Um Programa Fora de Foco 2
Olá leitor!
Continuando na avaliação da falta de foco do programa espacial, sinceramente depois que se falou nas últimas duas semanas em desativação do CLA, ampliação do CLA, construção de uma nova base em um outro local e por tudo que tem acontecido no histórico do PEB (e não é pouco) estou convencido depois dessa notícia de zona de segurança nacional (caso essa notícia realmente tenha alguma veracidade - veja a nota aqui no blog) que essa galera tem como origem alguma casa dos horrores. São completamente aloprados e não tem a mínima idéia do que querem. O PNAE é uma piada onde se estica, se diminui, se aumenta, mas a única coisa que não se faz é seguir o que esta planejado nele. Essa semana, para não se fugir a regra, se falou no desenvolvimento de um outro lançador para microssatélites sendo que o VLS-1 nem fez seu primeiro vôo, a ACS nem tem sítio de lançamento, o programa sem rumo, o barco a deriva e os caras pensando assumir ainda mais responsabilidades. A segunda notícia (já abordada na nota anterior) sobre o satélite radar do MD é um grande exemplo disso. Exemplos como esse de falta de foco no PEB são inúmeros. Vejamos alguns:
SSR-1 (Satélite de Sensoriamento Remoto 1) - Esse satélite foi previsto pela antiga MECB (Missão Espacial Completa Brasileira) e posteriormente mudou-se seu nome para Amazônia 1. O mesmo encontra-se depois de mais de 20 anos finalmente em construção.
SSR-2 (Satélite de Sensoriamento Remoto 2) - Da mesma forma esse satélite foi previsto pela antiga MECB (Missão Espacial Completa Brasileira) e posteriormente mudou-se seu nome para MAPSAR, recentemente para CBERS SAR ou CBSAR, voltou-se a se chamar MAPSAR novamente e agora só deus sabe onde isso vai parar.
SCD-3 (Satélite de Coleta de Dados 3) - Previsto também pela antiga MECB (Missão Espacial Completa Brasileira) o projeto desse satélite foi abandonado depois que se decidiu incluir transponders em todos satélites que fossem fabricados no país, fazendo com que não se precisa-se mais de um satélite específico para essa função. Isso foi feito com os satélites CBERS e provavelmente será feito com o Amazônia-1. No entanto, já se fala no desenvolvimento de dois SCDav (Satélite de Coleta de Dados Avançado).
PSO (plataforma Sub-Orbital) - Apesar de sua relevância para o “Programa de Microgravidade” foi abandonado após seu primeiro vôo teste na Operação Alecrim em 2000 sem qualquer explicação.
Eco-8 System - Era um bom projeto idealizado em 1994 para o desenvolvimento de uma constelação de microsatélites de telecomunicações e foi abandonado no inicio desse novo século.
Equars - Satélite científico que virou missão (para ser incluída no proposto satélite Lattes-1) após a última reformulação do PNAE em 2005. Vale lembrar que foram feitas varias negociações e workshops com entidades estrangeiras visando o desenvolvimento desse satélite. Só deus sabe quanto custou isso.
Mirax - Um outro satélite científico que virou missão (para ser também incluída no proposto satélite científico Lattes-1) após a última reformulação do PNAE (2005). Vale lembrar também que da mesma forma foram feitas varias negociações e workshops com entidades estrangeiras.
MCE (Monitor de Clima Espacial) - Esse satélite científico que na realidade seria a primeira sonda de espaço profundo brasileira nunca fez parte de nenhum dos PNAE, mas foi proposto na mesma época dos Equars e o Mirax e se dizia que seria desenvolvido em conjunto com os russos.
Sabia 3 (Satélite Argentino-Brasileiro de Informações Ambientais sobre Recursos Hídricos, Agricultura e Meio Ambiente) - Esse Projeto foi elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Comisión Nacional de Actividades Espaciales da Argentina. O mesmo jamais constou de nenhum PNAE, apesar de se assinar muita papelada desde 1999 e nada foi feito de concreto até o momento.
Sonda-IIIA - Tratava-se do desenvolvimento de um foguete similar ao Sonda III com o envelope motor do segundo estágio em fibra de carbono. O desenvolvimento desse foguete consta das ultimas duas versões do PNAE, apesar de só ser denominado assim na versão de 2005.
VS-43 - Tratava-se do desenvolvimento de um foguete monoestágio com controle de atitude empregando o propulsor S-43 que é o segundo estágio do VLS-1. Apesar de constar nas duas últimas versões do PNAE esse foguete jamais foi desenvolvido.
OBS: Foi realizada uma reunião em fevereiro desse ano entre o IAE e a DLR alemã e dentre o que ficou acertado, tudo leva a crer que esse foguete será desenvolvido (já que é uma encomenda) para ser usado pelo experimento alemão SHEFEX-3.
VLM (Veículo Lançador de Microssatélites) - Esse projeto constava no penúltimo PNAE (período de 1998-2007), mas nunca foi feito nada em favor dele, sendo posto de lado na última versão (2005).
OBS: Segundo a coluna Defesa & Negócios do companheiro jornalista André Mileski que será publicada no próximo número da revista Tecnologia & Defesa, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), estaria estudando projetos de parcerias para o desenvolvimento de um novo lançador espacial de pequeno porte, focado no mercado de lançamento de microssatélites. Apesar de reconhecer a relevância de um projeto como esse, a meu ver, não é o momento (a não ser que se abandone de vez o projeto do VLS-1, mas isso representaria o atraso de pelo menos mais dois anos e no momento o programa precisa de um gol para sobreviver), pois o programa está por demais bagunçado para assumir outro projeto de tal envergadura.
Cruzeiro do Sul (Programa de Veículos Lançadores de Satélites Cruzeiro do Sul) - Esse programa nunca fez parte de qualquer PNAE apesar de ser lançado na mesma época do lançamento do último documento (2005). No PNAE de 2005 constava o desenvolvimento do VLS-1B, VLS-2 e VLS-3.
Portanto amigos, não adianta nada a conquista de mais recursos por parte dos órgãos que comandam o programa espacial se não se achar uma forma de se arrumar a casa. Não se pode realizar nada na vida sem organização, planejamento (a curto, médio e longo prazo) e objetividade na aplicação das metas previstas no plano de ação. Infelizmente as pessoas que administram o PEB demonstram não estarem preparadas para planejar, executar e muito menos assumir um programa de tal relevância para o país. Isso só facilita o trabalho das forças retrogradas e contrarias a implantação do PEB em atingir os seus objetivos. Sejam essas forças estrangeiras ou nacionais, o que importa que no final das contas além do gasto público infrutífero o atraso tecnológico será incalculável.
Duda Falcão
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