Ozires Silva: "Estamos Criando Uma Verdadeira Tragédia Para o Nosso Futuro"
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria postada ontem (26/07)
no site "InfoMoney" destacando que segundo o Dr. Ozires Silva (ex-presidente da
Embraer) estamos criando uma verdadeira tragédia para o nosso futuro.
Duda Falcão
EMBRAER
Ozires Silva: "Estamos Criando Uma
Verdadeira Tragédia Para o Nosso Futuro"
Governo deveria ser o catalisador do sucesso da sociedade,
e não o atrito, diz fundador
da Embraer; onde estão os nossos líderes? Já esta provado
que não estão em Brasília.
Por Thiago Salomão
26 de jul de 2016 – 08:30
Foto: José Cruz/ Agencia Brasil
(José Cruz/ Agência Brasil)
SÃO PAULO - O
bordão "Brasil é o país do futuro" nasceu com uma visão
promissora para o País, mas logo tornou-se o "lugar comum" para
concluir a ideia de que não conseguimos evoluir em certos aspectos e ficamos
esperando por um futuro que nunca chega. E se depender das políticas adotadas
pelo nosso governo no campo educacional, estamos fadados a ficar cada vez mais
atrasados do resto do mundo. Essa visão é de ninguém menos que Ozires Silva, 85
anos, fundador da Embraer e que "venceu na vida" principalmente
graças aos esforços pessoais nos estudos - o que torna essa análise ainda mais
preocupante.
"A magia
da transformação passa pela educação. Basta ver o que aconteceu com a China e a
Coreia do Sul nas últimas décadas. Aqui não temos isso: o Governo Federal não
tem e nunca teve um plano para mudar isso. Estamos criando uma verdadeira
tragédia para o nosso futuro e para as gerações de nossos netos", disse
Ozires em almoço palestra promovido pela OEB (Ordem dos Economistas do Brasil),
realizado no começo de julho no Terraço Itália, em São Paulo.
Por cerca de
40 minutos, ele explicou por que o Brasil está ficando - e deverá ficar - cada
vez mais para trás na esteira da evolução do mundo e apontou como a falta de
líderes em Brasília é determinante para nos manter nesse atoleiro.
Como um ótimo
contador de histórias, Ozires ainda narrou toda a trajetória da Embraer, desde
a fundação até a posição mundial de destaque, comovendo os ouvintes mas ao
mesmo tempo mostrando o quão difícil é criar tecnologia dentro de um país tão
acostumado a produzir commodities.
Confira
abaixo os principais destaques do discurso de Ozires Silva:
A magia da
educação e a "herança maldita" do Brasil
A magia da
transformação passa pela educação. Basta ver o que aconteceu com a China e a
Coreia do Sul nas últimas décadas. Em 1988, eu, juntamente com outras
personalidades mundiais da época, fomos chamados por Peter Druker, que havia
sido contratado pelo governo chinês para criar um projeto de conquista do
mercado mundial. Hoje vemos onde ela chegou. Isso mostra a importância de ter
líderes, pois eles que guiarão as pessoas a fazerem algo em conjunto que
resultará em um bem comum.
Aqui no Brasil
não temos isso: o Governo Federal não tem e nunca teve um plano para mudar
isso. Estamos criando uma verdadeira tragedia para o nosso futuro e para as
gerações de nossos filhos. Sem dúvida nenhuma não chegaríamos onde
chegamos [com a Embraer] sem educação. Inovação é fundamental. O problema é que
o Brasil não está preparado para assumir os riscos de criar algo novo. Se não
assumirmos isso, o futuro de nossos filhos estará em risco.
Nossos
líderes não estão em Brasília
No passado, os
líderes mudaram o mundo. E continuarão fazendo isso. Dai eu pergunto: onde
estão os nossos líderes? Já esta provado que não estão em Brasília. O governo
brasileiro não tem funcionado como um catalisador do sucesso da população, ele
tem sido um atrito.
Os líderes são
sempre necessários. Então, seja um deles: ao invés de esperar alguém, seja você
a mudança. Precisamos confiar em nós mesmos.
A
"triste" semelhança entre brasileiros e chineses
Os países
emergentes estão encontrando seu caminho, hoje em dia produtos coreanos e
chineses estão no mundo todo, mas nosso produto não. Não há produtos brasileiros
nas ruas e cidades do mundo.
O Brasileiro é
igual o chinês: o chinês só compra produto chinês; o brasileiro também.
Oportunidades estão aí e precisam ser aproveitadas, mas sem marca e sem propriedade
intelectual não vamos evoluir.
Vendemos
barato, compramos caro; como fechar a conta?
O mundo está
menor, cada vez mais globalizado, mas não estamos aproveitando as novas
tecnologias que surgem. São raras as inovações no Brasil, e uma das razoes é a
dificuldade de levantar capital de risco para aplicar e gerar valor, e não
apenas aplicar para gerar retorno financeiro.
Os
empreendedores precisam disso para ter sucesso. Mas infelizmente ainda somos
uma terra de commodities. Estamos vendendo barato e comprando caro. No longo
prazo, essa conta fecha
Embraer: do
sonho de criança ao "dia de sorte"
Em 1945,
quando tinha 14 anos, eu e o Zico [amigo de Ozires que ajudou a idealizar a
Embraer, mas que morreu em 1955 em um acidente aéreo] frequentávamos o
Aeroclube da minha cidade natal, Bauru. Nós discutíamos por que os aviões do
aeroclube tinha que ser todos importados dos EUA. Em 1906 Santos Dumont deu seu
primeiro voo, então por que 40 anos depois não tínhamos nossos próprios aviões?
Além disso, o
Brasil sempre foi um país continental e estava em crescimento, o que criava a
necessidade de mobilidade. Havia também sinais de globalização, ou seja,
poderíamos fazer aviões no Brasil e vender em outros lugares.
Como não havia
graduação em aeronáutica, entramos na FAB (Força Aérea Brasileira) via concurso
em 1946. Em 1950, foi criado o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), onde
poderíamos ter a base de estudo. Mas eu só consegui a bolsa para ser engenheiro
em 1962. Me formei aos 32 anos. Agora que eu tenho a qualificação correta, não
podia ficar de braço cruzado: no ano seguinte, montei uma equipe de engenheiros
para colocar de pé a seguinte ideia: criar aviões que poderiam atender a
demanda regional de voos.
Muitas cidades
menores não tinham a infraesturtura para receber aviões muito grandes, e por
isso essas cidades estavam perdendo serviço regular mesmo com o crescimento da
economia do País como um todo. Nosso projeto era provar ser possível um avião
pousar numa pista pequena.
Sofremos com a
baixa credibilidade: o estrangeiro não queria colocar dinheiro nesse projeto,
enquanto o governo rejeitou a ideia de uma sociedade mista e disse que algo
desse porte tinha que ficar com a iniciativa privada. Até que surgiu o que eu
gosto de chamar de "dia de sorte": era domingo, 20 de abril de 1969.
Presidente da República [Artur da Costa e Silva] estava indo para Guaratinguetá
e havia uma comitiva enorme para recebê-lo, mas por causa de uma neblina, ele
teve que ir pra São José dos Campos.
Eu e minha
equipe estávamos trabalhando naquele domingo. Então como não tinha ninguém lá
par recebê-lo, eu tive que fazer isso sozinho. Era a minha chance de de fazer
uma "lavagem cerebral"e convencê-lo a criar uma estatal de fabricante
de aviões. E ele acreditou: em 19 de agosto de 1969, foi criada a Embraer.
Hoje, voamos
em 90 países, e o curioso é que foi esse o número que "chutei" em
1969 quando o presidente me perguntou quantos países eu achava que teriam
interesses em nossos aviões.
Fonte: Site
InfoMoney - http://www.infomoney.com.br/
Comentário: Pois é leitor, se não queres prestar atenção no que eu digo, será que ouvindo do próprio Ozires
Silva isto não fará você (que realmente se importa com o nosso país) refletir e analisar a sua atual maneira de pensar e agir??? Seja
um líder como o Dr. Ozires disse, pois assim você mudará sua visão e entenderá
definitivamente que estamos indo pelo caminho errado.
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