“Tropa de Choque” das OS Compõe Comitê de Busca Para Apontar Diretor do INPE
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na edição de nº 44
de janeiro de 2016 do “Jornal do SindCT”, destacando que “Tropa de Choque”
das OS compõe comitê de busca para apontar diretor do INPE.
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
“Tropa de Choque” das OS Compõe Comitê
de Busca Para
Apontar Diretor do INPE
Ministro quer privatizar o instituto
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Janeiro de 2016
Raupp, Helena
Nader e Cerqueira Leite teriam ido a Brasília para pedir ao ministro a criação
do “comitê”. Os três lobistas teriam colocado seus nomes “à disposição” para
compor o grupo! Embora o mandato do atual diretor do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Fernando Perondi, termine apenas no dia 14
de maio, o ministro Celso Pansera (MCTI) fez publicar no dia 22 de janeiro
portaria instituindo um “Comitê de Busca” como parte do processo que culminará
na escolha do novo diretor do instituto.
Caberá a esse
comitê compor uma lista tríplice de nomes a ser submetida à apreciação do
ministro, que escolherá dentre eles o novo diretor ou diretora. Trata-se,
portanto, de um processo sem transparência e nada democrático, já que não há
previsão de participação da comunidade do INPE no processo de formação da lista
tríplice.
“Comitês de
busca” não são instrumentos apropriados para escolher dirigentes de órgãos
públicos de pesquisa. Esse tipo de comitê é um instrumento utilizado por
universidades privadas do exterior, que procuram escolher seus reitores no
chamado “mercado”. O perfil desejado, nesse caso, é de um “executivo”, um
gestor empresarial, ao invés de um experimentado docente ou pesquisador
universitário. Mas é a composição do “comitê de busca” que evidencia a natureza
da manobra endossada por Pansera.
Ele será
presidido por Marco Antonio Raupp, presidente da “organização social”
Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos, tendo como demais membros
Rogério Cézar de Cerqueira Leite, presidente do Conselho de Administração da
“organização social” Centro Nacional de Pesquisa em Energia de Materiais
(CNPEM), de Campinas; Helena Nader, presidenta da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC); Reginaldo dos Santos, presidente da empresa
binacional Alcantara Cyclone Space (ACS, em processo de extinção), e membro do
Conselho de Administração do CNPEM; Luiz Bevilacqua, ex-presidente da Agência
Espacial Brasileira (AEB) e ex-secretário-executivo do MCTI.
Por seu
histórico, esses nomes trazem preocupações. O ex-diretor do instituto e
ex-ministro Raupp integra a SBPC, entidade defensora do modelo das
“Organizações Sociais” (“OS”). Helena Nader, presidenta da SBPC, fez lobby pela
aprovação da lei 13.243/16, que privatiza o setor de C&T (leia reportagem
na p. 10), e integrou a comissão criada pela portaria ministerial 308/2015,
formalmente incumbida de traçar um diagnóstico dos institutos pertencentes ao
MCTI, mas de fato interessada em propagandear aos dirigentes desses órgãos
públicos as supostas vantagens de transformação em “OS” (confira na edição 42
do Jornal do SindCT).
Cerqueira Leite
foi quem presidiu a comissão criada pela portaria 308/2015. Seu parceiro no
CNPEM, Reginaldo dos Santos, ex-reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), é um antigo conhecido de Raupp, que, quando ministro, nomeou- o para
presidir a ACS. Ao criar um comitê para o INPE com tal fisionomia, o ministro
emite um sinal claro de que o tipo de “governança” que o governo pretende impor
ao instituto é privada e deve se pautar por parâmetros empresariais.
A antecedência
com que o processo foi desfechado (quatro meses antes do final da gestão de
Perondi), que causou estranheza aos servidores do INPE, é uma indicação do
grande apetite que o instituto desperta em interesses privados do setor
espacial. Note-se que a “tropa de choque” privatista nomeada por Pansera está
se especializando em “buscas”.
Em meados de 2015,
Helena, Raupp e Bevilacqua integraram o comitê de busca para escolha do
diretor-geral da “OS” Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e
Aplicada para o período 2016-2019. Como o nome sugere, essa “OS” gere o
Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). É o modelo que desejam
impor ao INPE.
Lobistas
Por fonte ligada
ao MCTI, o Jornal do SindCT soube que Raupp, acompanhado de Helena Nader e de
Cerqueira Leite, foi a Brasília para conversar com o ministro Pansera e pedir
que fosse instaurado o Comitê de Busca do INPE.
Os três lobistas
teriam colocado seus nomes “à disposição” (!!!) para compor o grupo.
Obviamente, essas pessoas não dispõem da mínima isenção necessária para a
tarefa. Existe uma forte pressão para mudar o modelo de gestão do INPE. Os
personagens envolvidos, contudo, são quase sempre os mesmos.
Em 2012 Raupp,
então ministro, quis fundir o instituto com a AEB. Em 2015, além da portaria
ministerial 308, tivemos a portaria interministerial 2.151, firmada pelas
pastas da Defesa e da Ciência e Tecnologia (veja matéria na edição 41 do Jornal
do SindCT), que determinou a criação de um Grupo de Trabalho encarregado,
dentre outras atribuições, de “propor a revisão do modelo de governança para as
atividades espaciais no Brasil”, dando margem tanto a mudanças positivas (como
a desmilitarização das atividades relacionadas a veículos lançadores), quanto
negativas (como a eventual entrega da gestão do INPE a uma “Organização
Social”).
“Só resta saber
se os servidores querem ficar submetidos a uma organização privada ou não. Se
hoje o INPE enfrenta um processo de sucateamento, nada mais é do que o
resultado de uma política inadequada para o setor, que tem deixado a estrutura
à beira de um colapso ao não recompor seus quadros de servidores e por investir
pouco e de maneira descontínua”, declara em nota a direção do SindCT.
Todo esse lobby
para submeter os órgãos públicos ao modelo das “Organizações Sociais” tem como
pano de fundo interesses óbvios. Passa por contratações sem critério e por
salários mais altos, mas sobretudo pela facilidade de obter projetos e recursos
do próprio governo.
Na edição 43
informamos que a construção do Laboratório de Luz Síncrotron, gerido pela “OS”
CNPEM de Cerqueira Leite, está orçada em R$ 1,7 bilhão (a serem repassados
entre 2015 e 2018). Em 4/1/16, esse membro do “comitê de busca” do novo diretor
do INPE publicou artigo na Folha de S. Paulo protestando contra o corte de
recursos para o Síncrotron: “Apenas 20% da verba de 2015 foi liberada”,
escreveu.
“Corre-se o
risco de ter de dispensar os 550 pesquisadores e técnicos e os 300 bolsistas
que lá trabalham”. As OS conquistam recursos enormes e, quando se sentem
ameaçadas, não hesitam em “colocar a boca no trombone”. Tudo indica que o MCTI
pretende colocar à frente do INPE alguém que crie todas as condições para
transformar o instituto em uma “Organização Social”.
Fonte: Jornal do SindCT -
Edição 44ª - janeiro de 2016
Porque será que os sindicatos têm tanto medo das OS ??? Dizem que há corrupção nas OS. Quem bom que no setor público não não há nenhuma corrupção e todos os funcionários estão trabalhando muito para o bem do país...
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