Durante o 'Space Studies Program' em SJC, Engenheiro da NASA Afirma Que ‘Pisar em Marte’ Será o Próximo Passo Lógico da Mova Era da Exploração Espacial
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma matéria publicada ontem (17/08) no site “Tilt UOL”, destacando
que o engenheiro da NASA ‘John Connolly’, durante a sua passagem
pelo Brasil para
participar do Space Studies Program, em São José do Campos-SP, afirmou que ‘Pisar em Marte’ será o próximo passo lógico da nova era da exploração espacial. Saibam
mais abaixo pela entrevista concedida a este site do Portal UOL.
Brazilian Space
MISSÃO ESPACIAL
Próxima Parada, Marte: Engenheiro da NASA Diz o Que
Falta Para Pisarmos Lá
Por Marcella Duarte
De Tilt, em São Paulo
17/08/2023 - 04h00
Atualizada em 17/08/2023 - 13h02
Via: Site Tilt do Portal UOL – https://www.uol.com.br/tilt
Imagem: Flavio
Pereira/PMSJC
Pisar em Marte
é o próximo passo lógico da nova
era da exploração espacial, defende John Connolly, engenheiro da NASA
há 36 anos. Previsões otimistas esperam que humanos cheguem ao planeta vermelho
na década de 2030.
"Vai acontecer, é só uma questão de quando",
ressalta em entrevista a Tilt. Connolly hoje trabalha no Programa
Artemis, iniciativa da agência espacial dos Estados Unidos para levar
pessoas novamente à Lua e, depois, até Marte.
"O ser humano sempre se esforçou para ultrapassar
novos limites, seja o cume do Monte Everest, o fundo do mar, a Lua ou Marte.
Explorar está no nosso DNA", acredita.
O engenheiro é um dos líderes da equipe responsável pelo
sistema de pouso humano (HSL, do inglês Human Landing System), que é como um
"elevador" para colocar os astronautas na superfície de um corpo
celeste. Apesar de essencial para que possamos visitar outros lugares do
Universo, a NASA ainda não domina essa tecnologia.
Esse é apenas um dos desafios que cientistas enfrentarão
nos próximos anos para tirar do papel o plano de conquistar Marte.
O Que Falta Para Chegarmos Lá?
De alguma forma, a humanidade já começou a explorar
Marte, com missões robóticas como os rovers Perseverance
e Curiosity
e o helicóptero Ingenuity.
Contudo, futuras missões tripuladas são muito mais complexas. Para que elas
aconteçam, ainda precisamos desenvolver:
* Trajes Especiais e Habitats: Marte é um dos
ambientes mais inóspitos do Sistema Solar, seco, empoeirado, gelado, com gases
tóxicos. É preciso de proteção e suporte de vida mais eficazes do que qualquer
um já desenvolvido pela NASA para sobreviver ali.
* Sistema de Propulsão Mais Eficiente: hoje, as
viagens espaciais usam propulsão química, com queima de combustível para gerar
energia. A meta é achar um sistema que não dependa de um grande estoque de
combustível, e que até forneça mais força e velocidade. As apostas são a
propulsão nuclear, por íons ou uso de velas solares.
* Definir o local de
pouso: as missões robóticas que estão explorando o planeta vermelho podem
nos apontar o local com mais recursos para uma presença humana. Mas isso ainda
é incerto.
Lua é o Primeiro Passo Para Marte
"Logo vamos encontrar vida fora da Terra — e seremos
nós", brinca Connolly, que já sonhou ser astronauta, mas uma lesão no
tornozelo, decorrente de um acidente de hockey quando era criança, o impediu de
ser selecionado.
Imagem: Marcella Duarte/UOL
O programa Artemis tem a ambição de estabelecer uma presença
humana constante na Lua, que servirá como um "trampolim"
para depois enviar pessoas a Marte.
"Um dia vamos minerar, plantar vegetais e coletar energia
solar por lá. Desenvolvendo essas novas tecnologias e aprendendo a
sobreviver fora do campo magnético da Terra, estaremos prontos para ir mais
longe. A Lua será nossa escola", acredita o engenheiro.
Mas pousar na Lua com uma tripulação continua sendo um
grande desafio, mesmo que no passado 12 pessoas tenham pisado em seu solo — todos
homens brancos da NASA.
Na Terra, que tem uma atmosfera muito densa, uma nave
pode simplesmente "cair", sendo freada pelo atrito. Já para o
satélite terrestre, e futuramente para Marte, será preciso desenvolver sistema
de pouso robusto, com propulsão que ativamente "lute" contra a queda
e controle a descida.
Novo Lander
Foi assim que a NASA fez nas missões do histórico
programa Apollo, entre 1969 e 1972. Na época, o foguete Saturno V enviava ao
espaço uma nave que carregava um módulo lunar (também chamado de
"lander"), acoplado em seu nariz.
Ao se aproximar da Lua, esse módulo se desconectava, como
uma nave independente, mas com autonomia apenas para ir e voltar uma vez até a
superfície com dois astronautas — um terceiro ficava aguardando em órbita, na
cápsula. Depois da viagem, o lander era ejetado e descartado ali mesmo.
Imagem: NASA
A antiga fórmula até poderia ser repetida, mas não faria
muito sentido para os novos objetivos da exploração espacial. "Poderíamos
reconstruir os landers da Apollo com alguns aprimoramentos, pois eles foram
brilhantes na época. A NASA criou do zero algo que nunca havia sido feito antes.
Mas agora estamos trabalhando com a próxima evolução tecnológica, e com a
perspectiva futura de também ir a Marte", explica o engenheiro, cuja
principal atribuição é chegar a esse novo sistema.
“Os antigos
módulos lunares levavam apenas dois astronautas a uma região bem específica da
Lua, por até três dias. Era o máximo que podiam fazer. Agora queremos levar
mais pessoas, pousar em qualquer lugar da superfície, e ficar lá por pelo menos
uma semana, talvez chegar a cem dias”
John Connolly
Parceria Com Empresas Privadas
A nova era da exploração espacial tem sido acelerada por
parcerias da NASA com empresas privadas — o que não existia na época do
programa Apollo —, para desenvolvimento de foguetes, naves e outras
tecnologias.
O novo lander é uma delas. A SpaceX, de Elon Musk, e a
Blue Origin, de Jeff Bezos, foram selecionadas para fornecer seus melhores
projetos à agência espacial. E a Axiom está desenvolvendo os
futuros trajes lunares.
O plano A é que a reluzente Starship, da SpaceX, seja a
escolhida para o pouso das missões tripuladas do programa Artemis. Porém, ela
ainda está em fase de testes — alguns
explosivos. Essa, inclusive, é a nave com a qual Musk quer realizar seu plano
ambicioso de ter um milhão de pessoas vivendo em Marte até 2050.
“Acredito que vai dar certo. A SpaceX tem
histórico de evoluir seus foguetes rapidamente e não tem medo de falhar. Eles
destruíram a nave e até a plataforma de lançamento no último teste,
mas já estão prontos para tentar de novo. Conseguem fazer em meses o que uma
agência levaria anos”
John Connoly
A partir deste ano, também já veremos pequenos landers de
empresas menores pousando na Lua — em vez de pessoas, eles levarão diversos
experimentos científicos que ajudarão a pavimentar nosso caminho até lá. Já
estão previstos 12 lançamentos até 2026, dentro do projeto CLPS (Commercial
Lunar Payload Services ou serviços de carga lunar comercial) da NASA.
Mas Por Que Voltar Agora?
“Quando entrei na NASA em 1987,
acreditava que em uns cinco anos já estaríamos em Marte, pois era o caminho
lógico. Acho que deveríamos ter voltado à Lua bem antes, estamos tentando há
décadas, mas isso envolve muitos fatores. Boa vontade política, dinheiro do
governo, uma pandemia... Agora finalmente temos um momento perfeito, todas as
peças estão no lugar”
John Connolly
Por enquanto, o programa Artemis conta com a cápsula de
passageiros Orion e com o foguete
SLS (Space Launch System), que já passaram por um teste bem-sucedido em sua
primeira ida até a órbita da Lua, no ano passado, sem tripulação.
Imagem: NASA
Em 2024, na missão Artemis 2, a viagem até o nosso
satélite será repetida com quatro pessoas a bordo, incluindo
pela primeira vez uma mulher e uma pessoa negra.
"Eles chegarão o mais longe da Terra que qualquer
ser humano já foi. Mas ainda sem pousar", ressalta o engenheiro. O
desembarque de pessoas na Lua está previsto apenas para a viagem seguinte,
Artemis 3.
A ideia é lançar primeiro a nave Starship, com o foguete
Super Heavy da SpaceX: "ela vai chegar antes e esperar na órbita da Lua.
Quando confirmarmos que está no lugar certo e com tudo funcionando bem,
mandamos a cápsula Orion com a tripulação, usando o SLS", detalha
Connolly.
A cápsula irá se acoplar à Starship no espaço, para que
os tripulantes entrem — uma manobra parecida com a que acontece nas viagens à Estação
Espacial Internacional (ISS). A grande nave, então, vai descer à Lua e
funcionar como "casa" durante a missão científica. Depois, subirá com
os astronautas de volta para a Orion, que os trará para a Terra.
Imagem: SpaceX
“A NASA está
contratando literalmente um serviço de elevador. O veículo é da SpaceX, e o que
eles fazem com ele depois não é relevante. Podem reabastecer a Starship e
mantê-la na órbita para a próxima missão, podem até vender viagens turísticas
para a Lua. Ou podem trazer de volta à Terra de alguma maneira.”
John Connolly
Quando
Pisaremos Novamente na Lua?
Se tudo ocorrer
como o previsto, humanos estarão na Lua até o final de 2025. Mas esse
cronograma pode sofrer atrasos.
A ideia é pousar
próximo ao polo Sul de nosso satélite, onde há regiões permanentemente escuras,
com crateras e depressões que podem guardar recursos importantes — em especial,
água congelada.
“Água
é mais valiosa do que ouro no espaço. Além de beber, você pode fazer
combustível e extrair oxigênio para respirar. Achar apenas alguns mls de água
na Lua ou em Marte será a maior descoberta da humanidade. Algum dia, pela
primeira vez, um astronauta vai beber no espaço um copo de água que não veio da
Terra”
John Connolly
Nenhum ser
humano ou sequer missão robótica já esteve no polo Sul da Lua — o que pode
mudar nos próximos dias, quando
a Rússia e a Índia tentarão pousar seus novos robôs (Luna-25 e
Chandrayaan-3, respectivamente) por lá.
Isso tudo torna
a missão ainda mais desafiadora. "Precisaremos de bastante luzes, por
exemplo nos capacetes e nos rovers, pois você pode estar indo por uma colina
iluminada mas do outro lado vai estar totalmente preto", explica o
engenheiro.
Aliás, os próximos exploradores lunares devem se deparar com um visual
bem diferente daquele que vemos nas fotos das missões Apollo. "Temos no
nosso imaginário a Lua como um lugar bem iluminado, plano, bonito, branco. Mas
no Sul a paisagem é muito escura, com sombras longas, pois o Sol fica bem
próximo ao horizonte", ressalta.
Connolly esteve no Brasil para participar do Space Studies Program, um
curso anual da International Space University (ISU), que em 2023 aconteceu em
São José dos Campos (SP). Há 31 anos ele leciona na instituição, que tem a
missão de formar as próximas gerações de líderes da indústria aeroespacial. Por
aqui, ele falou sobre o acidente do Ônibus Espacial Columbia, pois foi um dos
líderes das investigações na época, e até organizou uma competição de
lançamento de minifoguetes entre os participantes.
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