Fragmentação do Satélite Russo Resurs-P No.1: Incidente e Consequências

Prezados leitores e leitoras do BS,

No dia 27 de junho, o portal da CNN Brasil divulgou uma notícia preocupante e o Brazilian Space repercutiu no seu blog () e no YouTube () que, um satélite russo de observação terrestre, o Resurs-P No.1, que estava desativado desde 2021, se fragmentou no espaço, obrigando os astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) a se abrigarem. A seguir, trazemos uma atualização detalhada sobre este incidente, combinando informações de diversas fontes consultadas desde então.

Imagem da representação artística do satélite Resurs-P 1 [TsSKB].

Detalhes do Satélite Resurs-P No.1

O Resurs-P No.1 foi um satélite russo de observação da Terra, com massa de aproximadamente 6570 kg, fabricado pela empresa TsSKB-Progress e operado pela Roscosmos, tinha capacidade de adquirir imagens de alta resolução (até 1.0 m). Derivado do satélite militar russo baseado na plataforma Yantar, este satélite fazia parte de uma série de espaçonaves Resurs-P, projetadas para sensoriamento remoto multiespectral da superfície terrestre, visando fornecer imagens de alta qualidade e dados em tempo real para diversos usuários comerciais e governamentais. O satélite foi lançado em 25 de junho de 2013 e operou até ser desativado em dezembro de 2021 devido a falhas nos equipamentos a bordo.

Entre 26 de junho de 2024, às 13:05 UTC, e 27 de junho de 2024, às 00:51 UTC, o Resurs-P No.1, se fragmentou em uma órbita baixa da Terra (órbita elíptica de 470 km × 480 km de altitude, com uma inclinação de 97.28°), liberando mais de 100 pedaços de detritos rastreáveis, de acordo com o Comando Espacial dos Estados Unidos e a empresa de rastreamento espacial LeoLabs. A NASA informou que, devido à proximidade dos detritos à órbita da ISS, os astronautas a bordo tiveram que se abrigar em sua espaçonave por cerca de uma hora como medida de precaução.

LeoLabs detectou a liberação de uma nuvem de detritos na órbita baixa da Terra, estimando inicialmente em 180 pedaços de detritos. Felizmente, por enquanto, não houve ameaça imediata a outros satélites, embora a causa exata da fragmentação ainda não tenha sido determinada. Especula-se que a passivação inadequada do satélite pode ter contribuído para o incidente. Não há evidências de que a fragmentação tenha sido causada por uma arma anti-satélite, conforme verificado por ativos americanos e europeus.

Possíveis Causas da Fragmentação

O satélite, que estava inativo desde 2021, não foi manobrado para um decaimento controlado, permanecendo em uma órbita potencialmente perigosa. Existem várias teorias sobre o que pode ter causado a fragmentação do Resurs-P No.1:

- Colisão com Detritos Espaciais: A órbita baixa da Terra está repleta de detritos espaciais, e uma colisão com um desses fragmentos poderia ter causado a quebra do satélite. Essa possibilidade ganha força devido ao número crescente de detritos resultantes de lançamentos e testes espaciais.

- Impacto com Nuvem de Detritos: Além de uma colisão direta, o satélite pode ter sido atingido por uma nuvem de pequenos detritos, que juntos poderiam ter causado danos suficientes para resultar em sua fragmentação.

- Teste de Míssil Anti-Satélite (ASAT): Em um cenário mais complexo, é possível que o Resurs-P No.1 tenha sido alvo de um teste de míssil anti-satélite russo. Com o cenário geopolítico atual, incluindo a guerra da Rússia com a Ucrânia, essa hipótese não pode ser descartada. Tal ação poderia ser vista como uma demonstração de força por parte da Rússia, mostrando suas capacidades tecnológicas e militares no domínio espacial.O Incidente de Fragmentação.

Silêncio e Suspeitas

Passados mais de cinco dias desde a identificação do incidente, poucas informações complementares têm sido publicadas ou atualizadas, ainda que uma atualização de uma página da Wikipedia (aqui) tenha sido feita no dia 29/06, nenhuma declaração oficial de entidades e pessoas especializadas foi apresentada, o que gera estranheza e suspeitas sobre o que realmente aconteceu. 


Imagens de mensagens trocadas nas redes sociais pelo editor do BS (Rui Botelho) com especialistas.

O Brazilian Space tem consultado diariamente o site CELESTRAK (aqui) e especialistas renomados como T.S. Kelso e Scott Manley nas redes sociais. Contudo, até o presente momento, nenhuma notícia atualizada sobre a dispersão dos detritos, sua catalogação e rastreamento, ou mesmo os motivos da fragmentação foram divulgados pelos principais centros de referência em detritos e segurança operacional no espaço.

Impactos e Considerações Futuros

Este evento ressalta a crescente preocupação com o gerenciamento de detritos espaciais e a segurança das operações em órbita. A fragmentação de satélites desativados representa um risco significativo para a ISS e outras espaçonaves operacionais. Agências espaciais internacionais estão colaborando para monitorar e mitigar os riscos associados a detritos espaciais. 

Apesar das agências espaciais internacionais estarem colaborando para monitorar e mitigar os riscos associados a detritos espaciais, mesmo que não se confirme a hipótese mais complexa de um teste ASAT, este incidente, caso tenha sido resultado da colisão de um satélite inoperante com detritos ou nuvens de detritos, é uma clara demonstração das consequências da falta de normativos internacionais mais firmes e impositivos sobre o descomissionamento seguro de satélites.Continuaremos acompanhando e trazendo atualizações sobre este e outros eventos relevantes no setor espacial. 

Fiquem atentos às próximas publicações e vídeos no YouTube para mais informações.

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