Pesquisa da UFRN Investigará os Efeitos da Microgravidade em Plantas
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria (um pouco antiga é verdade, mas
muito interessante) postada dia (07/03) no site “Nossa Ciência”, destacando que
Pesquisa da UFRN que fará parte da próxima missão do “Programa Microgravidade” da
AEB (creio eu a Operação Rio Verde) investigará os efeitos da microgravidade em
plantas.
Duda Falcão
MEIO AMBIENTE
Pesquisa Investiga os Efeitos
da Microgravidade em Plantas
Nossa Ciência
Segunda, 7 de Março de 2016
Credito: Foto: Nossa Ciência/ IAE
Pesquisadora Kátia Castanho Scortecci da UFRN.
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Para pesquisadora Kátia Scortecci,
memória das plantas é sinalizada para descendentes.
Durante bilhões de anos, os seres vivos
foram selecionados a crescer na presença da gravidade, que é a força que atrai
os corpos em função de sua massa. Se essa força interfere no desenvolvimento de
todo ser vivo, numa situação de microgravidade é possível que ocorram
alterações no metabolismo das células.
Tendo à frente a pesquisadora
Kátia Castanho Scortecci, pesquisas desenvolvidas no Laboratório de
Biologia Molecular e Genômica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) procuram entender os efeitos da microgravidade em sistemas biológicos,
com foco na observação da cana de açúcar.
A pesquisadora explica que a
curiosidade acerca de como as plantas se desenvolveriam em condições sem
gravidade vem desde a década de 1970, no auge da era espacial. Nos diferentes
experimentos realizados foi observado que dependendo da espécie de planta o desenvolvimento
ocorria normal, mas para outras espécies foi observado problemas de germinação,
na formação de flores ou de sementes. Mais tarde, já na década de 1990, depois
de experimentos com equipamentos como clinostato, random position machine e hipercentrífuga,
considerou-se a possibilidade das plantas perceberem a microgravidade e
a hipergravidade e sinalizarem essa informação para seus descendentes.
“Com estes experimentos foi verificado que provavelmente as plantas
perceberiam a condição de microgravidade e ou hipergravidade como um estresse
oxidativo e esta percepção desencadearia uma cascata de sinalização”, afirma
Katia. Esse foi o ponto de partida e a hipótese inicial da pesquisa.
Real
A observação pode ser feita com
microgravidade real ou simulada. Os efeitos da microgravidade real nos sistemas
biológicos podem ser observados a partir de foguetes de sondagem, queda livre
em torre, voo parabólico ou na estação espacial. As pesquisas de Katia analisam
dados obtidos em experimentos no foguete VSB-30, lançado no Centro de
Lançamento de Alcântara, localizado no estado do Maranhão e em voos
parabólicos, realizados na cidade de Bordeaux, na França.
Uma caixa hermeticamente fechada capaz
de suportar a pressão da reentrada na atmosfera terrestre sem transferir nenhum
estresse do choque às plantas de cana de açúcar que estavam em seu interior.
Esse foi o primeiro desafio para a observação do efeito da microgravidade nas
plantas. “Dois a três anos de preparação para desenvolver e validar o sistema e
torná-lo apto para o voo do foguete. Foi necessária uma conversa com o pessoal
de engenharia mecânica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do
IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço). Eles desenvolveram duas caixas em
alumínio, que aguentassem a pressão e que as plantas não sofressem estresse,
porque a gente queria observar o efeito da microgravidade e qualquer efeito
externo poderia atrapalhar isso”, explica a professora do Departamento de
Biologia da UFRN.
Memória
Da análise dos dados já foi possível
identificar que houve uma alteração na organização dos tecidos nas plantas e
que essa alteração gerou uma memória celular. Essa memória é explicada por
Katia como modificações na fita de DNA e que foram mantidas. “Quando a gente
analisou o tecido dessa planta, vimos que ela tentou voltar à condição da
planta que nunca foi submetida à microgravidade, mas ela manteve
características da que foi submetida por seis minutos. Ela volta, mas alguma
coisa ela manteve”, garante. A professora revela em seu currículo, na
Plataforma Lattes do CNPq, que neste trabalho foram utilizadas as ferramentas
de sequenciamento de RNA com a plataforma Illumina e da análise dos tecidos por
microscopia de varredura e microscopia óptica.
Os seis minutos a que se refere a pesquisadora,
foi o tempo de permanência do foguete em ambiente de microgravidade, na Missão
Maracati II. A missão, entretanto durou muito mais. Somente a espera das
condições meteorológicas ideais – a chamada janela de oportunidade – consumiu
28 dias. No dia do lançamento, 12 de dezembro de 2010, o experimento de Kátia
estava pronto às 3h e foi entregue aos militares da Base de Alcântara às 7h
para integrar o voo, que ocorreu às 12h35. A duração total do voo foi de 35
minutos, com um apogeu de 242 quilômetros e um alcance de 145 quilômetros.
Chama-se apogeu a maior distância da Terra e o alcance a distância do ponto
onde o foguete foi lançado. A carga útil do foguete, composta do experimento da
professora Kátia e outros nove, ficou apenas nove minutos no mar, sendo
resgatada pela equipe composta por 80 pessoas, dois helicópteros, duas
aeronaves patrulha e um navio patrulha, da Agência Espacial Brasileira, responsável
por toda a operação.
Após o resgate, os experimentos foram
levados para uma ilha próxima, chamada Ilha de Santana, e lá, os militares
treinados abriram os experimentos, isolaram as partes aéreas (de folhas) e as
raízes das plantas, colocaram em tubos onde havia uma substância química que
tem o papel de inativar metabolicamente a planta e voltaram para Alcântara.
Parabólico
A outra experiência com cana de açúcar
em microgravidade realizada pela pesquisadora ocorreu em 2013, num voo
parabólico, em colaboração com um grupo de pesquisadores da Universidade de
Tubinga, localizada na Alemanha. O avião tipo Zero G decolou na cidade de Bordeaux,
na França.
No voo parabólico foram simuladas
condições normais de gravidade; condições de hipergravidade, em que cada corpo
tem o dobro do próprio peso; e condição de microgravidade, onde há flutuação,
de 20 segundos cada. O mesmo movimento foi repetido 20 vezes com paradas de 20
minutos entre as decolagens, para os pesquisadores organizarem os seus
experimentos, por exemplo, colocando o inativador de células. O experimento
durou três dias.
Melhoramento Genético
Em campos de produção são várias as
condições de estresse para as plantas. O solo nem sempre é o ideal, a radiação
ultravioleta, no caso do Nordeste, é extrema e nem sempre tem água. As plantas
tentam tolerar essas condições e produzir o melhor. O estudo vai na direção da
compreensão dos mecanismos de funcionamento celular. Defendendo a importância
da pesquisa básica, a professora afirma que se a possível identificação de
marcadores para as condições de estresse a que as plantas são submetidas
naturalmente, pode contribuir no melhoramento genético clássico ou pela
transgenia. “Esses dados podem ser utilizados em qualquer tipo de pesquisa e dá
pra ver o lado aplicado, mas não é coisa para cinco anos, vai ser a longo
prazo, vai ter que juntar outras informações”, justifica.
Morreu
As amostras das duas caixas herméticas
contendo 24 e 15 plantas que estiveram no foguete foram separadas para
anatomia, para ensaios de proteína e ensaios de RNA. Destas, três indivíduos
foram deixados em terra para investigação do seu crescimento na gravidade,
depois de submetidas à microgravidade. No transporte, porém, dois pés ou
indivíduos foram perdidos e a única que ficou, viveu um ano em terra e morreu.
A morte da planta não pode ser explicada pelo fato dela ser a única remanescente
do experimento.
Na próxima missão, que deve ocorrer
ainda no primeiro semestre de 2016, uma das caixas será exclusivamente para
plantas que vão crescer no solo, quando retornarem à Terra, é o que garante a
doutora Scortecci. Dependendo do financiamento, a ressalva é da própria
pesquisadora, a cada três ou seis meses serão coletadas amostras de folha, para
análises bioquímicas, anatômicas e moleculares na tentativa de entendimento do
metabolismo da planta.
A pesquisadora e seu grupo querem
confirmar ou não se a planta guarda uma memória de gravidade zero. “Com isso,
identificar novas informações nessas modificações metabólicas para a gente
conseguir formar uma via, uma interação e elencar genes que seriam alvos para
essa resistência, essa tolerância a condições de estresse”, torce.
O projeto de Katia Scortecci é um
subprojeto no InEspaço (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos
no Espaço).
Fonte: Site Nossa Ciência - 07/03/2016 - http://www.nossaciencia.com.br
Comentário: Veja nesta matéria leitor a importância deste
Programa Microgravidade para Ciência Brasileira. No entanto, o mesmo não recebe
nem do Poder Executivo, nem do Congresso Nacional (um fórum politico vergonhoso
e de moral discutível) a devida atenção. O Brasil hoje detém não só a
tecnologia de acesso ao espaço de voos suborbitais (como os protagonizados por
foguetes de sondagem), bem como toda a infraestrutura física e humana necessária
para realizar os lançamentos destes foguetes. Diante disto é inadmissível que o
Programa Microgravidade deste órgão inócuo chamada Agência Espacial de Brinquedo
(AEB) continue realizando apenas um voo a cada quatro anos. Temos condições e
podemos sim realizar pelo menos três voos por ano (dois científicos e um tecnológico) que abria portas para um desenvolvimento
científico tecnológico consistente de diversas instituições se vivêssemos realmente numa nação de verdade. Leitor,
não há a menor dúvida quanto a isto, não há a menor razão para não realizarmos
este objetivo. Ops, há sim leitor, falta de compromisso e seriedade desses
governos populistas de merda. Uma grande prova disto está neste exemplo dado por este experimento acima. O PEB tem 55 anos de atividades e para realizar um vôo parabólico deste experimento, a pesquisadora Kátia Castanho Scortecci teve de fazer uma parceria com uma Universidade Alemã. É inaceitável que após tanto tempo a FAB com o histórico que tem em atividades espacias, não tenha ainda uma aeronave disponível para estes tipos de experimento (uma ótima opção não só para o PEB, como para própria FAB e para industria do país). Veja o exemplo da Marinha, imagine se a mesma não tivesse seus navios de pesquisas para atender o PROANTAR?
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