Primeira luz de câmera astronômica construída pelo Brasil acontece no Observatório Astrofísico de Javalambre, na Espanha
Segue abaixo a nota "Primeira luz de câmera astronômica construída pelo Brasil acontece no Observatório Astrofísico de Javalambre, na Espanha", publicada no site da Agência Espacial Brasileira (AEB), no dia 14/09/2020.
Essa notícia relata um marco para a astronomia brasileira, possibilitando novos estudos de campo gravitacional.
Saudações,
Brazilian Space
Primeira luz de câmera astronômica construída pelo Brasil acontece no Observatório Astrofísico de Javalambre, na Espanha
A entrada em operação do instrumento, denominado JPCam, marca o término da fase de desenvolvimento tecnológico do levantamento celeste hispano-brasileiro Javalambre Physics of the Accelerating Universe Survey, o J-PAS.
A JPCam, a segunda maior câmera astronômica do mundo, observou a sua primeira luz técnica na noite de 29 de junho, obtendo com sucesso as primeiras imagens do céu. No campo da astrofísica profissional, chama-se de “primeira luz técnica” o momento em que um instrumento é apontado pela primeira vez para o céu e coleta e registra fótons provenientes de objetos celestes, como estrelas ou galáxias. Esse procedimento visa verificar se o desempenho do instrumento é aquele previsto nas suas fases de desenvolvimento.
Imagem obtida durante a primeira luz técnica da câmera JPCam: galáxia de Andrômeda (M31), localizada a 2,5 milhões de anos-luz de distância, que possui um diâmetro angular no céu equivalente a sete Luas cheias, sendo o maior objeto extragaláctico que pode ser observado a olho nu no Hemisfério Norte. Crédito: Centro de Estudos de Física do Cosmos de Aragão (CEFCA)
Em astronomia, mede-se a qualidade de uma imagem em termos do parâmetro denominado seeing. Uma boa imagem tomada a partir do solo deve ter um seeing menor do que 1” (um segundo de arco). “Na primeira luz da JPCam, os pesquisadores verificaram que o seeing ao longo de todo o campo de visão foi de 0,88”, de maneira uniforme, o que é um fato tecnologicamente surpreendente, dado o tamanho da câmera”, diz Renato Dupke, pesquisador do ON, coordenador do PAU-Brasil e um dos diretores científicos do J-PAS.
O projeto J-PAS/PAU-Brasil é uma colaboração Brasil-Espanha e envolve também, além do CEFCA e do ON, o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) e o Instituto Astrofísico de Andalucía do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha (IAA/CSIC). A produção da JPCam constituiu a principal contrapartida material brasileira para o projeto e o investimento realizado foi de aproximadamente 9 milhões de euros, aportados majoritariamente pelo ON ao longo de 10 anos, principalmente com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Rio de Janeiro (FAPERJ) e do próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), ao qual o ON está vinculado. O investimento também contou com aportes importantes do IAG/USP, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e do CEFCA, por meio do Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional (FEDER).
O sucesso da primeira luz técnica da JPCam é um marco para a colaboração J-PAS, já que a construção da câmera foi um dos principais projetos de pesquisa e desenvolvimento da colaboração. Após o processo de design, revisão, gerenciamento técnico e fabricação de seus vários componentes, realizado pelo Observatório Nacional, a montagem final, o ajuste e a verificação levaram dois anos para serem completados pela equipe de engenheiros do CEFCA. “A concepção, design e construção de todas as subpartes, incluindo os detectores, a criogenia, os filtros e as partes “quentes” de uma câmera tão grande quanto a JPCam foram um verdadeiro desafio técnico-científico desde o início do projeto e do financiamento brasileiro, 10 anos atrás. Muitos componentes e sistemas da JPCam são protótipos de alta complexidade projetados e testados pela primeira vez neste instrumento”, explica Renato Dupke, que participou deste desenvolvimento. “É recompensador ver o retorno de um investimento brasileiro em ciência básica que vai produzir muitos frutos de alto nível internacional, já que o J-PAS se anuncia como o levantamento de maior legado astronômico desta década”, ele conclui. O pesquisador Fernando Roig, vice-diretor do ON e membro do J-PAS, ressalta que “a pesquisa científica tem resultados normalmente a médio e longo prazos, por isso é fundamental que haja investimentos como este em ciência básica, que permitam o progresso científico e o desenvolvimento de novas tecnologias com aplicações em diversos campos.”
"O projeto J-PAS é um marco para a astronomia brasileira. Na sua capacidade total, ele poderá fornecer respostas importantes sobre o comportamento do campo gravitacional em escalas cosmológicas, o que constitui um teste da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, assim como sobre a natureza da chamada energia escura, que é o mecanismo físico por trás da aceleração cósmica atual", explica o pesquisador do ON Jailson Alcaniz, coordenador do Grupo de Teoria da colaboração J-PAS.
Com a primeira luz técnica da JPCam, começa a denominada fase de comissionamento da câmera no telescópio, quando são realizados os últimos trabalhos de ajuste fino do instrumento. Nos próximos meses, a equipe de cientistas e engenheiros executará uma série de verificações e otimizações da JPCam, do telescópio e da infraestrutura de gerenciamento e análise de dados, a fim de alcançar o melhor desempenho possível.
Após a fase de comissionamento, a JPCam começará a sua operação científica. A maior parte do tempo de observação será usada para levar adiante o levantamento J-PAS, mas pelo menos 20% do tempo serão oferecidos à comunidade científica internacional, para que os pesquisadores possam acessar o uso da infraestrutura disponível através de chamadas regulares para tempo de observação em forma competitiva.
Imagem da Lua cheia sobreposta em escala com o campo de visão da JPCam instalada no telescópio JST/T250, que demonstra a distribuição do mosaico dos 14 detectores CCD e o tamanho do campo de visão do conjunto óptico.
Crédito: Centro de Estudos de Física do Cosmos de Aragão (CEFCA)
Fonte : Observatório Nacional
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