SindCT - Raupp Realiza Camp. p/Fim da Pós-Grad. do INPE

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado no “Jornal do SindCT” de abril de 2013, editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T (SindCT)” destacando que o Ministro do MCTI, Marco Antônio Raupp,  realiza campanha pelo fim da Pós-Graduação no INPE.

Duda Falcão

Nosso Trabalho

Ministro do MCTI Realiza Campanha Pelo
Fim da Pós-Graduação no INPE

Raupp ataca novamente pós-graduação do INPE

Da redação
Jornal do SindCT
Abril de 2013


Desde que assumiu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI, Marco Antonio Raupp, vem acusando o INPE de estar se afastando de sua “missão” ao manter cursos de pós-graduação em suas diferentes áreas de atuação, como sensoriamento remoto, previsão de clima e tempo, e engenharia espacial.

Tais ataques acontecem, mesmo com a pós-graduação do INPE tendo conseguido se firmar como referência internacional na área espacial, tendo com seus cursos obtido notas que superam até mesmo a conceituada Universidade de São Paulo – USP, de acordo com avaliação de desempenho divulgado periodicamente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. O ministro argumenta que a pós-graduação estaria desviando o INPE de sua real finalidade.

Opinião oposta tem o pesquisador do INPE, Dr. Antônio Fernando Bertachini de Almeida Prado, Presidente do Conselho da Pós-Graduação e chefe da Divisão de Mecânica Espacial e Controle - DMC. Em matéria publicada no Jornal do SindCT em 2012, Bertachini afirma que o alegado “desvio das funções do instituto” não existe, conforme atestam dados de uma pesquisa realizada em outubro de 2012, a qual aponta que, no quesito docência, o envolvimento de funcionários do INPE na PG é de cerca de 60 homens-hora, o que representa menos de 10% do efetivo institucional.

Em visita à unidade do INPE de Cachoeira Paulista, em julho passado, Raupp afirmou: “A dedicação dos docentes à área de pós-graduação prejudica a finalidade dos serviços prestados pelos Institutos, por desviar recursos físicos e humanos.” Também criticou os tecnologistas ligados diretamente aos programas de satélites do INPE por estarem cursando pós-graduação, quando estes deveriam estar “engenheirando”.

Carlos Afonso Nobre, servidor do INPE e Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI, tem a mesma visão de Raupp sobre o assunto, tendo afirmado na mesma oportunidade que considera errado o CPTEC formar pessoal qualificado para as universidades, visto que a maior parte dos mestres e doutores acaba não permanecendo na instituição.

No dia 17 de abril, na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, o secretário-executivo do MCTI, Luiz Elias, mais uma vez desferiu críticas à pós-graduação do INPE, desta vez de forma irônica, afirmando que “Há Institutos agindo como universidade, se dedicando à pós-graduação, em vez de pesquisa e desenvolvimento”.

Bertachini rebate estas críticas em seu artigo afirmando que a pós-graduação do INPE é vítima de sua eficiência, pois o programa está entre os mais bem avaliados do país; entretanto, sem prejudicar os trabalhos dos pesquisadores, já que cada funcionário alocado nessa atividade dedica cerca de 30% de seu tempo. Este número é ainda menor, cerca de 20%, para os funcionários das áreas tecnológicas do Instituto. Ele acrescenta ainda que a pós-graduação no INPE é uma atividade voluntária e que em muitos casos são realizados fora do horário normal de expediente.

De acordo com ele, a pós-graduação é reconhecida por ser um elemento agregador de profissionais externos ao INPE. Pesquisadores de renome mundial orientam alunos dos cursos da PG, em parceria com docentes da Instituição. Isso colabora com a produção acadêmica da instituição, sem que exista qualquer gasto extra, já que esses alunos, em geral, são bolsistas FAPESP.

A pós-graduação do INPE diferencia-se das demais em diversos aspectos, pois os programas são focados em tópicos bastante específicos e costumam envolver áreas de atuação não cobertas por universidades brasileiras. Alguns exemplos dessas especificidades são:

a) na astrofísica, existe grande atividade no desenvolvimento de instrumentação científica para observações astronômicas e radioastronômicas;

b) na engenharia, há o único programa na área de propulsão do Brasil, bem como o único programa brasileiro em Engenharia de Sistemas Espaciais. Várias áreas de mecânica espacial ligadas a satélites artificiais também são únicas no Brasil, assim como em pesquisa de materiais. A Engenharia tem uma ligação muito forte com empresas do setor aeroespacial da região, e colabora na formação de recursos humanos para essas empresas, o que universidades não fazem com tanta intensidade;

c) O recém-criado curso de Ciências do Sistema Terrestre é o único no Brasil com foco na formação de especialistas aptos a buscar soluções para os problemas ambientais globais que incluam o Brasil, tópico de grande importância atualmente.

d) O curso de Geofísica Espacial é o curso mais antigo e melhor classificado no Brasil na área, e tem grande foco em problemas relacionados à região onde o Brasil se encontra.

e) O curso de Meteorologia atua na previsão numérica de tempo e clima e ajuda o INPE a ficar no “estado da arte” na área.

f) As atividades desenvolvidas no curso de Sensoriamento Remoto ajudam a formar profissionais aptos a atuar em técnicas específicas para os problemas brasileiros.

g) O curso é CAP - Computação Aplicada, que tem a nota 5 pela última avaliação CAPES.

Esses ataques aos cursos de pós-graduação dos institutos, em especial aos do INPE, demonstram que Raupp, Nobre, Luiz Elias e outros, evidenciam desconhecimento absoluto dos Institutos, de seus laboratórios e dos núcleos de trabalho científico e tecnológico neles alocados; não sabem da necessidade de se formar potenciais doutores e servidores altamente especializados na área, preparados para as atuações específicas que os institutos têm.

Antes de fazerem ataques gratuitos aos programas de pós-graduação, as autoridades de Brasília deveriam se lembrar de que o “P” do INPE vem de Pesquisa, produzida, na grande maioria dos casos, no âmbito dos projetos e atividades dos alunos e pesquisadores que atuam na pós-graduação.


Fonte: Jornal do SindCT - Edição 22ª - Abril de 2013

Comentário: Não tenho uma posição formada sobre esse assunto, mas sem dúvida é uma assunto polêmico e está aberto para discussões.  Qual é a sua opinião leitor?

Comentários

  1. Como eu já disse antes, em vez de "cada um no seu quadrado", o modelo organizacional seguido por aqui é o tal "quadradinho de oito".

    Tem quem goste, mas não faz o menor sentido. Parece algo da União Soviética da década de 50...

    Um instituto de pesquisa oferecendo curso de pós graduação?

    É muita concentração de atividades. Será que o projeto do CBERS não merecia um maior foco?

    Isso esclarece uma ampla gama de consequências.

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  2. Esse assunto não pode ser olhado apenas do ponto de vista que um Instituto de Pesquisa deve "apenas" pesquisar. O Ministro Raupp estã esquecendo que os próprios órgãos de fomento ligados a seu próprio ministério exigem que os candidatos aos recursos tenham um forte viés acadêmico. Basta ir www.cnpq.br e olhar quais os requisitos para receber uma bolsa PQ (de pesquisa) é preciso orientar alunos e dar cursos. Ora como um pesquisador poderá orientar alunos e dar aulas se não houver um curso de PG disponível?
    Além disso, os alunos da PG participam diretamente no desenvolvimento de tecnoligia dos projetos - mão de obra barata, de qualidade e motivada.
    Concordo porém que existem pessoas que se escondem atrás da dedicação à PG para não assumirem responsabilidades nos projetos. Mas isso se resolve com uma chefia comprometida que evite os oportunistas e mantenha sadia a atividade acadêmica. Ou seja, gestão interna resolveria e não a extinção do curso.

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  3. Para quem não sabe, o Brasil, é um dos países que mais publica teses acadêmicas em PG e Mestrado no Mundo!

    E...

    Quem lê bastante sobre a história mundial, principalmente sobre os fatos e pessoas que desencadearam a "revolução espacial", estou falando do período da Segunda Guerra Mundial e o subsequente período da Guerra Fria, sabe, que a origem dos maiores avanços foram os alemães.

    O motivo? O principal a meu ver, foi o de que o ensino superior alemão da época (e acredito que isso permaneça até hoje), tinha um viés muito mais prático do que acadêmico. Os alemães eram primordialmente realizadores, e não apenas teóricos.

    Na verdade, se analisarem a formação do time do Wernher von Braun que foi para os Estados Unidos e do time do Helmut Gröttrup que foi para a União Soviética, vão ver que na verdade, eles eram Engenheiros-Cientistas, e não o contrário.

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  4. bom post, foi muito interessante ler, obrigado pelo seu trabalho !

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