Na Sucessão do INPE, SindCT Propõe Novo Comitê de Busca
Olá leitor!
Trago agora mais um artigo sobre a conturbada sucessão no
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), este postado na edição
de junho/julho do "Jornal do SindCT".
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
MCTIC IGNORA DENÚNCIAS E INDICA RICARDO GALVÃO COMO NOVO
DIRETOR
Na Sucessão do INPE, SindCT
Propõe Novo Comitê de Busca
Fato escandaloso: nada menos do que quatro, dos cinco componentes
do atual Comitê,
são ligados ao CNPEM, “organização social” dirigida por
Rogério Cerqueira Leite!
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 48
Junho/ Julho de 2016
Gilberto Kassab (MCTIC)
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A conturbada sucessão da
direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) chegou a um
desfecho neste dia 1º de julho, com a indicação, pelo ministro interino
Gilberto Kassab, do engenheiro Ricardo Galvão como novo diretor do instituto.
Kassab ignorou as reivindicações do SindCT e de servidores do instituto
reunidos no chamado Movimento Processo Sucessório Transparente (leia carta aberta na página 12), que denunciava a falta de isenção e representatividade do
Comitê de Busca responsável por conduzir o processo sucessório. O Comitê de
Busca, composto exclusivamente por pessoas ligadas à iniciativa privada — a
começar por seu presidente, o ex-ministro Marco Antonio Raupp — indicou uma
lista tríplice, entregue em abril ao então Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), mas que cujos nomes não foram oficialmente divulgados.
Extraoficialmente sabe-se que os nomes da lista foram os de Ricardo Magnus
Osório Galvão, Cesar Celeste Ghizoni e Thelma Krug.
A composição do Comitê,
publicada na edição de 22 de janeiro do Diário Oficial da União,
resultou de um lobby do próprio Raupp e da professora Helena Nader,
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que
deslocaram-se para Brasília, reuniram-se com o então ministro Celso Pansera
(PMDB) e pediram para ser nomeados — e conseguiram. Nenhum funcionário do INPE foi
indicado e a comunidade não foi consultada.
Rogério Cezar de Cerqueira Leite
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Além do forte viés privatista
do Comitê — tambémexpresso na figura dos outros membros, em especial o
professor Rogério Cézar de Cerqueira Leite, dirigente da “organização social”
Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM) — outro fator a
provocar protestos foi a presença, na lista tríplice, de candidatos cujas
atividades podem suscitar conflito de interesses, caso de Ricardo Galvão e
Cesar Ghizoni.
Surgiram assim manifestações no
sentido de reiniciar o processo “do zero”, por meio da constituição de um novo
Comitê de Busca, por entender que o atual processo teve diversos problemas e
vícios. Assim, um abaixo-assinado foi elaborado por pesquisadores do INPE
reivindicando a inclusão de um representante dos servidores no Comitê de Busca;
o SindCT entregou uma carta ao ministro interino, encampando a proposta de um
novo Comitê; e também criou-se um grupo independente no INPE, com a finalidade
de acompanhar o processo.
CNPEM Comanda?
Chama atenção, na composição do
Comitê de Busca, o fato escandaloso de que nada menos de quatro dos seus cinco
membros serem vinculados à “organização social” CNPEM. Além de Cerqueira Leite,
são membros do Conselho de Administração daquela entidade privada, sediada em
Campinas (SP), os seguintes membros do Comitê: Helena Nader, Reginaldo dos
Santos (que também é presidente da frustrada empresa binacional Alcântara
Cyclone Space-ACS, em processo de extinção) e o próprio Marco Antonio Raupp. O
único membro do grupo aparentemente sem ligações com o CNPEM é Luiz Bevilacqua,
ex-presidente da AEB e ex-secretário-executivo do MCTI.
Cerqueira Leite e Helena Nader
mal tinham acabado de fracassar nos seus intentos de convencer a comunidade do
INPE a aderir à proposta privatizante de transformar o instituto numa
“organização social”, utilizando o disfarce das “comissões externas” do então
MCTI (ver Jornal do SindCT 39, 2015, p. 5), quando foram nomeados
por Pansera para o Comitê.
O quinto componente do Comitê,
o onipresente ex-ministro Raupp, coincidentemente é o diretor-geral de uma
outra “organização social”, a Associação Parque Tecnológico de São José dos
Campos, contratada pela Prefeitura para gerir o Parque Tecnológico. O
presidente do Conselho de Administração da Associação Parque Tecnológico é
ninguém menos do que José Raimundo Braga Coelho, presidente da AEB.
Não bastasse tudo isso, o prazo de inscrição de
candidatos a diretor(a) do INPE foi prorrogado de 4 de março para 24 de março, sem
que fosse apresentada qualquer justificativa. Este fato gerou desconfiança,
pois, no fechamento do prazoinicial já havia oito candidatos. Um deles, Thyrso
Villela, declinou. Ao final do segundo prazo, encontravam-se inscritas as
candidaturas de Cesar Celeste Ghizoni, Clézio Marcos De Nardin, Haroldo Campos
Velho, Hélio Takai, José Henrique de Souza Damiani, Leonel Fernando Perondi
(diretor do INPE), Ricardo Magnus Osório Galvão e Thelma Krug. Uma vez
definida, a lista tríplice foi entregue, em 27 de abril, à então ministra
interina, Emília Ribeiro Curi.
Airbus
Ghizoni já foi dono da empresa Equatorial Sistemas, que
foi vendida e tornou-se subsidiária da empresa Astrium, divisão espacial da
gigante europeia Airbus. Porém, ele continua na empresa como presidente,
condição na qual assinou, no último dia 2 de junho, um contrato com o INPE no
valor de R$ 15,3 milhões para aquisição de subsistemas para o satélite
Amazonia-1 (leia mais em http://migre.me/u9Kry).
Assim, caso viesse a ser escolhido por Kassab, tornando-se diretor do INPE,
Ghizoni teria a prerrogativa de administrar a execução de um contrato que
interessa à Astrium, o que poderia ferir claramente a Lei do Conflito de
Interesses (lei federal 12.813/13). Reza o artigo 5o dessa lei: “Configura
conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego no âmbito do Poder
Executivo federal: [...] II - exercer atividade que implique a prestação de
serviços ou a manutenção de relação de negócio com pessoa física ou jurídica
que tenha interesse em decisão do agente público ou de colegiado do qual este participe;
III - exercer, direta ou indiretamente, atividade que em razão da sua natureza
seja incompatível com as atribuições do cargo ou emprego, considerando-se como
tal, inclusive, a atividade desenvolvida em áreas ou matérias correlatas”.
Galvão, por sua vez, que já estava inscrito no dia 8 de
março, até o dia 13 do mesmo mês integrava a Comissão Avaliadora (CA) do CNPEM
(confira: http://migre.me/u9JTf). Ao
tomarem conhecimento da candidatura de Galvão, os quatro membros
do Comitê de Busca vinculados ao CNPEM deveriam ter se autodeclarado impedidos
de continuar integrando o comitê — como aliás espera-se que ocorra em qualquer
concurso público em relação aos membros da banca examinadora, sempre que se cria uma situação de conflito
de interesses.
Qualificação
Todos os candidatos possuíam qualificação acadêmica para
o cargo. Galvão é graduado em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade
Federal Fluminense (1969), doutor em Física de Plasmas Aplicada pelo
Massachusetts Institute of Technology (1976) e livre-docente em Física
Experimental pela Universidade de São Paulo (1983). É presidente da Sociedade
Brasileira de Física.
Ghizoni é graduado em Engenharia Eletro-Eletrônica pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1969), mestre em Eletrônica e
Telecomunicações pelo INPE (1972) e doutor em Engenharia Elétrica pela Cornell
University – Ithaca (1976). Presidia a Equatorial Sistemas desde 1996.
Thelma Krug é graduada em Matemática (1975) e doutora em
Probabilidade e Estatística pela University of Sheffield (1992). Assessora de
Cooperação Internacional do INPE, cedida ao Ministério do Meio Ambiente, onde
exerce o cargo de diretora do Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento. Desde outubro de 2015 é
vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).
Não á Conflito de Interesses, Avaliam Ghizoni e Galvão
Cesar Celeste Ghizoni
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“Não há conflito
de interesses em ser candidato ao cargo sendo presidente da empresa. A empresa
hoje é 100% controlada pelo grupo Airbus e sou no momento um funcionário. Em caso
de efetiva escolha teria que proceder a uma total desincompatibilização. Isto é
normal no serviço público, veja o recente caso do Banco Central levando uma
pessoa do Itaú”, declarou Cesar Celeste Ghizoni ao Jornal do SindCT.
“Sobre o contrato
recém assinado, o fiz como representante legal da empresa Crisa (Espanhola) do grupo
Airbus, não como presidente da Equatorial. Visa atender requisito formal da
Funcate de a fornecedora estrangeira ter representação legal no país, para
receber citações em caso de necessidade. Também é uma relação tênue que pode ser
facilmente transferida a um advogado por exemplo”.
Escolha Soberana
Ricardo Magnus Osório Galvão
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“A escolha do
Comitê de Busca é feita de forma soberana pelo Ministro; não acredito que tenha
sido feita por serem seus membros do Conselho de Administração do CNPEM. Tenho
certeza que nenhum membro do Comitê de Busca aceitaria dele participar se lhes
fosse imposto seguir ordens de seu presidente”, disse o professor Ricardo
Osório Galvão a respeito das questões que lhe foram encaminhadas pela repórter.
“De fato, fui membro
da Comissão Avaliadora do Contrato de gestão do CNPEM. Esta comissão se reúne duas
vezes por ano, uma no primeiro semestre, para avaliar o relatório parcial da
unidade, e outro no final do ano para avaliar o relatório anual. Aliás este é o
mesmo procedimento adotado na avaliação dos termos de compromisso de gestão das
unidades de pesquisa”, esclarece. “Assim, a última avaliação do CNPEM em que
participei foi em dezembro de 2015 e já sabia quenão faria parte da Comissão em
2016”.
MCTIC Não Revoga
Consultada, a assessoria
de imprensa do MCTIC emitiu a seguinte nota: “O Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações esclarece que o processo de seleção do Diretor do INPE
foi conduzido dentro dos preceitos do regramento vigente, mais especificamente,
da Portaria n° 1.037, de 10 de dezembro de 2009. Portanto, não vê motivo para
revogar qualquer ato referente à escolha do Diretor daquele Instituto”.
Procurado pela reportagem do Jornal do SindCT, Marco Antonio Raupp,
presidente do Comitê de Busca, não mostrou interesse em comentar os questionamentos
ao processo sucessório em curso no INPE.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 48ª – Junho/Julho de
2016
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