EUA e China Unidos Contra o Contrabando Nuclear. Isso é Muito Bom, Mas Não Basta
Olá leitor!
Segue abaixo mais um interessante
artigo escrito pelo Sr. José
Monserrat Filho e postado pelo
companheiro André Mileski ontem (23/03) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
EUA e China Unidos Contra o
Contrabando
Nuclear. Isso é Muito Bom, Mas Não Basta
José Monserrat Filho *
“O atual sistema mundial é
insustentável a partir de vários pontos de vista, porque deixamos de pensar nas
finalidades das ações humanas.” Papa
Francisco, Carta Encíclica Laudato Si', sobre o Cuidado da Casa Comum, São
Paulo: Paulinas, 2015, pp. 49-50
As duas maiores potência do
mundo hoje resolveram se aliar em defesa da segurança nuclear global, contra a possibilidade de construção de armas nucleares
por forças terroristas como o Estado Islâmico. A aliança será fortalecida na 4ª
Conferência de Cúpula sobre Segurança Nuclear, a ter lugar em Washington, em 31
de março e 1º de abril, com a participação dos Presidentes dos EUA e da China,
Barack Obama e Xi Jinping.
A presença do líder chinês, que
introduz novos elementos e mais dá vigor ao evento, foi anunciada pelo
Secretário de Energia dos EUA, Ernest Moniz, como conta Kathleen McLaughlin, no
editorial da revista Science, de 17 de março, intitulado U.S. and China
cooperate to thwart nuclear smuggling (EUA e China cooperam para impedir o
contrabando nuclear).
Autoridades americanas e
chinesas firmaram acordo, em 11 de março,
ampliando um programa de cooperação, pelo qual os EUA fornecem à China
treinamento e tecnologia para detectar "movimentos ilícitos, contrabando
de materiais nucleares e fontes lógicas."
Moniz frisou que as duas
potências estão empenhadas em prevenir o contrabando global de materiais
nucleares e tomarão medidas efetivas conjuntas na luta contra essa ameaça.
Graças a essa aliança, a
China tem novo Centro de Excelência em Segurança Nuclear, perto de Pequim, equipado com laboratórios, locais de
teste, e instalações de treinamento, baseados, parcialmente, em aparelhos
americanos. A obra foi financiada pelos dois países.
O novo Centro vai detectar o
contrabando de materiais que podem ser usados na produção de armas nucleares ou
bombas sujas. Essas são armas
radiológicas. Combinam material radiativo com explosivos convencionais e
contaminam toda a área em torno da explosão, criando pânico e terror, embora
não tenham o efeito das armas de destruição em massa. O centro poderá treinar
peritos de detecção nuclear de outros países da região, mas a meta central é
formar técnicos chineses. Os EUA, com base em outro acordo, também já treinaram
pessoal de alfândega chineses para identificar e impedir a entrada ou saída de
materiais nucleares ilícitos.
O Estado Islâmico busca
matérias-primas para desenvolver tais armas,
o que é perfeitamente lógico em sua conduta. Moniz fez questão de citar
notícias recentes a respeito.
Para China e EUA, as ameaças em
potencial são de extrema gravidade e os dois países vão tratá-las com essa
visão. "Estamos trabalhando duro em conjunto e de modo muito
concreto", explicou.
O acordo nuclear com o Irã é
bom precedente? Moniz esclareceu como
EUA e China atuam como copresidentes do grupo de trabalho técnico criado em
função do dito acordo. “Já inúmeras vezes, os chineses têm se engajado com os
iranianos para que isso ande", notou ele.
Na medida em que os
pontos-chave do acordo forem sendo implementados, Moniz espera que surjam
planos de cooperação científica. Recordou que os encontros entre cientistas dos
EUA e a União Soviética nos anos da Guerra Fria foram essenciais para romper
barreiras, e que a cooperação com o Irã poderia produzir benefícios similares.
"Certamente não se exclui a possibilidade de que a comunidade científica
americana colabore em alguma área de ciência básica", disse Moniz, mas
reconheceu: “Vai levar tempo. Obviamente, não começamos uma relação robusta.”
Ou seja, é preciso criar um ambiente de confiança mútua, algo que parece muito
frágil hoje em dia.
Em Pequim, as autoridades
chinesas ampliaram a agenda das conversas com o Secretário de Energia dos EUA, incluindo outros temas, como as mudanças climáticas e
políticas energéticas. As negociações devem ter sido positivas, pois Moniz se
disse satisfeito com os avanços alcançados. Ademais, ele elogiou o trabalho da
China nos últimos meses, em especial por concordar em estabelecer limites às
emissões tangíveis, nas negociações de Paris sobre o clima, em 2015. Acabou
confessando torcer para que esse progresso de fato se implante, uma vez que ele
pressionará os políticos americanos a fazerem o mesmo.
Se uma aliança para garantir
a segurança nuclear global é possível, por
que também não o seria um portentoso esforço conjunto para impedir nova Guerra
Fria, a atual corrida armamentista e a consequente eclosão de conflitos tanto
na Terra, quanto no espaço? Não é ao que assistimos hoje diariamente? Todos
esses perigos crescentes poderiam ser evitados ou pelo menos reduzidos, se a
segurança global fosse considerada, no mínimo, tão prioritária quanto a
segurança nuclear ora buscada. Afinal, a segurança coletiva global é norma
obrigatória, segundo os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas,
núcleo básico do Direito Internacional contemporâneo.
A segurança nuclear global
não pode ser negociada e acordada apenas para se continuar garantindo a
exclusividade da posse e eventual uso
das armas nucleares, bem como de sua modernização, pelo grupo de países que já
domina a tecnologia capaz de produzi-las e aperfeiçoá-las.
Não permitir de modo algum que
os terroristas tenham acesso à capacitação nuclear é, sem a menor dúvida, uma
missão urgente e imprescindível. Mas não é suficiente. É preciso também, com
igual ênfase e sentido de responsabilidade, pensar nos perigos cada vez maiores
de conflitos e desastres de enorme envergadura, naturais ou deliberados,
capazes de arrasar países, talvez continentes, gerando sofrimentos indizíveis a
milhões de seres humanos e eliminando a rica natureza do planeta Terra.
A luta pela paz e pelo
desarmamento, em nosso tempo, na terra como no céu, tornou-se um imperativo de
sobrevivência global.
* Vice-Presidente da
Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA); Diretor Honorário
do Instituto Internacional de Direito Espacial; Membro Pleno da Academia
Internacional de Astronáutica (IAA); e ex-Chefe da Assessoria Internacional do
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Agência Espacial
Brasileira (AEB). E-mail: jose.monserrat.filho@gmail.com
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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