Artigo: Desafios Científicos e Tecnológicos Para a Chegada do Homem à Lua
Olá
leitores e leitoras do BS!
Em comemoração aos 54 anos da chegada do homem a LUA em 20 de julho de 1969, um interessante
artigo foi postado dia (20/07), no site oficial do ‘Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)’, relatando os
desafios científicos e tecnológicos enfrentados na época para se chegar a esta
conquista. Vale a pena conferir.
Brazilian Space
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Desafios Científicos e Tecnológicos Para a Chegada do Homem à Lua
Por Coordenação-Geral
de Engenharia, Tecnologia e Ciência Espaciais (CGCE)
Serviço de Comunicação Social – SECOM
Coordenação de Gabinete – COGAB
Publicado em 20/07/2023 - 00h00
Atualizado
em 20/07/2023 - 09h05
Via: Site
do INPE - https://www.gov.br
Poetas, seresteiros, namorados, correi! É chegada a hora de escrever e
cantar, talvez as derradeiras noites de luar
Com os
primeiros versos da letra de Lunik 9, de 1967, Gilberto Gil alertava aos
incautos que estava chegando ao fim o tempo de contemplação romântica dos céus.
Fazia pouco mais de um ano que os soviéticos haviam tocado o solo da Lua,
alcançando aquilo que até então era reservado à poesia, filosofia e literatura.
O encantamento com o espaço dava lugar à pesquisa e à engenharia.
O maior
marco da exploração espacial é, sem dúvida, a chegada do ser humano ao nosso satélite
natural, ocorrida em 20 de julho de 1969. Inúmeros são os livros, filmes,
documentários que tratam dessa histórica viagem, mas muito pouco se fala sobre
as dezenas de missões, sejam elas robóticas ou tripuladas, que precederam e
pavimentaram o caminho para aquele “pequeno passo para um homem”.
Foram
diversos programas, sejam da NASA ou de seus concorrentes do Programa Espacial
Soviético, como os Sputnik, Mercury, Pioneer, Explorer, Luna (ou Lunik),
Ranger, Mariner e Surveyor que, com suas dezenas de missões – algumas
bem-sucedidas, outras não – contribuíram direta ou indiretamente para o avanço
do conhecimento científico e para o desenvolvimento da tecnologia necessária
para garantir o cumprimento do objetivo então estabelecido: o de levar homens à
Lua e trazê-los de volta em segurança.
A seguir,
trazemos um pequeno resumo dos principais fatos nesse curto e, como se verá,
muito intenso período de nossa história.
Desde o
final da Segunda Guerra Mundial, tanto os EUA como a União Soviética vinham
desenvolvendo tecnologia de foguetes, baseados nos espólios que ambos os países
obtiveram dos mísseis alemães V-2, que tanto terror trouxeram nos bombardeios a
Londres.
A vertente
civil desse esforço visava utilizar tais foguetes para levar a humanidade para
fora de nosso planeta, efetivamente iniciando a exploração espacial, que até
então era um tema quase que exclusivo da ficção científica. Buscando mostrar ao
mundo qual lado era superior – e consequentemente aumentar sua esfera de
influência entre as demais nações –, as então “superpotências” iniciaram aquilo
que ficou conhecido como a Corrida Espacial.
Os
soviéticos largaram na frente, com o lançamento do primeiro satélite
artificial, o Sputnik-1, em 04 de outubro de 1957. Logo a seguir, o Sputnik-2
colocava em órbita o primeiro ser vivo, a cachorra Laika. No período de apenas
um mês, se havia demonstrado as tecnologias necessárias não só para sair de
nosso planeta e orbitá-lo, mas também para manter vivo um passageiro durante
essa viagem!
Em resposta
a isso, os norte-americanos lançaram seu primeiro satélite, o Explorer-1, em 31
de janeiro de 1958. Por alguns anos, esse padrão se repetiu: os soviéticos
alcançavam um grande feito na área espacial, e os norte-americanos tentavam
igualá-lo, por vezes conseguindo apenas alguns meses, ou mesmo semanas, após
seus concorrentes
Foi assim
com o primeiro homem levado ao espaço (Yuri Gagarin, em abril de 1961), a
primeira mulher (Valentina Tereshkova, junho de 1963), o primeiro equipamento a
se aproximar da Lua (a sonda Luna 1, em janeiro de 1959), o primeiro a alcançar
nosso satélite (Luna 2, que se chocou com o solo lunar em setembro de 1959), o
primeiro a enviar fotos do lado oculto (Luna 3, outubro do mesmo ano) e o
primeiro a pousar suavemente (a já citada Luna/Lunik 9, em fevereiro de 1966).
Uma
curiosidade é que esse período também marca a entrada do Brasil na pesquisa e
desenvolvimento tecnológico para o espaço: imediatamente após retornar de seu
feito histórico, Gagarin foi levado pelo governo soviético em uma espécie de
turnê mundial, visitando diversos países e recebendo inúmeras homenagens. Em
maio de 1961 esteve em nosso país, recebendo do então presidente Jânio Quadros
a Ordem do Cruzeiro do Sul, a maior condecoração brasileira. Em julho daquele
mesmo ano, certamente ainda impressionado pela realização soviética, Quadros
assinou o decreto para a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional
de Atividades Espaciais (GOCNAE), que mais tarde daria origem ao INPE.
Enquanto o
Brasil dava seus primeiros passos rumo ao espaço, as diversas missões das
superpotências traziam informações importantíssimas para as vindouras missões
tripuladas, na forma de registros fotográficos e de sensores diversos, como os
magnéticos, de radiação e de temperatura. Por exemplo, à época não se tinha a
certeza se a superfície da Lua seria sólida o suficiente para permitir um pouso
de equipamento pesado, sem que o mesmo afundasse na poeira lunar.
Inúmeras
eram as tecnologias criadas para o cumprimento das missões, como as de
circuitos eletrônicos resistentes à radiação, diferentes formas de controle
térmico, técnicas para apontamento no espaço livre, captação de energia por
meio de painéis solares, metodologias de tolerância a falhas de equipamentos, a
lista poderia continuar por algumas páginas.
Os
norte-americanos alcançaram a Lua em julho 1964 com a sonda de impacto Ranger
7, cinco anos após os soviéticos. Eles estavam perdendo feio a corrida.
O ponto de
virada para a NASA veio apenas com a missão Apollo 8, em dezembro de 1968,
quando uma missão tripulada foi capaz de orbitar a Lua pela primeira vez.
Imaginem a enormidade desse feito: faziam menos de quatro anos desde que os EUA
haviam conseguido fazer um de seus foguetes chegar à Lua – e se espatifar nela
-, e agora estavam levando três homens para orbitá-la e os trazendo de volta!
Nas missões
seguintes, a Apollo 9 (março de 1969) e 10 (maio do mesmo ano), a NASA foi
progressivamente avançando nos testes e validação das etapas do que que seria a
missão final: a Apollo 9 qualificou o módulo lunar, que desceria à superfície,
inclusive com a realização de manobras de acoplagem das diferentes
configurações necessárias ao pouso e retorno da Lua, enquanto que a Apollo 10
realizou uma descida a até 15 km de distância da superfície lunar, retornando e
novamente se acoplando ao módulo de comando e serviço.
Em julho
foi a vez da Apollo 11, e com ela a humanidade, finalmente colocar os pés em
nosso satélite. A cadência das missões, uma sendo lançada quase que assim que a
anterior retornava – a contar da Apollo 9, foram três missões tripuladas em
quatro meses! – mostra que o termo “Corrida Espacial” não foi cunhado à toa.
Como se vê,
os famosos primeiros passos de Neil Armstrong foram, na verdade, precedidos de
incontáveis outros, dados por inúmeros cientistas, engenheiros, técnicos,
astronautas e muitos outros profissionais que contribuíram para o
desenvolvimento da ciência, das técnicas e da tecnologia necessárias para
“pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta”, conforme havia sido determinado,
apenas sete anos antes, pelo presidente John F. Kennedy.
Os
soviéticos, que sempre tiveram uma abordagem mais cautelosa com seus
cosmonautas, seguiram desenvolvendo missões lunares robóticas, com seu programa
de jipes telecontrolados Lunokhod. Ao se verem vencidos na corrida à Lua,
optaram por mudar o foco de seu programa e investir em outro aspecto da
exploração espacial: a permanência do ser humano no espaço. Fizeram isso
primeiramente por cápsulas pressurizadas, que cresceram gradativamente até se
tornarem complexas estações espaciais.
Os
norte-americanos, claro, não ficaram para trás, e também investiram no tema.
Com o passar dos anos, entretanto, a disputa deu lugar à cooperação, e o
principal resultado disso é a Estação Espacial Internacional, um projeto
multilateral liderado conjuntamente por EUA e Rússia
Com o
passar dos anos, as missões tripuladas à Lua perderam apoio popular – a Corrida
Espacial estava vencida, afinal – e, por serem muito custosas, foram descontinuadas
após a Apollo 17, de dezembro de 1972. Desde então não voltamos a visitar nosso
satélite em missões tripuladas.
A partir da
década de 1990, Japão, China, Índia e União Europeia também começaram a lançar
missões lunares. A Índia contou com apoio do INPE no rastreio de suas missões
Chandrayaan-1 e 2.
Atualmente
os EUA estão liderando um novo esforço, com parcerias internacionais, para o
retorno à Lua no programa Artemis (irmã gêmea de Apollo, na mitologia grega). A
previsão é que tenhamos novas pegadas humanas em solo lunar muito em breve, em
2025. A China tem planos de fazer o mesmo, tendo como meta a década de 2030.
Mas a
incomparável fase inicial de pioneirismo no desenvolvimento de tecnologia
espacial na segunda metade do século passado é o que permitiu a criação das
inúmeras aplicações do espaço presentes em nosso cotidiano, como a
telecomunicação por satélites, sistemas de posicionamento global como o GPS,
sensoriamento remoto e tantas outras, além de avanços científicos
impressionantes, como a instalação de telescópios fora de nossa atmosfera,
permitindo-nos enxergar o universo além do que seria possível em nosso planeta.
Muitas
outras tecnologias desenvolvidas para a exploração espacial foram incorporadas
ao nosso dia-a-dia, como filtros de água mais eficientes, sensores para câmeras
miniaturizadas (como a do seu smartphone), termômetros infravermelhos, mantas
térmicas usadas por socorristas no atendimento a acidentados, sistemas de
monitoramento hospitalar, além de diversos novos tipos de materiais, entre eles
cerâmicos e polímeros sintéticos, presentes em inúmeros produtos.
Na
atualidade, a atividade espacial se configura em uma importante infraestrutura
para o desenvolvimento e crescimento de um país. Como instituição pioneira no
Brasil em diversas áreas de conhecimento associadas ao espaço, o INPE busca o
contínuo avanço em ciência e tecnologia, o qual se converte em autonomia e
benefícios para a sociedade brasileira.
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