Astrofísico Brasileiro Lidera o CTA, Maior Rede de Telescópios do Mundo
Olá leitores! Olá leitoras!
Segue abaixo uma interessante notícia publicada dia (20/02)
no site “CNN Brasil”, informando que o astrofísico brasileiro ‘Luiz Vitor de
Souza Filho’ do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, em São Carlos
(IFSC-USP) é quem lidera o ‘Cherenkov Telescope Array (CTA)’, iniciativa esta que terá mais de
100 telescópios ligados em rede e será o maior observatório de fontes extremas
de energia, como os raios gama, do mundo.
Pois então, sensacional
e mais uma comprovação da competência da nossa Comunidade Astronômica
Brasileira, bem como dos pesquisadores deste Instituto de Física da
Universidade de São Paulo, em São Carlos (IFSC-USP).
Porém o mais curioso
nessa história toda amigos leitores é que para esta iniciativa, a empresa ‘Orbital
Engenharia’ de São José dos
Campos (SP), uma das representantes do ‘Old Space’ no Brasil, incrivelmente conseguiu vencer
uma concorrência internacional contra uma empresa da Europa para assim desenvolver
o projeto e construir a estrutura (braço) mecânica de sustentação das câmeras
dos telescópios de médio porte deste telescópio. Estrutura esta que terá aproximadamente
16 metros de altura e será instalada em telescópios com espelho de 12 metros de
diâmetro, para assim dar sustentação e posicionar a câmera de duas toneladas. É
mole?
Brazilian Space
Tecnologia
Brasileiro Lidera o CTA, Maior Rede de Telescópios do
Mundo; Conheça o Projeto
Observatório liderado por Luiz Vitor de Souza Filho
ajudará a estudar raios gama e desvendar mistérios sobre matéria escura
Por Evanildo da Silveira
Colaboração para a CNN
20/02/2022 às 04:30
Fonte: CNN Brasil
CTA/Divulgação
Mais de 1.500 cientistas, além de instituições de
pesquisa e empresas de 25 países, estão trabalhando em conjunto para construir
o Cherenkov Telescope Array (CTA), que terá mais de 100 telescópios
ligados em rede e será o maior observatório de
fontes extremas de energia, como os raios gama, do mundo.E tudo sob a liderança de um cientista brasileiro, o
astrofísico Luiz Vitor de Souza Filho, do Instituto de Física da Universidade
de São Paulo, em São Carlos (IFSC-USP).
Sua implementação começou em 2013 e, depois de vários
adiamentos, a previsão para sua conclusão é 2025. Quando estiver em plena
operação, serão 118 telescópios de vários tamanhos, alguns deles com 23 metros
de diâmetro. Desse total, 99 serão instalados nos Andes chilenos, na região do
Cerro Paranal, e 19 na Ilha Canária de La Palma, na Espanha.
O CTA deve seu nome ao efeito Cherenkov, descoberto pelo
físico russo Pavel Alexeevitch Cherenkov. Junto com seus compatriotas Igor
Yevgenyevich e Tamm Il´ja Mikhailovich Frank, ele recebeu o Prêmio Nobel de
Física em 1958.
“O efeito Cherenkov é a emissão de radiação (luz)
decorrente da passagem de uma partícula carregada com velocidade maior do que a
velocidade da luz em um meio, como água ou ar, por exemplo”, explica Souza. “Ou
seja, quando uma partícula com carga elétrica atravessa a atmosfera terrestre,
ele produz uma rastro luminoso, que pode ser detectado pelos telescópios do
CTA.” A velocidade da luz só não pode ser ultrapassada no vácuo.
Alguns números ajudam a entender melhor isso. A
velocidade da luz no vácuo (c) é de 299.792,458 km/s e é insuperável. Mas em um
meio qualquer é menor que esse valor. No ar perto da superfície terrestre, por
exemplo, a velocidade da luz é de aproximadamente 299.702 km/s.
A velocidade de um elétron no ar pode ser maior que esse
valor, mas é obrigatoriamente menor que 299.792 km/s, ou seja, é maior do que
velocidade da luz naquele meio, mas menor que ela no vácuo. Resumindo, nada,
seja no vácuo ou num meio qualquer, pode superar a velocidade de 299.792 km/s.
Em Busca dos Eventos Extremos
Os telescópios CTA vão procurar os raios gama – também
conhecidos como raios cósmicos –, que são emitidos pelos eventos mais extremos
conhecidos do universo, como explosões de estrelas supernovas e colisões de
buracos negros.
“O CTA será a próxima geração de telescópios dedicados à
astronomia da radiação gama, portanto, para a observação do céu na faixa mais
energética do espectro eletromagnético”, explica o astrofísico Ulisses Barres
de Almeida, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e um dos três
investigadores principais do CTA no Brasil – junto a Souza e à física Elisabete
Dal Pino, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG)
da USP.
“O observatório investigará os eventos mais energéticos
do universo, incluindo as condições físicas dos aceleradores cósmicos de
partículas, tais quais buracos negros, pulsares, supernovas e surtos de
radiação gama; além da composição e origem da matéria escura, os campos
magnéticos do universo, e a violação da constância da velocidade da luz, que só
é possível medir-se em raios gama”, explica Dal Pino.
De acordo com ela, o novo observatório terá uma melhora
em sensibilidade de um fator 5 a 10 vezes mais que os atuais nas energias entre
100 gigaelétron-volts (GeV) e 10 teraelétron-volts (TeV). Por definição, um
elétron-volt é a quantidade de energia cinética ganha por um único elétron
quando acelerado por uma diferença de potencial elétrico de um volt, no vácuo.
Créditos: CTA / Divulgação
Telescópio do Observatório CTA, instalado no Chile. |
Telescópios do CTA irão ajudar a entender matéria escura. |
O observatório terá três tamanhos diferentes de telescópios: de grande porte (LST), com 23 metros de diâmetros, de médio (MST) com 15 metros, e de pequeno (SST) com 4 metros. |
“Com o CTA será possível detectar raios gama do cosmos
numa faixa que compreende desde energias bem abaixo dos 100 GeV até acima dos
100 TeV, alcançando energias jamais observadas antes no universo”, diz Elisabete.
Para cobrir esta extensa faixa energética, o observatório
terá três tamanhos diferentes de telescópios: de grande porte (LST), com 23
metros de diâmetros, de médio (MST) com 15 metros, e de pequeno (SST) com 4
metros.
Por meio da observação que será feita pelo conjunto de
telescópios, será possível reconstruir a direção e energia da radiação gama que
está vindo de fontes distantes do universo.
“O CTA é um experimento amplo e múltiplo desenhado para
fazer descobertas ao invés de medidas incrementais”, explica Souza. “Os
resultados do novo observatório trarão informações sobre escalas macro (astro)
e micro (partículas) da natureza.”
Segundo o astrônomo Reinaldo Santos de Lima, do IAG-USP,
que também participa do projeto, mais informações, detalhes e estatísticas de
fontes astrofísicas, como supernovas, pulsares, núcleos ativos de galáxias, ou
ainda regiões extensas da galáxia onde se produz radiação de altíssima energia,
tornam possível compreender mais sobre as condições físicas destas fontes e ambientes.
“Também ajudam a entender os processos de geração e
interações fundamentais das partículas super-relativísticas que geram esta
radiação, os raios cósmicos”, acrescenta.
O CTA ajudará ainda a entender como as partículas
fundamentais (prótons, nêutrons, elétrons, por exemplo) interagem em escalas de
energia inacessíveis em experimentos na Terra, como o acelerador de partículas
Large Hadron Collider (LHC) ou Grande Colisor Elétron-Pósitron, instalado na
Suíça.
“Tais escalas energéticas de interação de partículas eram
comuns nos primeiros momentos do universo após do Big Bang, mas só podem ser
estudadas hoje nesses fenômenos astrofísicos extremos”, explica o físico e
astrônomo Aion da Escóssia Melo Viana, colega de Souza no IFSC-USP, e também
integrante do observatório.
Além disso, diz Viana,há a possibilidade de que se possa
finalmente descobrir a natureza da misteriosa matéria escura, por meio da sua
aniquilação ou desintegração nos centros de galáxias (como a própria Via
Láctea), o que produziria uma luz tênue em raios gama que poderá ser detectada
pelo CTA.
Divulgação / Acervo pessoal.
Luiz Vitor de Souza Filho, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, em São Carlos, será lider do CTA. |
O Brasil à Frente do Projeto
Não é por acaso que pesquisadores brasileiros estejam
participando, com posições de destaque, do mais avançado observatório a ser
construído.
“O Brasil tem longa experiência nesta área de pesquisa
que recebe o nome de Astrofísica de Partículas (antigamente o nome mais usado
era raios cósmicos)”, explica Souza.
De acordo com ele, entre os primeiros artigos científicos
de física publicados em revistas de conhecimento internacional foram resultados
nesta área de pesquisa, e tiveram como autores os brasileiros Marcello Damy e
Paulus Pompéia, em 1940.
O físico brasileiro mais conhecido, César Lattes, também
fez sua carreira nessa área de pesquisa. “Esses pioneiros plantaram as sementes
de uma comunidade que hoje participa do CTA”, orgulha-se Souza.
Ainda segundo ele, nas últimas duas décadas, a comunidade
brasileira abriu novas perspectivas da participação nacional ao envolver a
indústria na construção de grandes observatórios, como o Pierre Auger, na
Argentina, e o Southern Astrophysical Research Telescope, mais conhecido como
SOAR, no Chile.
O Brasil também tem participação nos experimentos da
Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), que opera o LHC, cuja
instrumentação tem algumas semelhanças com os observatórios de Astrofísica de
Partículas.
Souza diz que essas iniciativas das últimas décadas,
colocaram a comunidade nacional de Astrofísica de Partículas no mais alto
patamar da ciência sendo feita nesta área.
Assim, o país se tornou um parceiro importante ao
contribuir com conhecimento científico e inovação tecnológica.
“Por isso, em 2010 propus ao Consórcio Internacional do
CTA a inclusão do Brasil”, conta. “Em função do histórico, fomos aceitos. Em
seguida, iniciei a tarefa de formação de uma equipe nacional e de prospecção de
empresas interessadas em participar. Foi um caminho árduo, mas depois de 11
anos, conseguimos destaque científico no Consórcio e participação da indústria
nacional na construção dos telescópios.”
Ele próprio foi eleito recentemente, para um mandato de
dois anos, como presidente da assembleia científica do CTA, o órgão máximo do
observatório para a área de ciência e pesquisa.
“Minha escolha é resultado de uma longa história de
sucesso da área de Astrofísica de Partículas do Brasil e em particular dos
participantes no CTA”, diz. “Hoje já somos mais de 50 pessoas envolvidas com o
CTA no Brasil. Eu me sinto muito honrado e desafiado ao assumir esta
responsabilidade. O Observatório está em um estágio muito importante de
transição entre protótipos e construção definitiva dos telescópios nos locais
onde serão instalados, o que vai exigir muito da presidência da assembleia.”
Além dos pesquisadores, empresas brasileiras também
participam da construção do observatório. É o caso da Orbital Engenharia, de
São José dos Campos (SP), que venceu uma concorrência com uma empresa da Europa
para desenvolver o projeto e construir a estrutura (braço) mecânica de
sustentação das câmeras dos telescópios de médio porte.
“Ela tem aproximadamente 16 metros de altura e será
instalada em telescópios com espelho de 12 metros de diâmetro, para dar
sustentação e posicionar a câmera de duas toneladas”, conta o presidente da
empresa, Célio Costa Vaz.
Essa estrutura possui vários requisitos de projeto,
fabricação, interfaces, transporte, montagem e de vida operacional em ambientes
agressivos, incluindo a resistência a terremotos.
Souza diz que, para a Orbital Engenharia, “com sua
vocação e vasta experiência no desenvolvimento de tecnologias próprias voltadas
para aplicações espaciais no país”, essa escolha se mostrou como uma
oportunidade para aplicar sua capacidade de engenharia espacial em um projeto
desafiador de relevância internacional. “Também possibilitou a abertura de um novo
mercado, qual seja, o de fornecer apoio de engenharia à pesquisa
científica em astrofísica em nível mundial”, diz.
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