A Era das Grandes Observações
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na a edição de Maio de
2015 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que Parcerias Internacionais e investimento de quase R$ 200 milhões nos próximos 10 anos
devem impulsionar a Astrofísica de São Paulo.
Duda Falcão
CAPA
A Era das Grandes Observações
Parcerias internacionais e
investimento de quase R$ 200 milhões
nos próximos 10 anos devem
impulsionar a Astrofísica de São Paulo
MARCOS PIVETTA
Revista Pesquisa FAPESP
ED. 231 - MAIO 2015
A Era das Grandes Observações |
A
comunidade astrofísica paulista, que reúne um terço dos pesquisadores e metade
da produção científica nacional da área, prepara-se para dar um salto
qualitativo daqui até meados da próxima década. Acordos recentes fechados com
quatro grandes projetos internacionais garantiram a participação de
pesquisadores de São Paulo em empreitadas de ponta da ciência mundial, cuja
ambição é responder a algumas das questões mais fundamentais que levam os
astrônomos a esquadrinhar os céus com seus telescópios, satélites e sondas,
como o enigma da vida extraterrestre e a natureza da matéria escura e da
energia escura, os dois principais constituintes do Universo sobre os quais
quase nada se sabe. Até 2024, a FAPESP terá destinado quase R$ 200 milhões a
esses projetos, sem contar os investimentos em outras iniciativas da área de
astrofísica.
No
campo das observações nas frequências da luz visível e do infravermelho, uma
das iniciativas com vocação para expandir o olhar humano sobre o Cosmo é o
Giant Magellan Telescope (GMT), de 24,5 metros (m), que se tornará o maior
telescópio terrestre, quando for inaugurado, provavelmente em 2021, antes de seus
concorrentes de maior porte. Por meio de um acordo de US$ 40 milhões entre a
Fundação e o consórcio internacional responsável pelo gerenciamento da
construção do supertelescópio, os astrofísicos de universidades e instituições
de São Paulo terão direito a 4% do tempo de observação do GMT. “Com esse
acordo, estamos garantindo o futuro da astrofísica no país e a ciência que
estaremos fazendo em 2030”, diz o astrofísico João Steiner, do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo
(IAG-USP), idealizador e coordenador do projeto que alinhavou a entrada no GMT
(ver reportagem sobre o supertelescópio à página 20).
Especialidade
ainda não muito desenvolvida no país, a radioastronomia deverá ganhar um
impulso com o Grande Arranjo Milimétrico Latino-americano, iniciativa de
pesquisadores paulistas e argentinos mais conhecida por sua sigla em inglês,
Llama, uma bem-humorada referência a um dos membros da fauna típica dos Andes,
onde, a 4.800 m de altitude, será instalada no primeiro semestre do próximo ano
uma antena de 12 m de diâmetro. “Nosso radiotelescópio de Itapetinga, em
Atibaia, está defasado e o Llama, muito mais sensível, será importante para os
radioastrônomos”, diz Jacques Lépine, do IAG-USP, coordenador do projeto. A
antena poderá funcionar de forma isolada ou associada ao Atacama Large
Milimeter/Submilimeter Array (Alma), no Chile, o maior projeto de
radioastronomia do planeta.
As
outras duas iniciativas internacionais abrangem áreas distintas da pesquisa em
astrofísica. O Cherenkov Telescope Array (CTA) é um consórcio que reúne 29
países e vai montar dois conjuntos com mais de 100 telescópios de três tamanhos
distintos. Será o maior observatório terrestre para estudar raios gama de alta
energia. “Os projetos têm um escopo científico abrangente e são
complementares”, diz Elisabete de Gouveia Dal Pino, do IAG-USP, uma das
coordenadoras da participação brasileira no CTA. “Pela primeira vez na história,
poderemos fazer observações combinadas, abrangendo dados de todo o espectro
eletromagnético: das frequências de rádio aos raios gama no outro extremo do
espectro, passando pelo óptico.”
O
Javalambre Physics of the Accelerating Universe Astrophysical Survey (J-PAS) é
um projeto binacional, espanhol e brasileiro, que visa produzir, nos próximos
cinco anos, um mapa tridimensional da distribuição de matéria em todo o
Universo. O Brasil financia e coordena a construção da segunda maior câmera
astronômica do mundo, a JPCam, com resolução de 1,2 bilhão de pixels e
59 filtros distintos, que será instalada em um dos telescópios da iniciativa.
“Há
uma demanda reprimida entre os astrofísicos brasileiros por tempo de uso em
telescópios internacionais”, afirma Bruno Vaz Castilho, diretor do Laboratório
Nacional de Astrofísica (LNA). A instituição federal administra a concessão de
tempo que os pesquisadores nacionais têm à disposição nos telescópios Gemini,
no Soar e no CFHT (Telescópio Canadá França Havaí). No final de 2010, o Brasil
assinou um termo formal de adesão ao Observatório Europeu do Sul (ESO),
consórcio de 15 países europeus que gerencia três sítios de observação
astronômica no Chile. O acordo, que garante acesso à estrutura do ESO, aguarda
aprovação pelo Congresso Nacional.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 231 – Maio de 2015
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