Verba Poderia Ser Aplicada em Projetos Brasileiros
Olá leitor!
O SindCT está preparando uma série de reportagens sobre a Alcântara Cyclone Space – ACS, que serão publicadas neste Jornal.
Segue abaixo um artigo publicado no “Jornal do SindCT” de
dezembro de 2012, editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na
Área de C&T (SindCT)” destacando que verbas que poderiam estar sendo
aplicadas no PEB, são aplicadas na mal engenhada empresa Alcântara Cyclone
Space (ACS).
Duda Falcão
Ciência, Tecnologia & Inovação
Verba Poderia Ser Aplicada
em Projetos Brasileiros
Programa Espacial Brasileiro gasta milhões em parceria
com
a Ucrânia Verba poderia ser aplicada em projetos brasileiros
Por Fernanda Soares
Jornal do SindCT
O SindCT está preparando uma série de reportagens sobre a Alcântara Cyclone Space – ACS, que serão publicadas neste Jornal.
Para esta edição,
revisaremos o Acordo Brasil-Ucrânia, tão comentado nas edições do Boletim
Informativo Rapidinha e já citado algumas vezes no Jornal do SindCT.
Para entendermos o que
ocorre, alguns trechos do acordo precisam ser reproduzidos. Diz o artigo 3º:
“1. A cooperação no
âmbito do presente Acordo poderá ser desenvolvida nas seguintes áreas:
a) ciência básica
espacial, meteorologia, sensoriamento remoto, geofísica e espaço,
radio-ciência, aeronomia, biotecnologia espacial, ionosfera e plasma espacial;
b) instrumentação científica
espacial e tecnológica;
c) desenvolvimento de
microssatélites e minissatélites para fins científicos e comerciais;
d) pesquisa e
desenvolvimento de sistemas de bordo para fins de sensoriamento remoto;
e) telecomunicações
espaciais;
f) sistemas de
transporte espacial;
g) atividades conjuntas
de pesquisa e desenvolvimento, construção, fabricação, lançamento, operação e
utilização de veículos lançadores, satélites e outros sistemas espaciais;
h) infra-estrutura de
solo de sistemas espaciais, inclusive centros de lançamento.
2. Outras áreas de
cooperação espacial deverão ser determinadas por acordo mútuo entre as Partes.”
Ao ler este artigo do
Acordo é comum despertar ânimo e imaginar que o país, desde 2006 (data da
publicação do Acordo) está investindo em pesquisa e desenvolvimento espacial. Porém,
onde estão ocorrendo as atividades citadas no artigo 3º?
Até hoje, ao se falar em
ACS, só temos notícia do investimento financeiro feito na construção do prédio,
dentro do Centro de Lançamento de Alcântara-CLA, do DCTA. O SindCT visitou o
CLA em junho deste ano, mas não pôde visitar o canteiro de obras da ACS.
Segundo o diretor do CLA, nem mesmo ele pode entrar nas dependências de onde está
sendo construída a ACS sem prévia autorização.
Seis anos se passaram
desde a assinatura do acordo e ainda não houve qualquer desenvolvimento espacial
em conjunto com a Ucrânia.
Continuando a analisar o
Acordo, temos no artigo 5º:
“Este Acordo não
permite, e o Governo da Ucrânia proibirá, que os Participantes Ucranianos
prestem qualquer assistência aos Representantes Brasileiros no concernente ao
projeto e desenvolvimento de Veículos de Lançamento, Equipamentos da Plataforma
de Lançamentos, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins, a menos que tal
assistência seja autorizada pelo Governo da Ucrânia”.
O artigo, sem rodeios,
proíbe a transferência de tecnologia, tão prometida pelos governos quando há
assinatura de acordos de cooperação entre os países.
O artigo 6º estabelece
mais proibições:
“As Partes assegurarão
que somente Participantes Ucranianos, cujos procedimentos de segurança tenham
sido aprovados pelo Governo da Ucrânia, controlarão o acesso a Veículos de
Lançamento, Equipamentos da Plataforma de Lançamentos, Espaçonaves,
Equipamentos Afins e Dados Técnicos ucranianos.”
E, por fim, a
participação brasileira é descrita no artigo 7º:
“Aos Representantes
Brasileiros será permitido descarregar veículos transportando Veículos de
Lançamento, Equipamentos da Plataforma de Lançamentos, Espaçonaves,
Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos abrangidos por este Acordo e entregar contêineres
lacrados nas áreas de preparação de Veículos de Lançamento ou Espaçonaves”.
Ou seja, o Acordo prevê
que aos brasileiros estão reservadas as tarefas sem qualquer conteúdo
tecnológico.
O acordo causa revolta à
comunidade científica brasileira, totalmente capaz de projetar veículos
lançadores de qualidade, mas que, infelizmente, sem investimentos na área.
O dinheiro destinado à
construção da ACS, que não trará benefício tecnológico ao país, poderia ser
aplicado na pesquisa e desenvolvimento de nossos próprios veículos lançadores,
cuja base de lançamento está pronta para ser utilizada.
Desde o acidente com o
VLS, que vitimou 21 servidores do DCTA, pouco foi investido no projeto. O corte
de verbas ocorre a cada ano e o DCTA ainda não conseguiu realizar nenhum outro
lançamento do VLS.
Um bom programa espacial
deveria ser capaz de realizar, no mínimo, quatro lançamentos ao ano, como
ocorre em outros países.
No site da ACS é
possível encontrar um artigo mostrando o otimismo do Diretor-Geral da ACS:
“A expectativa é que
sejam criados cursos de capacitação e construídos mais e melhores hospitais e
escolas na região. O início da operação da Alcântara Cyclone Space fará de
Alcântara referência mundial em lançamento de foguetes e levará para a região
investimentos, o que vai gerar empregos diretos e indiretos e renda.”
O Brasil, no CLA, possui
a Torre Móvel de Integração, reconstruída após o acidente com o VLS - Torre já foi testada e
aprovada por servidores do DCTA - os
projetos VLS e VLM, capazes de realizar lançamentos de satélites e
microssatélites; Centros de Pesquisa e Desenvolvimento para o setor
aeroespacial; além de servidores públicos altamente especializados no setor.
O Programa Espacial
Brasileiro precisa de investimentos nos institutos brasileiros, nos
pesquisadores brasileiros, nos produtos brasileiros. Investimentos em
cooperação deveriam ocorrer somente quando houvesse “ganho” para todos os
cooperados.
Que ganhos o Brasil terá
com este acordo que só proíbe a transferência de tecnologia e utiliza a
mão-de-obra brasileira como mero transportadora de bagagem?
O “Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas Brasil-Ucrânia” é um instrumento legal, aprovado pelo
governo brasileiro, que proíbe quaisquer participações tecnológicas brasileiras
no empreendimento.
A ACS só trará
benefícios para a Ucrânia, que utilizará de nossa base, nossas instalações,
nosso dinheiro, para lucrar com o lançamento do veículo ucraniano.
Investimentos
O projeto ACS prevê uma
parceria internacional entre Brasil e Ucrânia orçada em R$1 bilhão, metade do
investimento para cada país, e lucros rateados no futuro como lançamento
comercial de satélites para o espaço.
Em 2010 o governo
brasileiro fechou um contrato sem licitação de R$ 546 milhões com as
construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht, responsáveis pelas obras da ACS. (A
obra envolve 1.300 trabalhadores e deveria ser concluída em outubro deste ano.)
Em 2011, o Brasil já
havia repassado diretamente à ACS R$ 218 milhões, enquanto a Ucrânia bem menos,
R$ 98 milhões.
A presidente Dilma
mandou auditar o projeto e não repassar mais dinheiro até que a Ucrânia
honrasse sua parte. Aloísio Mercadante, na época Ministro de Ciência, Tecnologia
e Inovação, cortou os R$ 50 milhões previstos no orçamento da ACS para 2011.
Em julho de 2012, a
presidenta Dilma Rousseff assinou decreto autorizando a transferência R$ 135
milhões da União para aumento de capital da Empresa Binacional Alcântara Cyclone
Space.
O dinheiro a ser
transferido é dos orçamentos públicos deste ano e do ano passado. Conforme o
decreto, R$ 50 milhões são do crédito ordinário aberto em favor do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (previsto na Lei nº 12.581/2011) e R$ 85
milhões estavam inscritos em Restos a Pagar (Lei nº 12.595/2012).
Por ser binacional, a
empresa não presta contas a órgãos como Tribunal de Contas da União - TCU e
Controladoria-Geral da União - CGU.
Atrasos e Impedimentos
A promessa inicial era
realizar o primeiro lançamento do Cyclone-4 de solo brasileiro em 2010. Com os atrasos de repasses, o discurso oficial passou a ser 2013.
Ao final de 2012, a
aposta é que, se ocorrer, será só a partir de 2015.
Com relação aos
satélites que serão lançados através do Cyclone-4, um impedimento maior pode
vir dos Estados Unidos. Quase todos os satélites possuem peças americanas e não
podem ser lançados de países que não possuam um acordo de salvaguardas com os
EUA, algo que o Brasil ainda não possui.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 20ª - Dezembro de 2012
Comentário: Pois é leitor, esse foi o acordo elaborado e
assinado pelo de..loide do Roberto Amaral, e endossado por questões políticas pelo
irresponsável humorista Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, mesmo assim,
infelizmente a nossa Petição Pública online da ACS não conseguiu decolar, tendo
apenas até o momento 195 assinaturas. Isso em minha opinião demonstra que a
nossa iniciativa não valeu de nada, ou valeu muito pouco e que o compromisso e
atitude citadas por mim quando do lançamento da Petição não foi compartilhada
nem mesmo pela comunidade espacial como esperávamos. Nesses dois últimos meses
tentei passar para as pessoas, principalmente para os mais jovens (e olhem que
foram muitos contatos que realizei) a importância de suas assinaturas nessa
Petição, mas a verdade é que quando se fala em Brasil as pessoas só estão
interessadas em Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e coisas afins, e sem o apoio de
povo, jamais faremos as mudanças que o PEB necessita. Confesso que estou desestimulado,
e a cada dia que passa solidifica a minha intenção de descontinuar com o blog
no final de junho, já que acredito que estamos caminhando a passos lagos para
mais uma década perdida na área espacial, isto é, se não vier acontecer coisa
pior. Nada mais a acrescentar.
Oi Duda e PessoAll,
ResponderExcluirPrimeiro diretamente a você Duda. Gostaria e faço campanha para que você decline da idéia de interromper o blog. Até entendo a sua desmotivação, mas tenho uma receita para isso.
É o fato de sentir uma necessidade interna incansável de fazer as coisas mudarem para melhor no nosso País (entre elas a questão espacial). Este é um trabalho de formiguinha. Afinal já temos 192 pessoas conscientizadas pela assinatura da petição. Se não é ela que vai fazer a diferença no momento, podemos contar com 192 novas ideias e iniciativas de como fazer alguma coisa.
Vamos lá, vamos continuar martelando, discordando, concordando, mas sempre martelando nesse assunto, afinal, mesmo pouca água pingando num mesmo ponto pode furar uma pedra certo?
Em relação ao artigo, insisto mais uma vez. Uma boa parte dos profissionais hoje ligados à pesquisa espacial, não são servidores públicos (o que até é bom), mas independente disso, diferente da nossa petição, onde pessoas das mais variadas origens aderiram, estamos falando de um conjunto de profissionais, técnicos, engenheiros e cientistas, de altíssimo nível, supostamente esclarecidos, de uma origem comum, a área espacial brasileira, que assistem a tudo isso sem nenhuma atitude mais firme.
Alguns argumentam que existe a parte dos servidores da área administrativa que estão satisfeitos com a situação, pois para eles pouco importa se existem pesquisas, ou projetos, pois a eles só interessa o salário no fim do mês, e esse contingente é muito maior que o de técnicos engenheiros e cientistas. Mas ai, cabe uma pergunta: se não tiver nenhum técnico, engenheiro ou cientista trabalhando, de que servem essas pessoas do setor administrativo?
Então esses absurdos, que foram firmados nesse mal engendrado acordo, não me causam nenhum desestímulo. Deviam sim causar uma reação nesses profissionais, que não só não vão nem poder chegar perto dos famigerados e poluentes foguetes, mas pior, nem sabia disso, mas sequer vão poder chegar perto da plataforma de lançamento. Ou seja, nem aquela possibilidade que aventamos em artigos passados de utilizar a plataforma de lançamento para outros foguetes será possível.
E pra completar, parece que criaram um território Ucraniano dentro do Brasil, pois se nem o diretor do CLA pode visitar o canteiro de obras...
Quando Os Estados Unidos tentaram fazer a mesma coisa anos atrás foi um "Deus nos acuda" agora fizeram a mesma coisa debaixo dos nossos narizes e tudo bem...
Continuo afirmando: se o pessoal que está diretamente envolvido no programa espacial, se acomoda com essa situação, não esperem que o governo vá tomar alguma atitude que a melhore.
Isso simplesmente NÃO vai acontecer. Como o Duda ressaltou, o “governo” nos próximos anos só vai ter olhos para Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, que afinal, na concepção tacanha deles, “é o que dá voto”.
Abs.
Pelo pequeno trecho do acordo transcrito na reportagem, ele é uma cópia fiel do "Acordo de Salvaguardas Tecnológicas Brasil-EUA" que está engavetado no Congresso ou no Senado; o texto é igualzinho. Basta substituir "Ucrânia" por "EUA" e "ucranianos" por "norte-americanos". Provavelmente foi uma imposição dos EUA à Ucrânia.
ResponderExcluirCreio que será em cima da hora que muitos vão procurar se informar melhor. Não é bom parar a campanha (e nem o blog), pois pode ser que alguém de influencia se sensibilize ou que algum veículo de comunicação descubra e torne publico esse desastre.
ResponderExcluirÉ nessas horas que se revelam quem realmente são o Greenpeace e as outras ONGs que andam defendendo comunidades ou causas. Quando existe algo sério, como o perigo do Cyclone-4 para o meio ambiente, fazem um silêncio...
ResponderExcluirMas quando se trata de erguer barragens, ampliar o território de lançamentos de foguetes, e outros interesses que vão levar o Brasil para a frente, eles estão lá inviabilizando e lutando em prol de sei lá o quê.
Sabemos que são instituições pagas por estrangeiros para minar nosso desenvolvimento, mas não custa nada relembrar no momento exato (com essa notícia da continuação da nefasta ACS) o tamanho da hipocrisia dessas ONGs.
Eu compartilho dessa sensação.
ExcluirA maioria se não a totalidade das ONGs e outras instituições, inclusive alguma tidas como "religiosas", em sua maioria defendem interesses contrários aos do País como um todo.
Só não vê quem não quer.
Pois é, caro Duda e amigos. Se vocês vissem o que se passa com a educação, outro mote de campanha,ficariam de cabelos em pé.Às vezes fico pensando se não seria melhor ser como a maioria que só se ocupa de futebol,cerveja e novela. Assim talvez sofreríamos menos. Ao invés deles pagarem para usar o melhor ponto de lançamento do planeta nós entregamos o ponto e, ainda, a infra-estrutura de graça. O "Acordo" é tão bom que os ucranianos parecem ainda ter dificuldade em acreditar no presente que a sorte lhes proporcionou.
ResponderExcluirEsse contrato é para satisfazer os EUA, onde a UCRÂNIA também tem interesses. O detalhe é que, se não houver nenhuma vigilância externa... tudo é possível.
ResponderExcluirSerá que o contrato cita soldados Americanos fazendo a vigilância da ACS?
Como Brasileiro quero acreditar que esse projeto trará sim grandes avanços para o programa espacial, depois que os Ucranianos se forem, estaremos em outro patamar, com certeza.