A Ciência na Rota das Estrelas
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada hoje (17/04) pelo site do jornal “Tribuna do Norte” destacando as atividades do astrônomo Renan Medeiros e seu grupo junto a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos do Espaço (INEspaço).
Duda Falcão
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A Ciência na Rota das Estrelas
Publicação: 17 de Abril de 2011 às 00:00
A aparência não lembra em nada o esteriótipo de um cientista. Cabelos longos, boné e brinco na orelha esquerda. Um desavisado poderia até acreditar, por conta da aparência, que Renan Medeiros vive no mundo da lua. E não estaria totalmente equivocado. Um “caçador de planetas”, segundo definição própria, o astrônomo Renan Medeiros é provavelmente o brasileiro a dedicar mais tempo à observação do céu. Muito além do desejo de contemplar o cosmos, a atividade do professor Renan, e de todo o seu grupo, é a responsável por colocar a UFRN na rota das grandes pesquisas sobre o espaço no mundo.
Sempre que fala sobre o próprio trabalho o professor Renan Medeiros expressa dois lados da mesma questão, aparentemente contraditórios. Em primeiro plano, a ciência cara, lucrativa e estratégica que a astronomia se tornou a partir do século XX, com investimentos milionários e forte competição entre países. Um pouco mais profundamente está o deslumbramento do cientista com o céu. Renan fala com paixão sobre o próprio trabalho. E ele não é o único. Os homens se encanta com as estrelas desde sempre, todos no fundo à procura de responder a mesma pergunta: de onde viemos?
A astronomia não tem dúvidas que essa resposta está no céu. Os governos também não. Por isso, a parceria entre cientistas, instituições e empresas é mais do que bem vinda e desaguou num importante projeto capitaneado no Brasil pela UFRN: a missão CoRot. Os pesquisadores potiguares são os únicos não europeus a integrar o projeto cujo objetivo é estudar e descobrir novas estrelas e planetas, além de encontrar planetas com condições de vida semelhantes à Terra. Com um investimento de mais de R$ 400 milhões, a missão CoRot conseguiu descobrir oito novos planetas, porém nenhum deles com condição de abrigar a vida.
A busca no entanto não pára. Um novo projeto liderado por países europeus e pelo Brasil está em desenvolvimento com objetivos bem mais ousados. Apto a mapear até um milhão de estrelas, o satélite Plato (em português, Platão) entrará em atividade em 2018, mas já conta com equipes de físicos, matemáticos e engenheiros trabalhando para operacionalizá-lo. A exemplo do CoRot, o Plato terá no Brasil a coordenação do professor Renan Medeiros. Entre professores e alunos de pós-graduação, a UFRN deve contribuir com 30 pesquisadores no desenvolvimento do satélite Plato, muitos deles chamados a trabalhar em solo europeu.
“Um dos principais objetivos é encontrar planetas dentro da chamada zona de habitabilidade, ou seja numa distância da estrela semelhante à da terra. O maior tesouro da Astronomia hoje é descobrir um planeta onde possa haver vida”, resume Renan. E complementa: “Apesar de a Astronomia estar sempre no limite da tecnologia, podemos afirmar com certeza que, se não encontramos ainda planetas habitáveis, é porque há limitações tecnológicas sérias”.
Além disso, estudar o comportamento das estrelas e dos planetas no seu entorno é fundamental. É preciso saber como a estrela se comporta, como nasceu, como permaneceu e em que condições será extinta. “Quando estudamos essas estrelas estamos indiretamente preocupados com a nossa própria origem e fim, podemos ter informações de como irá se comportar o nosso Sol, por exemplo, no seu processo de envelhecimento”, explica.
Independente do quão longe vá o conhecimento humano, as estrelas e os planetas irão continuar as suas rotas normalmente. Conhecer o funcionamento do cosmos não traz nenhuma modificação prática imediata e existe muito mais para alimentar uma necessidade subjetiva, talvez a maior de todas, para o humano: tentar entender a própria origem. Observando esse panorama, um leigo poderia acreditar não haver aplicações práticas no terreno da Astronomia, mas na verdade não poderia estar mais equivocado (veja quadro).
Professor do RN Coordena Instituto Nacional
Além de pesquisar as características de estrelas e planetas distantes, o professor Renan Medeiros coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos do Espaço. Trata-se do projeto do Governo Federal para alçar o Brasil ao posto de protagonista na área espacial. Assim como outras áreas consideradas estratégicas, como estudos climáticos, biotecnologia, bioetanol, etc, os estudos do espaço ganharam destaque na política de Ciência e Tecnologia do país e, por conta da excelência na pesquisa, a UFRN foi escolhida a partir do professor Renan como sede desse Instituto.
Segundo Renan Medeiros, o Governo pretende dar prioridade a duas áreas: o desenvolvimento de um satélite puramente nacional – espécie de sonho não realizado do Programa Espacial Brasileiro, tendo em vista que demais países do BRIC já o fizeram -e pesquisas de ponta em Astronomia. São 180 cientistas em todo o Brasil, espalhados pelas mais diferentes regiões, e 25 instituições associadas e 23 outras agregadas. Essa é a proposta dos Institutos Nacionais de C & T: congregar pesquisadores respeitados por seus trabalhos em torno do um único tema, considerado importante para o desenvolvimento do país. “O Governo procurou especialistas em vários locais que ousassem trabalhar em conjunto para desenvolver uma determinada área, como se dissesse: mostrem que têm condições de produzir ciência de alta qualidade”, explica Renan Medeiros.
Muitas pesquisas acontecem de forma integrada. É o caso de uma pesquisa que investiga os efeitos da gravidade zero sobre mudas de cana-de-açúcar, dividida entre grupos paulistas de pesquisa e a UFRN. Em terras potiguares, as professoras Kátia Castanho e Silvia Batistuzzo, as duas da área de Biologia Molecular e Genoma. Procura-se investigar como as mudas de cana-de-açúcar se comportam ao sair da atmosfera e entrar em contato com um ambiente sem gravidade. A primeira parte do estudo já foi iniciada com o envio de mudas da planta para o espaço, através de um foguete VSB30. Ainda é necessário mais tempo para publicar os primeiros resultados. A questão é saber: em condições extremas, a planta consegue se adaptar? Qualquer facilidade adaptativa poderia ser isolada e cultivada em laboratório para um outro uso.
Por conta da importância desse tipo de investigação – já se inicia uma segunda parte da pesquisa, com o cacau – a UFRN receberá o primeiro laboratório de micro e hipergravidade da América Latina, com perspectiva de estar em funcionamento em até três anos, com um investimento que beira os R$ 2 milhões. O laboratório irá criar condições semelhantes às encontradas no espaço. Como se sabe, a gravidade na terra é convencionalmente definida como de valor “1”. Fora da atmosfera, esse valor chega a zero. O Laboratório irá trabalhar também com gravidade maior do que a verificada na Terra.
Como é o Trabalho do Astrônomo
O astrônomo pode estudar com base em dados matemáticos, fornecidas por satélites, ou em imagens, fornecidas por telescópios. Há satélites com capacidade de captar imagens também. Esses equipamentos têm o uso dividido pelos países financiadores. No caso da Missão CoRot, o satélite produz imagens. Mas a UFRN também trabalha com telescópios localizados no Chile e Havaí, equipados com lentes de de oito metros de diâmetro. Hoje não é mais necessário o cientista ir até o observatório. Os dados são transmitidos através da rede de computadores. Além das imagens, os astrônomos analisam também dados matemáticos de quantidade de luz, pulsações e oscilações. Renan Medeiros explica: “A partir desses dados podemos verificar, por exemplo, se em determinado momento um planeta “passou na frente” de uma estrela através da diminuição da luz emitida. E aí é possível determinar o tamanho do planeta, se é rochoso, etc”. Por esse processo, um das mais importantes pesquisas em curso tenta obter pela primeira vez a imagem de um planeta fora do sistema solar. “Nós iremos solicitar imagens de determinadas estrelas, fixando distância, ângulo, etc, e tentar identificar alguma imagem de planeta nos arredores”, explica.
Astronomia
Conheça um Pouco Mais
Astronomia é uma palavra de origem grega que etimologicamente significa “lei das estrelas”.
Trata-se de uma ciência que envolve diversas observações e procura respostas para os fenômenos físicos que ocorrem dentro e fora da Terra. Ela estuda as origens, evolução e propriedades físicas e químicas de todos os objetos que podem ser observados no céu e todos os processos que os envolvem.
Observações astronômicas não são relevantes apenas para a astronomia, mas também fornecem informações essenciais para a verificação de teorias fundamentais da física, tais como a teoria da relatividade geral, da matemática e da biologia.
Aplicações Práticas da Ciência
Satélites:
A partir das Leis de Kepler, um astrônomo alemão que descreveu como se movimentam os planetas ao redor do sol, foi possível lançar toda a espécie de satélites artificiais ao redor da Terra. São os mesmos satélites que possibilitam falar ao celular ou realizar a previsão do tempo.
Medicina:
O desenvolvimento de ligas e materiais leves e resistentes para utilização em satélites e foguetes acabou sendo usado também na confecção de próteses e órteses na medicina. Além disso, a tomografia, onde uma imagem 3D de um órgão é produzida a partir de várias fotografias em duas dimensões, também só foi possível por conta de avanços na astronomia.
Fonte: Site do Jornal Tribuna do Norte - 17/04/2011
Comentário: É muito bom e digno de reconhecimento o trabalho que vêm realizando o astrônomo Renan Medeiros e seu grupo da UFRN e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos do Espaço (INEspaço). Certamente esse grupo e instituto estarão no futuro bem próximo envolvidos com as conquistas do PEB e da Astronomia espacial brasileira.
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