Dez Anos Após Viagem ao Espaço, Astronauta Brasileiro Investe no Turismo Espacial
Olá leitor!
Segue abaixo uma
matéria com o astronauta brasileiro Marcos Pontes publicada ontem (22/03) no
site do jornal “O Estado de São Paulo”, destacando que após 10 anos de sua viagem ao espaço, o astronauta brasileiro
investe no turismo espacial.
Duda Falcão
VIAGEM
Entrevista –
Marcos Pontes
Dez Anos Após Viagem ao Espaço, Astronauta
Brasileiro Investe no Turismo Espacial
Primeiro
astronauta sul-americano a ir ao espaço, Pontes celebra
uma década da
viagem com eventos no Brasil e nos EUA
Bruna Toni
O Estado De S.
Paulo
22/03/2016 |
19h59
Fotos: Arquivo pessoal
O astronauta Marcos Pontes foi o representante
brasileiro
no espaço em 2006.
|
No dia 30 de
março de 2006, o astronauta Marcos Pontes realizava o sonho de muita criança -
e, claro, de muito adulto - ao partir para uma viagem ao espaço de dez dias. A
missão da Nasa, batizada de Missão Centenário, uma homenagem ao primeiro voo
tripulado do 14 Bis de Santos Dumont, foi a primeira de um astronauta
sul-americano e, até hoje, a única de um brasileiro.
Dez anos depois,
muita coisa mudou. Ir ao espaço, por exemplo, já entrou para a lista de
roteiros turísticos. Apesar de o primeiro voo espacial com tripulantes
"viajantes" ainda não ter data de partida, todas as passagens
(milionárias) já foram vendidas e outras naves estão sendo preparadas para
outras viagens.
Não por acaso,
Marcos Pontes, que continua a serviço da Agência Espacial Brasileira (AEB) e
aguarda sua próxima missão, ampliou seus horizontes e decidiu ser "um
entusiasta" do turismo espacial, como ele próprio define. Abriu uma
agência de turismo de aventura - com pacotes para o espaço, claro - e roda o
mundo ministrando palestras e divulgando seus livros. Entre todas as atividades
- que este ano engrossaram com os eventos em comemoração aos 10 anos da Missão
Centenário -, o astronauta conversou com o Estado sobre sua trajetória, turismo
espacial, colonização de Marte e investimentos no setor.
Estadão - De
onde surgiu a vontade de ser astronauta?
Marcos Pontes:
Gradualmente, ao longo da minha experiência como engenheiro e piloto de testes.
Meu desejo de voar começou com as minhas visitas ao Aeroclube de Bauru, quando
eu era ainda um menino. Depois, já como piloto da FAB (Força Aérea Brasileira),
eu queria voar cada vez mais alto e mais rápido. Assim, fui piloto militar e
tive funções militares na FAB até 1998, quando fui selecionado por concurso
público pela AEB (Agência Espacial Brasileira) para representar o Brasil como
astronauta. Fui escalado em 2005 para realizar a Missão Centenário, realizada
em 2006. Depois, retornei para Houston, onde estou até hoje à disposição do
Programa Espacial Brasileiro, aguardando a escalação para a minha segunda
missão espacial para o Brasil.
Estadão -
Qual foi sua reação ao saber que você havia sido selecionado para representar o
Brasil no espaço?
M.P.: Em 1998,
quando fui selecionado pela AEB para a carreira civil de astronauta, fiquei um
tanto inseguro. Primeiro porque tive, a partir daquele ano, de deixar de
exercer as funções militares que me eram tão familiares e, segundo, porque
passava a carregar nos ombros a responsabilidade de ser o primeiro
representante oficial, como astronauta profissional do Brasil fora do planeta.
Depois, com a vivência nessa carreira, fui me acostumando com esse peso. Hoje
em dia, continuo à disposição do Brasil para a segunda missão espacial que
realizarei em breve, pronto para encarar níveis ainda mais altos de
responsabilidades.
Estadão - O
que acha que essa viagem representou para o País?
M.P.: Foi um
evento histórico, com enorme potencial de desenvolvimento em diversas áreas
(ciência, tecnologia, educação, relações exteriores, orgulho nacional, etc.).
Precisamos de maior conhecimento das autoridades para a correta utilização dos
potenciais à disposição do País.
Estadão -
Como foi lidar com acidentes como o do ônibus espacial Columbia, em 2003? Você
nunca teve medo?
M.P.: Eu
sou um piloto de testes, especialista em prevenção e investigação de acidentes,
e piloto de combate da Força Aérea, à disposição para encarar momentos difíceis
para o País, mesmo com o sacrifício pessoal. Acidentes fazem parte desse
tipo de atividade, temos que encarar a realidade, aprender com os acidentes,
aperfeiçoar os sistemas e procedimentos e seguir em frente. Emoções humanas são
naturais, mas é importante saber conviver com elas e manter a performance.
Estadão - Seu
sonho ainda é ser presidente da Agência Espacial Brasileira?
M.P.: Sem
dúvida. Porém, observamos que no Brasil os chamados “cargos de segundo escalão”
também entram na negociação política, independentemente do conhecimento técnico,
o que dificulta esse meu sonho, visto que não sou no momento filiado a nenhum
partido.
Estadão -
Como foi participar de uma missão espacial? Qual a maior dificuldade durante os
10 dias?
M.P.: A
sensação, depois da adaptação fisiológica ao ambiente de microgravidade, é
maravilhosa. O mais difícil é acomodar a rotina extremamente apertada de
trabalho (18 horas de trabalho e 6 horas de descanso por dia). No meu caso,
como especialista de missão, eu tinha a função de montar, consertar e
configurar sistemas (além de realizar experimentos a bordo).
Estadão -
Alguma história engraçada que você se recorda?
M.P.: Sim.
Quando “perdi de vista” um dos cartões de dados de experimentos enquanto
ajudava o Comandante Pavel na manutenção de um dos sistemas. Como recuperei o
cartão? Isso está no meu livro Missão Cumprida (risos).
Estadão -
Anos de treinos, mudança de país, missão espacial, como você conciliou família,
amigos...?
M.P.: Envolvendo
minha família nas minhas atividades e compartilhando decisões. Não é minha carreira,
é a carreira da minha família. Eles são parte integrante disso, assim como eu
sou parte da vida e das atividades e decisões das vidas deles.
Estadão -
Você diz que há pouco investimento e o Programa Espacial Brasileiro está
abandonado. Por que acha que isso ocorre?
M.P.: O Brasil
precisa de um programa espacial forte por inúmeras razões: melhor produção de
alimentos, melhor previsão de tempo e possíveis catástrofes naturais,
comunicação, desenvolvimento de medicamentos, materiais, etc. Temos um grande
País, mas precisamos investir muito mais em educação fundamental, ciência e
tecnologia, empregos e pessoas qualificadas que possam ocupar esses empregos e
não ficarem dependendo de assistência eterna do Estado. Infelizmente, temos uma
divulgação científica muito insipiente no Brasil. As pessoas não sabem o
“porquê” ter um programa espacial ou um setor forte de tecnologia. Como
consequência dessa falta de conhecimento e de como elas poderiam ser
beneficiada por esses programas, elas não apoiam. Sem apoio público, segue a
falta de apoio político. Sem apoio político forte, segue a falta de orçamento e
políticas inteligentes para o programa.
Estadão -
Para quem quer ser astronauta no Brasil, então, as perspectivas de carreira são
baixas?
M.P.: No Brasil,
atualmente, sim. Mas esse é um mercado internacional.
Estadão - Mas
neste momento de crise, que não atinge exclusivamente o Brasil, gastar com
programas espaciais não estaria fora de cogitação?
M.P.: Nos
Estados Unidos o investimento no setor tem crescido consideravelmente no setor
publico e privado. Sendo um país capitalista, é claro que isso não é feito “à
toa”. O cálculo grosseiro aponta que cada dólar investido em atividade espacial
traz retorno de cinco dólares. Ou seja, o ROI é justificável e muito bom. O Brasil
ainda não acordou para isso e deixou sua infraestrutura espacial degradar ao
ponto que, de fato, aqui existem muitas prioridades a serem atendidas antes de
pensar na atividade tripulada com astronautas profissionais brasileiros
(infelizmente). Nos EUA a realidade é diferente.
Estadão - Agora
falando do turismo espacial, como você vê essa possibilidade? Isso será
possível em breve?
M.P.: Sem dúvida. Sou um entusiasta e um investidor nesse
mercado. Tenho a maior agência de turismo espacial do Brasil e fomos a quinta
empresa no planeta que mais vendeu passagens de voos suborbitais no ano
passado. O primeiro turista espacial do Brasil é nosso cliente, será o
empresário Marcos Palhares, de São Paulo. Ele está no grupo pioneiro da Virgin
Galactic, que irá ao espaço daqui a três anos aproximadamente. Existe até um
estagiário da AEB, Pedro Nehme, que ganhou um sorteio da empresa aérea KLM para
fazer um voo como turista na espaçonave Linx, que está sendo desenvolvida pela
empresa Xcor e que deverá estar operacional em uns sete anos.
Estadão -
Qualquer pessoa pode se tornar um turista espacial, desde que pague pela
viagem?
M.P.: Para ser
turista espacial é necessário pagar o preço da passagem (250 mil dólares),
passar nos exames médicos, ter uma semana de preparação nos sistemas de
emergência da espaçonave, traje e perfil de voo (similar, dentro das devidas
proporções, ao briefing que os passageiros de voos comerciais recebem dos
comissários antes da decolagem).
Estadão - Sobre Marte: o parque da Nasa tem
uma área dedicada ao planeta e as pesquisas recentes revelaram a existência de
água em estado líquido por lá. Mas a história de colonização ainda parece meio
nebulosa. Qual a real viabilidade disso? E em quanto tempo?
M.P.: Na NASA
temos o Programa Constelação, que inclui viagens tripuladas a Marte a partir de
2033. Na minha opinião, é o próximo grande passo da humanidade em direção ao
seu destino no Universo. Porém, ainda estamos distantes de ter os sistemas
adequados para o transporte e sobrevivência de seres humanos no planeta
vermelho no ritmo atual dos orçamentos e prioridades. Existem “missões” de
marketing acontecendo, mas não refletem a realidade.
Estadão -
Você gostaria de ir nessa missão de colonização?
M.P.: Eu
gostaria de ir a Marte em uma missão da NASA (e isso pode ser possível).
Estadão - É
verdade que todos os astronautas acreditam em E.T.?
M.P.: E.T. (Vida
Extra Terrestre) é uma probabilidade de praticamente 100% no universo. Pode ser
atualmente em forma de fóssil, pode ser uma bactéria, mas é muito provável a
existência. Já acreditar que eles estão voando em ovnis sobre a Terra e que
sejam parecidos conosco, mas verdes, ou cinzas, com grandes olhos negros…isso é
outra coisa.
Estadão -
Ainda há quem duvide da ida do homem à lua ou, ao menos, de que ela tenha sido
transmitida da forma que foi. O que você acha desse polêmica? Ela tem
fundamento?
M.P.: Pensar que
os pousos na lua foram farsa criada pela NASA é uma bobagem criada para chamar
a atenção apenas.
Estadão - Das
atrações do Kennedy Space Center, qual a sua favorita?
M.P.: O
Atlantis!
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 22/03/2016
Na minha visão essa viagem espacial, teve só efeitos propagandísticos. Não acrescentou nada, ao nosso PEB. Tenho dúvidas, se seu exemplo; ao menos estimulará, futuras vocações espaciais.
ResponderExcluirDesculpa, mas o programa Constellation nao foi encerrado pelo presidente Obama alguns anos atrás?...
ResponderExcluirComo o Augeu Alves disse, essa missão só teve fins propagandísticos. Uma quantidade de dinheiro enorme foi investida no "primeiro astronauta da América Latina", enquanto o restante do PEB clama por verba. País com astronauta mas sem capacidade de colocar uma batata em orbita. Hoje em dia, caso queira que o grande astronauta faça uma palestra em alguma universidade brasileira para retribuir o dinheiro nacional investido, vai ter que pagar a passagem de ida e volta dos states bem como a acomodação.
ResponderExcluir