Físicos Brasileiros Devem Aumentar Participação nas Colaborações no CERN
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (30/08) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que Físicos Brasileiros devem aumentar participação
nas colaborações no CERN.
Duda Falcão
Especiais
Físicos Brasileiros Devem Aumentar
Participação nas Colaborações no CERN
Por Elton Alisson
30/08/2013
Avaliação foi feita por integrantes dos
experimentos em Física
de Altas Energias Alice e
CMS durante workshops realizados na FAPESP
(CERN)
|
Agência
FAPESP – A participação
dos pesquisadores brasileiros nas colaborações internacionais em Física de
Altas Energias em andamento no Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em
inglês), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN), na Suíça, tem
contribuído muito para o impacto científico dos experimentos. É preciso, no
entanto, que expandam a atuação para se beneficiar tanto das oportunidades
científicas como das tecnológicas proporcionadas pela participação nos
projetos.
A avaliação
foi feita por participantes das colaborações A Large Ion Collider Experiment
(Alice) e Compact Muon Solenoid (CMS) durante dois workshops realizados pela
FAPESP, respectivamente, nos dias 21 e 28 de agosto, na sede da Fundação.
O objetivo
dos encontros foi discutir a contribuição e as formas de aumentar a
participação dos pesquisadores do Estado de São Paulo nas duas das quatro
maiores colaborações em Física Nuclear Experimental em curso no LHC – as outras
duas são o A Toroidal LHC Apparatus (Atlas) e o Large Hadron Collider Beauty
(LHCb).
“Queremos
entender um pouco mais sobre a ciência feita pelo Alice e pelo CMS e sobre a
participação dos pesquisadores de São Paulo nessas colaborações – além do papel
que poderão ter no futuro e como isso deve contribuir para o desenvolvimento
científico e tecnológico do Estado – para termos um conhecimento maior e
decidir sobre financiamento, organização e apoio aos projetos”, disse Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, na abertura do primeiro
workshop.
De acordo
com os porta-vozes do Alice e do CMS presentes no evento, os pesquisadores
brasileiros têm desempenhado um papel importante principalmente nas análises
físicas e no processamento de dados dos experimentos realizados pelas
colaborações. Eles defenderam, no entanto, a participação mais ativa em outras
áreas críticas dos projetos, como o desenvolvimento de instrumentação
científica para realização dos experimentos.
“A presença
brasileira no Alice tem crescido rapidamente e estabelecido grande impacto na
Física graças, em grande parte, à experiência de jovens cientistas brasileiros
muito talentosos”, disse o italiano Paolo Giubellino, porta-voz da colaboração,
iniciada em 2009.
“Agora,
contudo, é preciso que os pesquisadores brasileiros aumentem o impacto no
desenvolvimento de instrumentação científica com base na experiência acumulada
e expandam a interação com os grupos de engenharia envolvidos na colaboração”,
afirmou.
Participação
Brasileira no Alice
De acordo
com Giubellino, o Alice foi projetado para estudar colisões de íons pesados –
como os de ferro – que ocorrem no colisor em temperaturas até 100 mil vezes
superiores às registradas no centro do Sol.
Os
pesquisadores esperam que, durante as colisões, os íons pesados se desfaçam em
uma mistura chamada plasma de quarks glúons, que se acredita ter
existido nos primeiros 20 a 30 microssegundos depois do início do Universo.
“A partir do
estudo detalhado das partículas produzidas nas colisões nucleares será possível
inferir as propriedades e o comportamento da matéria em condições extremas,
além da evolução durante os primeiros microssegundos do nascimento do Universo
com o big bang”, explicou Giubellino.
Segundo o
pesquisador, a colaboração envolve hoje mais de mil físicos, oriundos de 132
universidades e instituições de pesquisa de 35 países. Entre eles, estão
pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e do
Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), cuja participação está mais concentrada hoje na obtenção de dados e
análises físicas dos fenômenos observados durante os experimentos.
“Temos
participado de todas as etapas das análises físicas dos experimentos realizados
pelo Alice”, disse Jun Takahashi, professor do IFGW da Unicamp, durante o
encontro.
“São
necessários, porém, esforços para participarmos de projetos de atualização do
detector e termos maior poder de computação para consolidar nossa contribuição
para o experimento”, disse o pesquisador, que participa atualmente dos
experimentos do Alice por meio de um projeto realizado com apoio da FAPESP.
A meta dos
pesquisadores das duas universidades paulistas é participar do desenvolvimento
de instrumentos científicos que serão incorporados nos próximos anos no
detector utilizado pelo Alice que, a exemplo dos detectores utilizados pelas
outras colaborações, serão aprimorados para os experimentos planejados até
2023.
A partir de
2015 será aumentada a intensidade dos feixes de raios de prótons e da energia
de 8 teraelétrons-volt (TeV) para 14 TeV no centro de massa do LHC. Com isso,
espera-se um aumento nas colisões entre partículas.
Será preciso
então aprimorar os sistemas de leitura, rastreamento, identificação e aquisição
de dados dos detectores, a fim de que mantenham a capacidade de identificar e
analisar as partículas geradas nas colisões e aumentem a precisão das medições.
Os
pesquisadores da USP e da Unicamp pretendem desenvolver alguns dispositivos a serem
utilizados nesses sistemas. Entre eles, um circuito integrado (microchip)
que pode ser usado para a detecção de sinais pela Câmara de Projeção do Tempo
(TPC, na sigla em inglês) do Alice – um dos principais equipamentos do
detector, que examina e reconstitui a trajetória das partículas – e pelo
rastreador de múons – um aparelho que identifica, por meio de sensores, essas
partículas de carga negativa 200 vezes mais pesadas do que os elétrons que
passam pelo detector.
Para isso,
pretendem se valer da experiência com o desenvolvimento de uma série de
sistemas de Física de Baixa Energia para o acelerador de íons Pelletron, do
Instituto de Física da USP, para o Colisor Relativístico de Íons Pesados
(RHIC, na sigla em inglês) e para o acelerador Alternating Gradient Synchrotron
(AGS) – ambos localizados no Laboratório Nacional de Brookhaven, nos Estados
Unidos.
“Temos larga
experiência no desenvolvimento de instrumentação científica para Física Nuclear
e de partículas por meio de uma série de projetos apoiados pela FAPESP”, disse
Marcelo Gameiro Munhoz, professor do Departamento de Física Nuclear do
Instituto de Física da USP.
“Acreditamos
que a participação brasileira em instrumentação científica para a colaboração
Alice tem grande potencial e representa uma excelente oportunidade para o
desenvolvimento tecnológico e transferência de conhecimento para empresas no
Estado de São Paulo, que podem oferecer apoio e, ao mesmo tempo, se beneficiar
dos projetos”, avaliou.
Participação
no CMS
A
participação brasileira no experimento Alice restringe-se hoje ao Estado de São
Paulo, com equipes da Unicamp e do Instituto de Física da USP. Já a colaboração
CMS conta com pesquisadores de outros Estados brasileiros, como do Rio de
Janeiro.
Iniciado
também em 2009, o CMS tem como objetivo detectar e medir subpartículas
liberadas durante as colisões. A colaboração foi uma das responsáveis pela
descoberta do bóson de Higgs, em julho de 2012, ao lado da colaboração Atlas.
O CMS reúne
mais de 3 mil cientistas, de 40 nacionalidades diferentes e provenientes de
mais de 180 universidades e instituições de pesquisa no mundo. Entre eles,
estão pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (URFJ) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF), também do Rio de Janeiro.
O grupo de
pesquisadores da UNESP integra o Centro de Pesquisa e Análise de São Paulo (SPRACE, na sigla em
inglês), criado em 2003 com apoio da FAPESP. Por meio do SPRACE, os
pesquisadores brasileiros operam uma rede de processamento e participam da
análise de dados produzidos pelo CMS.
O cluster
de computadores do SPRACE também faz parte do Worldwide Computing Grid do LHC
(WLCG), que conecta 100 mil processadores em 34 países – incluindo o Brasil –
que fazem transferências de dados em altíssima velocidade.
“O grupo de
pesquisadores da UNESP está bem integrado e contribui visivelmente para o
sucesso do CMS na parte de computação”, disse o português João Varela,
porta-voz da colaboração.
“Os
experimentos programados pela colaboração para os próximos anos e os
aprimoramentos que deverão ser realizados no detector para realizá-los abrem,
no entanto, a perspectiva de desenvolver um grupo de instrumentação científica,
que é uma questão crucial para o sucesso da colaboração”, ressaltou.
Recentemente,
o SPRACE se juntou a um grupo de trabalho lançado há dois anos pelo Centro
Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), da França, e o
FERMILAB, dos Estados Unidos, em colaboração com especialistas em simulação
computacional do CERN.
O grupo de
pesquisadores do SPRACE contribui com os estudos de viabilidade e desempenho do
detector utilizado pelo CMS e em testes comparativos baseados em diferentes
plataformas de processamento de dados.
“O SPRACE
deve contribuir para o desenvolvimento de uma das mais cruciais e desafiadoras
peças do experimento CMS, que é o rastreador de sinais do detector, e pode estender
e aproveitar sua participação na colaboração para ganhar experiência no
desenvolvimento de computação e no uso de várias ferramentas de software em
parceria com empresas”, disse Aurore Savoy-Navarro, professora da Universidade
de Paris-Diderot, participante do projeto.
Sistema “Glocal”
De acordo
com os porta-vozes das colaborações Alice e CMS, o sistema de desenvolvimento
de instrumentação científica para os detectores utilizados no LHC é “glocal” (global+local).
Ou seja, os componentes são projetados e construídos localmente, nas próprias
instituições participantes das colaborações, que depois as levam para o CERN,
onde, após serem aprovadas, se juntam a outras soluções desenvolvidas por
outros países com base em seu conhecimento científico e na capacitação
tecnológica de suas empresas.
“As
tecnologias em aceleradores e detectores de partículas utilizadas no CERN
avançam por meio de competitivos concursos internacionais de alta tecnologia
travados entre os pesquisadores dos países participantes dos experimentos”,
disse Giubellino.
Muitas das
tecnologias desenvolvidas especificamente para os experimentos mais tarde
encontrarão aplicações em outros campos, destacaram os pesquisadores.
Tecnologias
voltadas inicialmente para aprimoramento de feixes de partículas resultaram em
aplicações para o tratamento de câncer. Já desenvolvimentos voltados à detecção
de partículas são utilizados hoje em imageamento médico.
“Os
experimentos realizados no CERN são uma grande fonte de oportunidades não só
para a ciência fundamental, mas para toda a sociedade”, disse Giubellino.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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