PEB - "Astronomia Espacial", uma Necessidade não um Luxo

Olá leitor!

Como divulgado no blog anteriormente (veja a nota “CEA Apresenta Plano Nacional de Astronomia ao MCT”), foi entregue por representantes da “Comissão Especial de Astronomia - CEA” no início de dezembro do ano passado, ao então ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, a proposta para o “Plano Nacional de Astronomia - PNA”.

Esse documento que visa nortear a política do desenvolvimento da área na próxima década, abre a perspectiva do planejamento estratégico para a astronomia se tornar um processo continuo dentro do contexto de uma Política de Estado.

Dentre das subáreas que constam deste importante documento para o futuro da Astronomia do país, está a de “Astronomia Espacial”, subárea que o blog tem defendido como de suma importância para o desenvolvimento do “Programa Espacial Brasileiro”, mas que até agora como sabemos, não obteve a devido atenção do governo e nem das instituições gestoras do PEB.

Abaixo o blog “BRAZILIAN SPACE” apresenta na íntegra a parte da proposta do PNA que trata desta subárea de “Astronomia Espacial”, chamando atenção do leitor para a inclusão no documento da fantástica e inovadora MISSÃO ASTER (1ª Missão Brasileira de Espaço Profundo para um Asteróide Próximo da Terra), já abordada no blog em diversas ocasiões.

Caso o leitor queira conferir na íntegra a versão final da proposta para o PNA o mesmo poderá ter acesso ao documento através dos sites da CEA e do LNA (Laboratório Nacional de Astrofísica) nos endereços http://www.sab-astro.org.br/cea/Welcome.html e http://www.lna.br/PNA-FINAL.pdf

Duda Falcão

4.3. Astronomia Espacial

Num contexto internacional, vários dos grandes projetos em astronomia têm sido concebidos para funcionar em plataformas espaciais. Nos países com programas espaciais consolidados, uma parcela importante dos investimentos é feita em missões científicas, o que demonstra a concepção vigente nesses países de que missões científicas espaciais não só trazem grande prestígio às nações que as desenvolvem, como também propiciam importantes oportunidades para desenvolvimentos tecnológicos de ponta.

Em países em situação comparável a do Brasil, o cenário também já começa a se desenhar nessa direção, como mostram as iniciativas recentes da Índia (ASTROSAT) e da China (Space Hard X-Ray Modulation Telescope), além de projetos importantes da Rússia. Outro aspecto relevante a ser considerado é o fato de que os grandes projetos de observatórios espaciais da NASA, da ESA e do Japão têm procurado de forma crescente a participação de outros países em função dos altíssimos custos envolvidos. Nesse contexto, é estratégica a inserção do Brasil nesses projetos, sob pena da astronomia do país privar-se de meios importantes de observação fora da atmosfera e passar a não ser competitiva a médio e longo prazo.

No Brasil as iniciativas atuais e do passado recente em astronomia espacial estiveram concentradas essencialmente no INPE:

A participação na missão HETE-2 (High Energy Transient Explorer): Operado entre 2000 e 2006, o HETE-2 foi o primeiro satélite dedicado ao estudo de surtos em raios gama. A participação brasileira se deu através da participação na equipe de investigadores da missão e na montagem e operação de uma estação de recepção (Burst Alert Station) na unidade do INPE em Natal, RN.

O Projeto MIRAX (Monitor e Imageador de Raios X): Será a primeira missão liderada pelo Brasil projetada para ser lançada em 2014 como parte da carga útil do satélite científico Lattes. Tem o objetivo científico de realizar um levantamento do comportamento espectral e temporal de um grande número de fontes transientes de raios X em escalas de tempo de horas a meses. Aberto para a participação de pesquisadores brasileiros, conta com a cooperação de várias instituições no exterior.

Outra iniciativa, baseada na USP, foi a participação na missão CoRoT (para maiores detalhes, veja Secção 3.3).

Recentemente, um grupo de cientistas e engenheiros engajou-se na Missão ASTER: trata-se de construir no Brasil uma sonda espacial de pequeno porte, baseada em plataforma de espaço profundo. A sonda seria enviada ao asteróide 2001SN263, que é um sistema formado por três corpos. O projeto tem sua concepção baseada na oportunidade de desenvolvimento e qualificação em tecnologias espaciais, e abre uma janela de oportunidades de desenvolvimento de pesquisas de excelência no campo científico. Uma das principais diretrizes desta missão é tentar agregar o maior envolvimento brasileiro possível, seja na plataforma, em subsistemas, na integração, na carga útil, bem como, no rastreio, na guiagem e controle da sonda. Pretende-se utilizar propulsores iônicos desenvolvidos por grupos brasileiros. Também encontra-se em estudos a possibilidade de desenvolvimento de equipamentos/instrumentos científicos utilizando pelo menos uma parte de tecnologia nacional. Tal iniciativa atenderia inclusive o apelo por parte da Agência Espacial Brasileira - AEB em ligar aplicações e desenvolvimento tecnológico.

A participação de outras instituições brasileiras, como as universidades, em projetos da astronomia espacial ainda está muito incipiente. Por iniciativa de alguns pesquisadores, o Brasil já está engajado formal ou informalmente em quatro projetos da ESA em andamento ou aprovados recentemente, a saber, os satélites GAIA, PLATO, EUCLID e SPICA.

Considerando que o Programa Espacial é um dos 17 temas prioritários identificados no Plano de Ação de C, T & I do MCT para 2007-2010, é oportuno que a área de astronomia seja considerada de forma relevante no programa. Considerando que o Programa Espacial Brasileiro é gerenciado pela AEB, a mesma tem uma posição chave no presente contexto. As instituições com atividades em astronomia devem atuar de forma articulada e integrada no sentido de levar à AEB não apenas projetos que aproveitem as oportunidades existentes, mas também idéias e iniciativas no sentido de induzir novos nichos de atuação da área de astronomia no setor espacial. Ainda neste contexto, existe um apelo por parte da AEB, para que, ao pensar em astronomia espacial, a comunidade astronômica trabalhe no sentido de vincular o desenvolvimento tecnológico ao interesse científico, ponto muito importante em termos dos benefícios como um todo da pesquisa espacial.

Na medida em que a maioria dos grandes projetos internacionais em planejamento na área da astronomia espacial busca de forma intensa parcerias em virtude dos altos custos envolvidos com missões espaciais científicas competitivas, cabe discutir e elaborar uma estratégia comum que incentive a participação brasileira nesses projetos.

Como já foi dito, existem atualmente no Brasil alguns projetos e iniciativas na área de astronomia espacial. É propício que, a partir dessas experiências, o Brasil crie condições de expandir de forma significativa não só a concepção de missões brasileiras, mas também a participação nacional em grandes projetos espaciais internacionais. No cenário nacional, apenas o MCT/INPE conta atualmente com a infra-estrutura e os recursos humanos capazes de desenvolver satélites e seus subsistemas, em parceria com a indústria aeroespacial.

É de interesse estratégico que as universidades e outros institutos se insiram ativamente no setor espacial. Para isso, é imprescindível que seja aberto um diálogo com a AEB no sentido de induzir a abertura de novas oportunidades na área de astronomia espacial. A comunidade acadêmica deve se mobilizar para criar uma demanda de forma a estimular a AEB a investir em programas que propiciem as condições financeiras e de recursos humanos necessários para as universidades desenvolverem projetos de instrumentos astronômicos para missões espaciais, fomentando um aumento considerável de atividades na área e trazendo benefícios concretos para a cadeia projetos-fabricação-lançamentos do país.

Resumindo, propõe-se que:

RECOMENDAÇÕES

Recomendação 1: Incentivar a AEB a definir uma estratégia de investimentos de recursos financeiros e humanos na área de astronomia espacial nas universidades e nos institutos de pesquisa, de modo a permitir o desenvolvimento de projetos, seleção, construção, lançamento e operação de plataformas espaciais de interesse científico. O financiamento e a escolha de projetos poderá ser feito por meio de editais.

Recomendação 2: Incentivar as instituições brasileiras com atividades em astronomia a interagir com o INPE para desenvolver conjuntamente um programa robusto de desenvolvimento de instrumentos para observações astronômicas a partir do espaço.

Recomendação 3: Estimular a inserção do país em grandes projetos internacionais de satélites e/ou missões espaciais na área de astronomia, astrofísica e cosmologia, p.ex., por meio do estabelecimento de acordos com agências espaciais estrangeiras.

Recomendação 4: Promover junto ao Governo Federal a aplicação de recursos financeiros em projetos espaciais em quantidade suficiente para que o Brasil atinja em breve um patamar de investimentos em ciência espacial compatível com o esperado de uma nação de seu porte.

Recomendação 5: Incentivar, em articulação com o MEC, a introdução progressiva de temas de astronomia e tecnologia espacial nos cursos de graduação existentes no país.

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