Novo Mapa Mostra Que a Via Láctea é Escura Quando Vista Através dos Neutrinos
Olá leitores e leitoras do BS!
Pois então, segue abaixo uma interessante notícia postada
ontem (30/06), no site ‘Inovação
Tecnológica’, destacando que a
nossa galáxia Via Láctea é escura quando vista através de Neutrinos,
em vez da nossa conhecida luz visível, foi o que revelou o primeiro mapa da galáxia
vista não através de energia eletromagnética, mas de matéria. Entendam
melhor essa história pela nota a baixo.
Brazilian Space
ESPAÇO
Via Láctea é Escura Quando Vista em Neutrinos
Redação do Site Inovação Tecnológica
30/06/2023
[Imagem: IceCube/Science Communication Lab]
A imagem superior é a visão tradicional da Via Láctea, observada em luz visível. Embaixo, a primeira imagem da nossa galáxia vista em neutrinos. |
Galáxia Vista em Matéria
Se seus olhos
enxergassem neutrinos, em vez da nossa conhecida luz visível, você veria uma
Via Láctea muito escura.
Foi o que revelou
o primeiro mapa da nossa galáxia vista não através de energia eletromagnética,
mas de matéria - neutrinos são férmions, a classe dos elétrons, prótons e quarks
que formam os núcleos atômicos.
Por algum tempo
chamadas de "partículas fantasmas", tamanha é a dificuldade de sua
detecção, essas partículas invisíveis na verdade existem em grandes
quantidades, mas interagem tão pouco com qualquer outra coisa que passam direto
pela Terra sem serem detectadas.
Algumas delas,
contudo, podem ser rastreadas por observatórios muito especiais, como o IceCube,
que detecta os sinais sutis de neutrinos de alta energia vindos do espaço
usando milhares de sensores enterrados em um quilômetro cúbico de gelo claro e
intocado na Antártica.
Enquanto seus
olhos se enchem de fótons tão logo você olhe em qualquer direção iluminada, os
sensores conseguem detectar uma quantidade muito pequena de neutrinos, o que
explica porque o mapa tem tão baixa resolução.
Mas olhar a Via
Láctea em neutrinos trouxe uma surpresa.
Origem dos Neutrinos
Além do desafio já enorme de meramente detectar neutrinos
e distingui-los de outros tipos de partículas interestelares, é necessário
determinar de onde eles vieram.
Quando os neutrinos interagem com o gelo abaixo do
IceCube, esses raros encontros produzem padrões fracos de luz, que o IceCube
consegue detectar. Alguns padrões de luz são altamente direcionais e apontam
claramente para uma área específica do céu, permitindo que os pesquisadores
determinem a origem dos neutrinos. Essas interações foram a base para a
descoberta, em 2022, de neutrinos
que vieram de outra galáxia, a 47 milhões de anos-luz de distância.
[Imagem: IceCube/Science Communication Lab]
"Outras interações são muito menos direcionais e
produzem 'bolas de luz' em cascata no gelo," conta a pesquisadora Naoko
Kurahashi Neilson, da Universidade de Drexel, nos EUA, cuja equipe se incumbiu
de desmontar essas bolas. Isso exigiu desenvolver um algoritmo de aprendizado
de máquina que comparou a posição relativa, tamanho e energia de mais de 60.000
dessas cascatas de luz geradas por neutrinos captados pelo IceCube ao longo de
10 anos.
O algoritmo produziu uma imagem mostrando pontos
brilhantes correspondentes a locais na Via Láctea que se suspeitava que
emitissem neutrinos. Esses locais estavam em locais onde se acreditava que os
raios gama observados eram subprodutos de colisões entre raios cósmicos e gás
interestelar, que teoricamente também deveriam produzir neutrinos - o processo
é conhecido como emissão difusa, ou seja, neutrinos gerados pela desintegração
dos raios cósmicos galácticos.
[Imagem: IceCube/NSF (Lily Le & Shawn
Johnson)/ESO (S. Brunier)]
Esta é uma imagem composta de uma foto da Via Láctea (luz visível) à qual foi sobreposta a imagem em neutrinos. Os neutrinos estão representados em azul. |
Via Láctea Escura
Se os dados de localização batem com o que já sabíamos
sobre nossa galáxia, sobre a origem dos raios cósmicos e dos neutrinos, também
trouxe uma surpresa: A Via Láctea parece particularmente escura quando vista em
neutrinos.
"O que é intrigante é que, ao contrário do caso da luz
de qualquer comprimento de onda, nos neutrinos, o Universo supera as fontes
próximas em nossa própria galáxia," disse Francis Halzen, da Universidade
de Wisconsin, nos EUA.
Em outras palavras, o IceCube detectou muito mais
neutrinos vindos de outras galáxias do que neutrinos vindos da nossa própria
galáxia. De fato, dependendo do local, a Via Láctea é de 10 a 100 vezes mais
escura em neutrinos do que a média das galáxias distantes.
Esta pode ser uma pista importante para resolver o
mistério de exatamente onde e como os raios cósmicos de alta energia e os
neutrinos são produzidos. "Uma implicação é que nossa galáxia não hospedou
o tipo de fonte que produziu a maior parte dos neutrinos de alta energia nos
últimos milhões de anos, que é aproximadamente o tempo desde a última atividade
de jato do buraco negro da nossa própria galáxia," disse Ke Fang, outro
membro da Colaboração IceCube.
Para mapear os contornos da Via Láctea em neutrinos em
uma boa resolução, no entanto, será necessário esperar por muitos mais anos de
coleta de dados. Embora o observatório IceCube registre bilhões de eventos a
cada ano, apenas uma fração muito pequena deles (1 em 100 milhões de eventos
registrados) é devido a neutrinos do espaço.
Bibliografia:
Artigo: Observation
of high-energy neutrinos from the Galactic plane
Autores:
IceCube Collaboration
Revista:
Science
Vol.: 380,
Issue 6652 pp. 1338-1343
DOI:
10.1126/science.adc9818
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