Jayme Boscov, Falece Pioneiro do Programa Espacial Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota mais completa sobre a passagem do
grande Von Braun Brasileiro, o Eng. Jayme Boscov, está publicada dia (03/07) no
site da “Defesanet.com”. Vale a pena conferir e conhecer mais sobre este grande
brasileiro e ícone do Programa Espacial do país.
Duda Falcão
COBERTURA ESPECIAL - ESPECIAL ESPAÇO - TECNOLOGIA
Jayme Boscov, Falece Pioneiro do Programa Espacial
Brasileiro
Engenheiro pelo ITA que trabalhou na equipe do Concorde
foi o responsável pelo programa do Veículo Lançador de Satélites, com
importante contribuição para o país
Defesanet.com
VIA INVOZ
03 de Julho, 2020 - 17:35 ( Brasília )
Jayme Boscov, em 29 de Agosto de 1994. Registro do
Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
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O engenheiro aeronáutico Jayme Boscov morreu ontem, em
Tietê (SP), aos 87 anos. Ele formou-se pelo Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA), em 1959, e recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico em
novembro de 1996 do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Boscov trabalhou na França por 10 anos, no
desenvolvimento de mísseis para as empresas Matra e Aerospatiale. O engenheiro
foi responsável pelo programa do Veículo Lançador de Satélites (VLS) e deu
importante contribuição para o desenvolvimento tecnológico do país.
“É uma grande perda. Quando cheguei no DCTA, em 1969, aos
poucos me tornei amigo do Boscov. Meus filhos cresceram com os dele”, afirma
Manoel Oliveira, presidente do Conselho de Administração do INVOZ. Boscov foi
bolsista do governo francês em 1960, de onde foi integrado na Société Nationale
d’Études et Construction de Moteur d’Aviation (SNECMA), na divisão de Engenhos
Espaciais, Estudos Avançados.
Participou ativamente do programa de desenvolvimento de
lançadores até 1967, quando ingressou em uma das equipes de desenvolvimento do
avião supersônico Concorde. Após 10 anos trabalhando na França, Boscov retornou
ao Brasil para sedimentar o programa de Pesquisa e Desenvolvimento de Foguetes
em fase inicial na época no Centro Técnico Aeroespacial (CTA).
Formou e liderou a divisão de Projetos de Foguetes
durante 22 anos, entre 1969 e 1991. Projetou e desenvolveu os foguetes de
sondagem Sonda III, Sonda IV e o Veículo Lançador de Satélites (VLS) até 1992.
Coordenou programas de cooperação internacional com organizações da França e
Alemanha, na área de lançadores, o que possibilitou a formação de recursos
humanos em mecânica orbital, antenas para lançadores, recuperação de cargas
úteis no mar e gerenciamento de grandes projetos espaciais. Se aposentou em
1995, passando a prestar serviços para a Agência Espacial Brasileira (AEB) até
1998.
Boscov foi eleito membro da Academia Internacional de
Astronáutica (IAA) em 1989 e foi nomeado Comendador da Ordem Nacional do Mérito
Científico por sua contribuição científica para o desenvolvimento do Brasil em
1996, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Além disso recebeu, do
Ministério da Aeronáutica, as medalhas do Mérito Santos Dumont em 1970; Mérito
Aeronáutico Grau Cavaleiro em 1978, Grau de Grande Oficial em 1986 e Grau
Comendador em 1995; além da medalha da Ordem do Mérito das Forças Armadas em
1989.
Em 2003, ele falou ao Jornal do Engenheiro sobre o
acidente com o terceiro modelo do VLS ocorrido naquele ano, suas prováveis
causas e os motivos das dificuldades do programa até aquela época. Veja a
entrevista abaixo:
O que houve com o programa espacial brasileiro?
O início, nos anos 70, foi muito favorável. Na
primeira fase, desenvolveram-se os foguetes Sonda I, II e III. Na segunda, a
proposta era fazer um foguete com sistema de controle que pudesse ser
automaticamente pilotado, o Sonda IV. Procurou-se desenvolver todas as
tecnologias básicas necessárias ao desenvolvimento do lançador de satélites.
Começamos também um grande relacionamento internacional, especialmente com a
Alemanha, o que nos permitiu construir um laboratório de propulsão. Em 1984,
voou o primeiro Sonda IV. A partir daí, deveríamos ter um crescimento, mas
ocorreu o contrário e até hoje vivemos essa trajetória descendente.
Nessa época, as verbas começaram a escassear e o
programa, antes florescente, passou a decair…
O orçamento é ridículo, mas não adianta achar que o
dinheiro resolve tudo. Não havia consistência no programa. O projeto VLS nasceu
em 1980, em 1982 foi sedimentado e o primeiro protótipo voou em 1997, o que é
muito tempo. O fundamental é que não houve vontade política do Governo para que
fosse um grande projeto nacional. Ficou restrito à Aeronáutica. O
desenvolvimento ficou em cima do CTA (Centro Técnico Aeroespacial). Não
conseguimos, já na segunda fase, estabelecer uma organização que tivesse o
chamado arquiteto industrial, responsável pelas fabricações em outras empresas
e que fosse um integrador. O Governo teria que investir e ter um programa com
continuidade em que se garantisse pelo menos cinco anos à frente.
O que houve com o programa espacial brasileiro?
Também não superamos a fase artesanal, muita coisa
depende da pessoa que está fazendo e não de um procedimento, que foi
exaustivamente comprovado e onde nada se faz sem a documentação técnica.
O programa sofreu também com a falta de recursos
humanos?
Chegamos a ter 1.300 pessoas. Depois, houve um gap de
quase dez anos na contratação. Hoje, os engenheiros que projetaram o VLS e
qualificaram o sistema são os mesmos que foram operar o veículo lá em
Alcântara, quando deveria haver uma equipe só para o lançamento. Além disso,
recebem salários baixos, às vezes ridículos.
Um país que não tem alta tecnologia sempre será
escravizado, disse Jayme Bosco em entrevista ao Jornal do Engenheiro, em 2003.
Diante de tantas dificuldades e todos os problemas
do Brasil, faz sentido um programa espacial?
Um país que não tem alta tecnologia sempre será
escravizado. Ou o Brasil continua esse programa porque quer ser independente
nos lançamentos, quer ter uma cultura espacial que possa seguir o que os outros
estão fazendo ou por motivos estratégicos. O fundamental é definir uma política
espacial, que siga independentemente do partido que estiver no poder. Vamos
fazer o Fome Zero, mas não esqueçamos as outras questões.
Com a investigação do acidente, esses problemas
virão à tona?
Espero que não se olhe apenas o acidente, mas tudo que
ficou para trás. É preciso uma análise profunda de como se chegou a isso. Por
que havia 23 pessoas lá e o que cada um estava fazendo? Nada acontece do dia
para a noite, há uma seqüência de eventos que levaram a isso. Eu descarto
totalmente a hipótese de sabotagem. A sabotagem, ainda que não
propositadamente, foi contra a política espacial brasileira
Fonte: Artigo Defesanet - http://www.defesanet.com.br
Comentário: Pois é leitor, infelizmente o nosso Von Braun
nos deixou, e com ele foi-se mais um ícone do nosso Programa Espacial sem que o
país e seus governantes tomem a consciência da importância de termos o nosso
veículo lançador de satélites próprio. O tempo está passando e estamos
caminhando para um desastre pré-anunciado há décadas. O mundo caminha para o
espaço leitor por vários motivos, e o Governo Bolsonaro parece acreditar que
unicamente oferecendo um espaçoporto comercial (caso o mesmo venha ser exitoso)
tornará o país num player importante no setor espacial, coisa que está bem
longe de verdade. Além disso, quando se esperava que com a eleição do Presidente
Bolsonaro práticas nefastas de apadrinhamento de empresas ineficientes e sangue
sugas do erário publico acabasse, não é o que se vê, e consequentemente segue a
triste trajetória de outrora que nos levou a essa situação em que nos encontramos.
Triste.
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