Tecnologia Crítica na Área Espacial Brasileira

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo publicado na Revista Espaço Brasileiro (Jul, Ago e Set de 2011), destacando a “Tecnologia Crítica” na área espacial brasileira.

Duda Falcão

OPINIÃO

Tecnologia Crítica na
Área Espacial Brasileira

Francisco Cristóvão Lourenço de Melo,
Joana Ribeiro Gomes,
Maria Luisa Gregori e
Maria Cristina Vilela Salgado

A tecnologia crítica no seu conceito mais amplo é uma tecnologia cuja obtenção é considerada estratégica para uma organização ou país, uma vez que o seu domínio gerará independência de fornecimento externo e crescimento econômico. Para os materiais aplicados a defesa, acrescenta-se a esta criticidade os possíveis embargos por parte de países detentores da tecnologia.

O domínio dessas tecnologias para um país é a força motriz para a prosperidade econômica nacional, tecnológica e de segurança, consideradas críticas por interesse nacional (WAGNER; POPPER, 2003). Suas principais características são: a) forte potencial de desenvolvimento econômico; e b) atendimento às necessidades da sociedade. Cada país tem uma forma para identificar sua lista de tecnologias críticas, porém, o objetivo é o mesmo: prover o país de uma lista de tecnologias que direcionem os recursos, tanto financeiros quanto humanos, que o governo irá investir nos Institutos de Pesquisas, Universidades e Empresas, com o propósito de otimizar os investimentos de C&T&I.

Segundo Bimber e Popper (1994), existem três critérios que devem ser atendidos para considerar uma tecnologia como crítica:

1. Relevância Política – a lista de tecnologias deve indicar quais são as áreas ou questões potenciais para exercer as devidas intervenções políticas a fim de tonar os resultados exeqüíveis.

2. Discriminativo – deve ser clara a diferença entre tecnologias críticas e não - críticas. Não deve ser inclusa nenhuma tecnologia já avançada ou popular.

3. Reproduzível – O método utilizado para levantamento das tecnologias críticas deve ser transparente, robusto e de acesso ao público, garantindo que o exercício de levantamento de tecnologia crítica possa ser reproduzido por outras pessoas.

É extremamente importante que o país desenvolva tecnologias consideradas críticas na área espacial e os motivos são os seguintes: a) garantir a segurança nacional; b) alavancar o crescimento econômico; c) conquistar independência tecnológica; d) beneficiar-se dos potenciais spin-offs gerados; e e) incentivar o crescimento da indústria nacional. Destacado pela European Space Agency (ESA) e outras agências espaciais, a dificuldade de participação de empresas privadas em decorrência do elevado custo financeiro e riscos de desenvolvimento dessas tecnologias, exige que a solução para obter a importância seja feita por meio de investimentos públicos.

No Brasil as tecnologias críticas na área espacial começaram a ser definidas a partir do início das atividades espaciais, na década de 1960 com os veículos de sondagem lançados no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), em Natal (RN). Desde o início, os veículos de sondagem desenvolvidos foram de propulsão sólida pertencentes à família Sonda e esta tecnologia também foi aplicada ao VLS. Até hoje o País procurou se capacitar científica e tecnologicamente, com objetivos definidos a longo prazo para vencer os vários obstáculos que surgiram ao longo dos projetos desenvolvidos no programa espacial. Várias tecnologias, consideradas como críticas, tiveram que ser desenvolvidas no Brasil, tendo em vista o fato de não estarem disponíveis no mercado externo ou devido ao alto custo envolvido para suas aquisições.

Podemos citar algumas tecnologias desenvolvidas e que são utilizadas até hoje nos veículos espaciais: ligas especiais para a construção de motores e estruturas dos processos de tratamento térmico, em particular, aquelas aplicadas aos propulsores, materiais e processos para fabricação de proteções térmicas para os propulsores, processos de soldagem de estruturas de aço especiais e ligas leves não ferrosas, propelente sólido à base de polibutadieno hidroxilado, sistemas de telemetria e telecomando para aquisição de dados e segurança de vôo, tubeira móvel para controle de vetor empuxo de propulsores principais utilizados no controle de atitude dos veículos, estruturas em materiais compósitos por processos de bobinagem e moldagem utilizados em motores metálicos e bobinados a propelente sólido, componentes e redes pirotécnicas, sistemas de controle e Software embarcado.

Várias destas tecnologias serviram como spin-offs para outras áreas de atividades, como por exemplo, as ligas de aços de ultra-alta resistência, chegaram a ser exportadas para emprego na fabricação de trens de pouso de jatos comerciais e a tecnologia de bobinagem de fitas passou a ser utilizada na fabricação de capacetes de aviação.

Várias destas atividades foram desenvolvidas num esforço conjunto entre vários institutos brasileiros ligados à área espacial, indústria e universidades.

Atualmente esta sendo realizado pelo Grupo de Prospecção do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), equipe formada com pesquisadores para realizar atividades de vigilância tecnológica, levantamento das tecnologias críticas aplicadas na área de veículos lançadores, envolvendo os principais especialistas que atuam nas diversas áreas tecnológicas. Na tabela a seguir é apresentado o resultado preliminar deste estudo cuja conclusão ocorrerá em março de 2012.

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Observa-se na tabela que parte das tecnologias críticas para o Brasil, já é dominada por muitos países atuantes na área espacial. Se o país pretende ter autonomia de acesso ao espaço para colocar seus satélites em órbita, não dependendo das tecnologias sensíveis às restrições de comercialização para a fabricação de seu veículo lançador, deverá definir todo um conjunto de ações estratégicas para dar continuidade ao programa a curto e médio prazo. Vale ressaltar, que o trabalho de levantamento e seleção de tecnologias críticas é contínuo numa organização, onde uma equipe capacitada deve monitorar continuamente as tecnologias já dominadas e prospectar novas que poderão se tornar críticas.

Referências

WAGNER, C.S; POPPER, S.W. Identifying Crítical Technologies in the United States: a review of the federal effort. Journal of Forecasting, v. 22, p. 113-128, 2003.

BIMBER B; POPPER S.W. What is a Crítical Technology? Santa Monica, CA: RAND Corporation, 1994. http://www.eda.europa.eu/capabilitiespriorities/coredrivers/space/críticalspace


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 12 - Jul Ago e Set de 2011 - págs. 24 e 25

Comentário: Pois é leitor, o trabalho que esse grupo “IAE Prospecta” vem realizando é bastante significativo e eu mesmo fui um dos entrevistados, quando então pude conhecer seus integrantes pessoalmente durante minhas duas passagens por São José dos Campos. Aproveito para parabenizar os profissionais envolvidos com esse projeto pelo excelente artigo e pelo trabalho realizado até o momento, enviando daqui da boa terra minhas sinceras felicitações.

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