Novo Diretor Quer a Indústria nos Projetos Espaciais do INPE

Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista com o novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Fernando Perondi, postada hoje (26/05) no site do jornal “O VALE”, onde o mesmo defende a participação da indústria nos Projetos Espaciais do INPE.

Duda Falcão

NOSSA REGIÃO

Novo Diretor Quer a Indústria
nos Projetos Espaciais do INPE

Em entrevista, Leonel Perondi também fala da importância
da parceria com a China e da contratação de pesquisadores

Arthur Costa
São José dos Campos
26 de maio de 2012 - 02:43

Victor Moriyama

Desde a última segunda-feira ocupando a cadeira de diretor do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José, o engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Leonel Fernando Perondi já escolheu os principais desafios a serem vencidos por sua gestão.

Em entrevista a O VALE, o gaúcho de 54 anos, natural de Caxias do Sul, ressaltou que quer fortalecer a indústria nacional do setor aeroespacial, aumentar o quadro de servidores do instituto e ainda dinamizar o lançamento do satélite sino-brasileiro CBERS-3 este ano.

Perondi também falou sobre a reestruturação do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) e da relação do INPE com a AEB (Agência Espacial Brasileira). Confira os principais trechos da entrevista.

A palavra ‘desafio’ foi usada tanto no discurso de posse tanto do ministro do MCTI, Marco Antonio Raupp, como do presidente da AEB, José Raimundo Coelho. Quais são seus desafios na gestão do INPE?

Temos programado para este ano o lançamento do CBERS-3. Esse é o grande desafio de curto prazo. O INPE, como executor do programa, tem que fazer com que ele obtenha seu resultado. Outro desafio é de gestão. O INPE é uma instituição grande, temos aqui cinco grandes áreas. São cerca de 3 mil pessoas que circulam por aqui entre servidores, alunos de pós-graduação e colaboradores. Estamos falando de São José, mas também há Belém (PA), Alcântara (MA), Santa Maria (RS) e Cachoeira Paulista.

Há necessidade de reforçar o quadro de servidores para superar esses desafios?

Este é outro desafio, mais estratégico, que é a reposição do quadro, que já vem sendo discutida há muito tempo. Nós fizemos um trabalho em 2010 e descobrimos que metade do quadro de 2010 se aposentaria até 2016. Como o INPE é uma instituição do conhecimento, existe a necessidade de que para cada pessoa que esteja se aposentando tenhamos uma para aprender com ela. A reposição que estamos falando não é apenas das tarefas do dia a dia, são duas reposições: uma para manter a operacionalidade hoje e outra para passar esse conhecimento. Esse conhecimento de 20, 30 anos, uma vez perdido não é mais reposto. É claro que você não vai fazer uma contratação de uma só vez. É preciso definir um cronograma de contratações que contemple em cinco anos esse número de pessoas que saíssem.

E como está este processo?

Para este ano já está prevista a abertura de 107 vagas, o que de certa forma já significa um passo na direção dessa reposição estratégica do quadro. O edital (do concurso público) será publicado no próximo mês. É feito concurso e em três meses o pessoal já está tomando posse. Se a cada ano tivéssemos 100 vagas, estaríamos muito bem.

O sindicato dos servidores teme uma subordinação o INPE à AEB com a nova estrutura do MCTI. Isso irá acontecer?

Essa questão está sendo tratada desde o ano passado. Alguns desenhos sobre como fica esse sistema foram feitos e, em um deles, você teria tanto a parte de satélites e lançadores agregadas à AEB. Você teria a AEB e, abaixo dela, institutos. É uma discussão que não é nova, mas, acho que tanto no modelo atual quanto nesse novo modelo, o INPE mantém sua integridade quanto instituto. No ponto de vista de diretor do instituto, de gestor, a situação não muda. Não há um temor imediato de que haveria uma situação diferente e, como foi dito no passado, de que o INPE poderia desaparecer. Com relação às verbas, elas já passam pela AEB. Isso também não mudaria o fluxo de recursos.

Sua gestão é de continuidade ou diferente a do ex-diretor Gilberto Câmara?

O INPE tem um papel muito grande na parte de política industrial e isso é algo que não apareceu muito na última gestão. É um tema que terá um diferencial nesta gestão. Quando você financia um programa de satélite no INPE, a primeira coisa que o planejamento pergunta é: quanto custa comprar fora e quanto custa fazer no Brasil? Se você for comparar, vai ser muito mais barato comprar fora. Então por que fazer no Brasil? Aí entra toda a parte de capacitação industrial. Você vai fazer satélite contratando a indústria brasileira de tal maneira que você vai colocar grandes desafios para ela, mitigando riscos de modo que ela se capacite e passe a fazer sistemas mais sofisticados do que nos já produzimos. Nós gostaríamos de desenvolver mais esta parte, de abrir mais essa discussão. Não é uma crítica à antiga gestão, é uma adição.

ESTRUTURA

Programa Espacial Muda Toda a Cúpula em 5 Meses

São José dos Campos - Com a nomeação de Leonel Perondi no INPE, a cúpula do programa espacial brasileiro completa um processo de mudança em cinco meses.

A primeira alteração foi no comando do MCTI. O então ministro Aloizio Mercadante deixou a pasta para assumir o Ministério da Educação, dando lugar a Marco Antonio Raupp no final de janeiro.

À época, o INPE era dirigido pelo diretor demissionário Gilberto Câmara e uma comissão interna havia sido elaborada para definir uma lista tríplice de candidatos a assumir o posto de Câmara. A lista estava pronta antes da saída de Mercadante, no entanto, ela não havia sido divulgada até então.

Antes de anunciar o novo diretor do instituto, Raupp decidiu convidar seu amigo José Raimundo Coelho para assumir a AEB, vaga ocupada por Raupp antes de assumir o controle do MCTI.

Estratégia - A intenção do ministro era escolher alguém com o mesmo perfil para dinamizar o programa espacial brasileiro, que vive com cronograma apertado de lançamentos. Além do CBERS-3, o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélite) também está programado para entrar em órbita este ano.

Coelho aceitou o convite e foi nomeado no último dia 4. Ele tomou posse na última quarta-feira.

A nomeação de Perondi no INPE aconteceu nove meses após o pedido de demissão de Gilberto Câmara.

PERFIL

Perfil do Novo Diretor

Nome: Leonel Fernando Perondi

Nascimento: 31 de março de 1958, em Caxias do Sul (RS).

Formação Acadêmica: graduação em engenharia pelo ITA, mestrado em engenharia e tecnologia espaciais pelo INPE e doutorado pela Universidade de Oxford, Inglaterra.

Atuação Profissional: chegou ao INPE em 1982, atuou em diversas áreas, foi coordenador de Engenharia e Tecnologia Espacial, entre 2002 e 2005, foi gerente geral do Programa Sino-Brasileiro (CBERS), já atuou como diretor-substituto do INPE. Também foi professor universitário.

O INPE Hoje

Enfrenta falta de verbas, vários projetos atrasados, como o CBERS, e, mais recentemente, se viu envolvido em denúncias de supostas irregularidades em contratos firmados com a FUNCATE.

VERBAS

Perondi Quer Uso Legal da FUNCATE

O novo diretor do INPE defendeu o uso de verbas provenientes da FUNCATE (Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais) desde que sejam legais. “Estamos sendo auditados correntemente por órgãos de fiscalização. Não iremos defender nenhum modelo que não seja estritamente ligado à legalidade”, disse. O TCU investiga contratos da Fundação com o INPE.


Fonte: Site do Jornal “O VALE” - 26/05/2012

Comentários

  1. Eu diria que o INPE vai renascer das cinzas com a posse do Perondi! É um homem de fibra e grande visão!

    Só completando a resposta porque comprar um satélite que é mais barato lá fora do que no Brasil!! Um outro ponto a favor de comprar no Brasil é simples o dinheiro fica no Brasil não vai para o exterior! Mera questão econômica!

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  2. Um bom começo, dado que existe a premissa de integrar os esforços da AEB e do INPE para produzir um programa espacial mais robusto. Capacitar o setor privado e estimular a indústria de lançamento de satélites é essencial para consolidar o país como nação forte do setor aeroespacial.

    O projeto de médio prazo que vem se desenhando dentro do MCTI apenas reforça ainda mais a necessidade de apoio mais constante ao projeto do VLS e do desenvolvimento de novos lançadores, do contrário, continuaremos contratando lançadores de tecnologia soviética, ou mesmo nos rendendo aos novos provedores de veículos lançadores privados do EUA, como SpaceX, Orbital, ULA e tantos outros.

    Aos que apenas visitam o blog na busca por atualizações, por favor comentem e deixem a sua opinião. É essencial que façamos maior divulgação e discussão do que é feito em uma das áreas mais estratégicas do nosso país.

    Abs,
    Danilo

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  3. Olá Adolfo!

    Não tenho dúvida da competência do senhor Leonel Perondi e nem que possa realizar uma boa gestão a frente do INPE. Entretanto para que isso ocorra ele terá que ter subsídios que lhe permitam realizar os objetivos traçados pela sua gestão. E é ai que a coisa pega, pois esse subsídios são exatamente recursos financeiros e humanos que o governo se recusa a liberar, seguindo pelo segundo ano consecutivo na contra-mão do apoio que o PEB necessita. O gás que ele aparentemente apresenta nesse momento era o mesmo que o Gilberto Câmara apresentou no início de sua gestão e no final deu no que deu. Com esse energúmenos no poder, fica muito difícil se realizar uma programa espacial com seriedade nesse país.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  4. Olá Danilo!

    Bota médio prazo nisso. Concordo que o trabalho que vem sendo realizado visando dar uma robustez ao PEB chega em boa hora, mas não confunda as coisas, já que o fato desse trabalho está sendo realizado no âmbito da AEB e do MCTI não significa necessariamente que o mesmo venha ser aplicado ou mesmo funcionar como se espera. Na verdade o mais provável é justamente o contrario. É preciso que o leitor entenda que não existe no governo ou no Congresso o interesse real de mudar nada com relação ao PEB, pois isso implicaria em comprometimento político com um programa que não tem apelo político nenhum e não gera voto, e consequentemente não é interessante na luta pelo poder. Eles não tão nem aí para o país e sim para seus próprios umbigos, e as reais necessidades do Brasil e de seu povo são meros detalhes e só tem algum valor quando elas estão alinhadas a luta pelo poder, como programas sociais de fachada, eventos esportivos ou obras faraônicas, nesse caso por motivos não tão nobres.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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    Respostas
    1. Concordo plenamente quanto a falta de motivação política, também sou completamente contra este planejamento de republiqueta socialista de pão e circo que temos hoje em nosso país, porém eu sou um otimista incurável. Eu sei que provavelmente daqui a cinco anos vamos estar reclamando dos passos de formiga que o PEB vem dando, mas não custa apostar no azarão uma vez ou outra, não é mesmo?

      Abs,
      Danilo

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  5. Olá Danilo!

    Eu entendo, mas provavelmente sou mais velho do que você e minha fase de apostar em azarões já terminou a muito tempo. Entretanto, espero e torço que tenha mais sorte do que eu tive.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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