Aeronáutica Impõe Reitor do ITA
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada na edição de novembro do “Jornal do SindCT”, destacando
que a escolha do reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) é feita
por imposição da Aeronáutica.
Duda Falcão
NOSSA
PAUTA
COMANDANTE DECIDE E MINISTRO
HOMOLOGA
Aeronáutica Impõe Reitor do ITA
Processo de escolha do principal dirigente da instituição
exclui docentes,
funcionários e alunos e contraria a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação
e a Constituição. Não há eleição e sim seleção de candidatos
por uma comissão de 5 pessoas
Antonio Biondi
Jornal do SindCT
Edição nº 42
Novembro de 2015
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)
conhecerá neste final de ano seu novo reitor. A eleição do novo dirigente
poderia ser exemplar ocasião para garantir a participação da comunidade nos
rumos do ITA. Contudo, o modelo de escolha do reitor é fechado, conduzido por
pouquíssimas pessoas, e prevê baixíssima participação dos professores da
instituição, o que contraria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE) e a
própria Constituição Federal.
Uma “Comissão de Alto Nível”
instaurada pelo Ministério da Defesa, formada por
cinco integrantes indicados pela direção do Departamento
de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA),
seleciona os candidatos a reitor do ITA e elabora
uma lista com três nomes. A “lista tríplice” é encaminhada
ao comandante da Aeronáutica, a quem
cabe escolher e nomear um dos nomes, para posterior
homologação do ministro da Defesa.
De acordo com o site do ITA,
a “Comissão de Alto Nível” é composta por Carlos Américo
Pacheco, ex-reitor do ITA, que a preside; tenente-brigadeiro do
ar reformado Reginaldo dos
Santos, ex-reitor do ITA; coronel
aviador Fernando Teixeira Mendes Abrahão, representante do Estado-Maior da
Aeronáutica; Osvaldo Catsumi Imamura, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados
(IEAv) e representante do DCTA; professor Karl Heinz Kienitz, representante da
Congregação do ITA.
A Comissão coordena todo o processo: recebe
os currículos e propostas dos candidatos, conduz as entrevistas, realiza uma pré-seleção
de seis nomes e, por fim, seleciona os três que considera mais indicados, tudo
isso sem nenhum tipo de votação. Os estudantes só “participam” de forma
indireta, por meio da elaboração de uma carta à Comissão. A participação dos
docentes se reduz ao representante da Congregação do ITA na Comissão. E sequer
existe menção ao papel dos funcionários.
A instituição da Comissão é uma inovação
surgida na última sucessão reitoral, em 2011. Antes a escolha era ainda mais
fechada, exclusivamente no âmbito da Aeronáutica. Em 2005, o então reitor
Michal Gartenkraut foi exonerado pela Aeronáutica, e substituído por um
brigadeiro, após homenagear os ex-alunos que haviam sido banidos do ITA durante
a Ditadura Militar.
Michal Gartenkraut: exonerado
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Questionamentos
Consultado pelo Jornal
do SindCT, o Comando da Aeronáutica limitou-se a
informar sobre como se dá o processo, preferindo não indicar algum oficial para
conceder entrevista a respeito.
O atual reitor do ITA, professor Fernando Toshinori Sakane,
afirmou à reportagem que a lista tríplice “encontra-se nas mãos do comandante
da Aeronáutica para que faça a escolha”. Ex-aluno do ITA, professor desde 1969,
ele considera o modelo atual “bastante interessante, pois permite olhar para
fora do quadro docente”.
Acredita, também, que “o fato de haver um comitê formado
por pessoas representativas do Comando da Aeronáutica, da comunidade, do próprio
ITA e até de empresas permite que se realize uma escolha mais técnica e com um
olhar mais amplo do que acontece nas universidades federais”.
Na opinião do reitor, como a comissão conta com um
representante da Congregação, “que acaba ouvindo a comunidade e buscando
interlocução com ela”, isso confere “representatividade” ao processo. Sakane
relata que sua gestão tem “priorizado a continuidade das obras de ampliação física
do ITA e da modernização do ensino de engenharia”.
Reitor Fernando Sakane
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Matheus Alves Fonseca, presidente do Centro Acadêmico
Santos Dumont (CASD), afirma que “os candidatos escolhidos atendem em boa parte
ao que consideramos importante para o próximo reitor e ao que afirmamos durante
o processo”, mas reconhece que “formalmente, não temos influência sobre a
Comissão de Alto Nível, que atua de forma independente”.
Nos processos de escolha de 2011 e 2015, o CASD
encaminhou uma carta à Comissão sobre as características desejáveis do futuro
reitor: “conhecimento da escola e apreço por seus valores, captador de
recursos, coragem para mudar e inovador no modelo pedagógico educacional e bom
relacionamento interno e externo”.
Sem Autonomia
A assessoria jurídica do ANDES - Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) considera questionável
a legalidade do formato de escolha do reitor do ITA. Tomando como ponto de
partida a Constituição Federal (artigo 207) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (sobretudo o artigo 56), e depois a Lei 9.192/95 e seu decreto regulamentador
1.916/96, que tratam da escolha dos dirigentes das instituições de ensino superior
mantidas pela União, a assessoria declarou ao Jornal do SindCT que o atual processo “não
está garantindo a participação e o envolvimento democrático da comunidade, dois
aspectos essenciais que a legislação buscou garantir”.
Além disso, “o processo de definição do
novo reitor do ITA retira de dentro da instituição a coordenação do processo de
escolha, colocando-a sob a coordenação de pessoas de fora”, ou seja: “Remete a
uma comissão formada em boa parte por membros externos”. A conclusão da assessoria
do ANDES-SN é de que restam feridos os princípios da gestão democrática e da autonomia
universitária: “Um deles presente na LDBE e outro na
Constituição”.
“O artigo 207 da Constituição Federal
diz que as universidades gozam de autonomia. É um artigo que tem de ser
respeitado”, destaca Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN. Professor da
Universidade Federal de Santa Catarina, ele explica: “A instituição de ensino e
pesquisa tem que se pautar pela democracia”.
Rizzo esclarece que, na maioria das
instituições federais de ensino superior, a escolha dos reitores resulta de uma
eleição paritária, na qual os votos de professores, estudantes e servidores possuem
proporcionalmente o mesmo peso: um terço para cada categoria.
“É feita uma consulta à comunidade, que
vota diretamente e depois o Conselho Universitário
referenda”. A lista dos três nomes mais
votados é enviada ao MEC para homologação do ministro. O ANDES-SN defende a
eliminação da lista tríplice, para que o processo se encerre dentro das
instituições de ensino.
“Não Apropriado”
A lista tríplice do ITA, divulgada no
dia 27 de outubro, é composta pelos seguintes candidatos: Anderson Ribeiro
Correia, João Luiz Filgueiras Azevedo e Ricardo Magnus Osório Galvão. Somente o
professor Anderson Correia respondeu às questões enviadas pela equipe de
reportagem.
João Azevedo informou que não obteve a
tempo uma autorização das “instâncias superiores” para a entrevista e sugeriu
que as respostas poderiam ser obtidas no material apresentado por ele no
processo de escolha.
Ricardo Galvão solicitou que as
perguntas lhe fossem enviadas, mas não as respondeu. “Solicitei ao Comando da
Aeronáutica permissão para dar esta entrevista. Infelizmente até hoje não
recebi resposta. Como candidato, não considero apropriado dar entrevista sobre
um processo de seleção do qual estou participando sem que seja autorizado”,
declarou ao Jornal
do SindCT.
Correia destacou como prioridades de
sua gestão, entre outras: “expansão do ITA, modernização do ensino de engenharia,
incentivo à melhoria da pós-graduação e pesquisa desenvolvidas no ITA”. Como
desafios centrais do instituto, ele ressaltou o de “se tornar cada vez mais relevante
para a sociedade em geral, em termos de indústria, sociedade científica e
particularmente ao Comando da Aeronáutica, contribuindo com os grandes desafios
tecnológicos e científicos nacionais de longo prazo, principalmente no setor
aeroespacial e de defesa”.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 42ª - Novembro de 2015
Comentário: Pois é leitor, se realmente quisermos construir
um país de verdade, muita coisa terá de ser revista e mudada culturalmente para
que possamos atingir um nível de Sociedade amadurecida que permita o nosso
desenvolvimento. O caminho é longo, difícil, e pior, continuamos seguindo a
mesma direção contraria sem qualquer luz no final do túnel. O Brasil é uma
piada.
Todo mundo sabe que essas disputas eleitorais das universidades federais se tornam disputas ideológicas sem nenhuma preocupação com a qualidade do ensino. E todo mundo sabe que os movimentos estudantis não passam de braços de certos partidos.
ResponderExcluirEspero que o ITA se mantenha livre dessas forças, senão vai virar um butequim igual as federais.