Astrônomos Descobrem Galáxia Que Não Deveria Existir
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado dia (21/12) no site da “Agência
FAPESP” destacando que Astrônomos descobrem galáxia que não deveria existir.
Duda Falcão
Notícias
Astrônomos Descobrem Galáxia
Que Não Deveria Existir
Por Peter Moon
Agência FAPESP
21 de dezembro de 2015
Galáxia ultra-distante, que existia 400 milhões de anos
após o Big Bang,
aponta para a fartura de matéria escura no Universo
recém-nascido.
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Era uma vez uma galáxia muito, muito distante, que
existia quando o Universo era muito, muito jovem, apenas 400 milhões de anos após
o Big Bang.
Era uma galáxia muito antiga, a mais distante jamais
observada. Seus raios de luz viajaram pelo espaço por mais de 13 bilhões de
anos – 96% da idade do Universo ou três vezes a idade do Sistema
Solar - até serem coletados pelos observatórios espaciais Hubble e Spitzer.
Aquela galáxia tão distante foi apelidada de Tainá,
"recém-nascida", no idioma aimará, falado por povos andinos. A
análise de sua luz revelou uma galáxia muito jovem e maciça, compacta e repleta
de estrelas gigantes azuladas, uma galáxia que não deveria existir… pelo menos
de acordo com o modelo atual da evolução do Universo.
Contra
fatos e imagens não há argumentos. Sendo assim, muito embora Tainá não devesse
existir, ela existe. Logo, quem está incorreta é a teoria, que parece precisar
de ajustes, de acordo com o cosmologista madrilenho Alberto Molino Benito,
pós-doutorando no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da
Universidade de São Paulo (IAG/USP).
Molino
colaborou com o trabalho publicado no
periódico The Astrophysical Journal. Seu pós-doutorado é apoiado pela FAPESP e supervisionado
pela cosmóloga Claudia Mendes de Oliveira,
que estuda a formação e a evolução das galáxias.
Apesar
do poder tecnológico combinado do Hubble e do Spitzer, Tainá é tão distante e
tão tênue que se torna invisível mesmo para aqueles poderosos observatórios.
“Para detectar Tainá, nosso grupo teve que recorrer a técnicas sofisticadas,
como a lente gravitacional”, um fenômeno previsto por Albert Einstein na sua
Teoria Geral da Relatividade.
Segundo
Einstein, a força gravitacional exercida por um corpo de grande massa, como um
aglomerado de galáxias, distorce o espaço ao seu redor. Essa distorção acaba
funcionando como uma monstruosa lente virtual (ou gravitacional), que deflete e
amplifica a luz de objetos muito mais distantes posicionados atrás do
aglomerado que se observa.
“Nós
vasculhamos o espaço à procura de aglomerados de galáxias maciços que possam
agir como lentes gravitacionais para conseguir observar objetos que não
deveríamos enxergar de tão tênues”, explica Molino. No caso, os astrônomos
usaram o aglomerado gigante de galáxias MACS J0416.1-2403, que fica a 4 bilhões
de anos-luz da Terra. O aglomerado tem a massa de um milhão de bilhão de sóis.
Essa massa descomunal funcionou como o zoom de uma câmera, tornando 20
vezes mais brilhante a luz de Tainá, posicionada exatamente atrás do
aglomerado.
Uma
vez que Tainá foi detectada, era preciso determinar sua distância. Para calculá-la,
os astrônomos estudaram sua luz por meio de um recurso chamado “desvio para o
vermelho fotométrico”.
Funciona
deste jeito: quanto mais distante se localiza um objeto astronômico, menor é a
frequência de sua luz que chega até nós. Em outras palavras, mais avermelhada a
luz fica. Assim, calculou-se que Tainá ficava a 13,3 bilhões de anos-luz de
distância da Terra. Sua luz viajou durante este tempo todo para chegar até nós.
Vale dizer que observamos Tainá como ela era há 13,3 bilhões de anos, quando o
Universo contava apenas 400 milhões de anos.
Estrelas Gigantes Azuis
A
luz de um objeto distante não conta apenas sua localização, idade e distância.
“Seu estudo pode revelar o tamanho da galáxia, sua massa, quantas estrelas ela
possui e qual a proporção de estrelas jovens e velhas nesta população estelar.
Quanto mais estrelas jovens, azuis e brilhantes a galáxia possui, mais jovem
ela é”, explica Molino.
No
caso de Tainá, trata-se de uma galáxia repleta de estrelas gigantes azuis muito
jovens e brilhantes, prontas para explodir em formidáveis supernovas para virar
buracos negros. Quanto ao seu tamanho, Tainá era similar à Grande Nuvem de
Magalhães, uma pequena galáxia disforme que é um satélite da nossa Via-Láctea.
“400
milhões de anos é muito pouco tempo para a existência de uma galáxia tão bem
formada”, diz Molino. “Os modelos mais recentes da evolução do Universo apontam
para o surgimento das primeiras galáxias quando ele era bem mais velho.” Por
mais velho, Molino entende um Universo adolescente de 1 bilhão de
anos – não um recém-nascido de 400 milhões.
Só
existe uma explicação para a existência de Tainá – a mais antiga das
outras 22 galáxias muito tênues detectadas pelo estudo. “Elas só poderiam se
formar tão rapidamente após o Big Bang se a quantidade de matéria escura no
Universo fosse maior do que acreditamos”, pondera o cosmólogo.
Matéria
escura é um tipo de matéria que compõe 80% da massa do Universo. Vale dizer, há
cinco vezes mais matéria escura do que a massa de todos os 100 bilhões de
galáxias do Universo observável. O problema é que esta matéria, como o nome
indica, é escura, ou seja, invisível, ou melhor, desconhecida. Não sabemos do
que é feita. Trata-se de uma das questões mais cruciais da cosmologia atual.
Há
várias teorias para explicar o que seria matéria escura. Porém, como ela não
interage com a luz, não conseguimos enxergá-la nem conhecer sua substância.
Sabe-se apenas que a matéria escura existe devido à sua ação gravitacional
sobre as galáxias. Não fosse a matéria escura, as galáxias já teriam há muito
se estilhaçado. Sem matéria escura, o Universo não seria como o conhecemos.
Talvez não existíssemos.
“A
única explicação para Tainá existir e ser como era quando o Universo tinha 400
milhões de anos é graças à matéria escura, que deve ter acelerado o movimento
de aglomeração de estrelas para a formação das primeiras galáxias”, explica
Molino. “Se existe mais matéria escura, as galáxias podem se formar mais
rápido.”
Não
é possível pesquisar mais a fundo sobre Tainá e suas irmãs proto-galáxias no
Universo recém-nascido, pois a tecnologia à disposição foi empregada até o seu
limite. “Para saber mais, para enxergar melhor as primeiras galáxias e inferir
a ação da matéria escura, temos que aguardar até 2018, quando será lançado o
sucessor do Hubble, o telescópio espacial de nova geração James Webb”, diz
Molino.
O
James Webb terá um espelho de 6,5 metros de diâmetro, muito maior que os 2,4
metros do Hubble. Esse aumento de tamanho se traduz em aumento de acuidade.
Molino e seus colegas contam com a sensibilidade do futuro telescópio espacial
para continuar contando galáxias distantes e formar o maior banco de dados
tridimensional do Universo. “Só assim poderemos confirmar como se processou a
formação e evolução do Universo.”
O
artigo Young Galaxy Candidates in the Hubble Frontier Fields, de
Leopoldo Infante e outros, publicado em The Astrophysical Journal (DOI:
10.1088/0004-637X/815/1/18), pode ser lido em arxiv.org/abs/1510.07084.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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