Novo Presidente da AEB Concede a Sua Terceira Entrevista e Esta Agora Pra Revista VEJA
Olá leitores e leitoras do BS!
Pois é caros entusiastas, segue abaixo na integra a terceira entrevista
concedida pelo novo presidente de nossa Agência Espacial de Brinquedo (AEB), o Sr.
Marco Antônio Chamon, publicada ontem (21/08) e desta vez pelo site da 'Revista VEJA’. (Vejam as outras aqui e aqui)
Pois então amigos e amigas, tirem suas próprias conclusões
lendo com calma o texto abaixo e por gentileza, observem os destaques pintados
de amarelo, principalmente o segundo. Outra coisa, atentem também para o fato
de que em momento algum o Dr. Chamon
fala sobre veículos lançadores nacionais.
Enfim...
Brazilian Space
Ciência
Novo Chefe da Agência Espacial Cogita Outro
Astronauta Brasileiro
Em
entrevista a VEJA, Marco Antônio Chamon comenta sobre projeto Artemis, outras
parcerias internacionais e planos da nova gestão
Por Luiz
Paulo Souza
Publicado
em 21 ago 2023, 12h51
Atualizado
em 21 ago 2023, 13h40
Fonte: Via
site da Revista VEJA – https://veja.abril.com.br
Fonte: (Agência
Espacial Brasileira/Reprodução)
Em julho,
Marco Antônio Chamon foi empossado como novo presidente da Agência Espacial
Brasileira (AEB). Em meio a crescente tensão entre grandes potências pelo protagonismo
da exploração da Lua e de Marte, ele será responsável por manter um papel
diplomático e buscar novos campos de protagonismo.
Chamon
substitui Carlos Augusto Teixeira de Moura, militar da reserva nomeado para o
cargo na gestão de Jair Bolsonaro. Engenheiro elétrico formado pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele tem mestrado em engenharia e
tecnologia espacial pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde atua desde 1984, e doutorado
em eletrônica pela Escola Nacional de Aeronáutica e Espaço (Supaero, na sigla
em francês), localizada em Toulouse, na França.
Em
entrevista a VEJA, Chamon comentou sobre a possibilidade do país voltar a ter
um astronauta, deu detalhes sobre parcerias internacionais e falou sobre os
planos da nova gestão.
Agora que o senhor já está empossado, quais são
os planos e quais serão as prioridades para a AEB?
O programa
espacial tem uma continuidade grande, não há rupturas, porque as atividades
espaciais são de longa duração. Existem algumas coisas novas para o programa. O
que está em andamento? Já há algum tempo, dois anos aproximadamente, nós
assinamos o acordo Artemis com os Estados Unidos, temos que dar continuidade a
isso. Há um pouco menos de tempo, ocorreu a abertura econômica do centro de
lançamento de Alcântara. Teve um lançamento inicial muito importante. Já vinha
em andamento e vai continuar. O que é mais novo são dois grandes acordos
internacionais, que estão no radar do Ministério [de Ciência e Tecnologia] e da
Presidência da República e são considerados muito importantes. O acordo com a
Argentina para fazer o SABIA-MAR e o com a China para fazer o Cbers-6. São os
grandes temas e são os primeiros que serão atacados.
Existe alguma estratégia da AEB para garantir
um maior protagonismo brasileiro no cenário espacial? em especial agora com o
crescente interesse em explorar Marte e a Lua?
Sim. O
Brasil já tem construído, e a Agência tem a obrigação de manter, um
protagonismo internacional. Nós sempre fomos um centro de excelência nas
aplicações para o meio ambiente. O programa de monitoramento de desmatamento é
um exemplo mundial. Esse protagonismo o Brasil tem. O país também tem um
protagonismo na política de dados, nós lideramos o conceito de dados abertos. Nós
fomos seguidos por nações que têm grandes programas espaciais. Além disso, o
Brasil aparece naturalmente como uma liderança entre os países com menos
tradição espacial, primeiro porque o país se relaciona com todo mundo, e
segundo porque nós somos um ponto intermediário entre os países emergentes e os
países com grandes orçamentos. Todo mundo gostaria de ter o orçamento da NASA,
mas nós temos um programa relevante com o orçamento que nós temos, que não é
pequeno, mas é modesto em relação a alguns outros. Nós temos protagonismo por
causa dessa posição.
O mundo tem testemunhado uma nova fase da
corrida espacial, protagonizada por Estados Unidos e China. Apesar disso, nós
mantemos relações com os dois. O Brasil pretende continuar atuando como esse
ponto diplomático entre as duas potências?
Sim, a
ideia aparece quase naturalmente. É fato que nós assinamos o acordo Artemis e é
fato que o Presidente Lula foi à China e assinou um protocolo para desenvolver
o Cbers-6. O mundo não acabou. Os americanos continuam conversando com a gente
e os chineses estão muito satisfeitos com o retorno do Brasil às atividades com
eles. Existem diferenças entre os dois, mas eles conversam. Talvez para alguns
temas o Brasil sirva de ponte. Nós não somos um mensageiro de luxo entre os
dois, isso seria ridículo. A ideia é que, ao conversar com os dois, nós possamos
trabalhar com os dois países e essas tensões sejam atenuadas, apesar das
divergências.
Sobre o Artemis, como tem evoluído os esforços
de estabelecer parcerias com outras entidades nacionais para conseguir viabilizar
a atuação brasileira?
O Brasil
pode cooperar com fazendas espaciais, conhecidas como space farming. Não dá pra colocar uma semente no solo lunar e
esperar florescer, mas é preciso construir um contêiner onde as coisas serão plantadas.
Isso não é trivial de ser feito, mas nós temos uma boa experiência com a
Embrapa, uma potência do Agro que lidera processos desse tipo no país. Os
acordos estão para ser assinados e há uma vontade muito grande dos dois lados
para trabalhar nisso. Nós estamos tentando copiar essa ideia com outras
instituições. Estamos pensando em alguma coisa com a Petrobrás, mas ainda está
muito no começo. A ideia é pensar junto com as outras instituições e universidades.
Estamos procurando.
Além do space
farming, existe alguma ideia já encaminhada? Como seria essa parceria com a
Petrobras?
Isso ainda
não está muito avançado, a Petrobrás pode dizer que não. Mas eles têm uma
enorme expertise com mineração, inclusive em ambientes hostis. Isso poderia desaguar
em alguma coisa útil no programa espacial. Por enquanto, apenas o da Embrapa é
concreto. A busca das capacidades que a gente já tem no Brasil é a primeira
coisa que temos que fazer. Onde o Brasil é bom? tem muitas áreas. É preciso
andar com o pé no chão e com alternativas que caibam no bolso do contribuinte.
Países como Índia e Canadá têm aderido ao
Artemis com a contrapartida de levar astronautas dos seus países à Lua. O
Brasil voltará a ter astronautas no espaço em breve? Esse é um esforço que a
AEB pretende fazer?
Nos
próximos meses não, seguramente, mas a ideia de ter um outro astronauta não
está descartada. O que seria mais interessante para dar os primeiros passos é
se colocar na fila, o que significa dizer “olha eu tenho interesse, lá na
frente, quando o programa tiver avançado mais, em ter um astronauta associado a
algum trabalho que a gente vai desenvolver na Lua, por exemplo, o space farming”. O astronauta tem um
sentido simbólico no imaginário brasileiro, mas o retorno é ainda maior se ele
tem uma aplicação. Não descartamos um astronauta, mas isso não acontecerá
imediatamente.
Durante a cerimônia de posse, vocês comentaram
muito sobre o programa espacial brasileiro e a reindustrialização. O senhor
pode comentar um pouco sobre como isso deve ser viabilizado?
Existem
algumas frentes importantes. A primeira e mais óbvia tem a ver com os
satélites, por exemplo, que são encomendas governamentais de alta complexidade
tecnológica para a indústria. Isso já tem sido feito e nós queremos continuar e
ampliar. A segunda é que cada vez maiores responsabilidades são transferidas
para as empresas. O que isso significa? Normalmente o Estado compra pequenos
pedaços, mas controla tudo sobre o satélite, desde o projeto até a integração.
Nós gostaríamos que, com o tempo, isso passasse cada vez mais para as empresas,
até que, em algum momento, nós contratemos o satélite inteiro delas. Nós temos
avançado para tentar viabilizar isso. Outra coisa é o que o pessoal chama de
downstream. O Brasil tem uma política aberta, de maneira que todo mundo possa
usar gratuitamente os dados dos satélites. O que nós gostaríamos é que, com
esse insumo, empresas agreguem valor a esse produto e vendam serviços, de
agrometeorologia ou prospecção agrícola, por exemplo. Não é o Estado que tem
que fazer isso, é o setor privado, que gera emprego e renda. Essa parte está
menos desenvolvida, mas, no mundo todo, é a que mais gera riqueza – nós queremos
crescer nessa direção.
E sobre os acordos com outros países? A AEB tem
pretensões de ampliar essas colaborações?
Sim, nós
temos essa pretensão. Temos acordos, já bem encaminhados com o Canadá e com a
França para desenvolver balões atmosféricos. Nós também temos acordo com a
China e com a Argentina para o desenvolvimento de satélites. Nossa parceria com
a China está completando 35 anos. O novo satélite é muito diferente dos outros
que desenvolvemos com eles. Os anteriores são satélites grandes. Os novos terão
a metade do tamanho e exigem mais tecnologia para miniaturizar os componentes.
Ele também é diferente na função, pois ao invés de ser um satélite óptico, será
um radar, que gera imagens que complementarão as geradas pelos equipamentos
antigos por permitirem ver através das nuvens. Com a Argentina nós lançaremos
dois satélites, cada país responsável pela construção de um deles, que permitirão,
principalmente, o monitoramento aquático e de costas. A constelação BRICS
também foi assinada, como isso vai evoluir ainda precisa ser visto, mas os
países desse bloco tem um acordo para o desenvolvimento de uma constelação de
satélites. Estamos explorando outras possibilidades.
Como está a expectativa de desenvolver a base
de Alcântara para prestação de serviços?
A
expectativa é grande e o fato de termos realizado o lançamento experimental
recente materializa isso. Nós temos trabalhado para que isso acontecesse, mas
em um certo sentido era apenas papel, agora isso se materializou. O lançamento
de um satélite que os sul-coreanos desenvolveram e que foi lançado por uma base
nacional. Isso destrava a possibilidade de avançar e é isso que nós queremos
explorar. O fato de o primeiro ter acontecido faz com que os outros países
vejam que é para valer. Nós temos a posição geográfica mais privilegiada do
mundo, então é possível que outros países queiram, pelo menos, saber do que se
trata.
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