O Brasil Entra na Elite da Astronomia
Olá leitor!
Segue abaixo uma entrevista com o ex-ministro Sergio Rezende publicada dia (31/12) no jornal “O Globo”, destacando o ingresso do Brasil no "Observatório Europeu do Sul (ESO)".
Duda Falcão
'O Brasil Entra na Elite da Astronomia'
O Globo
31/12/2010
O ingresso do Brasil no Observatório Europeu do Sul (ESO) encerrou com chave de ouro a gestão do físico Sérgio Rezende no Ministério de Ciência e Tecnologia. Em entrevista ao GLOBO, Rezende defende o investimento em astronomia, destaca o aumento de recursos da pasta e reivindica o direito da ciência brasileira de ser mais ambiciosa.
JORNAL O GLOBO: O Brasil pagará R$555 milhões para participar do ESO. É muito?
SÉRGIO REZENDE: Não. Sem dúvida, valeu à pena. Os primeiros valores cobrados (cerca de R$880 milhões) eram tão altos que sequer levei à área econômica do governo. Fiz uma carta ao ESO em outubro, dizendo que o país gostaria de participar da associação, mas que esse valor seria impraticável, considerando que nosso PIB per capita é menor do que ao dos países europeus. Ficamos em um impasse, até que, no mês passado, eles manifestaram a disposição de oferecer essas condições, que são excepcionais, ainda mais considerando que o valor será dividido em dez anos. A ciência brasileira ganhará cada vez mais recursos. Para você ter uma idéia, nosso maior fundo, o de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, tinha R$350 mil em 2002. Este ano, seu orçamento é de R$ 3,1 bilhão. Podemos, portanto, ser ambiciosos.
O GLOBO: Estes recursos poderiam ser mais bem aplicados se construíssemos, por exemplo, um satélite de observação, algo que o país ainda não tem?
REZENDE: O programa espacial brasileiro tem, hoje, R$450 milhões - o valor aumentou mais de cinco vezes em oito anos. Precisamos até colocar mais dinheiro, mas não adianta dobrar este caixa de uma hora para outra, porque enfrentamos algumas dificuldades, por ainda dispor de um número relativamente pequeno de engenheiros aeroespaciais. E esta capacitação é algo que vamos construindo aos poucos. Além disso, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) está construindo dois satélites - um com a China, e outro, o Amazônia, sozinho.
O GLOBO: Qual é, hoje, a estrutura disponível para os astrônomos brasileiros?
REZENDE: Esta comunidade ainda enfrenta muitas limitações. Só temos um observatório, em Itajubá, com espelho de apenas 2 a 3 m de diâmetro. É, portanto, quase de aprendizado, e não para profissionais. Ainda participamos de dois projetos no Chile: o Soar, com um espelho de somente quatro metros, e o Gemini, com outro de oito metros. Só no Paranal, que pertence ao ESO, os quatro telescópios, unidos, têm um espelho de 32 metros de diâmetro. O Brasil entra na elite da astronomia. O contingente de cientistas tem tudo para crescer nos próximos dez anos, até a inauguração do Telescópio Extremamente Grande, que é o principal projeto do ESO.
O GLOBO: Este telescópio, assim como outros observatórios da associação, foram construídos no Chile. Temos alguma chance de receber um projeto parecido?
REZENDE: É difícil. Precisa-se de um local de grande visibilidade - alto e com poucas nuvens. Nossas maiores montanhas ficam em regiões úmidas. Não há locais altos e secos como o Deserto do Atacama. O Brasil apoiou publicamente a escolha do Chile para receber este projeto.
O GLOBO: A adesão ao ESO levará o país de volta à Estação Espacial Internacional (ISS)?
REZENDE: Não há relação entre os projetos. O Brasil participava do ISS, mas, no fim dos anos 90, deixou de cumprir suas obrigações, ligadas ao fornecimento de certos equipamentos. Desde então, estamos fora.
O GLOBO: O senador Aloizio Mercadante, que assumirá o ministério amanhã, participou das negociações junto à diretoria do ESO?
REZENDE: Mercadante não foi um signatário do acordo do ESO, mas está ciente de tudo. Ele apóia essas iniciativas ambiciosas. Conversamos e sei que ele será um grande ministro. (R.G.)
Fonte: Jornal O GLOBO - 31/12/2010 via site http://clippingmp.planejamento.gov.br/
Comentário: O blog reconhece o grande serviço prestado à ciência e tecnologia brasileira pelo ex-ministro Sergio Rezende durante a sua gestão junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o parabeniza-o por isto. No entanto, a verdade tem de ser dita, e no caso do programa espacial o mesmo falhou e falhou feio. Além de apoiar o acordo desastroso da ACS do incompetente Roberto Amaral, deixou de tomar as providências necessárias quando assumiu (2005 se não estiver enganado) para que em 2010 pudéssemos ter um quadro melhor de engenheiros entre outras necessidades, e assim ter um resultado melhor. As soluções já eram conhecidas muito antes desta época e faltou atitude, mas no geral o mesmo teve uma boa gestão. Já quanto ao ESO, teremos de aguardar para ver se realmente foi uma decisão acertada como defende a maioria da comunidade astronômica do país.
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