CLA Adquire Tecnologia de Precisão para Análise dos Ventos

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada na Revista Espaço Brasileiro (Jul, Ago e Set de 2011), destacando que o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), adquiriu tecnologia de precisão para análise dos ventos.

Duda Falcão

CLA

CLA Adquire Tecnologia de Precisão
para Análise dos Ventos

Medir a velocidade dos ventos é essencial
para o sucesso das operações de lançamento.
Havendo falhas nessa mensuração, a operação
pode gerar riscos tanto para população local,
quanto para o empreendimento.

Leandro Duarte

Com a intenção de possibilitar maior segurança para as operações de lançamentos de veículos espaciais (escolha do melhor momento para lançamento), o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), adquiriu recentemente um aparelho chamado perfilador de vento (Wind profiler), que tem a capacidade de mostrar, em tempo real, o perfil dos movimentos das massas de ar (em altura) na atmosfera.

A medição da direção e velocidade dos ventos em médias r grande altitudes era realizada no mundo, até o final da década de 1970, por um sistema de radiossondagem. A utilização desse método na coleta de dados para utilização no Sistema de Controle do Espaço Aéreo, bem como em lançamentos de veículos espaciais a partir de Centros de Lançamento, não era totalmente eficaz, uma vez que o balão-transporte da radiossonda poderia se afastar, impulsionado pelo próprio vento que precisaria ser medido.

Na década de 1980, para tentar sanar essas deficiências foi desenvolvido comercialmente, o perfilador de vento capaz de coletar r analisar, em tempo real, as variações dos padrões nos ventos desde o solo até as camadas mais altas da atmosfera.

O funcionamento do perfilador é baseado na análise da variação de freqüência de retorno ocasionada pelo deslocamento do alvo (conhecida como efeito Doppler) que ocorre em razão das diferentes camadas de ar em movimento. Essa análise é apresentada graficamente, para que o técnico a estude e possa assessorar a tomada de decisões nos lançamentos de foguetes.

De acordo com o diretor do CLA, Ricardo Rodrigues Rangel, “a importância de se ter um equipamento eficaz, que auxilie na correta decisão de lançar ou não um veículo espacial num determinado momento, torna-se maior, não somente pelo tamanho dos veículos ou pelo alto valor agregado das cargas úteis (satélites), mas principalmente pelos danos que poderão causar à população”.

Um dos fatores determinantes para que a península de Alcântara fosse o local escolhido para a construção do Centro de Lançamento, foi o clima. No entanto, quando o assunto são os ventos, nada se pode fazer senão monitorar e utilizar as janelas que a natureza oferece e aproveitá-las para lançamentos de diferentes tipos de veículos.

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A partir dessa ótica de monitoramento, a região próxima à linha do equador é considerada uma Zona de Convergência Intertropical (ITZC), onde há constante e irregular movimentação de ar pelo “encontro” dos ventos do hemisfério norte com os do sul. Essa situação justifica a necessidade de se ter um sistema capaz de fornecer dados, em tempo real, sobre o ambiente atmosférico próximo do lançador, bem como da trajetória dos veículos espaciais rumo à sua órbita. Para Rangel, essa lacuna foi preenchida pelo perfilador LAP 12.000, recentemente instalado no CLA. O equipamento, fabricado pela empresa finlandesa VAISALA, atuante no mercado brasileiro há mais de 50 anos e representada no país pela brasileira Hobeco, atenderá, também, a necessidade dos lançamentos do veículo Cyclone-IV, previsto para ser lançado pela empresa Alcântara Cyclone Space (ACS).

O modelo adquirido terá a capacidade de monitorar as constantes mudanças dos ventos, analisar as formações meteorológicas como cortantes, correntes de jato, brisas marítimas, perturbações mais acentuadas das massas de ar e o padrão de ventos da região até uma altitude aproximada de 20 km, suficientes para assegurar as boas condições para um lançamento.

Além de possibilitar a determinação em tempo real da janela de lançamento, um refinamento de medidas relativas a ventos predominantes poderá ser inserida e apontar os períodos mais adequados para os diversos tipos de veículo, facilitando o planejamento de operações de lançamento.

Para o diretor do CLA, “a incorporação do perfilador aos meios operacionais do CLA coloca o Brasil no rol de países que se atualizam com as novas tecnologias disponibilizadas no mercado, modernizando-se e adequando-se aos padrões de segurança cada vez mais restritivos para lançamento de veículos espaciais”, finalizou Rangel.

SAIBA MAIS

O vento é fator decisivo em uma operação de lançamento. Uma falha na mensuração pode acabar com milhões de reais investidos tanto em equipamentos como em experimentos. Cada operação tem um limite seguro de velocidade dos ventos. Durante a operação “Cumã 2”, por exemplo, realizada no CLA, em julho de 2007, o foguete brasileiro VSB-30 estava programado para ser lançado no dia 14. No entanto, ventos fortes adiaram a missão, que foi realizada no dia 19. Em 2008 a operação “Parellha”, realizada no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) foi adiada por cinco dias. Os ventos estavam 6.5 m/s fora dos limites da operação que era de 6 m/s. No ano passado a operação Fogtrein II foi adiada por um dia.


Na aviação civil, ventos fortes também podem prejudicar os vôos. Em novembro de 2002, em Porto Alegre, pousos e decolagens foram cancelados devido a rajadas de vento. A mesma situação quase ocasionou uma tragédia na região de Hamburgo, norte da Alemanha. A aeronave transportava 131 passageiros e enfrentou dificuldades para pousar sob os fortes ventos. O avião tocou a pista molhada e perdeu a direção, a asa esquerda chegou a bater no asfalto, antes de o piloto conseguir arremeter e voltar a voar. A aeronave pousou em segurança somente 15 minutos mais tarde.

Neste ano, um helicóptero militar que trabalhava no resgate das vítimas da chuva na região serrana do Rio de Janeiro caiu quando se preparava para pousar em razão de fortes ventos. A aeronave se chocou contra um monte de esterco, amenizando o impacto, e nenhum tripulante ficou ferido gravemente.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 12 - Jul Ago e Set de 2011 - págs. 18 e 19

Comentário: Pois é leitor, é o CLA se preparando cada vez mais para enfrentar qualquer problema que possa surgir antes e durante as operações de lançamento do centro.

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