O Primeiro dos Gigantes
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na a edição de Maio de
2015 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que Pesquisadores
Paulistas terão 4% do tempo de observação do GMT, supertelescópio terrestre que
produzirá imagens 10 vezes mais nítidas do que as do Hubble.
Duda Falcão
CAPA
O Primeiro dos Gigantes
Pesquisadores paulistas
terão 4% do tempo de observação
do GMT, supertelescópio terrestre que produzirá imagens
10 vezes mais nítidas do que as do
Hubble
MARCOS PIVETTA
Revista Pesquisa FAPESP
ED. 231 - MAIO 2015
© GIANT MAGELLAN TELESCOPE
– GMTO CORPORATION
Ilustração
de como será o GMT: estudo de outros mundos será prioridade.
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Dotados de espelhos com
diâmetro superior a 20 metros (m) de resolução 10 a 15 vezes maior do que a do
telescópio espacial Hubble, o instrumento de observação do Universo mais
bem-sucedido dos últimos 25 anos, os supertelescópios ópticos baseados em terra
firme deverão elevar a pesquisa astronômica e cosmológica a outros patamares na
próxima década. Essa nova classe de observadores gigantes dos céus terá uma
capacidade de gerar dados nos comprimentos de onda da luz visível e do
infravermelho sobre planetas, estrelas e galáxias sem paralelo na história da
humanidade. Com eles, os astrofísicos esperam, por exemplo, produzir as
primeiras imagens de planetas extrassolares semelhantes à Terra e, talvez,
encontrar evidências irrefutáveis de vida em mundos ao redor de outras estrelas
que não o Sol. O Giant Magellan Telescope (GMT) está previsto para ser o
primeiro supertelescópio a entrar em atividade. Ainda sem estar totalmente
terminado, deverá começar a funcionar em 2021. A meta é, no ano seguinte, estar
totalmente operacional, com 100% de sua capacidade. Esse, ao menos, é o plano
por ora.
Projeto
de US$ 1 bilhão tocado por um consórcio de sete universidades e instituições
norte-americanas, dois centros de estudos astrofísicos da Austrália e o
Instituto de Astronomia e Ciência Espacial da Coreia do Sul, o GMT incorporou,
oficialmente desde dezembro passado, as instituições de pesquisa do estado de
São Paulo ao seu grupo de sócios. Naquela ocasião, após ter submetido a
proposta de entrada no GMT a um processo de análise de aproximadamente três
anos, a FAPESP aprovou o pedido e liberou a primeira das oito parcelas anuais
de US$ 5 milhões que garantirão aos astrofísicos de universidades paulistas 4%
do tempo de observação do equipamento e um representante no seu conselho de
administração.
O
supertelescópio será construído a 2.500 m de altitude no sul da porção chilena
do deserto de Atacama, em um sítio do Observatório de Las Campanas, onde a
Carnegie Institution for Science, umas das instituições americanas parceiras da
empreitada, mantém telescópios desde o início dos anos 1970. “No passado, se
não tivéssemos entrado nos telescópios Gemini e Soar, a astrofísica brasileira
teria definhado”, afirma João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), coordenador do
projeto que colocou as instituições paulistas no supertelescópio. “Até o fim da
próxima década, o mesmo poderia ocorrer se não tivéssemos fechado um acordo
como esse com o GMT.”
Rede
Paulista de Astronomia
Desde
o ano 2000, a ciência feita no Pico dos Dias – o principal observatório situado
em território nacional, em Minas Gerais, que dispõe de três pequenos
telescópios, o maior com espelho de 1,6 m de diâmetro – apresenta tendência de
estagnação ou queda. Já a produção de artigos científicos de astrofísicos
brasileiros feitos a partir de observações no Gemini e Soar cresce 17% ao ano.
Está hoje na casa dos 40 papers a cada 12 meses. Os
astrofísicos esperam que a entrada no GMT represente um novo impulso à área.
O
quartel-general da parceria com o GMT ficará na USP, que trabalhou em prol do
acordo e concentra a maior parte da produção científica em astrofísica do
estado, mas os grupos de pesquisa de outras universidades paulistas também
poderão submeter projetos para uso do tempo de observação no supertelescópio.
“Os investimentos recentes da FAPESP em projetos como o GMT, o Llama e o CTA
criaram um potencial enorme para que São Paulo se torne um polo internacional
de astrofísica”, afirma Augusto Damineli, também do IAG-USP, outro pesquisador
envolvido diretamente nas negociações que levaram à entrada de São Paulo como
sócio do supertelescópio. “Queremos montar uma rede paulista de astronomia,
aumentar a produção científica e o tamanho das pós-graduações e investir em
divulgação da ciência.”
© DAVID A. AGUILAR (CFA)
Representação
artística de exoplaneta similar à Terra.
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Além do GMT, dois projetos,
também vultosos, disputam a corrida dos telescópios gigantes: o Thirty Meter
Telescope (TMT), iniciativa de US$ 1,2 bilhão bancada por um consórcio
internacional de instituições de pesquisa dos Estados Unidos, Canadá, Japão,
China e Índia, que será construído num ponto a mais de 4 mil m de altitude dos
Observatórios de Mauna Kea, no Havaí, onde há mais de uma dezena de telescópios
instalados; e o European Extremely Large Telescope (E-ELT), empreitada de pouco
mais de € 1 bilhão patrocinada pelos estados-membros do Observatório Europeu do
Sul (ESO), a ser instalado a 3 mil m de altitude no topo do Cerro Amazones, na
região de Antofagasta, no deserto de Atacama, Chile.
O TMT e o E-ELT terão,
respectivamente, espelhos de 30 m e de 39 m de diâmetro. Serão, portanto,
maiores do que o GMT, cujos sete espelhos de 8,4 m vão funcionar em conjunto
como se fossem um só espelho de 24,5 m, diâmetro duas vezes e meia maior do que
o dos maiores telescópios terrestres hoje em atividade, como os dois Keck, no
Havaí. O Brasil não terá acesso ao TMT, e a utilização do E-ELT, o projeto mais
ambicioso do ESO, depende da ratificação do acordo
federal com o observatório europeu.
Em teoria, o cronograma de
construções conta a favor do GMT, o menor dos supertelescópios, diante de seus
competidores de maior porte. O TMT está previsto para iniciar suas atividades
em 2023 ou no ano seguinte. O prazo mais otimista para a primeira luz do E-ELT
é 2024. Nesse cenário, enquanto seus dois concorrentes ainda estariam
terminando a fase de aquecimento, o GMT poderia correr com pista livre por
talvez dois anos, se começar a operar em 2021. Tal vantagem, acreditam seus
defensores, aumenta a possibilidade de garantir a primazia de descobertas há
tempos esperadas. “Um dos estudos mais excitantes do GMT será com os planetas
de massa similar à da Terra. Ele será o primeiro telescópio com capacidade de
confirmar a existência desses planetas, de medir sua atmosfera e, se houver
vida neles, detectá-la”, diz a astrofísica Wendy Freedman, da Universidade de
Chicago, presidente do conselho de diretores do GMT.
Atualmente, entre os cerca de
1.900 exoplanetas confirmados desde 1995, apenas entre uma e duas dezenas de
mundos extrassolares se assemelham realmente à Terra, a julgar pelas exíguas
informações hoje disponíveis. Ou seja, poucos parecem ser os exoplanetas
rochosos situados na chamada zona habitável, com temperaturas amenas e
condições ambientais ideais para abrigar água líquida e fomentar vida. “Também
vamos estudar a alvorada cósmica do Universo, os momentos primordiais quando as
primeiras estrelas, galáxias, supernovas e buracos negros estavam se formando”,
informa Wendy. “Teremos o primeiro telescópio com sensibilidade para
testemunhar esse processo, ver detalhes desses objetos tênues e medir suas
distâncias.”
O lançamento da pedra
fundamental do GMT ocorrerá em 11 de novembro deste ano, no Chile. O evento
marcará o início das obras de engenharia para edificação do observatório que
abrigará o supertelescópio. A parte óptica do GMT vem sendo feita há anos. Três
dos sete espelhos de 8,4m já foram moldados na Universidade do Arizona, uma das
sócias do empreendimento. Um desses espelhos foi polido, etapa fundamental em
seu processo de finalização. Neste mês, a construção do quarto espelho será
iniciada.
O GMT também disporá de um
centro de fibras ópticas e quatro instrumentos observacionais, basicamente
diferentes tipos de espectrógrafos, aparelhos que decompõem a luz em diferentes
cores (ou espectros), como o ultravioleta e o infravermelho e as frequências
visíveis. Um dos espectrógrafos, o GMTIFS, será ainda responsável pelas
correções efetuadas pela técnica de óptica adaptativa, que reduz as distorções
de imagem causadas pela turbulência do ar. “Nossa indústria tem condição de
construir partes desses instrumentos”, diz a astrofísica Cláudia Mendes de
Oliveira, do IAG-USP, que está fazendo contatos com empresas de São Paulo
interessadas em fornecer serviços e peças para o GMT e outros projetos de
astrofísica.
Projeto
Explorando o Universo, da
formação de galáxias aos planetas tipo-Terra, com o Telescópio Gigante Magellan
(nº 2011/51680-6); Modalidade Projetos
Especiais;Pesquisador responsável João Steiner
(USP); Investimento R$
17.860.000,00 e US$ 40.000.000,00 (FAPESP).
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 231 – Maio de 2015
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