Dentista Brasileira Investiga nos EUA a Formação de Cárie na Microgravidade
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada hoje (10/09) no site da Agência
Espacial Brasileira (AEB) destacando que um estudo conduzido por uma dentista
brasileira aponta que a probabilidade de uma pessoa desenvolver cárie dentária
no espaço é provavelmente bem maior que na Terra.
Duda Falcão
Dentista Investiga Formação da
Cárie na Microgravidade
Jornal da Unicamp
Foto: Divulgação/Unicamp
A dentista Simone Duarte em seu laboratório.
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Brasília, 10 de setembro de 2014 – A probabilidade
de uma pessoa desenvolver cárie dentária no espaço é provavelmente bem maior
que na Terra. A constatação é de um estudo conduzido pela dentista Simone
Duarte, atual diretora do curso de Farmacologia da Faculdade de Odontologia da
New York University (NYU), instituição dos Estados Unidos.
Graduada e pós-graduada pela Faculdade de Odontologia de
Piracicaba (FOP), da Universidade de Campinas (Unicamp), a cientista comprovou
por meio de testes laboratoriais que o biofilme oral – placa dental na qual as
bactérias causadoras da cárie se organizam – tem uma massa duas vezes e meia
maior quando formado em um ambiente com microgravidade simulada, comparado ao
biofilme formado na gravidade terrestre.
“Ainda não sabemos quais fatores contribuem para esse
comportamento dos micro-organismos, mas o resultado do estudo nos fornece mais
elementos para que continuemos buscando novos métodos de prevenção e tratamento
da cárie”, afirma a pesquisadora.
Simone visitou a FOP em agosto último. Ela mantém
projetos em colaboração com professores e tem recebido estudantes da faculdade,
bem como de outras instituições brasileiras, que participam de programas de
intercâmbio com a NYU. “Desta vez, vim para participar de um evento científico
na Universidade Federal do Ceará. Aproveitei a oportunidade para me reunir com
colegas da FOP”, conta. A cientista lembra que começou a pesquisar o biofilme
oral ainda na graduação, quando fez iniciação científica.
Atualmente, diz ela, a ciência tem um considerável
conhecimento acerca do biofilme oral, mas ainda está desenvolvendo métodos
eficientes para controlar a sua formação. Os procedimentos químicos, como a
aplicação de antibióticos, não surtem bom efeito, pois as bactérias se mostram
resistentes aos fármacos quando estão organizadas na placa.
Continuidade – O
método mecânico da escovação, embora seja o mais eficaz no momento, também não
consegue remover totalmente o biofilme, que age como uma cola e fica preso aos
dentes. “Por isso é importante que continuemos pesquisando outras abordagens. O
estudo envolvendo a microgravidade nos trouxe informações relevantes sobre o
comportamento do biofilme. É preciso conhecer bem o inimigo para poder
derrotá-lo”, pondera Simone.
A pesquisadora destaca que o biofilme não está presente
só na boca. Ele também pode ser encontrado no intestino e em outras partes do
corpo, servindo de matriz para a proliferação de diversos micro-organismos,
alguns deles patogênicos. Simone resolveu incluir a microgravidade em suas
investigações depois de ler alguns artigos sobre o tema. De maneira geral, a
literatura aponta que o organismo humano passa por transformações fora da
atmosfera terrestre. No caso dos astronautas, os fluídos corporais são
alterados, os músculos se atrofiam e as células envelhecem mais rapidamente.
Além disso, também há evidências de que determinados
micro-organismos tornam-se mais resistentes no espaço. “Entretanto, nenhum
trabalho falava especificamente sobre o biofilme oral. Minha hipótese era de
que essa matriz também se tornaria mais resistente num ambiente de microgravidade”,
explica.
Num dos artigos consultados, a dentista soube que um
grupo internacional de pesquisadores havia investigado o comportamento de
células humanas na microgravidade, com o auxílio de um equipamento que simulava
em laboratório esse tipo de ambiente. Uma das integrantes da equipe era a
médica Thais Russomano, especializada em medicina espacial e professora da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRGS).
Simone consultou Thaís, que lhe forneceu mais detalhes
sobre a investigação envolvendo as células humanas. Ela foi informada, por
exemplo, que o aparelho que reproduz em laboratório o ambiente com
microgravidade é uma espécie de biorreator. “O problema é que não queria
pesquisar o comportamento de células isoladas, mas sim do biofilme”. O passo
seguinte foi tentar acesso ao equipamento, para saber se serviria aos seus
propósitos. “Um colega nos Estados Unidos me disse que tinha um biorreator fora
de uso, mas que talvez precisasse de manutenção. Felizmente, o equipamento
exigiu apenas algumas peças para voltar a funcionar”, recorda.
A dentista utilizou, então, o mesmo substrato e a mesma
bactéria para criar dois biofilmes, um mantido na microgravidade simulada e
outro na gravidade terrestre. Em apenas cinco dias, o primeiro apresentou uma
massa duas vezes e meia maior que o primeiro. “O próximo passo é tentar
entender porque os micro-organismos se tornam mais resistentes na
microgravidade. Paralelamente, continuaremos investigando novos métodos de
combate à placa. Na NYU, temos estudado o uso de luz e de produtos naturais,
como a própolis, que possam ajudar a remover o biofilme de maneira mais
eficaz”, revela.
Trajetória – O
interesse de Simone pela pesquisa surgiu ainda na graduação, quando teve
contato com métodos de investigação por meio do programa de iniciação
científica. Depois, fez mestrado e doutorado, ambos no Programa de Pós
Graduação em Odontologia, área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica na
FOP. Graças aos contatos feitos na pós-graduação, foi convidada para fazer o
pós-doutorado na University of Rochester, também nos Estados Unidos.
“Nessa época, fiquei sabendo que a NYU recrutava um
professor para a sua Faculdade de Odontologia, para substituir um docente que
se aposentou. Enviei meus dados e fui chamada para entrevista. Felizmente, me
encaixava perfeitamente no perfil que a instituição queria – alguém que fizesse
pesquisa e também lecionasse”.
Logo após ingressar na universidade foi convidada a
assumir a diretoria do curso de Farmacologia. “Penso que o convite se deveu à
sólida formação que a Unicamp me proporcionou. Na FOP, a farmacologia é voltada
às necessidades específicas da odontologia, o que não ocorre normalmente em
outras instituições, nem mesmo do exterior. Nas demais, a farmacologia atende
às demandas de diversas áreas da saúde”, esclarece. Na posição que ocupa hoje,
a dentista diz ter oportunidade de receber muitos estudantes brasileiros,
vários deles da FOP, para o cumprimento de estágios em seu laboratório na NYU.
Os brasileiros, segundo ela, são bem vistos na
universidade. “Além de apresentarem um bom nível de conhecimento, também são
muito dedicados. Esse movimento que o Brasil faz para internacionalizar a sua
ciência é muito positivo. Esse é o caminho. Hoje, não participamos de projetos
internacionais de pesquisa cientifica apenas para aprender. Em diversas áreas,
também temos muito que ensinar aos parceiros”, assegura.
Sobre a possível assimetria entre os países desenvolvidos
e em desenvolvimento no que toca à infraestrutura de pesquisa, Simone diz não
ver grande diferença. “Penso que estamos em patamares bem parecidos. A maior
disparidade talvez seja em relação à burocracia. Nos Estados Unidos, o
pesquisador não perde tanto tempo preenchendo formulários quanto no Brasil. Com
isso, ele pode dedicar mais horas ao trabalho no laboratório”.
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
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