Alberto Santoro, em Busca da Origem do Universo
Olá leitor!
Segue abaixo uma entrevista postada dia (14/04) no blog “Big Bang em Prosa” do site “O Povo Online” do “Jornal O Povo” do Ceará, com o físico brasileiro Alberto Santoro, líder da equipe brasileira no Grande Colisor de Hádrons (Large Hadron Collider - LHC).
Duda Falcão
Alberto Santoro, em Busca da
Origem do Universo
Por André Teixeira
14/04/2011 - 22:29
Alberto Santoro, físico que lidera a equipe de brasileiros no LHC
Na maior máquina já criado pelo ser humano, na fronteira entre França e Suíça, fica o local de trabalho do amazonense Alberto Santoro. Ele lidera um grupo de brasileiros no Grande Colisor de Hádrons - da sigla em inglês LHC, Large Hadron Collider.
A estrutura do LHC trata-se de um túnel de 27 quilômetros de extensão, 175 metros abaixo da terra. Lá milhões hádrons (partículas que interagem com as forças nucleares) se chocam a velocidades bem próximas à da luz: 300 mil quilômetros por segundo. O evento simula o Big Bang, em menores proporções.
O físico Alberto Santoro atendeu ao pedido do Big Bang em prosa e falou conosco por email, direto do CERN (Organização Européia para Pesquisa Nuclear (do francês Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire). Santoro explica como funciona o LHC e como sua aplicação pode trazer benefícios à humanidade.
Perguntamos também sobre o bólson de Higgs, a partícula fundamental que teria dado origem à massa de todo o Universo, numa fração de bilionésimos de segundos após ao Big Bang.
Com a palavra, o caçador de partículas.
O LHC ganhou as manchetes de jornais no mundo inteiro, mas a utilidade ainda não é clara para parte do público leigo. Você pode nos resumir o que é O LHC?
LHC é um acelerador de prótons que faz chocar prótons contra prótons a altíssimas energias chegando em breve a 14 trilhões de electron-volt. A partir dos choques dos prótons capta-se partículas produzidas pela interação dessas duas partículas. O objetivo desses experimentos é descobrir como funcionam as leis fundamentais da natureza e seus primeiros tijolos. Esta é a única via de se penetrar no que a matéria tem de mais íntimo e estabelecer novas leis da Física. Hoje temos um quadro bastante grande de partículas descobertas nesses experimentos que formam o que chamamos de Modelo Padrão. Faltam coisas para completar o quebra-cabeça criado pela natureza. O procedimento com essas máquinas é aquele movido pela mesma curiosidade do homem milenar e que tantas outras culturas investigaram. A diferença é que hoje dispomos de tecnologias que nos permitem avançar. A luneta, o microscópio foram também grandes invenções que levaram a novos conhecimentos muitas vezes só percebidos muitos anos depois de sua existência.
Que tipo de descoberta o LHC poderia nos trazer e quais benefícios tais descobertas trariam para humanidade?
Em primeiro lugar as descobertas no LHC e seus quatro experimentos, ALICE, ATLAS, LHCb e CMS tem objetivos bem precisos dentro do quadro da Ciência. Os beneficios para a humanidade já existem desde que começamos a fazer Física de Partículas e Aceleradores. Uma vasta Gama de tipos de Câncer é tratado com muita eficiência com aceleradores especificamente construídos para isto. Você desfruta de uma instrumentação médica que melhora muito as condições de vida e com ela descobre-se doenças, como por exemplo as ressonâncias magnéticas. A evolução de toda a industria eletrônica e computacional usa instrumentação inicialmente inventada para a Física de Partículas. As pessoas se espantam quando dizemos que quando tomam um líquido para fazer certas radiografias, que elas passam a ser bombardeadas por pósitrons e não sabem que isto é antimatéria. Não terminaríamos hoje de escrever sobre invenções que vieram desse universo de instrumentação que usamos na Física de Partículas. Há muita coisa mesmo. Mas é fundamental que se faça diferença entre estas aplicações e a prática da Física de Altas Energias. Estamos preocupados com o objetivo primeiro que é o de entender as interações fundamentais da natureza. E que estas aplicações são os subprodutos desses experimentos. Seria demagogia dizer “olhem só porque fazemos esta Física!” É preciso que se entenda que fazer coisas por prazer e curiosidade é muito importante. Os poetas fazem poesias para o prazer do homem, os cientistas fazem ciência para melhorar nosso conhecimento e é claro ter uma vida mais completa resolvendo os conflitos com o Universo. Há uma grande lista de novas descobertas e Físicas que estão sendo estudadas no LHC. A mais popular é o HIGGS que já chamado até de partícula de Deus por físicos mais atrevidos.
O notável Hawking apostou no fracasso da busca por Higgs. Qual sua opinião sobre o palpite dele? Você acredita que dessa vez podemos encontrá-la?
Higgs não pode ser colocado na base das imaginações prepotentes de uns e outros. Tem que ser visto com humildade. Isto é, foi fruto de muito trabalho de pesquisas por Físicos que tem uma história de trabalhos importantes. Se o Higgs for descoberto, ótimo. Assim encontramos uma forma de compreender o mecanismo de aparecimento das massas para as partículas. Se não for descoberto, maravilha, temos que procurar outros mecanismos de explicar a existência das massas. O nosso comportamento é um só: investigar a existência ou não desse objeto e de muitas outras coisas. Exemplo, porque o universo produziu tanta matéria e tão pouca antimatéria? Temos tudo nas mãos para encontrar o Higgs. Isto não quer dizer que ele exista ou que queira aparecer.
O que a possível descoberta do Higgs representa para o futuro da física de partículas?
Mais conhecimento sobre as interações fundamentais. Exclusão de outras hipóteses de origem das massas.
Quem são e o que fazem os brasileiros que estão no CERN?
Os brasileiros no CERN estão trabalhando da mesma forma que todos os Físicos que trabalham no CERN. Temos colegas que estão envolvidos com os quatro experimentos. E isto quer dizer com tópicos diferentes de Física. Quando estamos no CERN participamos de plantões para controlar o experimento, participamos das reuniões que são inúmeras, das semanas dedicadas a cada experimento, da construção de detectores, de desenvolvimento de softwares, etc. Há um grande número de atividades e todos são absolutamente necessários.
O que o Brasil precisa para aumentar sua participação em projetos científicos ambiciosos, de escala mundial?
No caso do CERN, passar a ser membro associado, como País. Mas há um conjunto de coisas que são muito importantes como acabar com o excesso de burocracia que prejudicam projetos, causam atrasos enormes e acabam por nos desclassificar. Junto com o aumento dos orçamentos para a pesquisa tem que vir uma desburocratização; do contrário, não se progride.
Fonte: Blog “Big Bang em Prosa” do Site “O Povo Online” - 14/04/2011
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