Idade Estimada Para Oumuamua Afasta 'Hipótese Alienígena', Dizem Astrofísicos Brasileiros

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Segue abaixo uma matéria postada dia (08/11) no site “G1” do globo.com, destacando que segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a hipótese do misterioso objeto  Oumuamua ser uma ‘nave espacial alienígena' é improvável devido a sua idade estimada.

Duda Falcão

CIÊNCIA E SAÚDE

Idade Estimada Para Oumuamua
Afasta 'Hipótese Alienígena',
Dizem Astrofísicos Brasileiros

Pesquisadores da UFRJ calcularam a idade do objeto com base na órbita de estrelas
ao redor da galáxias. Para eles, é improvável a hipótese de que
o Oumuamua foi enviado por extraterrestres.

Por Lara Pinheiro, G1
08/11/2018 - 15h02
Atualizado há 21 horas

Parece que não foi dessa vez que os extraterrestres estabeleceram contato. Dois cientistas brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguiram estimar a idade do Oumuamua, primeiro objeto interestelar a cruzar o Sistema Solar, entre 200 e 450 milhões de anos. A pesquisa será publicada neste mês na versão física da "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".

Isso significa que a "panqueca alienígena" é jovem — para padrões estelares. Esse cálculo torna ainda mais improvável que o Oumuamua tenha sido enviado à Terra por alienígenas, como afirmaram pesquisadores de Harvard em prévia de artigo divulgada na última quinta-feira (1) e com data de publicação prevista para a próxima segunda-feira (12), na Astrophysical Journal Letters.

Quem explica é o primeiro autor do estudo, o doutorando Felipe Almeida Fernandes, que assinou a pesquisa em parceria com o orientador, Hélio Rocha Pinto, diretor do Observatório do Valongo, da UFRJ.

"Essa idade, que pode chegar a 1 bilhão de anos — considerando algumas fontes de incerteza — vai contra ele ter uma origem artificial. É muito pouco tempo para a vida surgir, evoluir, e chegar a seres vivos com capacidade para explorar o espaço. Na Terra, foram 4,5 bilhões de anos para isso", pondera.

Esses números valem para os padrões terráqueos de evolução. No entanto, se ele veio de fora do nosso sistema, poderia ser diferente se tivesse sido enviado pelos ETs?

"Poderia ser diferente. Com certeza. A gente só sabe o único exemplo que conhece, que é a Terra. Mas aí seria mais uma 'forçação de barra' que teria que ser feita para explicar que é uma nave", analisa Felipe. Ele usou um modelo da pesquisa do doutorado — que não é sobre o Oumuamua, e sim sobre órbitas de estrelas na galáxia — para calcular a idade da "panqueca alienígena".

Para Hélio Rocha Pinto, a hipótese da sonda extraterrestre também é improvável. "Como ele foi descoberto há um ano, tem muita gente falando muita coisa. Daqui a dois anos, essas ideias estapafúrdias vão ficando de lado. Na ciência, a gente levanta muita hipótese para que alguém possa refutá-las", ressalta.

Outros pesquisadores já haviam tentado calcular a origem do Oumuamua, mas não a sua idade, afirmam os cientistas da UFRJ. Saber quantos anos o objeto tem pode, no entanto, ajudar a entender de onde ele veio, explica Felipe.

"Essa idade significa que ele veio de um sistema planetário que orbita ao redor de uma estrela jovem — que não é o Sol. Todos os asteroides que a gente observa no Sistema Solar foram formados da mesma nuvem que deu origem ao Sol. Esse, não. Foi formado junto com uma nuvem que deu origem a uma outra estrela, a outro sistema planetário. O Oumuamua ficou orbitando ali até ser expulso. Pode ser por vários motivos: pode ter sido uma interação gravitacional com outro planeta ou ele pode ter sido parte de um corpo maior que sofreu uma colisão e aí foi ejetado", explica.

Apesar de o intervalo possível para a idade do Oumuamua ser grande — Felipe considera até 1 bilhão de anos como sendo possível, apesar de menos provável — isso ajuda a eliminar estrelas mais antigas, como as que têm 13,7 bilhões de anos — a idade do Universo.

Foto: JPL/NASA
Oumuamua.

Características Naturais

Fora a idade, a “panqueca alienígena” tem algumas características que podem ser explicadas naturalmente, dizem os cientistas. Além disso, a teoria da vela solar — de que o Oumuamua teria uma espécie de motor, movido a luz solar e colocado artificialmente, também levanta dúvidas por parte dos especialistas.

Confira abaixo alguns dos (outros) motivos pelos quais o Oumuamua pode não ter sido, afinal, enviado pelos aliens:

1) A teoria dos ETs explica só uma coisa — a aceleração

"Eles pegaram somente um aspecto — de que o Oumuamua se afastou do Sol com uma velocidade maior do que a esperada", diz Hélio Rocha Pinto.

Ao se aproximar do Sol (sim, o nosso), o Oumuamua deveria acelerar, devido à força gravitacional. Isso aconteceu. Ao se afastar, ele deveria, no entanto, andar mais devagar — e andou, só que não tão devagar quanto era esperado, explica Felipe Fernandes. Isso foi o que levou os cientistas de Harvard a cogitarem a hipótese da vela solar, colocada por alguém.

2) Mesmo assim, a vela solar não explica tudo

"Para a vela solar funcionar, ele teria que ficar próximo de uma estrela para receber a propulsão, senão teria que ter um motor próprio. E, se tem um motor próprio, alguém colocou. Só que isso não foi detectado", diz Hélio Rocha Pinto. "Além do mais, não foram detectadas ondas eletromagnéticas características de sondas", pontua.

"Os cientistas que publicaram a teoria da vela solar aceitam que o Oumuamua tem uma superfície rica em carbono, e dizem que pode ser causado pelo fato de a vela acumular partículas ricas em carbono ao longo da viagem. Isso poderia acontecer, mas o problema é que poeira de carbono é muito escura, então a estrutura não iria mais refletir a luz — e é isso o que faz ela funcionar. Então não dá pra ter uma vela solar coberta de material rico em carbono", explica o astrônomo Alan Fitzsimmons, da Universidade de Belfast, na Irlanda do Norte, que publicou um artigo na revista "Nature" sobre a composição do Oumuamua.

3) A aceleração pode ter sido causada por liberação de gás

Alguns cientistas já haviam levantado a hipótese de que a aceleração misteriosa do Oumuamua tenha sido causada por liberação de gás na sua superfície — de modo similar ao que ocorre em um cometa.

"A pequena aceleração detectada é similar àquela vista em muitos cometas normais orbitando o nosso Sol, causada pela liberação do gás na direção do Sol. Isso empurra o cometa na direção oposta", explica Alan Fitzsimmons.

"A natureza dele ainda é controversa, porque ele apresenta propriedades de um asteroide, por não ter a cauda de um cometa. Quando se aproxima do Sol, o cometa apresenta uma cauda, que é o gelo sendo expulso da superfície dele. Não foi observado no Oumuamua, mas pode estar abaixo do limite de detecção do telescópio", observa Felipe Fernandes.

4) O formato dele — de panqueca — é meio estranho. (Nisso, tanto os que acreditam nos aliens quanto os que duvidam deles concordam)

"Ele é muito alongado. O comprimento dele é quase dez vezes maior que a largura. Esse formato fortalece a ideia de que ele se formou através de uma colisão, e não a partir do processo de aglutinação das partículas que existem no disco de matéria que dá origem aos asteroides, planetas e cometas do Sistema Solar", explica Felipe.

Mesmo que o Oumuamua não seja do nosso sistema, diz o cientista, "nós não esperamos que o processo de formação destes corpos em outros sistema seja muito diferente do processo que aconteceu aqui".

5) A órbita

A órbita do Oumuamua, explica Felipe, é circular. Se o objeto tivesse sido lançado por ETs, essa seria a opção que gastaria menos energia. Mas, ao mesmo tempo, a origem do objeto teria que ser ainda mais específica. "Teria que ser uma estrela de origem que está à mesma distância do centro da galáxia que o Sol. É um grande salto de raciocínio", diz.

Fora isso, diz Alan Fitzsimmons, o Oumuamua não está somente girando.

"Nossos dados telescópicos mostram que o Oumuamua não estava simplesmente girando, mas caindo pelo espaço, como pode ser esperado de objetos que foram ejetados de seus sistemas planetários originais", explica.

A Solução Está Próxima, Dizem os Pesquisadores

Os cientistas acreditam que, em pouco tempo, será possível determinar a frequência com que objetos semelhantes ao Oumuamua aparecem no espaço — até lá, não se pode afirmar nem mesmo se ele é raro ou não.

A observação desses objetos não era feita antes porque não havia instrumentos poderosos o suficiente para olhar o céu à procura deles, explicam os astrônomos. O telescópio que detectou o Oumuamua começou a fazer observações somente em 2010. Um novo telescópio, em construção no Chile, é um exemplo de novas possibilidades — assim como o observatório Gaia, da Agência Espacial Europeia, que já está em operação.

"Não vai demorar para acontecer. Vamos ter mais precisão para determinar a velocidade das estrelas e descobrir qual delas deu origem ao Oumuamua", acredita Felipe Fernandes.


Fonte: Site “G1” do globo.com – 08/11/2018

Comentário: Pois é leitor, agora foi à vez dos astrofísicos brasileiros se posicionarem contrários a hipótese dos pesquisadores de Harvard e assim vai.

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