Poluição Aumenta Fração de Partículas Sólidas na Atmosfera Amazônica
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado hoje (08/12) no site da Agência FAPESP, destacando que a Poluição
aumenta fração de partículas sólidas na Atmosfera Amazônica.
Duda Falcão
Notícias
Poluição Aumenta Fração de Partículas
Sólidas na
Atmosfera Amazônica
Karina Toledo
Agência FAPESP
08 de dezembro de 2015
(Fotos: Eduardo Cesar/Pesquisa FAPESP)
Equipamento instalado em Manacapuru (sítio T3), no
Amazonas,
uma das áreas onde se realiza o experimento GOAmazon.
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Um estudo publicado na
revista Nature Geoscience, no dia 7 de dezembro, demonstrou que a
poluição emitida pela cidade de Manaus (AM) altera o estado físico das partículas
presentes na atmosfera amazônica, aumentando a fração de material particulado
sólido mesmo em uma situação de alta umidade relativa do ar.
“Além
de prejudicar os mecanismos de formação de nuvens, essa mudança na natureza das
partículas faz com que nutrientes como fósforo, cálcio, enxofre e nitrogênio
fiquem menos biodisponíveis para o funcionamento da floresta”, alertou o
professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) Paulo
Artaxo, coautor do artigo.
A
investigação foi conduzida por um grupo de pesquisadores brasileiros,
canadenses e norte-americanos que integram a campanha científica Green Ocean
Amazon (GOAmazon), que conta com apoio da
FAPESP, do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em
inglês), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), entre
outros parceiros.
De
acordo com Artaxo, o estudo tinha como objetivo determinar a natureza das
partículas em suspensão – verificar se são predominantemente líquidas ou
sólidas – porque isso influencia a dinâmica dos processos atmosféricos que
ocorrem na Amazônia.
“As
reações químicas de troca de gases entre a atmosfera e a floresta são muito
mais rápidas, fortes e intensas quando as partículas são líquidas. O retorno
para o ecossistema dos nutrientes críticos para o ciclo biogeoquímico das
plantas ocorre de forma mais acelerada quando eles estão na forma solúvel”,
explicou o pesquisador.
Os
resultados mostraram que, em condições naturais, quase 100% das partículas
atmosféricas estão em estado líquido quando a umidade relativa do ar está acima
de 80%. Isso ajuda a explicar, por exemplo, porque o ciclo hidrológico na
Amazônia é tão intenso.
“As
partículas líquidas funcionam de forma muito eficiente como núcleo de
condensação de nuvens. As gotas aumentam de tamanho rapidamente e logo adquirem
massa suficiente para precipitar”, contou Artaxo.
Na
presença de poluição, porém, o índice de partículas líquidas na atmosfera cai
para 60%, mesmo com alta umidade relativa do ar acima de 80%.
Contando
Partículas
Para
chegar a essas conclusões, foram feitas medições em dois diferentes sítios
experimentais que integram o GOAmazon. O primeiro é uma área livre de poluição
situada 50 quilômetros ao norte de Manaus, onde se encontra uma das torres de
medição do projeto, chamada no estudo de sítio T0z. O segundo, o sítio T3, fica
vento abaixo da pluma de Manaus, na cidade de Manacapuru, a 60 km a oeste de
Manaus, que frequentemente recebe a pluma de poluição da capital.
Para
avaliar as partículas, o grupo usou uma superfície de impactação higroscópica
(capaz de absorver água) que funciona como um contador de partículas e foi
chamada de impactador. “Nós selecionamos o tamanho da partícula que desejávamos
medir, no caso, por exemplo 100 nanômetros, e então contamos o número de
partículas antes e depois de elas colidirem com o impactador”, disse Artaxo.
As
partículas líquidas são todas depositadas na superfície do impactador, enquanto
as sólidas são repelidas e coletadas em uma segunda superfície de medição. “A
razão de partículas do primeiro para o segundo impactador é o que chamamos de rebound
fraction (fração de ricochete), que foi muito maior em Manacapuru do que no
sítio T0z para altas umidades do ar”, afirmou.
Para
ter certeza de que a diferença era consequência da poluição e não de outros
fatores inerente à cidade de Manacapuru, o grupo fez a mesma comparação medindo
as partículas num dia em que as massas de ar que chegavam à região não vinham
da cidade de Manaus e sim da região de floresta. Nesse caso, o resultado no T3
foi muito semelhante ao observado no T0z.
“O
experimento deixa claro que a natureza das partículas antes e depois da
poluição é muito diferente. Quando há poluição, portanto, as plantas não conseguem
aproveitar com eficiência os nutrientes presentes na atmosfera, que são
perdidos no ecossistema. E isso é muito relevante, pois o fator limitante do
crescimento da floresta é a disponibilidade de fósforo, que só é assimilado
pela planta na forma solúvel”, comentou Artaxo.
Iniciado
em janeiro de 2014, o experimento GoAmazon reúne mais de 100 pesquisadores de
diversos países dedicados a estudar o efeito da poluição e das atividades
antrópicas em aspectos como química atmosférica, microfísica de nuvens e
funcionamento dos ecossistemas. O objetivo final do grupo é estimar o impacto
da urbanização em aspectos críticos do ecossistema amazônico, tais como
mudanças futuras no balanço radioativo, na distribuição de energia, no clima
regional, nas nuvens e seus feedbacks para o clima global (leia mais
em: agencia.fapesp.br/18691/)
O
artigo Sub-micrometre particulate matter is primarily in liquid form over
Amazon rainforest (doi: 10.1038/ngeo2599), pode ser lido em www.nature.com/ngeo/journal/vaop/ncurrent/full/ngeo2599.html
.
Infraestrutura do Atmospheric Radiation Measurement (ARM)
Facility, em Manacapuru, utilizada em estudos sobre formação
de nuvem e
transferência de radiação.
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Torre de medição instalada no sítio T0, a 50 quilômetros
ao norte de Manaus.
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Fonte: Site da Agência FAPESP
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