Cortes em Ciência e o País em Marcha à Ré
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo da biomédica Helena Nader postado
dia (14/03) no site do “Jornal da Ciência” da SPBC destacando que o Brasil anda
em marcha ré com os recentes cortes no setor de ciência e tecnologia.
Duda Falcão
Notícias
Cortes em Ciência e o País em Marcha à Ré
Helena Nader*
14/03/2012
Os cortes de R$ 1,48 bilhão (22%) e de R$ 1,93 bilhão
(5,5%), respectivamente, nos orçamentos dos ministérios da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), anunciados recentemente pelo governo
federal, são deveras preocupantes quando se tem como compromissos o
desenvolvimento sustentável, a competitividade da economia brasileira e o
bem-estar de nossas gerações presentes e futuras.
Não se duvida das necessidades macroeconômicas que
levaram o governo a promover uma redução de R$ 55 bilhões em seus gastos em
2012. Mas não podemos concordar que, em nome do aumento do superávit primário e
da redução da dívida pública, seja comprometido o futuro do Brasil e dos
brasileiros.
Não sabemos o quanto os cortes no MCTI e no MEC ajudarão
no desempenho das contas federais, mas temos certeza sobre as suas repercussões
na vida do País: prejuízos às medidas que visam reduzir o nosso inaceitável
déficit educacional e à projeção no cenário científico e tecnológico mundial,
além da diminuição da já precária competitividade da indústria brasileira.
Esses aspectos, convenhamos, não condizem com a condição
de sexta economia mundial, posição que foi comemorada pelo governo.
Educação de qualidade e produção de C&T avançadas são
prioridades para o desenvolvimento nacional. Para ficar na comparação apenas
com dois emergentes, a Coreia do Sul ocupa a 15ª posição no ranking de IDH e
tem renda per capita PPC (paridade de poder de compra) de US$ 31.753; a
Finlândia tem a 22ª posição no IDH e renda per capita PPC de US$ 40.197. Já o
Brasil ocupa a 84ª posição, com renda per capita PPC de US$ 11.767. Os
investimentos públicos e privados em P&D (pesquisa e desenvolvimento)
nesses países com relação ao PIB: Finlândia, 3,84%; Coreia do Sul, 3,36%;
Brasil, 1,19%.
É preocupante a morosa evolução dos dispêndios em P&D
com relação ao PIB no Brasil. Se em 2001 o investimento público em P&D
correspondia a 0,57% do PIB, em 2004 esse índice baixou para 0,48%. Em 2010,
chegou a 0,63%, mas há o receio de que o valor volte a cair no fechamento das
contas de 2011, uma vez que no ano passado, apesar do crescimento do PIB,
aconteceram cortes nos gastos com P&D.
Há que se notar que os cortes no MCTI têm um agravante.
Boa parte do seu orçamento sai do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FNDCT), constituído por contribuições compulsórias de setores
como petróleo, energia elétrica, transporte e informática.
No entanto, o governo federal, com a justificativa do
superávit primário, retém parte dos recursos do FNDCT que, por lei, deveriam
ser aplicados em ciência, tecnologia e inovação. Estudos apontam que de 2006 a
2010 a arrecadação do FNDCT somou R$ 11,8 bilhões, dos quais o governo reteve
R$ 3,2 bi.
É importante que a sociedade saiba que as nossas reclamações
contra os cortes em ciência não tem qualquer relação com questões de natureza
corporativa ou salariais. Nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento da
ciência, da tecnologia e da inovação como componentes fundamentais para o
crescimento socioeconômico do Brasil.
Temos claro que os cortes no MEC e no MCTI causarão
prejuízos infinitamente maiores do que o montante que se está economizando
agora.
* Helena Nader, biomédica, é presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), membro da Academia Brasileira de
Ciências e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Artigo
publicado na Folha de São Paulo de hoje (15).
Fonte: Site do Jornal da Ciência de 14/03/2012
Comentário: Precisa acrescentar mais alguma coisa? Gostaríamos de agradecer uma vez mais o leitor José Ildefonso pelo envio desse artigo.
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