Estudo da NASA Aponta Que Lixo e Poluição Gerados Pela Nova Corrida Espacial Disparam, e Podem Ameaçar Atmosfera do Planeta
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo um interessante artigo publicada no THE NEW
YORK TIMES e postado dia (28/01) no site “R7”, tendo como tema um estudo realizado pela NASA que aponta que o Lixo e a Poluição gerados pela nova Corrida Espacial dispararam, e podem em
breve ameaçar a Atmosfera do Planeta.
Entendam melhor essa história pelo artigo abaixo.
Brazilian Space
TECNOLOGIA E CIÊNCIA
Lixo e Poluição Gerados Pela Nova Corrida Espacial
Disparam, e Podem Ameaçar Atmosfera do Planeta
Nos últimos anos,
aumentaram os lançamentos de foguetes, e o número de satélites no espaço pode
chegar a 1 milhão
Por Shannon Hall
Para o The New
York Times
28/01/2024 -
02h00
Fonte via: https://noticias.r7.com
A corrida nas camadas mais altas da atmosfera começou em
Cabo Canaveral, na Flórida, em 17 de fevereiro de 2023, quando um foguete
SpaceX Falcon 9 foi lançado. Nesse dia, Thomas Parent, piloto de pesquisa da NASA,
estava a bordo de um jato WB-57 quando o SpaceX passou próximo à sua asa
direita. Ele ficou hipnotizado por alguns instantes antes de acelerar a
aeronave e iniciar sua caçada.
Por aproximadamente uma hora, Parent fez mergulhos dentro
e fora da nuvem criada na esteira do foguete, enquanto Tony Casey, o operador
dos sensores a bordo do jato, monitorava 17 instrumentos científicos. Os
pesquisadores da agência espacial usariam os dados que o avião de Parent traria
para provar que era possível capturar a pluma, ou seja, a fumaça do foguete.
Esperavam, com isso, caracterizar os efeitos ambientais que um lançamento
espacial produz.
Fonte: NASA via The New York Times
Nos últimos anos, o número de lançamentos de foguetes
disparou. Empresas comerciais – especialmente a SpaceX, fundada por Elon Musk –
e as agências governamentais colocaram milhares de satélites na órbita baixa da
Terra. E isso é só o começo. Os satélites poderão, um dia, totalizar um
milhão de unidades, demandando um número ainda maior de lançamentos espaciais
que produzirão níveis crescentes de emissões de gases.
A SpaceX se recusou a comentar a poluição causada por
foguetes e satélites. Já representantes da Amazon e da Eutelsat OneWeb,
duas outras empresas que trabalham na construção de megaconstelações de
satélites (grupo de satélites artificiais que trabalham juntos como um
sistema), afirmaram que estão comprometidas com operações sustentáveis. Entretanto,
cientistas temem que mais lançamentos espalhem mais poluentes nas camadas
imaculadas da atmosfera terrestre. E os órgãos reguladores de todo o mundo
– que avaliam os riscos de lançamentos espaciais – ainda não estabeleceram
regras relacionadas à poluição.
Especialistas dizem que não pretendem limitar a expansão
da economia espacial. Mas temem que a ciência caminhe mais lentamente do que
essa nova corrida pelo espaço. O significado disso é que só poderemos
compreender as consequências da poluição provocada pelos grandes foguetes e
pelas naves espaciais quando for tarde demais. E não são apenas os gases
expelidos pelos foguetes que preocupam: estudos demonstram que as camadas mais
altas da atmosfera estão repletas de metais provenientes das naves espaciais
que se desintegraram quando caíram de volta na Terra.
Fonte: NASA via The New York Times
Para Aaron Boley, astrônomo da Universidade da Colúmbia
Britânica e codiretor do Outer Space Institute, "o sistema está mudando
mais depressa do que podemos compreender. Nunca valorizamos de fato nossa
capacidade de afetar o meio ambiente, mas fazemos isso continuamente".
Decolagem
Quando um foguete como o Falcon 9 decola, normalmente
leva cerca de 90 segundos para atravessar a baixa atmosfera, ou troposfera,
antes de atingir a atmosfera intermediária. Foi no topo da troposfera que
Parent começou sua perseguição, voando tão alto quanto a atmosfera
intermediária. Nesse ponto, a densidade do ar é muito baixa. Ele e o operador
Casey tiveram de usar roupas pressurizadas, luvas pesadas e capacetes que os
supriam com oxigênio.
A atmosfera intermediária raramente viu tanta agitação.
É muito difícil que aviões comerciais voem nessas alturas. Nem o clima
terrestre nem a poluição do solo chegam lá em cima. É, portanto, calma, intocada e vazia – exceto por um foguete ocasional,
que passará por ela durante três a quatro minutos a caminho do espaço. No
momento em que um foguete entra em órbita, terá despejado nas camadas média e
superior da atmosfera até dois terços de seus gases de escape, que, segundo os
cientistas, caem e se acumulam na camada inferior da atmosfera média, a estratosfera.
Esta abriga a
camada de ozônio que nos protege da radiação prejudicial do sol e que é
sensível: mesmo a menor mudança pode ter efeitos enormes sobre ela e sobre o
mundo abaixo.
Fonte: NASA via
The New York Times
Especialistas ainda não sabem exatamente como lidar com o lixo espacial que se acumula ao redor do planeta. |
Para dar uma
ideia do problema, quando o Monte Pinatubo entrou em erupção, no centro das
Filipinas, em 1991, expeliu dióxido de enxofre na estratosfera suficiente para
desencadear um período de esfriamento plurianual. Esse gás criou aerossóis de
sulfato que aqueceram a estratosfera e impediram que o calor atingisse a
superfície da Terra. Alguns cientistas temem que os gases de escape
cumulativos liberados por mais foguetes possam afetar o clima de maneira
semelhante.
Hoje, os gases de
combustão dos foguetes são insignificantes em comparação com os emitidos pela
aviação. Mas os cientistas estão preocupados com o fato de que mesmo pequenas
adições à estratosfera provoquem um efeito muito maior. Martin Ross, cientista
da Aerospace Corporation, organização de pesquisa financiada pelo governo
federal dos Estados Unidos, sediada em Los Angeles, comparou a atmosfera da
Terra a um barril de água lamacenta. Imagine que a sujeira e os detritos nesse
barril se assentaram no fundo e deixaram a parte de cima relativamente clara.
Se você adicionar mais sujeira ao fundo, ela passará despercebida. No entanto,
se você adicionar a sujeira à água transparente que está no topo do barril, é
provável que ela fique turva ou mesmo suja.
A maneira exata
como os foguetes afetarão esse topo relativamente claro, que chamamos de
estratosfera, é ainda incerta. Os cientistas estão preocupados com o carbono
negro, ou fuligem, liberado pelos atuais foguetes, que pode agir como uma
erupção vulcânica contínua, criando uma alteração que tem potencial para
esgotar a camada de ozônio e afetar a Terra no plano abaixo.
Números Estratosféricos
Na década de
1990, quando o ônibus espacial da Nasa e outros foguetes foram lançados de
forma constante a partir de solo norte-americano, vários estudos previram que
as naves espaciais causariam danos locais à camada de ozônio. Um estudo chegou
a prever uma perda de até cem por cento dela, provocando um pequeno buraco
sobre o Cabo Canaveral, o local de lançamento, suficiente para permitir que uma
maior quantidade de radiação ultravioleta do Sol atingisse o solo, aumentando,
assim, o risco de câncer de pele, catarata e doenças causadas por baixa
imunidade.
Fonte: Anuj
Shrestha/The New York Times
Os estudos se
basearam apenas em modelos e previsões, sem dados observacionais. Por isso,
Ross e seus colegas recolheram dados de voos de investigação a grandes
altitudes, que encontraram buracos de ozônio nos locais por onde passava a
esteira dos voos espaciais. Mas notaram, posteriormente, que os buracos
fecharam em pouco tempo. Não eram grandes o bastante para afetar o Cabo
Canaveral, levando em consideração a frequência dos lançamentos da época, cerca
de 25 por ano.
Mas o mesmo pode
não se repetir no futuro. Em 2023, a SpaceX sozinha lançou quase cem foguetes.
A maioria dos voos se destinava a construir uma constelação de satélites, a
Starlink. Em breve, a Amazon se juntará a ela. A empresa de Jeff Bezos está
planejando lançamentos frequentes para montar a constelação de satélites do
Projeto Kuiper. Outras empresas também buscam presença substancial na órbita da
Terra. São satélites que vão oferecer uma série de benefícios, incluindo
internet banda larga em quase todos os lugares.
Infelizmente,
quando essas empresas completarem suas constelações de até milhares de
satélites, os lançamentos não terminarão. Muitos satélites têm vida útil de
cinco a 15 anos, exigindo substituições.
É o início de uma
nova era. Segundo Tim Maclay, diretor de estratégia da ClearSpace, empresa
suíça que tem foco na construção de operações espaciais sustentáveis,
"estamos numa fase da indústria espacial semelhante à que estávamos há
muitas décadas, em vários dos nossos ambientes terrestres. Vemos a perspectiva
do desenvolvimento e vamos em direção a ela sem premeditar as consequências
ambientais".
Os cientistas dão
o alarme, mas deixam claro que não se consideram oponentes das empresas de
foguetes ou das operadoras de satélites. "Não queremos parar a indústria
espacial", disse Karen Rosenlof, cientista climática do Laboratório de
Ciências Químicas da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa, em
inglês). Ela afirma que os satélites fornecem serviços incríveis às pessoas na
Terra, mas se juntou a outros cientistas que pedem um conjunto de regulações
que levem em consideração as implicações ambientais.
Rosenlof
argumenta que existem maneiras de reduzir os impactos da indústria espacial sem
a interromper. Por exemplo, se os cientistas encontrarem um limite além do qual
a indústria espacial começa a prejudicar o ambiente, fará todo o sentido
limitar o número de lançamentos e de satélites. Alternativamente, os materiais
ou combustíveis utilizados pela indústria espacial poderão ser adaptados para
diminuir os impactos.
Boley concorda:
"Há muitas possibilidades que podem nos ajudar a proteger o meio ambiente
e, ao mesmo tempo, dar acesso ao espaço. Só precisamos ter uma visão mais
ampla." Mas, como argumentam os cientistas, para fazer isso os operadores
de satélites e as empresas de foguetes precisam de regulamentações. E,
atualmente, poucas estão em vigor.
Gavin Schmidt,
diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, que esteve envolvido
num grupo de trabalho nesta investigação, argumenta: "O lançamento
espacial fica numa zona cinzenta e escorre por entre as fendas de todas as
autoridades reguladoras."
O Protocolo de
Montreal, por exemplo, é um tratado que estabeleceu com sucesso limites para
produtos químicos conhecidos por prejudicar a camada de ozônio. Mas não aborda
as emissões de foguetes ou satélites.
Nos Estados
Unidos, a Agência de Proteção Ambiental não é responsável pela análise de
lançamentos de foguetes. A Comissão Federal de Comunicações (FCC, em inglês),
que licencia grandes constelações de satélites, não considera os potenciais
danos ao ambiente. (Em 2022, o Government Accountability Office – uma espécie
de Tribunal de Contas – instou a FCC a fazer mudanças nessa política, mas elas
ainda não foram efetuadas.) E a Administração Federal de Aviação, que avalia os
impactos ambientais dos lançamentos de foguetes no solo, não executa essa
função na atmosfera ou no espaço.
Será que o futuro
da estratosfera cairá nas mãos de Elon Musk, Jeff Bezos e de outros executivos
de empresas espaciais privadas? Isso preocupa particularmente Boley, que afirma
que a indústria espacial não quer diminuir o ritmo: "A menos que isso
afete imediatamente seus resultados financeiros, eles simplesmente não estão
interessados, e o impacto ambiental é um inconveniente."
Um porta-voz da
OneWeb, que lançou mais de 600 satélites no espaço, disse que a empresa de
telecomunicações está comprometida com a sustentabilidade no design de
satélites, no planejamento para criação de constelações e na gestão de
lançamentos. Katie Dowd, diretora sênior da OneWeb, acrescentou:
"Trabalhamos em estreita colaboração com parceiros públicos e privados
para minimizar o impacto ambiental de nossa frota de satélites." Ainda
assim, há planos de expandir sua constelação para algo como sete mil satélites
em órbita da Terra.
"Resta saber
até que ponto faremos isso corretamente. Ao que parece, não somos uma espécie
que toma medidas responsáveis de forma proativa com relação à gestão ambiental.
Na maior parte das vezes, isso nos vem como um pensamento tardio",
observou Tim Maclay, da ClearSpace.
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