Brasileiro Participa de Estudo Internacional Sobre Marte


Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria postada hoje 12/03/2010 no site do jornal “Correio Braziliense” destacando que um estudo internacional com a participação do físico brasileiro Eric Parteli, da Universidade Federal do Ceará (UFC), revela como surgem as formações de areia no planeta Marte.

Duda Falcão

CIÊNCIA E SAUDE

Estudo Internacional com Participação de
Pesquisador Brasileiro Revela Como Surgem as
Formações de Areia em Marte

Tecnologia usada pode ajudar a entender a
origem e evolução dos Lençóis Maranhenses

Gisela Cabral
Publicação: 12/03/2010 - 07:00


Formações de areia que chegam a ultrapassar 20m de altura e se deslocam de um lado para o outro, de acordo com o regime dos ventos. As dunas, elementos comuns em cenários exuberantes de praias e desertos, não são exclusividade da Terra. Em Marte, essas formações também ocorrem, o que deixava os cientistas intrigados a respeito de como surgem. Uma pesquisa desenvolvida por um grupo de cientistas que atuam na França, na Suíça e no Brasil desvendou o mecanismo de formação das dunas marcianas, revelando novos dados sobre o sistema de ventos local.

O estudo mostrou que, ao contrário do que os cientistas acreditavam, as dunas do tipo seif, formadas por ventos que sopram em direções diferentes, são comuns no planeta vizinho. Segundo o físico brasileiro Eric Parteli, da Universidade Federal do Ceará (UFC), um dos participantes da pesquisa, a forma mais conhecida é das dunas barcanas, que resultam de ventos que sopram em uma só direção. “Mas temos ainda as dunas longitudinais do tipo seif, formadas por ventos que sopram a partir de duas direções diferentes, chamados bimodais”, destaca. Segundo ele, a ocorrência desse tipo de vento é mais freqüente do que se imaginava em Marte.

Engana-se quem pensa que as dunas do Planeta Vermelho são formadas por grandes quantidades de grãos brancos, como as existentes nas praias ou desertos do mundo todo. Segundo os especialistas, os montes de Marte são diferentes das dunas terrestres, possuindo, por exemplo, uma quantidade bem inferior de areia. Além disso, os grãos são de cor escura e “saltam” mais alto. Enquanto na Terra, ventos de 15km/h bastam para deslocar a areia de um lugar para o outro, lá, são necessários 100km/h. “O estudo revela que as dunas marcianas surgem com pouca areia no chão. Já suas primas seif terrestres se formam em desertos com grande quantidade de areia”, destaca Parteli.

O estudo só é possível graças a um programa de computador que simula as dunas em três dimensões, utilizando dados reais já conhecidos. Além da gravidade do planeta e da velocidade dos ventos, o software combina outras informações, como diâmetro médio do grão de areia e densidade e viscosidade do ar, para realizar simulações de dunas marcianas (veja arte).

Semelhanças

A tecnologia utilizada, porém, não serve apenas para conhecer outros planetas. O programa computacional que estuda as dunas, desenvolvido por cientistas da Universidade de Stuttgart, na Alemanha e aperfeiçoado na UFC, será usado para simular a formação e a evolução nos Lençóis Maranhenses, deserto de dunas que conta com a presença de várias lagoas. “Outra aplicação possível do programa seria o estudo de medidas contra a desertificação e de proteção de ruas e casas contra dunas móveis”, afirma Hans Herrmann, pesquisador alemão associado à UFC e um dos responsáveis pela pesquisa.

Estudioso do Planeta Vermelho há cerca de 20 anos, o geólogo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Roberto de Souza Filho coordena um projeto de planetologia comparada que estuda ambientes análogos entre a Terra e Marte. O projeto compreende o estudo de diversas regiões, como a Serra dos Carajás (PA), o oeste e o centro da Austrália e o sudeste dos Estados Unidos. O foco são constituições geológicas específicas que podem existir ou eventualmente ter existido em Marte. “Ao estudarmos essas situações presencialmente aqui na Terra, podemos tentar, a partir de dados obtidos por satélites que orbitam Marte e pelos robôs Spirit e Opportunity, encontrar ambientes que sejam análogos e possam também conter ou ter contido algum tipo de vida, pelo menos bacteriana”, destaca.

Assim como a pesquisa das dunas, o estudo desenvolvido pelo cientista da Unicamp conta com a ajuda das imagens feitas pela Agência Espacial Americana (NASA). De acordo com ele, Marte parece ter tido, em seus primórdios, uma história geológica bem parecida com a Terra. “Porém, em determinado momento, sua evolução tomou outro caminho. Estudar isso em detalhes é, não só curioso, mas, oportuno. É muito bom para entendermos como um planeta com atmosfera, campo magnético, entre outras características, evoluiu para se tornar um planeta como Marte, quase morto, praticamente sem atmosfera”, finaliza.

Entrevista

1) Fale um pouco do projeto de planetologia comparada que estuda ambientes análogos entre os planetas Terra e Marte? Qual o objetivo e a importância dele?

O projeto compreende o estudo de diversas regiões da Terra. No Brasil, estudamos a Serrados Carajás (PA), além do oeste e centro da Austrália e o sudeste dos Estados Unidos. Visamos as constituições geológicas específicas que podem existir ou terem existido eventualmente em Marte. O foco dos estudos são justamente aquelas situações onde há ou houveram na história da Terra condições ambientais extremas, mas ainda assim os organismos apareceram, sobreviveram e se proliferaram. Ao estudarmos essas situações presencialmente aqui na Terra, e ao conhecermos suas “assinaturas espectrais”, podemos tentar, a partir de dados obtidos por satélites que orbitam Marte robôs Spirit e Opportunity, encontrar ambientes que sejam análogos e possam também conter ou terem contigo algum tipo de vida, pelo menos bacteriana.

2) Fale um pouco da experiência em campo. Que tipo de estudos estão sendo feitos?

Um dos nossos focos na Austrália tem sido o estudo de situações que contenham estruturas denominadas estromatólitos na forma de fósseis. Estromatólitos são estruturas laminadas construídas principalmente por cianobactérias. Existem rochas no oeste australiano, datadas de 3,5 bilhões de anos, que contém registros fósseis desses organismos. Essas rochas possuem uma série de particularidades geológicas que podem ser estudadas para compor uma assinatura espectral diagnóstica. Uma vez resolvida a questão, por meio de medidas de laboratório e medições feitas por sensores a bordo de satélites na Terra, (que simulam as medidas de laboratório), podemos então procurar por essas assinaturas em Marte, com base em sensores a bordo de satélites equivalentes, buscando identificar situações análogas. Se detectarmos essas assinaturas em Marte, é muito provável que se tratem das mesmas rochas e que possam conter os mesmos fósseis.

3) Como a Agência Espacial Norte Americana (NASA) tem ajudado esses estudos?

Por meio de um projeto de pesquisa que foi aprovado em bases competitivas nos EUA, com financiamento global de US$ 4 milhões. Outro auxílio fundamental proporcionado pela NASA é o acesso permitido da equipe a todo o acervo de dados de imagens de sensoriamento remoto adquiridas, e sob aquisição em Marte.

4) Quais características fazem dele um planeta vermelho tão interessante?

Desde quando se dedica a esse tipo de estudo Marte parece ter tido, em seus primórdios, uma história geológica parecida com a da Terra. Porém, num determinado momento sua evolução tomou outro caminho. Estudar tudo isso em detalhes é não só curioso, mas oportuno. Serve para entendermos como um planeta como a Terra, plenamente “vivo”, com atmosfera e campo magnético pode evoluir para se tornar um planeta como Marte, quase “morto” e praticamente sem atmosfera. Meu interesse pelo estudo de Marte e de outros planetas surgiu depois que passei a estudar dados e métodos de sensoriamento remoto.


Fonte: Site do Jornal do Correio Braziliense - 12-03-2010

Comentário: Parabéns ao físico brasileiro Eric Parteli pelo seu trabalho que uma vez mais comprova que temos pesquisadores muito competentes nesse país.

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