Fim do VLS Ameaça Plano da FAB de Testar a MARINS, Plataforma Inercial Para Mísseis Balísticos.

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo editor da “Revista Forças e Defesa”, Roberto Lopes, e postado ontem (30/05) no site “Poder Aéreo” destacando que o fim do Projeto do VLS-1 ameaça plano da FAB de testar a MARIS, plataforma inercial para mísseis.

Duda Falcão

Fim do VLS Ameaça Plano da FAB de
Testar a MARINS, Plataforma Inercial
Para Mísseis Balísticos

É o maior revés da Era Jaques Wagner no Ministério da Defesa

Roberto Lopes*
Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
30 de Maio de 2015


O anúncio da possível interrupção do desenvolvimento do foguete VLS-1 pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) da Aeronáutica, feito na última terça-feira (27.05), na Câmara dos Deputados, pelo vice-diretor do órgão, major-brigadeiro Wander Almodovar Golfetto, implica em mais um sério obstáculo à certificação dos sistemas de ignição e separação de estágios do foguete e, especialmente, à validação da plataforma de navegação inercial MARINS, destinada a mísseis balísticos – programa essencial à capacitação da FAB no campo dos vetores militares de longo alcance e de alcance intermediário.

A plataforma MARINS foi considerada pronta para ser testada em voo no fim de 2013. Ela foi desenvolvida por uma equipe liderada pelo carioca Waldemar Costa Leite, de 61 anos. Formado em Engenharia Eletrônica no Instituto Militar de Engenharia em 1978, Costa Leite tem mestrado, doutorado e pós-doutorado em controle de veículos espaciais.

Ele trabalhou por seis anos e meio na área de controle de mísseis do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Tecnológico do Exército, no Rio, e, em maio de 1985, decidiu se transferir para o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) do então Centro Técnico Aeroespacial da Aeronáutica, na cidade de São José dos Campos (SP).

Seu novo campo de atuação foram os projetos dos foguetes Sonda IV e VLS (Veículo Lançador de Satélites). Atualmente esse engenheiro opera também no programa do Veículo Lançador de Microssatélites – um engenho bem menor que o VLS.

Rússia – O major-brigadeiro Golfetto é o especialista em foguetes e sistemas espaciais de mais alta patente na Força Aérea Brasileira (FAB).

Ele esteve envolvido na bem-sucedida operação secreta levada a cabo pelo IAE, nos anos de 1990, para obter quatro plataformas inerciais na Rússia (burlando os controles exercidos pelo International Traffic in Arms Regulations do Departamento da Defesa dos Estados Unidos) – plataformas estas que seriam perdidas, anos mais tarde, em acidentes e pesquisas de engenharia reversa.

Mas, nas últimas duas décadas, o brigadeiro assistiu os recursos oficiais para a pesquisa espacial minguarem, no Brasil, para algo em torno de 0,004 do PIB – dado que ele próprio levou à Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado em outubro de 2013.

No último dia 27 ele, finalmente, encontrou-se na posição de ter que comunicar aos deputados a descontinuidade dos recursos previstos para o VLS no Programa Nacional de Atividades Espaciais.

No lugar do VLS-1, o DCTA priorizará o Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), um vetor de três estágios projetado no fim dos anos de 1980, movido a propelente sólido (menos potente que os propelentes líquidos) mas capaz de levar ao espaço cargas úteis de até 150 kg.

“Chegamos à conclusão de que não vale a pena desenvolvermos no país um veículo para satélites geoestacionários [referência ao VLS-1]. Existem vários concorrentes no mercado e o Brasil não lançará muitos equipamentos deste porte. Nosso foco está mais voltado para o VLM. É um foguete mais simples, para transportar satélites menores. Acreditamos que ele entra num nicho de mercado onde não existem lançadores naquela categoria”. (Leia texto Construção do VLS deve ser abandonada por falta de verba, publicada pelo Poder Aéreo a 28 de maio).

De qualquer forma, a Aeronáutica ainda insistirá em um programa de certificação de componentes do VLS-1.

O foguete passou pelo crivo da revisão crítica de uma empresa russa, e foi reprojetado. “Estamos trabalhando em um lançamento de um voo tecnológico, que visa testar a parte baixa do VLS, onde tivemos algumas dificuldades no acendimento do segundo estágio e na separação dos estágios”, admitiu o brigadeiro para os deputados. “A análise servirá também para avaliar o sistema de navegação inercial que foi desenvolvido dentro do DCTA”.

Santa Bárbara – O Poder Aéreo apurou que, até fevereiro passado, estavam previstos dois lançamentos (não um) dos chamados “voos tecnológicos”.

O primeiro será um lançamento simulado, batizado de “Operação Santa Bárbara I”, para testar a integração da plataforma com as redes elétricas do veiculo, seu sistema de navegação, e o controle de lançamento da base diante de um mock-up (maquete completa do foguete com os motores sem combustível, descarregados).

O disparo simulado foi originalmente programado para o segundo semestre de 2011, adiado para o meio do ano de 2012 e realizado no âmbito da chamada “Operação Salinas”, mas de forma incompleta, porque tanto as redes elétricas do foguete – contratadas com atraso junto à empresa Mectron, de São José dos Campos (SP) – quanto o Sistema de Navegação (SISNAV) não ficaram prontos a tempo.

Um segundo lançamento simulado – que continua a ser chamado de “Operação Santa Bárbara I” – está previsto para este ano.

O outro “voo tecnológico”, batizado de “Operação Santa Bárbara II”, será, então, um voo real, para testar o funcionamento das redes elétricas, dos mecanismos de ignição e de separação dos estágios inferiores, bem como a plataforma de guiagem. A previsão é de que aconteça em 2016.

O que o brigadeiro Golfetto não esclareceu aos parlamentares é que esse sistema de guiagem será o MARINS, a plataforma de navegação inercial destinada a aplicativos militares (uso em mísseis balísticos).

Em tese, depois desses dois lançamentos, a FAB estaria pronta a testar seus novos equipamentos a bordo do VLS-1 VO4 – foguete que, nesse momento, em função dos problemas apresentados pelo brigadeiro, parece prestes a ser cancelado.

O VLS-1 VO4 seria o último engenho de testes antes de a FAB partir para a construção dos VLS-Alfa e VLS-Beta – ambos concebidos para cobrir distâncias que, no plano militar, são consideradas uma espécie de “ante-sala” das trajetórias dos mísseis balísticos de alcance intermediário.

O VLS-Alfa foi projetado para voar por 750 km transportando uma carga útil de 500 kg; e o VLS-Beta, para ser um vetor capaz de cobrir 800 km carregando uma ogiva de 800 kg.

Espionagem – Wander Almodovar Golfetto tem a admiração dos seus pares, por causa da sua perseverança e dos seus esforços pessoais no sentido de garantir à Força Aérea Brasileira capacitação na área dos foguetes e dos sistemas espaciais.

Mas entre os especialistas da Agência Espacial Brasileira – entidade vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia – e na própria FAB ficou a dúvida: estaria o oficial querendo chamar a atenção da Opinião Pública para as dificuldades do Programa Nacional de Atividades Espaciais, ou apenas pretendendo apequenar, intencionalmente, o programa nacional de foguetes, como forma de ocultar seu prosseguimento

* Roberto Lopes -  Jornalista especializado em assuntos militares. Graduado em Gestão e Planejamento de Defesa pelo Centro de Estudos de Defesa Hemisférica, da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos (turma de 2000). Ex-correspondente de guerra da Rede Globo e do jornal Folha de S. Paulo na Faixa de Gaza, na guerrilha angolana e no Golfo Pérsico. Autor do livro “As Garras do Cisne”, sobre os programas de expansão da Marinha do Brasil.


Fonte: Site Portal da Ilha - http://www.portaldailha.com.br

Comentário: Bom leitor, o que eu posso dizer é que como foi dito no artigo acima a tal plataforma MARINS (pouco abordada aqui no Blog por ser um equipamento da Área de Defesa) desenvolvida pela equipe do Dr. Waldemar Castro Leite Filho era a única esperança deste profissional e de seus liderados para dotar o Brasil de um sistema inercial para foguetes, mesmo que na verdade fosse direcionado para mísseis, já que o SISNAV (Sistema de Navegação do VLS-1) tinha pouca ou quase nenhuma chance de sair do papel devido ao descaso deste desgoverno desastroso e de seu Fórum Político corrupto e omisso. Infelizmente (diferentemente do que o autor do artigo deixa entender) o Dr. Waldemar não faz mais parte do quadro de servidores do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), já que recentemente obteve a sua aposentadoria. A ameaça ao projeto da plataforma MARINS, caso realmente seja real, é apenas mais um desdobramento do descaso com as atividades espaciais do país e do impedimento governamental da tentativa deste instituto em cumprir sua missão de dotar o país de tecnologias estratégicas, tanto na Área Espacial como na Área de Defesa. Vale dizer também que apesar de todo descaso do Governo e do Congresso desde o ex-presidente Fernando Collor de Melo, a omissão ou submissão cega primeiramente do Ministério da Aeronáutica e atualmente do COMAER (Comando da Aeronáutica ligado ao Ministério da Defesa), contribuiu significamente para chegarmos à situação atual, já que ambos órgãos e seus representantes esqueceram convenientemente nesses anos todos de que a sua função é primeiramente defender os interesses estratégicos da Nação Brasileira e não os interesses políticos dos governos aos quais estão subordinados. Veja por exemplo o caso do Projeto Nuclear da Marinha, que graças à luta, o comprometimento, a inteligência política, a pressão exercida com sapiência pelo então Comandante desta Esquadra, o Almirante Julio Soares de Moura Neto, em meados do segundo Governo do humorista LULA, este programa decolou e puxou também para cima o PROANTAR (Programa Antártico da Marinha) e desde então ambos os programas tem avançado significamente (o primeiro mais que o segundo) recebendo recursos que o PEB jamais recebeu (em um curto período de tempo) em toda sua história.  Já quanto ao ultimo parágrafo do artigo que cita a dúvida existente entre os especialistas da AEB e da própria FAB se o major-brigadeiro Wander Almodovar Golfetto, “estaria querendo chamar a atenção da Opinião Pública para as dificuldades do Programa Nacional de Atividades Espaciais, ou se apenas pretendendo apequenar, intencionalmente, o programa nacional de foguetes, como forma de ocultar seu prosseguimento”, num contexto geral não me parece muito verossímil. Veja bem leitor, que o Brigadeiro estaria tentando chamar a atenção da Opinião Pública (chocar) para as dificuldades do programa nacional de foguetes, isto não resta a menor dúvida e talvez até por iniciativa própria, já que tanto o COMAER como o Ministério da DEFESA se recusam e se omitem em tomar uma posição oficial e pública quanto à questão. Agora achar que o Brigadeiro poderia estar apenas querendo apequenar intencionalmente o programa nacional de foguetes, como forma de ocultar o seu prosseguimento, isto não faz o menor sentido, uma tremenda baboseira, e fica até parecendo uma daquelas famosas “Teorias da Conspiração”. Já quanto a espionagem bem como pressões políticas de boicote tecnológico nessa área ou em qualquer área de pesquisa estratégica ou científica, faz parte do dia-a-dia de qualquer nação do mundo (mesmo entre nações amigas) e temos de aprender a conviver com isto, sempre tendo em mente que primeiro vem o BRASIL, segundo o BRASIL, terceiro o BRASIL, quarto o BRASIL, quinto o BRASIL e assim sucessivamente. Este é o exemplo exitoso que as nações desenvolvidas seguem a risca há décadas, as vezes até com exagero, como acontece frequentemente com os EUA. Aproveitamos para agradecer ao leitor Fabrício Tavares pelo envio deste interessante artigo.

Comentários

  1. Uma desastre já esperado. Uma catástrofe nacional perpetrada com a conivência de políticos brasileiros! Os americanos, como sempre, por trás disto! Essa alegada falta de verbas é clássica!
    Só um milagre nos livrará deles...

    ResponderExcluir
  2. Duda

    Primeiramente é bom deixar claro que não conheço esse jornalista Roberto Lopes nem dei nenhuma entrevista pra ele. A reportagem contém alguns equívocos a começar pelo meu nome - Waldemar de Castro Leite Filho e não Costa Leite. A plataforma MARINS não foi desenvolvida para mísseis balísticos e não depende do VLS1 para ser testada ou mesmo qualificada. Ele deve estar se referindo à plataforma SISNAV. Essa foi desenvolvida para veículos lançadores e só poderá ser qualificada através do VLS1 ou ou VLM.
    O Projeto SIA tinha como um dos seus objetivos produzir um sistema de navegação inercial para o PEB. O desenvolvimento foi feito restando tão somente a qualificação em vôo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Dr. Waldemar!

      É extremamente positivo que o senhor se manifeste sobre este assunto como senhor esta fazendo agora e faça os esclarecimentos que o senhor achar necessário. Agradeço pela sua iniciativa e quem sabe em breve possamos vir a realizar uma entrevista mais esclarecedora sobre toda esta situação.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

      Excluir
  3. Se ele fez de propósito para chamar a atenção ou se foi realmente o que ele pensa do PEB, eu não sei. Como já disse anteriormente, a resposta da própria FAB foi a mesma para a reportagem da UOL sobre o programa VLS.

    "Através de e-mail enviado ao UOL, a FAB (Força Aérea Brasileira) afirmou o seguinte: "Não é verdade que o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) vá abandonar o projeto VLS (Veículo Lançador de Satélite). O DCTA continua investindo no VLS-1, VLS-Alpha e VLS-Beta, lançadores de satélites de até 800 kg em órbita equatorial.

    O vice-diretor do DCTA, Major-Brigadeiro do Ar Wander Golfetto, em audiência na Câmara dos Deputados, declarou, na verdade, que o Brasil não tem mais interesse em investir em lançadores de satélites geoestacionários, com capacidade de 1 a 4 toneladas. Portanto, o desenvolvimento do VLS-1 continua de acordo com a disponibilidade orçamentária.

    É importante ressaltar que, graças ao desenvolvimento do VLS-1, o Brasil adquiriu tecnologia que possibilita a exportação de foguetes suborbitais para a Europa. Somente este ano, seis foguetes foram lançados."

    Uma coisa é ele falar "com o orçamento atual para o VLS, nós não poderemos fazer nada além do VLS-Beta", outra coisa é ele falar "o Brasil não tem mais interesse em investir em lançadores de satélites geoestacionários". É uma diferença muito grande. Se foi só para chamar a atenção eu não sei, espero que seja, até porque pelo que entendi do texto ele vem fazendo de tudo(até com orçamentos pífios) para nós termos alguma coisa, não sei se foi feito do melhor jeito, mas pelo menos gerou alguma discussão. Agora se for realmente o que a FAB pensa do programa, eu repito que a mentalidade colonial continua até mesmo nos meios militares. E já disse que o porque que aquele argumento de "não lançaremos muitos satélites deste porte" é um argumento estúpido,

    Felipe Dias

    ResponderExcluir
  4. Realmente ta faltando culhões na administração do PEB.

    ResponderExcluir
  5. Corruptos, políticos da pior espécie, incompetentes, .....
    Há alguém bem intencionado e/ou competente?
    Se há, calam-se! Então, omissos!
    O que esperar destas qualidades?
    Isto que está aí! Em geral, somos isto!

    ResponderExcluir
  6. a CORRUPÇÃO no BRASIL está Infiltrada nas Forças Armada , Política , Igreja e toda Sociedade Brasileira, a Culpa é Geral, o Brasileiro em sua maioria não são NACIONALISTAS como são os Russos , os Estadunidenses e Chineses.

    ResponderExcluir
  7. "Plataforma Inercial Para Mísseis Balísticos"
    Esse cara tomou água de privada ?

    ResponderExcluir
  8. Nossa que inocente sou, achei que o Brasil tinha assinado o tratado do MTCR, é que tinha renunciado a desenvolver míssies de alcance méio. Mais voce ouve falar eses militares que ja torraron bilhoes no programa espacial brasileiro y acha que o Brasil compite com a ESA o a NASA.
    Bilohes num foguetinho que a gente paga, para os alemães utilizar.

    ResponderExcluir
  9. O meu comentário é uma sugestão que cada trabalhador brasileiro contribui-se com 5 reais e revertido para o programa VLS-1. A fim de que o Brasil seja do terceiro mundo neste quesito. Também, porque temos milhões estudantes que necessitam ter como trabalhar nesta área.

    ResponderExcluir
  10. Segundo fontes o Oficial pediu aposentadoria. Será por causa da sua fala na Câmara dos Deputados? Será porque falou a verdade e desagradou alguém?

    ResponderExcluir
  11. AFINAL O VLS ACABOU OU NÃO., pois uma nação como o Brazil se teria que ter MISSEIS BALISTICOS A MUITOS ANOS

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Marcos!

      Acabou sim, o VLS-1 é pagina virada. A Bola da vez é o VLM-1, mais moderno e mais simples. Agora vai sair do pepel???? Tenho minhas dúvidas. Enfim... Quanto a Misseis Balísticos, esquece isto, o Brasil não precisa disto.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

      Excluir

Postar um comentário