos recentemente a segunda mulher permanente. Eu
fui a primeira. Nesse grupo, que compreende de 25 a 30 pessoas, temos agora
duas mulheres permanentes em um quadro de 15 pessoas e de duas a quatro
mulheres como pós-doutoras ou estudantes em um grupo de aproximadamente 15
pós-doutores e estudantes.
Isso não é bom porque as estudantes não têm um modelo. É
importante para elas saber que você pode ser física e ter uma família. Eu tenho
filhos, sou casada e pesquiso física. Em muitos países há muitas mulheres
fazendo doutorado, mas que não seguem adiante na carreira.
UNESP: Você consegue ver algum motivo para essa
diferença numérica entre homens e mulheres?
MC: Não se
ensina a ciência como algo interessante. Nós não nos esforçamos para
transformar a ciência em algo divertido e excitante. Outro aspecto é cultural.
Em profissões onde há muitas mulheres é natural que outras mulheres se
interessem por esses ofícios. O mesmo vale na ciência. Eu já notei que se um
grupo de cientistas homens vai contratar um cientista homem se não houver um
incentivo para contratar mulheres. O grupo fica mais propenso a contratar
alguém semelhante, no caso, um homem. Não é algo de preconceituoso, mas natural
do comportamento humano. Mas é um processo que precisa ser colocado em debate
para que as pessoas pensem nisso no momento de contratar, por exemplo.
Fonte: Site da Universidade Estadual Paulista (UNESP)
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