Casa Civil Exige Cláusula Adicional e Trava a Tramitação de Acordo do Satélite CBERS-4A
Olá leitor!
Trago agora uma notícia postado na edição de junho/julho do “Jornal
do SindCT”, destacando que a Casa Civil exige Cláusula Adicional e trava a tramitação
de Acordo do Satélite CBERS-4A.
Duda Falcão
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
RECURSOS ESTÃO PREVISTOS NA LOA MAS NÃO PODEM SER
LIBERADOS
Casa Civil Exige Cláusula Adicional e Trava
a Tramitação
de Acordo Sobre CBERS-4A
Demora para superar o impasse burocrático que envolve o
Protocolo Complementar
poderá comprometer os prazos do projeto. Recursos
permitirão ao INPE adquirir
da indústria Painel Solar, OBDH e a estrutura da carga
útil
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 48
Junho/ Julho de 2016
Foto: Shirley Marciano
Antonio Carlos Pereira Junior, gerente do CBERS-4A
|
O CBERS-4A, Satélite Sino-Brasileiro para Recursos
Terrestres, o sexto da família, pode vir a ter o seu cronograma comprometido,
caso o governo não tome imediatamente uma decisão relacionada à continuação do
programa conjunto com a República Popular da China. Previsto para ser lançado
no final de 2018, ele depende de trâmites burocrático e decisório para que o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), executor do projeto, possa utilizar os
recursos já aprovados na Lei Orçamentária Anual (LOA) e, finalmente, contratar
da indústria os subsistemas que faltam.
O Protocolo Complementar, que tem o objetivo de estender
a parceria com os chineses para dar continuidade aos projetos desse modelo de
satélite, seguiu o rito das edições anteriores do acordo relativo ao Programa
CBERS, mas, quando chegou à Casa Civil — pasta do governo
encarregada da formatação final dos projetos a serem
encaminhados ao Congresso Nacional — exigiu-se da Agência Espacial Brasileira
(AEB) a adição, ao documento, da chamada Cláusula de Solução de Controvérsias.
Este termo é uma praxe em todos os protocolos que tratam de cooperação
internacional e visa estabelecer uma norma protetiva para ambas as partes, para
o caso de uma eventual rescisão de contrato.
“Por ser um processo simplificado, em função de haver um
acordo maior anterior — o do CBERS-3 e 4 — avaliamos naquele momento que não
seria necessária a cláusula, mas na Casa Civil pediram que fosse incluída”,
explica Petrônio Noronha, diretor de Política Espacial da AEB.
O problema estaria no fato de a exigência surgir no
momento em que o protocolo já havia percorrido um longo caminho, que incluiu a
assinatura dos representantes do Brasil e da China. Não havendo, portanto,
possibilidade de simplesmente adicionar um novo texto. “Estamos em negociação
com a Casa Civil para verificar o melhor encaminhamento. O processo foi de
alguma maneira afetado pela mudança de governo. Agora que está normalizando o
dia-a-dia, estamos retomando as conversas”, diz Petrônio.
“Tenho certeza de que logo será resolvido, pois acredito
que haja uma vontade coletiva de que o cronograma seja cumprido, para que
possamos lançar o CBERS-4A dentro do prazo”, ressalta Amauri Montes, coordenador-geral
da Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) do INPE.
Troca de Cartas
O Protocolo Complementar começa a ser gerado a partir do
trabalho do INPE e da Academia Chinesa de Ciência e Tecnologia (CAST, sigla em
inglês) para elaboração da missão e sua viabilidade técnica. Nesta fase ocorre
a divisão de tarefas, que consiste na definição de quais subsistemas ficarão a
cargo de cada país, e a descrição do que será contratado da indústria. Depois,
esse planejamento é enviado para as respectivas agências espaciais, AEB e CNSA
(sigla em inglês), as quais os encaminham para os respectivos
ministérios, no caso brasileiro o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI, atual MCTIC).
Assim, em cerimônia no Brasil, no dia 19 de maio de 2015,
o então ministro Aldo Rebelo e o presidente da CNSA, Xu Dazhe, assinaram o
Protocolo Complementar. O próximo passo foi dado pelo MCTI, que enviou essa
documentação recebida da AEB para a Casa Civil — que, ao analisá-la, pediu que
fosse inserida a Cláusula de Solução de Controvérsias.
Uma forma prática de acrescentar a cláusula sem ter de
reiniciar o processo é a chamada Troca de Cartas Diplomáticas. O
pedido teria de partir do Brasil, através do Ministério de Relações Exteriores.
Basicamente, trata-se de um documento que faça constar a adição de um adendo ao
processo, o qual ambos os países assinam por estarem de acordo. Hoje, a AEB
aguarda o envio dessa carta à China.
“Acredito que o grande número de trocas de ministros da
Ciência e Tecnologia no último ano tenha dificultado um pouco. A expectativa
era a de que Aldo Rebelo resolveria por ter bom trânsito junto ao governo, mas
ele acabou indo para o Ministério da Defesa”, lembra Antonio Carlos de Oliveira
Pereira Junior, do INPE e gerente do CBERS-4A pela parte brasileira.
CBERS-4A Não Parou
Apesar de a verba ainda não ter sido liberada, o projeto
CBERS-4A não parou. Os técnicos e engenheiros do INPE estão empenhados no
trabalho dentro do que é possível fazer. Os subsistemas do CBERS-4A são, em boa
parte, sobressalentes dos modelos 3 e 4, e eles estão sendo testados e aperfeiçoados.
“Estamos em atividade intensa, realizando os testes com o que temos disponível.
Toda a semana, fazemos uma videoconferência com os chineses para solucionar
problemas”, destaca Antonio Carlos.
Em dezembro de 2015 foi realizada a Revisão Crítica do
Projeto (CDR, sigla em inglês) no nível de sistema, com a participação da
equipe chinesa. “Esse processo é importante porque, embora os subsistemas sejam
desenvolvidos separadamente, no momento da integração terão de funcionar juntos”,
explica o gerente do CBERS-4A.
O INPE precisa de verba para adquirir da indústria o
Painel Solar (gerador de energia para o satélite em órbita), o OBDH
(responsável pela coleta, armazenagem e distribuição de dados entre
equipamentos) e a estrutura da carga útil do satélite. A equipe brasileira
também precisará se organizar para que sejam realizadas a integração e os
testes do satélite, que desta vez devem acontecer no Brasil, em função do
revezamento, uma vez que o CBERS-4 foi integrado e testado na China. Em julho está
prevista a chegada de uma equipe chinesa, para reuniões que objetivam refinar a
organização das etapas de execução e resolver questões técnicas.
As imagens dos CBERS são usadas no controle do desmatamento
e queimadas na Amazônia Legal, no monitoramento de recursos hídricos, áreas
agrícolas, crescimento urbano, ocupação do solo, em educação e em inúmeras
outras aplicações.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 48ª – Junho/Julho de
2016
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