Ministro Rezende em Entrevista Faz Balanço de Sua Gestão
Olá leitor!
Segue abaixo uma entrevista postada dia (21/12) no site “Folha.com” do “Jornal Folha de São Paulo” com o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, que faz um balanço de sua gestão antes de passar o cargo para Aloizio Mercadante.
Duda Falcão
Ministro da Ciência Faz Balanço de
GestãoAntes de Passar Cargo
para Aloizio Mercadante
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
21/12/2010 - 08h16
Leo Caldas/Folhapress
Ministro Sérgio Rezende deixa cargo no dia 31, depois de cinco anos à frente da pasta de Ciência e Tecnologia |
O físico e engenheiro carioca Sérgio Rezende deixará em 31 de dezembro o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), que esteve sob seu comando por mais de cinco anos.
Em entrevista exclusiva à Folha, ele reconhece que, apesar dos avanços de sua gestão, a burocracia ainda é um dos grandes inimigos dos cientistas brasileiros. Também defendeu a escolha do petista Aloizio Mercadante como seu sucessor: "Certamente pode ter um papel de influência no governo." Leia os melhores trechos da conversa abaixo.
Folha - O sr. está saindo de uma gestão considerada positiva. Isso é raro...
Sérgio Rezende - Eu só espero que as pessoas não fiquem com saudades de mim [risos]. Tivemos mais recursos e, acompanhando isso, uma atuação mais forte do governo federal em incentivar e apoiar a pesquisa e inovação nas empresas. Isso é uma mudança grande. Nossa política científica sempre foi desvinculada da política industrial --que, por sua vez, teve seus altos e baixos. Não havia acontecido até agora uma articulação entre ciência e indústria. Estamos aprendendo a fazer isso, mas avançamos muito.
Folha - Ter 1,3% do PIB destinado à ciência é suficiente?
Rezende - Passar de 1% foi mudar de patamar. Tínhamos planejado chegar a 1,5% do PIB e chegamos a 1,3%. No entanto, em números absolutos, nós atingimos a meta, porque o PIB do Brasil cresceu muito e continua crescendo.
Folha - Mas qual seria o ideal?
Rezende - Os países desenvolvidos têm em média 2,5% do PIB investido em ciência. Mas esses países têm muito mais cientistas: são dois cientistas para cada 10 mil habitantes. Nós temos um pesquisador para 10 mil pessoas. Se tivéssemos mais recursos, eles não seriam utilizados. Precisamos formar mais gente, e isso é um processo gradual. A idéia é que a gente chegue a 2022 com dois pesquisadores para cada 10 mil habitantes e com 2,5% do PIB em ciência.
Folha - Ainda há barreiras por parte de quem acha que dinheiro público não deve ser gasto com ciência nas empresas?
Rezende - Existe um pouco. Essas vozes estão ficando isoladas. Felizmente nós estamos passando dessa fase. Há 20 anos se dizia que o dinheiro público deve ficar na universidade e que empresa não deveria fazer pesquisa. Dizia-se que ciência não combina com lucro. Isso é uma bobagem.
Folha - Esse tipo de crítico também costuma dizer que não dá para fazer "Big Science" [ciência cara e de grande porte] num país que ainda tem gente passando fome.
Rezende - A ciência feita com intensidade, com aplicações, contribui de maneira eficaz para resolver os problemas sociais. O melhor exemplo que temos é da Coreia do Sul, a qual, na década de 1970, era mais subdesenvolvida que o Brasil. Eles investiram em tecnologia e inovação e, com isso, o país tirou milhões de pessoas da pobreza.
Folha - Qual foi o principal desafio da sua gestão?
Rezende - Nós tivemos um problema com o excesso de burocracia. Alguns desvios que aconteceram em fundações de amparo à pesquisa fizeram o TCU [Tribunal de Contas da União] tornar a execução de recursos muito mais difícil.
Hoje a burocracia é um dos entraves para a realização da atividade de pesquisa no Brasil de maneira mais tranqüila. É uma burocracia para se usar os recursos, para explicar como usou. Um cientista brasileiro enfrenta muito mais burocracia do que um europeu para fazer o mesmo trabalho, e isso diminui a competitividade. Nós conseguimos simplificar o procedimento de importação, mas ainda é bem mais difícil um pesquisador daqui comprar um equipamento de fora do que um pesquisador de outro país.
Nos outros lugares é assim: o pesquisador quer comprar um equipamento para fazer uma pesquisa e compra. Aqui não pode, tem sempre de fazer licitação e comprar o mais barato. Eu decidi sair antes do resultado da eleição. Estou há dez anos consecutivos em atividade de gestão. No momento, quero me dedicar à atividade científica e não à gestão. A gestão do cotidiano, dos problemas, das pessoas, das confusões --isso é algo que desgasta. Nós demos um salto no MCT, e eu acho que não conseguiria dar novo salto. Precisamos de novas idéias.
Folha - Mas o sr. já foi convidado para administrar alguma outra instituição?
Rezende - Sim, já tive mais de um convite. Mas já disse que não quero mais ter atividade executiva nos próximos anos. Estou indo para Pernambuco [na UFPE].
Estou envolvido em nanotecnologia de materiais magnéticos, já tenho alguns trabalhos. Há dois pós-doutores publicando resultados interessantes, e estou sem tempo de me juntar a eles, de entender o problema, de fazer teoria. Pode ser que em dois anos em volte à gestão, mas agora eu quero ser cientista.
Folha - Aloizio Mercadante será um bom ministro no seu lugar?
Rezende - Ele tem tudo para ser um bom ministro. É uma pessoa de visão larga, certamente pode ter um papel de influência no governo.
RAIO-X:
NASCIMENTO
Rio de Janeiro, em 1940
FORMAÇÃO
Engenharia Eletrônica (PUC-RJ), com mestrado e doutorado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em física
ACADEMIA
Professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) desde 1972. Pesquisa nanotecnologia
CARGOS
Secretário do Patrimônio, Ciência e Cultura da Prefeitura de Olinda (PE) em 2001 e 2002, presidente da FINEP de 2003 a 2005 e ministro da Ciência e Tecnologia desde julho de 2005.
Fonte: Site Folha.com - 21/12/2010
Comentário: Pois é leitor, não resta dúvida que o senhor Sérgio Rezende fez uma boa gestão junto ao MCT e é o grande responsável pelo atual estágio de desenvolvimento do setor de ciência e tecnologia no Brasil (com exceção o setor espacial que continua como antes no quartel de Abrantes, tendo inclusive um peso extra, ou seja, a mal engenhada empresa ACS). Apesar de sua gestão em grande parte exitosa, o novo governo DILMA opta pelo retrocesso colocando no cargo mais um político. O que é extremamente lamentável, pois quando as coisas no setor parecem que estão tomando o rumo certo, opta-se novamente por dar dois ou três passos pra trás. Assim é o Brasil e infelizmente neste caso poderemos pagar nos próximos quatro anos um alto preço pelo atraso tecnológico.
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