Carta de Apelo ao IAE e ao INPE

Olá leitor!

Antes da virada do ano, como brasileiro, conhecedor da importância que o PEB tem para um país como o Brasil, preocupado com o atual rumo em que se encontra o nosso programa espacial devido a falta de visão e de atitude do governo e com a total desorientação de nossa agência espacial, venho através desta fazer um apelo ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), na pessoa do seu competente diretor-geral, o Sr. Gilberto Câmara, e ao Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), na pessoa do seu valoroso e competente diretor, o Brigadeiro Francisco Carlos Melo Pantoja, para que esses dois importantes institutos brasileiros se juntem e elaborem eventos educacionais que possam atrair e estimular o interesse de nossos estudantes na área espacial.

Sei e entendo que esta função caberia a Agência Espacial Brasileira (AEB), mas que, devido a sua total falta de visão, de atitude e de planejamento, faço um apelo a esses valorosos institutos brasileiros para que busquem em parceria com outras instituições (universidades) a elaboração de um grande evento nacional (Spacecamp) direcionado a estudantes de todas as idades estimulando pesquisas nas áreas de robótica, astronáutica, astronomia, astrofísica, experimentos em microgravidade, experimentos estratosféricos, entre outros.

É necessário dizer que apesar da existência de eventos como as "Olimpíadas do Saber", do programa “AEB Escola” e da "Jornada Espacial", os nossos estudantes precisam de verdadeiros desafios para que continuem cada vez mais motivados a trilharem o caminho da ciência e tecnologia.

É sabido que o modelo que deu certo em todo mundo foi o modelo dos chamados “Spacecamps” e é inadmissível para mim continuar observando a "banda passar" enquanto as coisas vão acontecendo mundo afora.

Enquanto no Brasil nossos valorosos estudantes participam de eventos da AEB lançando foguetes de água e de ar comprimido e participando de palestras intermináveis e repetitivas, em países como o Japão, Índia, Suécia, Canadá, EUA, Noruega, Austrália, Portugal, entre outros, estudantes de todas as idades estão literalmente metendo a mão na massa, elaborando, coordenando e desenvolvendo projetos em áreas como astronáutica, nanosatélites e microsatélites, ciências espaciais, robótica, experimentos em microgravidade e estratosféricos, etc.

Reconheço o esforço do IAE e da AEB em ter aberto espaço para experimentos estudantis no ultimo e exitoso vôo do foguete VSB-30 em Alcântara (Operação Maracati II). No entanto, essa iniciativa não é a ideal devido ao custo proibitivo do uso deste foguete para experimentos estudantis do ensino médio e também pelo mesmo tomar espaço na carga útil de um experimento importante de alguma universidade ou centro de pesquisa, principalmente com a atual e preocupante baixa cadencia de vôos do “Programa de Microgravidade” da AEB.

O ideal seria que o IAE viesse a desenvolver (poderia ser em parceria com outras instituições como o grupo “Edge Of Space” ou a empresa Acrux Aerospace Technologies de São José dos Campos, que já desenvolvem projetos nesta área, ou mesmo a Avibrás) foguetes de baixo custo para uso pelos estudantes que atinjam uma faixa de 30 a 100 km de altitude com uma carga útil que possa ser recuperada.

Já o INPE, apesar do mesmo apoiar atualmente dois projetos na área de satélites estudantis, ou seja, o ITASAT e o NANOSATC-BR da UFSM, ainda é muito tímida essa iniciativa e precisa ser criada outras oportunidades.

Vale lembrar que o INPE também pode estimular o desenvolvimento de experimentos em robótica, ciências espaciais, experimentos estratosféricos através de lançamentos de balões, entre outros.

Como exemplo, abaixo segue alguns vídeos e notícias do que está sendo feito pelo mundo:

PROGRAMA “ENGINEERING BOOT SUMMER CAMP” DO GODDARD SPACE FLIGHT CENTER DA NASA (EUA)

Vídeo que apresenta esse programa desenvolvido pelo Goddard Space Flight Center da NASA que envolve a participação de estudantes do ensino médio e universitários dos EUA e de outros países na versão de 2010. Este é um verdadeiro exemplo do exitoso modelo conhecido como “SPACECAMP”, criado, desenvolvido e aprimorado pelos americanos desde o final da década de 70 e utilizado pela NASA como um meio de observação e de recrutamento de baixo custo de novos talentos (universitários) em fase final de formação entre os não americanos (inclusive brasileiros) participantes do evento. Atualmente diversas universidades brasileiras como a mineira UNIVALE e a faculdade paulista FIAP, têm realizados parcerias com a NASA que permitam a participação de seus estudantes em eventos como esse. Podemos culpar as universidades brasileiras como a UNIVALE e a FIAP por buscar melhores condições de educação para seus alunos? Podemos culpar os alunos por buscarem melhores perspectivas de trabalho das que são oferecidas no país? Podemos culpar a NASA de buscar novos profissionais a custos baixíssimos seja aqui ou em qualquer lugar do mundo? É óbvio que não. A culpa é da inércia e da incompetência do governo brasileiro que deixa que isso ocorra não apoiando como deveria (neste caso) o programa espacial do país e prejudicando sensivelmente o futuro do setor de ciência e tecnologia do Brasil.

Engineering Boot Summer Camp 2010

PROGRAMA “STRAPLEX” (Portugal, Bélgica, Suécia e Espanha)

Vídeo da preparação e lançamento da “Sonda Straplex”, desenvolvida por estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e lançada através de um balão de hélio do Aeródromo de Évora em 16/09/2008 e uma reportagem da RTP sobre esta missão. A sonda que transportou experimentos de estudantes belgas, suecos e espanhóis e que contou com o apoio da Agência Espacial Européia (ESA), visava apurar o comportamento de amostras de sangue e de circuitos eletrônicos no espaço. Durante as duas horas aproximadas do vôo desta sonda portuguesa, os estudantes da FEUP e das outras nacionalidades participantes do projeto, puderam acompanhar o rumo da sonda por sistemas de localização e através de imagens enviadas pela própria  “Straplex” de áreas captadas da estratosfera.

Preparação e Lançamento da Sonda “Straplex”

Reportagem da RTP Portuguesa

PROGRAMA “CANOROCK” (Canadá e Noruega)

Vídeo que apresenta o programa CaNoRock fruto de um acordo de 10 anos entre universidades do Canadá e da Noruega com a apoio do Andoya Rocket Range (ARR) na área de propulsão e de desenvolvimento de foguetes estudantis que já realizou até o momento duas campanhas e se prepara para realizar a sua terceira campanha agora no inicio de 2011. O segundo vídeo apresenta a campanha CaNoRock II (2010) que envolveu no Andoya Rocket Range (ARR) durante uma semana atividades de lançamento de pequenos foguetes, de um balão e da preparação e lançamento do foguete “Fire Unicorn II" por estudantes de universidades norueguêsas e canadenses.

Programa CaNoRock - Campanha I

Campanha CaNoRock II - 2010

PROGRAMA “GERMAN STUDENT EXPERIMENTAL ROCKETS – STERN” (Alemanha)

Programa criado pelo Centro Aeroespacial Alemão (DLR) visando dar suporte para que estudantes desenvolvam e lancem seus próprios foguetes com total apoio deste centro alemão. Abaixo segue algumas fotos da campanha ocorrida em 05/10 desse ano com a preparação e lançamento do foguete “B4-1V01 Steam Rocket”. Com as boas relações que o IAE tem com o DLR, porque não se faz uma proposta a este centro alemão para se criar um programa conjunto que envolva a participação de estudantes de ambos os países como no caso canadense e norueguês? Fica a sugestão.
  
 Teste de um motor-foguete híbrido que será
usado por um futuro foguete a ser lançado
  
 O foguete “B4-1 V01 Steam Rocket” na plataforma de
lançamento sendo preparado para o lançamento

 O foguete “BA-1 V01 Steam Rocket”
sendo lançado - 05/10/2010

Espero e torço que esse meu apelo possa ser atendido pelo IAE e pelo INPE, de forma conjunta, em separado ou mesmo em parceria com outras instituições, e até, quem sabe, estimular outras instituições também a elaborarem eventos que adotem esse modelo exitoso, para que assim possamos contribuir para o desenvolvimento de nosso programa espacial e ao mesmo tempo melhorar a qualidade da educação neste país.

Atenciosamente,

Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)

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