Estudo de Astrofísico Gaúcho Indica Possível Existência de Planeta Similar à Terra “Escondido” em Nosso Sistema Solar
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue notícia publicada dia (30/01) no site gaúcho do ‘Jornal Digital GZH’, destacando que um
novo estudo conduzido pelo astrofísico gaúcho Patryk Sofia Lykawka (veja mini-CV aqui),
indica a possível existência de Planeta
Similar à Terra “Escondido” no nosso Sistema Solar. Entendam
melhor essa fascinante notícia pela matéria abaixo.
Brazilian Space
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Novo integrante? Notícia
Estudo de Astrofísico Gaúcho Indica Possível
Existência de Planeta Similar à Terra “Escondido” no Sistema Solar
Patryk Sofia
Lykawka, 47 anos, publicou a pesquisa em uma das revistas sobre Astronomia mais
importantes e antigas do mundo
Por Vinicius Coimbra
30/01/2024 -
15h37min
Fonte: Site do Jornal
Digital GZH - https://gauchazh.clicrbs.com.br
Fonte: Patryk Sofia Lykawka / Arquivo pessoal
A presença de um
planeta com tamanho parecido ao da Terra no Sistema Solar e ainda não
identificado é uma possibilidade que deve ser considerada e estudada pela
comunidade científica. É o que afirma o astrofísico Patryk Sofia Lykawka,
47 anos, autor de um estudo que indica que pode haver outro componente na
“família” do Sistema Solar, que tem oito planetas reconhecidos.
Nascido em Porto
Alegre, o estudioso publicou, em agosto de 2023, o trabalho no The
Astronomical Journal (leia aqui), uma das revistas sobre Astronomia mais
importantes e antigas do mundo, organizada pela Universidade de Chicago Press
em parceria com a American Astronomical Society, dos Estados Unidos.
O porto-alegrense
é professor da Universidade de Kindai, em Osaka, no Japão, onde mora há duas
décadas. Antes de se mudar para a Ásia, o estudioso se formou em Física e
Matemática na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). No Japão, fez
mestrado e doutorado em Ciências Planetárias.
Nos Confins do Sistema Solar
Os planetas
reconhecidos pela comunidade científica internacional são (na ordem de
proximidade ao Sol): Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano
e Netuno.
A pesquisa de
Patryk se concentrou no comportamento de objetos transnetunianos, ou
seja, localizados além de Netuno, o planeta mais distante da estrela. Naquela
região está localizado o Cinturão de Kuiper, formado por corpos celestes
gélidos e rochosos que formam um gigantesco disco que circunda o Sol.
— Cada um desses
objetos é uma cápsula do tempo que carrega informações “intactas” sobre a
formação do Sistema Solar. Ao estudá-los, podemos entender melhor a origem da
própria Terra e da vida, pois tudo está interligado — comenta o cientista.
O mais famoso dos
corpos celestes do Cinturão de Kuiper é Plutão, que foi considerado planeta
até o início do século 21, mas hoje é classificado como um planeta-anão
(entenda a diferença nesta reportagem).
O Cinturão de
Kuiper concentra-se a uma distância de 30 a 50 unidades astronômicas (UA), e
seus confins alcançam até 1 mil UA: uma unidade astronômica representa a distância média entre o Sol e a Terra,
ou seja, cerca de 150 milhões de quilômetros.
Como Foi Feita a Pesquisa
Na Física, órbita
se refere a trajetória curva que um objeto faz por conta da gravidade de outro
corpo celeste. Por exemplo: a Terra orbita o Sol; a Lua orbita a Terra. A
análise dessa trajetória é utilizada para descobertas na Astronomia: a existência
de Netuno, o último planeta identificado no Sistema Solar, em 1846, foi
indicada primeiro por cálculos independentes dos astrônomos John Couch Adams
(Inglaterra) e Urbain Le Verrier (França).
Ambos notaram que
a órbita de Urano, identificado em 1781, sofria perturbações que poderiam ser
explicadas apenas se houvesse outro objeto “próximo”, o que foi confirmado por
observações com um telescópio: era Netuno o responsável pela influência no
deslocamento de Urano. Em situação similar aos cientistas que previram Netuno,
o pesquisador gaúcho encontrou resultados inesperados na análise do
deslocamento de corpos.
— Identifiquei
três grupos de objetos do Cinturão de Kuiper com órbitas que não são explicadas
com os atuais oito planetas do Sistema Solar — resume Patryk.
O estudo usa
materiais de bancos de dados das órbitas dos objetos do cinturão captados por
telescópios e que são abertos para o público em repositórios na internet. Com
essas informações, o gaúcho utilizou simulações computacionais nas quais
considerou a presença de um planeta (o nono, portanto), para avaliar o
comportamento dos outros oito com a influência gravitacional do
"novo" integrante.
— Testamos,
durante meses, vários tipos de órbitas e massas para o planeta hipotético, com um
período de tempo que simulava aproximadamente a idade do Sistema Solar (4,5
bilhões de anos). Para a minha surpresa, os resultados que incluíram o
planeta hipotético produziram grupos de objetos com órbitas semelhantes às três
que identifiquei. Assim, é possível que o Sistema Solar possua um planeta
ainda não descoberto em uma órbita além de Netuno — diz.
“Identifiquei
três grupos de objetos do Cinturão de Kuiper com órbitas que não são explicadas
com os atuais oito planetas do Sistema Solar.”
PATRYK SOFIA
LYKAWKA
Astrofísico
O planeta teria
massa de 1,5 a três vezes a da Terra e estaria localizado a uma distância média
entre 250 e 500 unidades astronômicas do Sol. Esse afastamento atrapalha a
localização, porque quanto mais distante o corpo celeste, mais difícil é o
trabalho de descobri-lo através de observação. Essa barreira cria outra
dificuldade para a confirmação: no momento, o estudo de Patryk não indica a
localização do objeto.
— Na melhor das
hipóteses, ele seria 30 vezes menos brilhante do que Plutão, que é invisível a
olho nu. Mas, é mais provável que ele seja muito mais escuro, que é a aparência
típica de um objeto no cinturão. Isso é realmente um desafio grande para
encontrá-lo, porque teriam de ser observadas várias regiões do céu durante
meses para encontrar um objeto com brilho muito fraco. É difícil, mas é
possível achá-lo.
Segundo o
cientista, o Observatório Vera C. Rubin, no Chile, é o mais promissor
para essa tarefa. O centro está em construção e a previsão mais recente indica
que ele deva começar a funcionar no final de 2024. O observatório
terá a maior “câmera digital do mundo” para fazer inventário do Sistema Solar.
Como Seria o Planeta?
A influência
gravitacional pode dar pistas das características do planeta hipotético: em
parte parecido à Terra em tamanho, porém um ambiente distinto na superfície por
conta da distância para o Sol.
— Seria uma
espécie de Terra composta por rochas e gelos com temperaturas abaixo de -200ºC
na superfície, e um núcleo semelhante ao do nosso planeta, que seria o
suficiente, por exemplo, para gerar oceanos abaixo da superfície, assim como
achamos que existam em Europa (lua de Júpiter) — diz Patryk.
Se encontrado o
novo planeta, a comunidade internacional discutiria se o objeto teria as
características presentes nos outros oito. A última palavra para o assunto é da
União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês). Hoje, a entidade
global diz que um corpo precisa ter três características para que seja definido
como um planeta no Sistema Solar:
* Orbitar o Sol
* Ter massa suficiente para que a própria gravidade o torne esférico (ou
quase esférico)
* Ter uma trajetória livre, ou seja, ele deve “limpar” a própria órbita e
não ter outros objetos “no caminho”
Plutão,
por exemplo, foi redefinido como planeta-anão pois não tem uma trajetória
livre, apesar de ser praticamente esférico e orbitar o Sol. O planeta
teorizado pelo gaúcho receberia possivelmente um nome ligado à mitologia, como
é o caso dos outros planetas do Sistema Solar.
— Como cientista,
tenho que ser cético (sobre a existência do planeta). O resultado indica
que provavelmente exista, mas, no momento, não dá pra afirmar com certeza. O
estudo requer mais investigações, pois sempre queremos saber o porquê, qual o
mecanismo, como uma coisa aconteceu: essa é uma característica da ciência.
Especialistas Comentam o Estudo
Othon Winter, astrônomo e professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
define o trabalho do pesquisador gaúcho como “relevante, importante e de
destaque”.
— Já existiram
outros trabalhos que propuseram a existência de um planeta nove ou X. Mas esse
trabalho é diferente: ele se baseia em dados que existem de corpos do Sistema
Solar e consegue mostrar que provavelmente exista um planeta causando
perturbação na órbita dos outros. É algo novo que pode trazer descobertas
interessantes — pontua.
Winter argumenta
que telescópios espaciais como Hubble e James Webb e outros
presentes na Terra têm tecnologia para encontrar o planeta. A barreira maior é
não existir uma indicação de onde apontar os dispositivos.
— É uma
área muito grande do céu que teríamos de ficar “varrendo”, pedacinho por
pedacinho, para encontrá-lo. Muito provavelmente não vai ser concedido tempo de
observação com esses telescópios para fazer essa procura de algo tão difícil de
localizar. Se, por exemplo, alguém encontrar (o planeta), os telescópios
poderiam ser usados para confirmar a detecção — explica.
Para José
Dias do Nascimento Júnior, professor do Departamento de Física da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pesquisador do Center for
Astrophysics da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a
publicação do estudo na The Astronomical Journal, uma revista
especializada e conceituada na área, indica tratar-se de um material relevante.
Além disso, o estudioso elogia a metodologia escolhida por Patryk.
— É um trabalho
que não faz somente cálculos, mas tenta, através das observações, saber como é,
de fato, a existência desse objeto. Não é tão teórico, nem tão observacional,
mas joga com as predições dos modelos e as observações. Esses dois pontos, para
mim, o qualificam como um trabalho sério — acrescenta.
Somado à busca
por um novo planeta, para o professor da UFRN, o trabalho do brasileiro pode
contribuir para ampliar o conhecimento dos corpos nas áreas mais distantes do
Sistema Solar.
— Os objetos
transnetunianos não são tão conhecidos. A maioria dos estudos é recente e não
há muita observação porque são corpos que passam uma vez e não voltam mais. É
difícil detectá-los pela observação direta. É, portanto, um mérito desse artigo
prever a existência de populações (de objetos além de Netuno).
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