Raios Cósmicos Podem Ajudar no Estudo dos Relâmpagos
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo escrito por um pesquisador
“Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)” e do postado hoje (26/05) no
site da Agência Espacial Brasileira (AEB), destacando que Raios Cósmicos podem
ajudar no Estudo dos Relâmpagos.
Duda Falcão
Raios Cósmicos Podem Ajudar
no Estudo dos Relâmpagos
Arthur Moraes,
Pesquisador do CBPF
Brasília, 26 de maio de 2015
Com um número próximo a 50 milhões de descargas elétricas
registrados no país por ano, o Brasil é campeão mundial em incidência de raios.
Apesar dos esforços para desvendar os mistérios desse fenômeno atmosférico os
raios continuam a ser verdadeiros enigmas científicos.
Entretanto, recentemente, pesquisadores habituados a
estudarem chuvas de raios cósmicos vêm fazendo avanços significativos no
desenvolvimento de uma técnica que poderá ajudar a explicar alguns dos
processos que originam relâmpagos: raios-cósmicos são utilizados para inferir
algumas das condições que causam as descargas elétricas em tempestades.
Em linguagem técnica, um relâmpago é uma corrente
elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio
segundo e trajetória com comprimento de cinco a 10 km. Quando o relâmpago
conecta-se ao solo é chamada de raio, podendo ser denominado ascendente, quando
inicia no solo e sobe em direção à tempestade, ou descendente, quando inicia na
tempestade e desce em direção ao solo.
A dificuldade em se medir com precisão os campos
elétricos nas nuvens de tempestades explica, em parte, nossa dificuldade de
compreender como surgem os relâmpagos. As medidas de campo elétrico em nuvens
de tempestades são tipicamente feitas com auxílio de balões meteorológicos ou
pequenos foguetes lançados nessas nuvens.
Entretanto, tais instrumentos podem alterar o ambiente
elétrico e interferir com o fenômeno que se quer estudar: a produção natural de
relâmpagos. Essas medidas tradicionais feitas até hoje falham na tentativa de
explicar a origem dos relâmpagos, pois ainda não encontraram regiões com campos
fortes o suficiente para iniciar um relâmpago. Especula-se que essas regiões de
altas intensidades de campo elétrico sejam muito localizadas, ou pode ser que
algum outro fator seja necessário para se iniciar o show de luzes.
Raios Cósmicos – partículas extremamente penetrantes,
tipicamente um próton ou um núcleo atômico, dotadas de alta energia, que se
deslocam a velocidades próximas à da luz no espaço sideral – podem ajudar os
cientistas a desvendar esse enigma.
Quando raios cósmicos colidem com moléculas na nossa
atmosfera, forma-se uma “chuva” de partículas subatômicas como elétrons,
pósitrons e outras partículas carregadas eletricamente. À medida que essas
partículas se deslocam em direção ao solo, suas trajetórias são encurvadas pelo
campo magnético da Terra, o que provoca a emissão de ondas de rádio.
Modelos - Cientistas trabalhando no telescópio para
observação de ondas de rádio de baixa frequência, Low Frequency Array (Lofar)
na Radboud University Nijmegen, na Holanda, observam que suas medidas são bem
explicadas por modelos de simulação para chuva de raios cósmicos. Porém, estes
mesmos modelos falham em descrever o padrão das ondas de rádio quando as
medidas com raios cósmicos são feitas durante uma tempestade.
Entre junho de 2011 e setembro de 2014, Lofar coletou 762
eventos correlacionados a raios cósmicos com as energias mais altas detectadas
pelo experimento. As medidas feitas quando o tempo estava claro mostram ondas
de rádio se propagando seguindo padrões bem ordenados, com polarizações
alinhadas e que são bem descritos pelos modelos computacionais de simulação. No
entanto, alguns eventos foram observados com anomalias no padrão de propagação
das ondas de rádio. Estes foram explicados pela presença de densas nuvens de
chuva na vizinhança do telescópio. Redefinindo-se os modelos computacionais
para incluir a influência de campos elétricos de alta intensidade, como os
gerados pelas nuvens de chuva, os pesquisadores conseguiram reproduzir as
anomalias observadas nas medidas.
Estudando em detalhes as ondas de rádio de um dos
chuveiros cósmicos influenciado pelo campo elétrico de uma nuvem de tempestade,
os pesquisadores identificaram duas camadas na nuvem: uma entre três e 8 km
acima do solo com campo elétrico de 50 mil V/m, e outra, abaixo desta com campo
mais fraco, provocando uma deflexão das partículas da chuva cósmica em direção
oposta ao campo superior. Embora estes resultados ainda não expliquem como um
relâmpago se inicia, essa é a primeira medida em que uma nuvem de tempestade é
inferida por raios cósmicos.
O primeiro passo para continuar o desenvolvimento de uma
técnica que permita utilizar raios cósmicos para entender a formação de
relâmpagos em tempestades será publicado em breve num artigo no jornal Physical
Review Letters.
Há ainda sugestões de que raios cósmicos poderiam ser os
elementos iniciadores de relâmpagos. Espera-se que as medidas do
telescópio Lofar possam também permitir que se investigue a ocorrência de
eventos em coincidência entre chuvas de raios cósmicos e descargas elétricas na
forma de relâmpagos.
De acordo com estudos do Grupo de Eletricidade
Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
registra-se aproximadamente 130 mortos e mais de 500 feridos por causa dos
raios todos os anos no Brasil. O ELAT alerta também que, devido ao aquecimento
global, já existem previsões que o número dos raios registrados anualmente no
país tenha um aumento de até 50% ao final do século.
A interação entre raios cósmicos e o campo elétrico nas
nuvens de tempestades pode vir a ser o elemento que faltava para permitir uma
melhor e mais precisa compreensão da formação de relâmpagos. Melhorar nossa
capacidade de prever a formação de relâmpagos será de grande importância para
prevenir ocorrências de acidentes com raios.
Fonte: Site da Agência Espacial Brasileira (AEB)
Enquanto ficamos marcando passo a concorrência se move:
ResponderExcluirhttp://www.orbita.zenite.nu/apresentando-o-nslv/