Nem tudo que reluz é ouro: A ida de Bolsonaro a Alcântara.

Olá, leitor!

Vendo a cascata de notícias de feitos históricos do setor espacial mundial que contrastam com a pasmaceira do "Programa Espacial Brasileiro (PEB) que teima em não querer mudar!",  vemos nas mídias uma notícia que pode parecer inocente e passar desapercebida de uma análise mais aprofundada.

Essa notícia está vinculada a uma postagem do perfil do Presidente Jair Bolsonaro em uma das suas redes sociais, no dia de hoje (10/02/2021), informando que ele irá a Alcântara (finalmente, depois de 2 anos e de muitas promessas e cancelamentos), para distribuir os títulos de posse de terras aos quilombolas e outras famílias da região.

Como eu disse anteriormente, quem vê tal notícia de forma descontextualizada pode não compreender o cenário completo em questão.

A ida de Bolsonaro a Alcântara

Imagem: Postagem em rede social de Jair Bolsonaro

Essa é realmente uma notícia maravilhosa, pois parece que finalmente vão regularizar as agrovilas dos moradores rurais de Alcântara-MA, muitos ou a grande maioria quilombolas que, há anos, vem lutando receber a titulação das terras que eles usavam para tirar seu sustento. Agora, eles vão poder produzir, sem serem usados como massa de manobra, seja por sinistros, seja por destros, seja por ambidestros.

Além disso, esse pode ser o primeiro passo para desimpedir a expansão do Centro Espacial de Alcântara (CEA) para o uso de toda a costa leste - nordeste da península de Alcântara, o que permitirá a instalação plena de todos os potenciais sítios de lançamento idealizados para aquela privilegiada localidade.

Por outro lado leitor, sabemos que o Governo Bolsonaro nunca se comprometeu abertamente com esse tipo de causa ou mesmo com os objetivos estratégicos envolvendo o CEA, a prova é que ninguém encontra no programa de governo, nem nas promessa de campanha, nenhum compromisso com essas agendas conflitantes parcialmente e mutuamente dependentes entre si. (Sugiro ler a matéria "Um Balanço dos 100 Dias do Governo Bolsonaro Para o Setor Aeroespacial à Luz da Carta de Foz do Iguaçu.", que o BS publicou em para conferir).

Então, como que num passe de mágica, Bolsonaro toma uma espetada do fundo da cadeira presidencial e, sem ninguém esperar, rompe a inércia e se despenca para lá para desatolar esse paquiderme que encontra-se na areia movediça desde a década de 80!

O que está por traz desse rompante?

Bem leitor, tudo começa quando a política externa do Bolsonaro, de botar todas as fichas no Estados Unidos da América "Trumpista", e o Rei de Ouros e os seus valetes Republicanos viraram cartas fora do baralho na Presidência, na Câmara e, principalmente, no Senado americano. Agora, estes entes são controlados por outras pessoas menos sucetíveis a simbiose Trump - Bolsonaro, que se imaginava que duraria, pelo menos, 8 anos.

Nesse contexto, eis que surge a notícia de um Dossiê (veja matéria da BBC aqui e o documento original aqui) que foi apresentado ao Governo Biden por um grupo de Acadêmicos do Brasil e dos EUA, denominado The U.S. Network for Democracy in Brazil (USNDB), no qual várias denúncias e sugestões de boicotes foram formuladas contra o Brasil e o Governo Bolsonaro, muitas delas inverídicas, pois Bolsonaro realmente herdou boa parte dessas "broncas", mas, também, não vinha gerenciando-as, até então, com o empenho que os quilombolas e toda a comunidade espacial brasileira ansiava.

É nesse contexto que surge a figura da congressista do estado do Novo México, Debra Haaland. A deputada Haaland é nativa americana, democrata e em setembro do ano passado, ainda no governo Trump, tentou passar uma normativa lá nos EUA para que fosse proibido o investimento de qualquer capital americano em Alcântara, enquanto não fosse resolvido o problema com os quilombolas.

Imagem: Debra Haaland (https://pt.wikipedia.org/wiki/Debra_Haaland)

Como os republicanos dominavam o senado e tinham uma forte representação na câmara dos EUA, conseguiram evitar isso, e a normativa não vingou. Agora no governo Biden, ela foi indicada (mas não assumiu ainda) para o posto de secretária de assuntos interiores e com isso ganhou muita força e prestígio político na atual administração, o que pode implicar em consequências indesejáveis para o CEA, a galinha de ovos de ouro / tábua de salvação que o PEB se agarra com unhas e dentes para romper a sua inércia congênita. 

No entanto, quando saiu o dossiê em questão lá nos EUA, existiu ainda uma movimentação muito grande para colocar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) como pauta dentro dessa discussão, nessa tentativa de "proteger" os quilombolas, tudo isso movimentado pela congressista Haaland

Em um primeiro momento, fica essa relação ideológica devido ao fato dela (a Debra Haaland) ser uma nativa americana e de se identificar e defender a pauta dos quilombolas. No entanto, segundo informações, a deputada Haaland recebeu dinheiro de campanha da Spaceport América, que fica no estado dela (Novo México). Segundo levantamento do BS, ela faz lobby publicamente do Spaceport América, e, inclusive, no dossiê citam o Spaceport América, comparando-o com Alcântara, conforme extrato abaixo:

(The U.S. Network for Democracy in Brazil - USNDB. Recommendations on Brazil to President Biden and the New Administration, 2021, p.13)

Dentro desse cenário, o risco do AST cair ou mesmo de uma sanção ou proibição de investimentos americanos é algo muito real. Por isso, essa movimentação surpreendente do Bolsonaro para ir lá, inopinadamente, para regularização (de batelada) dos quilombolas.

Então nem tudo que reluz é boa vontade de resolver os problemas, mas, muitas vezes, uma necessidade casuística para sobreviver a uma ameaça e, nem tudo que que é tido como algo humanitário de grande valor, não deixa de ser uma oportunidade de atender a outros interesses e ideologias, escondidos por trás de outras bandeiras. 

Existe claramente uma zona cinzenta intermediária para os dois lados, que está nas entrelinhas dos discursos e propagandas políticas, e que precisa ser percebida e compreendida! 

Rui Botelho
(Brazilian Space)

Comentários

  1. Debra, a hermana solidária do meu pirão primeiro.
    Espero que a oportunidade, ou perda de oportunidade do acordo comercial com os americanos, não seja de não perceber o foco no interesse nacional.
    Esse foco demanda resultados concretos e mensuráveis. Não se enxerga nada disso, até agora.

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  2. A prioridade deveria, desde sempre ser o desenvolvimento de um lançador próprio com o máximo possível de componentes nacionais, coisa que nunca mais ouvimos falar (oficialmente) desde quando o governo começou a tentar alugar as instalações de Alcântara para governos e empresas estrangeiras

    Enquanto isso os promissores motores L75, S50 e as startups nacionais continuaram "a ver navios"

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  3. Antes tarde do que nunca, finalmente o caso dos Quilombolas parece estar começando a ser solucionado. Com certeza é emblemático para Alcântara.

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  4. Correspondente da GloboNews na casa Branca perguntou sobre Alcântara e a questão ambientais do governo Bolsonaro, assessora de imprensa do Biden princípio negou qualquer sançoes e sim parceria com o Brasil

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  5. Centro de Lançamento de Alcântara é a denominação da segunda base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira.

    Criação: 1983


    O Centro de Lançamento de Alcântara, tem 38 anos, que nuca Conseguiu Lançar com êxito um Foguete Orbital

    Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, é uma base da Força Aérea Brasileira para lançamentos de foguetes. Fundada em 1965, se tornou a primeira base aérea de foguetes da América do Sul.

    Fundada em 1965

    Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, tem 56 anos, que nuca Conseguiu Lançar com êxito um Foguete Orbital

    Esse é o Resultado de nossos Militares que foram para a 2º Guerra Mundial na Europa , Itália se aliar aos E.U.A.

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    1. A edição diz que Bolsonaro não tem comprometimento com a base de lançamentos mas diz que ele foi lá para evitar que os americanos suspendan o AST. Eu tô louco? Kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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    2. Olá, Claudio! Obrigado por participar do BS!

      Infelizmente, acho que há um equívoco na sua interpretação do texto. O que dissemos foi: "sabemos que o Governo Bolsonaro nunca se comprometeu abertamente com esse tipo de causa ou mesmo com os objetivos estratégicos envolvendo o CEA". Ou seja, Bolsonaro nunca se comprometeu em ajudar os Quilombolas ou outros movimentos sociais equivalentes e nunca se comprometeu com o PEB ou o CEA.
      Como sabemos disso? "a prova é que ninguém encontra no programa de governo, nem nas promessa de campanha, nenhum compromisso com essas agendas".
      Se você encontrar algum texto ou áudio ou vídeo de Bolsonaro, durante a campanha ou depois de assumir, falando sobre PEB, CEA ou quilombolas de Alcântara, peço que nos ajude a melhorar a qualidade e precisão do nosso texto.
      Abraço!

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