Estudo Revela Conseqüências da Mudança Climática no RIO

Olá leitor!

Segue abaixo uma nota postada ontem (07/04) no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), destacando que um estudo realizado pelo instituto em parceria com o Núcleo de Estudos de População (NEPO), da Unicamp, revela conseqüências da “Mudança Climática” no Rio de janeiro até o final do século.

Duda Falcão

Estudo Revela Conseqüências
da Mudança Climática no
Rio de Janeiro Até o Final do Século

07/04/2011

O Rio de Janeiro e cidades da Região Metropolitana poderão estar mais suscetíveis a tragédias em conseqüência das mudanças climáticas, caso nada seja feito para reverter a situação prevista até o final do século 21. É o que aponta estudo desenvolvido dentro do projeto “Megacidades, Vulnerabilidades e Mudanças Climáticas”, concebido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Núcleo de Estudos de População (NEPO) da Unicamp.

Apresentado nesta quinta-feira (7/4) no Palácio da Cidade, no Rio, este estudo foi coordenado pelo Instituto Pereira Passos e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a participação de 29 pesquisadores e especialistas em 13 áreas.

A Região Metropolitana de São Paulo mereceu estudo semelhante, lançado em 2010 e coordenado pelo INPE e Unicamp. Para saber mais, acesse http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=2215

Como área costeira, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é particularmente vulnerável a elevação do nível do mar e a ocorrência de eventos extremos, como ventos intensos, ondas de tempestade, chuvas torrenciais e períodos de seca mais prolongados, além de problemas de saúde na população. Combinados, eles podem produzir efeitos devastadores, com impactos sociais, econômicos, de infraestrutura e ecológicos.

De acordo com o estudo, a combinação da elevação do nível do mar com os eventos climáticos extremos tende a agravar os conhecidos problemas de inundações, alagamentos e escorregamentos de encostas, assim como as também conhecidas conseqüências em termos de vidas e patrimônios perdidos, de degradação das condições sanitárias/ambientais, assim como de deterioração da infraestrutura urbana.

“Há várias conclusões que podem ser tiradas deste estudo, mas uma das mais importantes é a questão das políticas públicas, quanto à capacidade de resposta aos eventos extremos em algumas cidades”, avalia o professor Paulo Gusmão, do Departamento de Geografia da UFRJ, que coordenou o estudo juntamente com o economista e ambientalista Sergio Besserman, do Instituto Pereira Passos. Também participaram do estudo a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

A vulnerabilidade da região litorânea da capital e da região metropolitana a uma elevação do nível do mar se caracteriza, em geral, pelos riscos de erosão e de inundação intensificados pela recorrência de ressacas, ventos fortes e chuvas intensas. Nos diversos cenários de elevação do nível do mar, barreiras não serão suficientes para conter o avanço do mar nas praias oceânicas urbanas, que tenderão a perder areia, uma vez que são limitadas no pós-praia por muros, calçadões, avenidas e outras construções.

Adaptação

O relatório aponta medidas de adaptação que as cidades e instituições da região metropolitana terão que adotar em busca de soluções, entre elas, ações de engenharia e redefinição de linha de costa, por exemplo, para mitigar os impactos e perigos que sofrerão. Em praias oceânicas em áreas urbanas ou com estruturas na retro-praia, a melhor solução é aumentar o estoque de areia da praia. Se nada for feito, as conseqüências da elevação do nível do mar, em sinergia com as ressacas e marés meteorológicas mais intensas (que tendem a reduzir ainda mais o estoque de areia), acarretará em episódios de destruição de calçadas e avenidas de forma crescente, chegando a inviabilizar áreas residenciais em frente às praias.

É fundamental acompanhar o comportamento do nível do mar, não apenas quanto ao seu nível de base, mas também quanto às marés e ondas de tempestade, bem como – considerando a diversidade de situações climáticas – monitorar permanente e detalhadamente as variações nos indicadores de temperatura e pluviosidade. Planos de contingência deverão ser elaborados considerando riscos de inundações e deslizamentos que não devem restringir-se aos limites desse ou aquele município, mas mobilizar todos os recursos em escala metropolitana visando minimizar os danos à população, ao patrimônio natural e construído e às atividades produtivas.

Ocupação do Solo

A região metropolitana do Rio compreende os municípios de Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica, Tanguá e Itaguaí, que, segundo o censo de 2010, reúne 75% dos habitantes do Estado. Entre 2000 e 2010 - pela primeira vez desde 1940 - esta região cresceu mais do que as demais, apontando para a emergência de um novo padrão demográfico no Estado. As áreas da capital que mais cresceram foram a Zona Oeste, a região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, enquanto a Zona Suburbana apresentou uma estabilização e a população residente nas Zonas Central, Sul e Norte diminuiu.

Apesar de municípios como Itaguaí ou Maricá apresentarem taxas de crescimento mais aceleradas, a população continua se expandindo nos municípios do entorno da Baía de Guanabara, como Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo. Essas áreas se tornam especialmente vulneráveis por conta da carência de serviços coletivos, principalmente saneamento básico, oferecidos à população.

Resíduos Sólidos

Os principais problemas causados pelas mudanças climáticas ocorrerão nos aterros sanitários situados em encostas e áreas potencialmente alagáveis ao lado de rios de grande porte e de baías. A elevação do nível do mar poderá causar alagamento parcial ou total dos aterros Itaóca, em São Gonçalo, e o de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (a principal unidade de destinação final de resíduos sólidos da RMRJ, que recebe 70% dos resíduos coletados na capital), ambos situados às margens da Baía de Guanabara.

A elevação do nível da Baía de Guanabara e a expansão do espelho d’água impedirá que os atuais sistemas de drenagem de águas pluviais funcionem adequadamente, retendo o chorume e a água de chuva nos aterros. Essa retenção poderá causar erosões nos taludes acabados, infiltração de água nos maciços de lixo, desestabilização dos taludes e finalmente, a ruptura dos aterros, com o chorume sendo carregado em grandes quantidades para a Baía de Guanabara.

No Aterro de Gramacho, a situação é ainda mais crítica, pois ele está localizado próximo à foz dos rios Iguaçu e Sarapuí. Uma ruptura do aterro com o conseqüente assoreamento do leito desses rios poderá ocasionar o alagamento de grandes áreas na Baixada Fluminense, com prejuízos humanos e materiais incalculáveis.

Dengue e Leptospirose: os Principais Riscos

A saúde da população da região metropolitana do Rio está vulnerável em um cenário de mudanças climáticas, de acordo com o estudo. Este capítulo foi desenvolvido por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que apontam três mecanismos pelos quais as alterações do clima podem afetar a saúde: efeitos diretos (como reações fisiológicas a ondas de calor ou acidentes decorrentes de inundações ou deslizamentos de terra); efeitos sobre o meio ambiente, afetando a produção de alimentos, a oferta e a qualidade de água e a presença de vetores de doenças infecciosas; e efeitos sobre processos sociais, como migrações provocadas por secas prolongadas.

As principais preocupações são a leptospirose – devido ao aumento de ocorrência de enchentes – e a dengue, que terá um ambiente propício para a proliferação das larvas do Aedes aegypt com o aumento previsto da temperatura, aliado a períodos de mais chuvas. Segundo os especialistas, se o aquecimento global estender as condições de temperatura e umidade típicos de verão para o período de outono, há a possibilidade de aumento do número de dias e meses por ano mais favoráveis à ocorrência de dengue.

Outros impactos à saúde incluem afogamentos e ferimentos das vítimas ao serem atiradas contra objetos quando levadas pela correnteza e manifestações alérgicas e doenças respiratórias, que podem se espalhar mais facilmente em abrigos lotados. O aumento do nível do mar também traria conseqüências para a saúde pública através de salinização de depósitos naturais de água no solo, com perda da qualidade para consumo trazendo problemas para o abastecimento, redução na produção de alimentos em zonas agricultáveis costeiras, com aumento na insegurança alimentar, danos à infraestrutura de saneamento, como tubulações de esgoto sanitário, resultando em contaminação ambiental.

Principais Cenários de Risco

1. Tendência de avanço do mar em direção à terra.

2. Onde houver ruas e avenidas na retro-praia haverá diminuição das faixas de areia e potencial risco de ataque de ondas diretamente nas benfeitorias públicas.

3. Recuo das linhas de orla em regiões de baixadas de lagoas costeiras e baías, em função da subida do nível médio relativo do mar que, nestes locais, é provável que seja superior à média, visto que se trata de regiões sedimentares geologicamente recentes, cujos terrenos tendem a sofrer subsidências.

4. Problemas de macrodrenagem em águas interiores, especialmente em zonas urbanas situadas em baixadas de baías e lagoas costeiras, aumentando a tendência de alagamentos. Com a subida do nível médio relativo, reduzem-se os desníveis, diminuindo, por conseqüência, a velocidade dos escoamentos.

5. Aumento da profundidade média de lagoas costeiras e baías. Isso representa um efeito de rejuvenescimento, em contraposição ao envelhecimento representado pelo assoreamento.

6. Aumento da presença de água salgada em água doce levando ao aumento ou à diminuição de manguezais e potencial problema de captação de água salobra em locais que hoje captam água doce.


Fonte: Site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

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